COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
QUARTO BIMESTRE
AULA 35 DE TCH DOS PRIMEIROS ANOS:
GOIÁS NOS SÉCULOS XVIII E XIX.
Prof. José Antônio Brazão.
O momento é de revisão.
Retomar-se-á, de forma significativa, parte dos conteúdos estudados ao longo do
ano e, especialmente, do segundo semestre. Uma visão panorâmica, geral, ajudará
nessa revisão.
Goiás situa-se na região
Centro-Oeste do Brasil, juntamente com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Goiás
dispõe de muitos recursos naturais, que foram essenciais ao seu desenvolvimento
desde o período colonial: dispõe de terrenos planos, de planaltos, de vasta
região de cerrado, águas quentes (exemplos clássicos: Caldas Novas e Rio
Quente), rios (Araguaia, Meia Ponte, Vermelho, Paranaíba, Corumbá, Tocantins,
das Pedras, entre outros rios e riachos), terras boas para plantação de
diferentes produtos, metais no subsolo, a Chapada dos Veadeiros, entre outros
elementos naturais (e, com o tempo, turísticos) que tiveram grande contribuição
para o adentramento de bandeirantes e pessoas interessadas, ao longo dos
séculos, em se dirigirem à região, além da busca do ouro propriamente dita.
De acordo com o site GOVERNO DE
GOIÁS:
“O pontapé da história de Goiás se deu com a chegada
dos bandeirantes, vindos de São Paulo, em busca de ouro, no final
do século XVII e início do século XVIII. O contato entre nativos indígenas,
negros e os bandeirantes foi fator decisivo para a formação da cultura do
Estado, deixando como legado as principais cidades históricas, como Corumbá
de Goiás, Pirenópolis e Goiás, antiga Vila
Boa e primeira capital de Goiás.
O nome do Estado tem origem na denominação da tribo indígena
“guaiás” que, por corruptela, se tornou Goiás. Vem do termo tupi “gwaya”,
que quer dizer "indivíduo igual, gente semelhante, da mesma raça".
De acordo com a história, Bartolomeu Bueno da Silva,
conhecido como o Anhanguera, foi o primeiro bandeirante a
ocupar Goiás. Entretanto, o Estado era conhecido e fazia parte da rota dos
Bandeirantes já no primeiro século da colonização do Brasil. As primeiras
Bandeiras eram de caráter oficial e destinadas a explorar o interior em busca
de riquezas minerais, e outras empresas comerciais de particulares organizadas
para captura de índios.
A Bandeira saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722. O caminho já não era
tão difícil como nos primeiros tempos. Três anos depois, os bandeirantes
voltaram triunfantes a São Paulo, divulgando a descoberta de cinco córregos
auríferos, minas tão ricas quanto as de Cuiabá, com ótimo clima e fácil
comunicação.
Pouco tempo depois, os bandeirantes organizaram uma nova expedição para a
exploração do novo território, tendo Bartolomeu, agora como superintendente das
minas, e João Leite da Silva Ortiz, como guarda-mor. A primeira
região ocupada foi a do Rio Vermelho, onde foi fundado o arraial de
Sant’Ana, posteriormente chamado de Vila Boa e mais tarde de Cidade de
Goiás.
A época do ouro em Goiás foi intensa e breve. Após 50 anos, a mineração
entrou em rápida e completa decadência. Por outro lado, só se explorou o ouro
de aluvião, isto é, das margens dos rios, e a técnica empregada era rudimentar.
Goiás pertenceu até 1749 à capitania de São Paulo. Após esta data,
tornou-se capitania independente. Com o declínio do ouro, o governo adotou
medidas administrativas que não trouxeram resultado satisfatório. Não havia um
produto tão vantajoso que pudesse substituir o ouro, até então, sinônimo de
lucro fácil. Com a economia fragilizada, a sociedade goiana regrediu a uma
economia rural e de subsistência.
Assim como no Brasil, o processo de independência em Goiás se deu
gradativamente. A formação das juntas administrativas, que representam um dos
primeiros passos neste sentido, deu oportunidade às disputas pelo poder entre
os grupos locais.” (GOVERNO DE GOIÁS. História. Disponível em: < https://www.goias.gov.br/conheca-goias/historia.html > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)
No decorrer dos séculos XVIII e XIX, no período colonial e
parte do Reinado e Império, alguns vilarejos foram crescendo e se tornando
cidades, entre as quais podem ser destacadas: Pirenópolis (1727), Cidade de
Goiás (1736), Pilar de Goiás (1741), Cavalcante (1831), Catalão (1833),
Niquelândia (1833), Luziânia (1833), Silvânia (1833), Jaraguá (1833), Formosa
(1843) e Sítio D’Abadia (1850). (Fontes de informações de datas: Wikipédia e
Site Curta Mais).
Uma descrição muito bonita da Cidade de Goiás, antiga
capital, é feita pela escritora Cora Coralina, que assim se expressa no poema Minha
Cidade:
“Goiás, minha cidade…
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas,
entrando,
saindo
uma das outras.
Eu sou aquela menina feia da
ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.
Eu sou aquela mulher
que ficou velha,
esquecida,
nos teus larguinhos e nos
teus becos tristes,
contando estórias,
fazendo adivinhação.
Cantando teu passado.
Cantando teu futuro.
Eu vivo nas tuas igrejas
e sobrados
e telhados
e paredes.
Eu sou aquele teu velho muro
verde de avencas
onde se debruça
um antigo jasmineiro,
cheiroso
na ruinha pobre e suja.
Eu sou estas casas
encostadas
cochichando umas com as
outras.
Eu sou a ramada
dessas árvores,
sem nome e sem valia,
sem flores e sem frutos,
de que gostam
a gente cansada e os
pássaros vadios.
Eu sou o caule
dessas trepadeiras sem
classe,
nascidas na frincha das
pedras:
Bravias.
Renitentes.
Indomáveis.
Cortadas.
Maltratadas.
Pisadas.
E renascendo.
Eu sou a dureza desses
morros,
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo.
Pastados.
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as virações
de minha sensibilidade de
mulher,
têm, aqui, suas raízes.
Eu sou a menina feia
da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.”
(CORALINA, Cora. Cora
Coralina, Melhores Poemas, Seleção Darcy França Denófrio. Disponível em:
< https://www.tudoepoema.com.br/cora-coralina-minha-cidade/ >
Acesso em 04 de dezembro de 2022.)
Uma lista de governadores goianos
dos períodos colonial e imperial do Brasil
pode ser encontrada no verbete Lista de Governadores de Goiás, na
Wikipédia (em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_governadores_de_Goi%C3%A1s ), tendo como superintendente inicial Bartolomeu
Bueno da Silva (1727 – 1749). Em um primeiro tempo, Goiás esteve sob controle
da Capitania de São Paulo. Com o impulso dado pela descoberta do ouro na
região, Goiás viria a se tornar capitania e, depois, província.
Vale lembrar que a Cidade de
Goiás, com a descoberta de ouro nesta região do Brasil Central, transformou-se
em capital da capitania (e província) de Goiás. Inclusive, o Palácio Conde dos
Arcos foi, até a primeira metade do século XX, o centro do poder em Goiás.
No que tange ao aspecto econômico
que veio a ser citado: a descoberta do ouro, a economia baseada também na
agricultura e no comércio, fazendas formadas, vale lembrar que a base do
trabalho, até quase o fim do século XIX, foi a escravidão, tanto de índios
quanto e principalmente de negros trazidos da África.
Quanto ao aspecto cultural colonial, cabe aqui
relembrar dois elementos fundamentais: a arte barroca e a religião, no período
colonial. A arte barroca foi uma arte rebuscada, isto é, em que predominou uma
riqueza de detalhes. A arte barroca, em Goiás, tem seu destaque na figura de
José Joaquim da Veiga Valle. De acordo com Isabela Gonçalves:
“Popularmente
conhecido como Veiga Valle (1806-1874), foi um escultor e dourador no estado de
Goiás. Nascido em Pirenópolis, foi um forte representante da arte barroca no
estado, onde expressou riqueza de detalhes em suas obras de imagens sacras, que
sempre contavam com delicadeza extrema.
Embora
seja um dos mais reconhecidos artistas goianos, não se sabe ao certo quais
foram suas formações artísticas, supondo-se que tenha sido autodidata. Grande
parte das esculturas de Veiga Valle foram esculpidas em cedro, que era seu tipo
preferido de madeira.” (GONÇALVES,
Isabela. Artistas goianos: conheça 10 entre os maiores nomes da arte no
estado. Disponível em: < https://diaonline.ig.com.br/2019/02/12/artistas-goianos-conheca-10-entre-os-maiores-nomes-da-arte-no-estado/?utm_source=Isabela+Gon%C3%A7alves&utm_campaign=diaonline-author > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)
Uma parte das produções de José
Joaquim da Veiga Valle encontra-se exposta na Igreja Nossa Senhora da Boa
Morte, na Cidade de Goiás, onde se encontram estátuas de santos e anjos feitas
pelo artista.
Curiosamente, como se pode ver, a
arte barroca goiana teve uma marca profunda do elemento religioso, muito
aplicada em igrejas. Além de Goiás Velho (como é carinhosamente conhecida a
Cidade de Goiás), a cidade de Pilar de Goiás dispõe de grande acervo de obras,
particularmente em suas igrejas.
O barroco goiano é relativamente
bem discreto, em relação à arte barroca presente, no período colonial, em
outros lugares do Brasil, com destaque para Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Bahia. As igrejas barrocas goianas dispõem de estrutura comum, com formas
arquitetônicas geométricas simples, como o retângulo e o triângulo, além do
arco.
Outro elemento cultural e até
folclórico que merece destaque, relativamente ao período goiano colonial e de
boa parte do século XIX, é aquele constituído pelas festas religiosas, mesmo
porque há aquelas que ainda hoje seguem existindo, tendo-se constituído em
tradição. Cabe aqui destacar: a Festa do Divino Pai Eterno, da cidade de
Trindade, que, no século XIX, ainda estava em formação; a festa das Cavalhadas,
de Pirenópolis, com origens coloniais; a Procissão do Fogaréu, que ocorre a
cada Semana Santa, na Cidade de Goiás; as Congadas de Catalão; etc.
Como se pode ver, a religião
católica exerceu, ao longo de todo o período colonial e imperial, até inícios
do século XX, uma preponderância sobre a vida religiosa de Goiás. Até hoje há
muitos católicos em Goiás, mas já com a presença de grande número de evangélicos
e outros grupos religiosos, incluindo, por exemplo, budistas.
No que diz respeito às mulheres
goianas do período colonial e até depois, vale aqui citar novamente Cora
Coralina, em um de seus belos poemas:
“Todas
as Vidas (Cora Coralina):
Vive
dentro de mim
uma
cabocla velha
de
mau-olhado,
acocorada
ao pé do borralho,
olhando
para o fogo.
Benze
quebranto.
Bota
feitiço...
Ogum.
Orixá.
Macumba,
terreiro.
Ogã,
pai de santo...
Vive
dentro de mim
a
lavadeira do Rio Vermelho.
Seu
cheiro gostoso
d'água
e sabão.
Rodilha
de pano.
Trouxa
de roupa,
pedra
de anil.
Sua
coroa verde de são-caetano.
Vive
dentro de mim
a
mulher cozinheira.
Pimenta
e cebola.
Quitute
benfeito.
Panela
de barro.
Taipa
de lenha.
Cozinha
antiga
toda
pretinha.
Bem
cacheada de picumã.
Pedra
pontuda.
Cumbuco
de coco.
Pisando
alho-sal.
Vive
dentro de mim
a mulher
do povo.
Bem
proletária.
Bem
linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de
casca-grossa,
de
chinelinha,
e
filharada.
Vive
dentro de mim
a
mulher roceira.
-
Enxerto da terra,
meio
casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De
pé no chão.
Bem
parideira.
Bem
criadeira.
Seus
doze filhos
Seus
vinte netos.
Vive
dentro de mim
a
mulher da vida.
Minha
irmãzinha...
Fingindo
alegre seu triste fado.
Todas
as vidas dentro de mim:
Na
minha vida -
a
vida mera das obscuras.”
(CORALINA,
Cora. Todas as Vidas. Disponível em: < https://www.culturagenial.com/cora-coralina-poemas-essenciais/ > Acesso em 04 de dezembro de 2022.)
De fato, ainda que seja do século
XX, o poema de Cora aponta elementos femininos que, sem dúvida, existiram
também no Goiás colonial e imperial. Entre as mulheres: as esposas de senhores,
de garimpeiros, de fazendeiros e sitiantes, de comerciantes, além de membros de
outras atividades que aqui existiram; mulheres pobres e analfabetas; índias;
escravas; prostitutas; benzedeiras; parteiras; entre outras tantas mulheres que
fizeram diferença na vida social. Mães, entre as quais muitas tiveram porções
boas de filhos e filhas. A maioria analfabeta, com raras exceções, muito
certamente. Mulheres que iam à igreja, participavam das missas, e outras mais.
A sociedade era patriarcal (dominada pela figura masculina), mas sem as
mulheres tampouco seria uma sociedade, fadada que estaria ao fim.
As benzedeiras, num tempo em que
o acesso à medicina oficial era escasso, eram essenciais, por conhecerem
plantas medicinais e rezas que ajudavam, como se acreditava, na cura, na
melhora das pessoas. As parteiras, sem sombra de dúvida, durante muito tempo,
tiveram papel de grande importância: por meio delas, muitos homens e mulheres
puderam vir ao mundo.
Índias, brancas e negras
contribuíram efetivamente para a mescla social e a formação racial de Goiás e
do Brasil. Em Goiânia, inclusive, existe, na Praça Cívica, de Goiânia,
atualmente, o Monumento das Três Raças (branca, negra e indígena).
Na época da conquista das tribos,
além da escravização de índios, ocorrida pela ação bandeirante, muitas índias
foram estupradas, parte delas chegando a ser engravidada.
Houve viúvas que tiveram que
cuidar de filhos e filhas, mulheres batalhadoras. Havia freiras que cuidavam de
obras assistenciais, como os orfanatos – quem não tinha condições de criar os
filhos colocava os recém-nascidos na chamada “roda”, uma roda giratória que
ligava a parte interna de orfanatos à parte externa, ou simplesmente
deixavam-nos nas portas dessas instituições ou, em alguns casos, de casas
determinadas.
Enfim, como se pode ver, os
papéis de homens e mulheres, desempenhados na era colonial goiana, tiveram
grande impacto social e até mesmo na formação cultural do povo goiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário