domingo, 3 de dezembro de 2023

QUARTO BIMESTRE - AULA 35 DE TCH DOS PRIMEIROS ANOS: GOIÁS NOS SÉCULOS XVIII E XIX. Prof. José Antônio Brazão.

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

QUARTO BIMESTRE

AULA 35 DE TCH DOS PRIMEIROS ANOS:

GOIÁS NOS SÉCULOS XVIII E XIX. Prof. José Antônio Brazão.

O momento é de revisão. Retomar-se-á, de forma significativa, parte dos conteúdos estudados ao longo do ano e, especialmente, do segundo semestre. Uma visão panorâmica, geral, ajudará nessa revisão.

Goiás situa-se na região Centro-Oeste do Brasil, juntamente com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Goiás dispõe de muitos recursos naturais, que foram essenciais ao seu desenvolvimento desde o período colonial: dispõe de terrenos planos, de planaltos, de vasta região de cerrado, águas quentes (exemplos clássicos: Caldas Novas e Rio Quente), rios (Araguaia, Meia Ponte, Vermelho, Paranaíba, Corumbá, Tocantins, das Pedras, entre outros rios e riachos), terras boas para plantação de diferentes produtos, metais no subsolo, a Chapada dos Veadeiros, entre outros elementos naturais (e, com o tempo, turísticos) que tiveram grande contribuição para o adentramento de bandeirantes e pessoas interessadas, ao longo dos séculos, em se dirigirem à região, além da busca do ouro propriamente dita.

De acordo com o site GOVERNO DE GOIÁS:

“O pontapé da história de Goiás se deu com a chegada dos bandeirantes, vindos de São Paulo, em busca de ouro, no final do século XVII e início do século XVIII. O contato entre nativos indígenas, negros e os bandeirantes foi fator decisivo para a formação da cultura do Estado, deixando como legado as principais cidades históricas, como Corumbá de GoiásPirenópolis e Goiás, antiga Vila Boa e primeira capital de Goiás.

O nome do Estado tem origem na denominação da tribo indígena “guaiás” que, por corruptela, se tornou Goiás. Vem do termo tupi “gwaya”, que quer dizer "indivíduo igual, gente semelhante, da mesma raça".

De acordo com a história, Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como o Anhanguera, foi o primeiro bandeirante a ocupar Goiás. Entretanto, o Estado era conhecido e fazia parte da rota dos Bandeirantes já no primeiro século da colonização do Brasil. As primeiras Bandeiras eram de caráter oficial e destinadas a explorar o interior em busca de riquezas minerais, e outras empresas comerciais de particulares organizadas para captura de índios.

A Bandeira saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722. O caminho já não era tão difícil como nos primeiros tempos. Três anos depois, os bandeirantes voltaram triunfantes a São Paulo, divulgando a descoberta de cinco córregos auríferos, minas tão ricas quanto as de Cuiabá, com ótimo clima e fácil comunicação.

Pouco tempo depois, os bandeirantes organizaram uma nova expedição para a exploração do novo território, tendo Bartolomeu, agora como superintendente das minas, e João Leite da Silva Ortiz, como guarda-mor. A primeira região ocupada foi a do Rio Vermelho, onde foi fundado o arraial de Sant’Ana, posteriormente chamado de Vila Boa e mais tarde de Cidade de Goiás.

A época do ouro em Goiás foi intensa e breve. Após 50 anos, a mineração entrou em rápida e completa decadência. Por outro lado, só se explorou o ouro de aluvião, isto é, das margens dos rios, e a técnica empregada era rudimentar.

Goiás pertenceu até 1749 à capitania de São Paulo. Após esta data, tornou-se capitania independente. Com o declínio do ouro, o governo adotou medidas administrativas que não trouxeram resultado satisfatório. Não havia um produto tão vantajoso que pudesse substituir o ouro, até então, sinônimo de lucro fácil. Com a economia fragilizada, a sociedade goiana regrediu a uma economia rural e de subsistência.

Assim como no Brasil, o processo de independência em Goiás se deu gradativamente. A formação das juntas administrativas, que representam um dos primeiros passos neste sentido, deu oportunidade às disputas pelo poder entre os grupos locais.” (GOVERNO DE GOIÁS. História. Disponível em: < https://www.goias.gov.br/conheca-goias/historia.html > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)

No decorrer dos séculos XVIII e XIX, no período colonial e parte do Reinado e Império, alguns vilarejos foram crescendo e se tornando cidades, entre as quais podem ser destacadas: Pirenópolis (1727), Cidade de Goiás (1736), Pilar de Goiás (1741), Cavalcante (1831), Catalão (1833), Niquelândia (1833), Luziânia (1833), Silvânia (1833), Jaraguá (1833), Formosa (1843) e Sítio D’Abadia (1850). (Fontes de informações de datas: Wikipédia e Site Curta Mais).

Uma descrição muito bonita da Cidade de Goiás, antiga capital, é feita pela escritora Cora Coralina, que assim se expressa no poema Minha Cidade:

“Goiás, minha cidade…

Eu sou aquela amorosa

de tuas ruas estreitas,

curtas,

indecisas,

entrando,

saindo

uma das outras.

Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.

Eu sou Aninha.

 

Eu sou aquela mulher

que ficou velha,

esquecida,

nos teus larguinhos e nos teus becos tristes,

contando estórias,

fazendo adivinhação.

Cantando teu passado.

Cantando teu futuro.

 

Eu vivo nas tuas igrejas

e sobrados

e telhados

e paredes.

 

Eu sou aquele teu velho muro

verde de avencas

onde se debruça

um antigo jasmineiro,

cheiroso

na ruinha pobre e suja.

 

Eu sou estas casas

encostadas

cochichando umas com as outras.

Eu sou a ramada

dessas árvores,

sem nome e sem valia,

sem flores e sem frutos,

de que gostam

a gente cansada e os pássaros vadios.

 

Eu sou o caule

dessas trepadeiras sem classe,

nascidas na frincha das pedras:

Bravias.

Renitentes.

Indomáveis.

Cortadas.

Maltratadas.

Pisadas.

E renascendo.

 

Eu sou a dureza desses morros,

revestidos,

enflorados,

lascados a machado,

lanhados, lacerados.

Queimados pelo fogo.

Pastados.

Calcinados

e renascidos.

Minha vida,

meus sentidos,

minha estética,

todas as virações

de minha sensibilidade de mulher,

têm, aqui, suas raízes.

 

Eu sou a menina feia

da ponte da Lapa.

Eu sou Aninha.”

(CORALINA, Cora. Cora Coralina, Melhores Poemas, Seleção Darcy França Denófrio. Disponível em: < https://www.tudoepoema.com.br/cora-coralina-minha-cidade/ > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)

Uma lista de governadores goianos dos períodos colonial e imperial do Brasil  pode ser encontrada no verbete Lista de Governadores de Goiás, na Wikipédia (em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_governadores_de_Goi%C3%A1s ), tendo como superintendente inicial Bartolomeu Bueno da Silva (1727 – 1749). Em um primeiro tempo, Goiás esteve sob controle da Capitania de São Paulo. Com o impulso dado pela descoberta do ouro na região, Goiás viria a se tornar capitania e, depois, província.

Vale lembrar que a Cidade de Goiás, com a descoberta de ouro nesta região do Brasil Central, transformou-se em capital da capitania (e província) de Goiás. Inclusive, o Palácio Conde dos Arcos foi, até a primeira metade do século XX, o centro do poder em Goiás.

No que tange ao aspecto econômico que veio a ser citado: a descoberta do ouro, a economia baseada também na agricultura e no comércio, fazendas formadas, vale lembrar que a base do trabalho, até quase o fim do século XIX, foi a escravidão, tanto de índios quanto e principalmente de negros trazidos da África.

Quanto ao aspecto cultural colonial, cabe aqui relembrar dois elementos fundamentais: a arte barroca e a religião, no período colonial. A arte barroca foi uma arte rebuscada, isto é, em que predominou uma riqueza de detalhes. A arte barroca, em Goiás, tem seu destaque na figura de José Joaquim da Veiga Valle. De acordo com Isabela Gonçalves:

“Popularmente conhecido como Veiga Valle (1806-1874), foi um escultor e dourador no estado de Goiás. Nascido em Pirenópolis, foi um forte representante da arte barroca no estado, onde expressou riqueza de detalhes em suas obras de imagens sacras, que sempre contavam com delicadeza extrema.

Embora seja um dos mais reconhecidos artistas goianos, não se sabe ao certo quais foram suas formações artísticas, supondo-se que tenha sido autodidata. Grande parte das esculturas de Veiga Valle foram esculpidas em cedro, que era seu tipo preferido de madeira.” (GONÇALVES, Isabela. Artistas goianos: conheça 10 entre os maiores nomes da arte no estado. Disponível em: < https://diaonline.ig.com.br/2019/02/12/artistas-goianos-conheca-10-entre-os-maiores-nomes-da-arte-no-estado/?utm_source=Isabela+Gon%C3%A7alves&utm_campaign=diaonline-author > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)

Uma parte das produções de José Joaquim da Veiga Valle encontra-se exposta na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, na Cidade de Goiás, onde se encontram estátuas de santos e anjos feitas pelo artista.

Curiosamente, como se pode ver, a arte barroca goiana teve uma marca profunda do elemento religioso, muito aplicada em igrejas. Além de Goiás Velho (como é carinhosamente conhecida a Cidade de Goiás), a cidade de Pilar de Goiás dispõe de grande acervo de obras, particularmente em suas igrejas.

O barroco goiano é relativamente bem discreto, em relação à arte barroca presente, no período colonial, em outros lugares do Brasil, com destaque para Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. As igrejas barrocas goianas dispõem de estrutura comum, com formas arquitetônicas geométricas simples, como o retângulo e o triângulo, além do arco.

Outro elemento cultural e até folclórico que merece destaque, relativamente ao período goiano colonial e de boa parte do século XIX, é aquele constituído pelas festas religiosas, mesmo porque há aquelas que ainda hoje seguem existindo, tendo-se constituído em tradição. Cabe aqui destacar: a Festa do Divino Pai Eterno, da cidade de Trindade, que, no século XIX, ainda estava em formação; a festa das Cavalhadas, de Pirenópolis, com origens coloniais; a Procissão do Fogaréu, que ocorre a cada Semana Santa, na Cidade de Goiás; as Congadas de Catalão; etc.

Como se pode ver, a religião católica exerceu, ao longo de todo o período colonial e imperial, até inícios do século XX, uma preponderância sobre a vida religiosa de Goiás. Até hoje há muitos católicos em Goiás, mas já com a presença de grande número de evangélicos e outros grupos religiosos, incluindo, por exemplo, budistas.

No que diz respeito às mulheres goianas do período colonial e até depois, vale aqui citar novamente Cora Coralina, em um de seus belos poemas:

Todas as Vidas (Cora Coralina):

Vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé do borralho,

olhando para o fogo.

Benze quebranto.

Bota feitiço...

Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.

Ogã, pai de santo...

 

Vive dentro de mim

a lavadeira do Rio Vermelho.

Seu cheiro gostoso

d'água e sabão.

Rodilha de pano.

Trouxa de roupa,

pedra de anil.

Sua coroa verde de são-caetano.

 

Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola.

Quitute benfeito.

Panela de barro.

Taipa de lenha.

Cozinha antiga

toda pretinha.

Bem cacheada de picumã.

Pedra pontuda.

Cumbuco de coco.

Pisando alho-sal.

 

Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada.

 

Vive dentro de mim

a mulher roceira.

- Enxerto da terra,

meio casmurra.

Trabalhadeira.

Madrugadeira.

Analfabeta.

De pé no chão.

Bem parideira.

Bem criadeira.

Seus doze filhos

Seus vinte netos.

 

Vive dentro de mim

a mulher da vida.

Minha irmãzinha...

Fingindo alegre seu triste fado.

 

Todas as vidas dentro de mim:

Na minha vida -

a vida mera das obscuras.”

(CORALINA, Cora. Todas as Vidas. Disponível em: < https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)

De fato, ainda que seja do século XX, o poema de Cora aponta elementos femininos que, sem dúvida, existiram também no Goiás colonial e imperial. Entre as mulheres: as esposas de senhores, de garimpeiros, de fazendeiros e sitiantes, de comerciantes, além de membros de outras atividades que aqui existiram; mulheres pobres e analfabetas; índias; escravas; prostitutas; benzedeiras; parteiras; entre outras tantas mulheres que fizeram diferença na vida social. Mães, entre as quais muitas tiveram porções boas de filhos e filhas. A maioria analfabeta, com raras exceções, muito certamente. Mulheres que iam à igreja, participavam das missas, e outras mais. A sociedade era patriarcal (dominada pela figura masculina), mas sem as mulheres tampouco seria uma sociedade, fadada que estaria ao fim.

As benzedeiras, num tempo em que o acesso à medicina oficial era escasso, eram essenciais, por conhecerem plantas medicinais e rezas que ajudavam, como se acreditava, na cura, na melhora das pessoas. As parteiras, sem sombra de dúvida, durante muito tempo, tiveram papel de grande importância: por meio delas, muitos homens e mulheres puderam vir ao mundo.

Índias, brancas e negras contribuíram efetivamente para a mescla social e a formação racial de Goiás e do Brasil. Em Goiânia, inclusive, existe, na Praça Cívica, de Goiânia, atualmente, o Monumento das Três Raças (branca, negra e indígena).

Na época da conquista das tribos, além da escravização de índios, ocorrida pela ação bandeirante, muitas índias foram estupradas, parte delas chegando a ser engravidada.

Houve viúvas que tiveram que cuidar de filhos e filhas, mulheres batalhadoras. Havia freiras que cuidavam de obras assistenciais, como os orfanatos – quem não tinha condições de criar os filhos colocava os recém-nascidos na chamada “roda”, uma roda giratória que ligava a parte interna de orfanatos à parte externa, ou simplesmente deixavam-nos nas portas dessas instituições ou, em alguns casos, de casas determinadas. 

Enfim, como se pode ver, os papéis de homens e mulheres, desempenhados na era colonial goiana, tiveram grande impacto social e até mesmo na formação cultural do povo goiano.

 

Nenhum comentário: