COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 18 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS DOS
SEGUNDOS ANOS:
RETOMAR E CONCLUIR AULA 17.
O POVOAMENTO DE GOIÁS E
AS CORRENTES MIGRATÓRIAS:
Apontamentos:
·
A
vinda de portugueses, de descendentes e outros europeus em busca do ouro.
·
A
presença dos escravos negros.
·
A
escravização dos índios (indígenas) em Goiás.
·
A
decadência do ouro e a sociedade formada em Goiás: cidades pequenas – SETOR
RURAL (aumentado em proporção com o ouro em decadência).
·
Êxodos
causados pela decadência do ouro.
GOIÁS: POVOAMENTOS E MIGRAÇÕES – A PRESENÇA
PORTUGUESA (Prof. José Antônio Brazão.)
Na aula anterior falamos
a respeito das migrações milenares de povos que vieram para as Américas até o
Brasil, originando os indígenas, inclusive as tribos indígenas de GOIÁS.
De fato, quando chegaram
aqui, de acordo com a Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, os
portugueses se depararam com habitantes que andavam nus e moravam em cabanas de
fibras vegetais e madeira. Usavam a linguagem oral, com suas línguas próprias.
A tradição indígena era e assim continuou por alguns séculos, de fato, oral.
E os portugueses, que
trouxeram para o Brasil? Os portugueses dispunham como meios de comunicação a
palavra falada (língua portuguesa falada) e a palavra escrita, ambas
posteriormente enriquecidas com vocábulos indígenas, como visto em certa aula
passada. Os portugueses andavam vestidos, tinham barcos enormes para se
movimentar sobre os mares. Os índios, por sua vez, tinham embarcações menores,
como é descrito na carta de Caminha, mas só para movimentos próximos.
Os portugueses tinham
armas e instrumentos de metal e madeira bem elaborados: espadas, facas, armas
de fogo, ferramentas de metal, etc. Para navegar longinquamente dispunham de
astrolábios, bússolas, sextantes e mapas que viriam a ser completados com as
descobertas.
Desse primeiro choque de
civilizações com costumes diferentes os índios goianos, via, em parte, pelo
diálogo, pela catequese e também pela escravidão, também viriam a fazer parte
no decorrer de algumas décadas posteriores, com as entradas e bandeiras portuguesas.
Os portugueses tinham
hábitos alimentares que se mesclariam com outros, no Brasil colonial. Por conta
do fluxo crescente de portugueses (e portuguesas) e o domínio das novas terras,
bem como pelo controle exercido por eles, o seu domínio, a língua predominante,
hoje, no Brasil, é justamente o português.
O que motivou as
migrações portuguesas?
A vinda dos primeiros
navegantes, como Pedro Álvares Cabral e outros, foi a busca de terras e de riquezas.
Ou, como diz o poeta português Luís Vaz de Camões:
OS LUSÍADAS
Luís de Camões
Canto I
“As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.”
(CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em:
< http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000162.pdf
> Acesso em 27/05/2023.)
Notas: (1)Barões: varões, homens. (2)Assinalados: corajosos,
valorosos, marcados pela coragem e a bravura. (3)Taprobana, de acordo com o Wikcionário: “Ta.pro.ba.na próprio feminino:
1) nome antigo dado pelos gregos e romanos à ilha de Ceilão, atual Sri Lanka [país da Ásia Meridional]” (WIKCIONÁRIO.
Taprobana. Disponível em: < https://pt.wiktionary.org/wiki/Taprobana >
Acesso em 27/05/2023.)
O
texto de Camões resume bem o que queriam os portugueses naqueles tempos: “Por
mares nunca de antes navegados” – isto é, navegar por lugares por onde jamais
alguém foi. “Passaram ainda além da Taprobana” – ultrapassar os limites, indo
além deles, como os limites territoriais da Ásia e de outros lugares. “Em
perigos e guerras esforçados/ Mais do que prometia a força humana,” –
enfrentando perigos que poderiam ir das capacidades e forças humanas. “E entre
gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;” – um Novo Reino, que
tanto glorificaram, engrandeceram, é claro, um Novo Reino português, sob o
domínio do Rei de Portugal, como bem prova a Carta de Pero Vaz de Caminha ao
Rei de Portugal.
“E
também as memórias gloriosas/ Daqueles Reis que foram dilatando” – estendendo
as memórias, as lembranças de reis de Portugal, principalmente, reis do passado
e o rei português do presente. “A Fé, o Império,” – a ideia era levar, além da
Fé católica (Portugal era um reino católico e o foi por muito tempo), também
estender o Império, isto é, o domínio português por outras terras, outros
povos, outros lugares. “e as terras
viciosas De África e de Ásia andaram devastando,” – terras corruptas,
depravadas, como as da África e da Ásia, parte das quais os portugueses se
empenharam por dominar, “devastar”, ou seja, pilhar, saquear, despojar com
violência.
“E
aqueles que por obras valerosas/ Se vão da lei da Morte libertando,/ Cantando
espalharei por toda parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e arte” – e Camões
se propõe, no seu livro, como se poderá ver ao lê-lo, relembrar as obras
valorosas, as conquistas, as lutas, as batalhas, muitos dos quais já haviam
morrido, mas que pela lembrança, pela memória, se libertam da morte do
esquecimento, homens de muito valor. Camões quer espalhar essas memórias, essas
lembranças, de forma rica, poética, com “engenho e arte”, com domínio da
palavra escrita, poética.
Ainda
que Os Lusíadas tratem especificamente da viagem de Vasco da Gama, contornando
a África até as Índias, o trecho citado nos dá boa ideia do que queriam os
portugueses com suas viagens, com suas navegações, inclusive vindo a descobrir
o Brasil ou, como diz Pero Vaz de Caminha, realizar seu “achamento”. O texto
acima mostra bem o poder português naqueles tempos, inclusive com grandes escritores
como Luís Vaz de Camões e Pero Vaz de Caminha. Um que usou a poesia, o outro a
prosa. Caminha com a sobriedade de quem descreve o que vê. Camões com a pujança
(o vigor, a força, a robustez) de quem coloca muita emoção em sua pena, ao
escrever.
Muitos
portugueses viriam, ao longo dos séculos da colonização, de 1500 e,
principalmente, de 1530 adiante, cada vez mais decididamente, viriam MIGRANDO
para o Brasil – alguns com intenção de vir, fazer possível riqueza e voltar,
outros para ficar.
A
cultura portuguesa de então fazia uso de madeiras, como as muitas extraídas no
Brasil, para construir casas, navios (naus e caravelas), elaborar móveis,
extrair tinta (exemplo, do pau brasil), entre outros muitos usos. Dispunha do
domínio de muitos conhecimentos, úteis para realizar coisas incríveis, mas
também para dominar, controlar e escravizar povos – no caso do Brasil,
especialmente a escravidão indígena e a escravidão de negros africanos.
Dispunham dos conhecimentos náuticos (ver mais acima) e das armas (Camões as
cita em seu primeiro verso), conheciam bem a astronomia (os índios também, dos
quais não se pode esquecer, com muitas gerações de observações e transmissão
oral), a matemática e outras ciências. Sabiam (e sabem) fazer negócios.
Em
Goiás, marcas da cultura portuguesa estão presentes, inclusive, na religião –
por mais de dois séculos a religião católica marcou a cultura goiana e a marca
ainda hoje, por meio das congadas (misto de elementos afro-brasileiros e da fé
católica trazida pelos portugueses, dilatar da Fé e do Império, como expôs
Camões), da Festa do Divino Pai Eterno, de Nossa Senhora Auxiliadora, de Nossa
Senhora da Abadia, etc.
No que
tange à alimentação, o modo de cultivar, somado ao dos indígenas, com culturas
agrícolas vindas da Europa via Portugal. Como dizem Nuno R. Madeira e outros:
“Após a descoberta do Brasil em 1500 e o
início da colonização sistemática em 1530, os portugueses foram paulatinamente
se estabelecendo ao longo do litoral brasileiro. Ocorreu então, promovido pelos
colonos, navegadores e jesuítas portugueses um amplo processo de troca de
plantas, dentre elas as hortaliças, entre Portugal, Brasil e as outras
possessões portuguesas na África e na Ásia. Além de diversificar a alimentação,
estas introduções serviram de material básico para o melhoramento genético,
muitas vezes realizado de forma empírica [experimental, direta, prática], na
adaptação destas espécies às condições edafoclimáticas [relativas ao solo e ao
clima] brasileiras. A partir do século XVIII, intensificou-se a imigração portuguesa para o
Brasil em função da descoberta de ouro nas Minas Gerais [depois, também em Mato Grosso e em Goiás], verificando-se também um forte surto urbano.
Também, em meados do século XVIII, ocorreu a imigração sistematizada de açorianos para o Sul do
Brasil. Com eles, muitas
variedades de hortaliças, especialmente de cebola e cenoura. Em cebola, a
maioria das variedades brasileiras são originárias deste material. A partir de
seleção dentro da cultivar [palavra de origem inglesa que significa variedade cultivada, plantada] portuguesa Garrafal
[espécie de cebola portuguesa], originou-se a cultivar de cebola
Baia-Periforme, cultivar mais plantada no Sudeste até o advento dos híbridos
[fusões de espécies diferentes]. Também as cebolas do tipo Crioula, até hoje as
mais plantadas no Sul do Brasil, são originárias de material vindo dos Açores.
Em cenoura, o chamado germoplasma tropical, também seleção de materiais
trazidos pelos açorianos, foi base para o melhoramento genético de cenoura
tropical, culminando com o lançamento da cultivar [variedade] Brasília em 1981
até hoje o material mais plantado no verão. Os portugueses deixaram profundas
heranças para a cultura brasileira, determinando alguns de nossos hábitos,
entre eles os alimentares. No ano em que se completam 200 anos da vinda da
família real portuguesa ao Brasil, aproveitamos a oportunidade para falar sobre
as contribuições lusas na introdução, na produção e no consumo de hortaliças no
Brasil.” (MADEIRA, Nuno R. et alii. Contribuição
portuguesa à produção e ao consumo de hortaliças no Brasil: uma revisão
histórica. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/hb/a/Fskw4J7xrHtJSkfC3f3VYhJ/?lang=pt > Acesso em 27/05/2023.) (Os negritos e as chaves com
esclarecimentos são meus.)
Enfim, como foi dito
antes, o cruzamento de duas civilizações diferentes, cada qual com sua riqueza
e seus valores. Os mais fortes militarmente acabaram por dominar, sendo que,
hoje, muitos indígenas falam português e empenham-se por resguardar o que ainda
há de sua antiga e rica cultura. Embate de valores e de crenças que, juntamente
com a cultura africana (escravos negros), enriqueceria muito a cultura
brasileira e, em especial, a CULTURA GOIANA, como se pôde ver no ano passado e
se poderá continuar vendo.
A
cultura e os valores portugueses, como a arte, a religião, a língua e os
costumes marcaram, sem sombra de dúvida, os costumes e a cultura do Brasil e de
Goiás, enriquecida, com o passar dos séculos, também de outras culturas
externas (italiana, japonesa, chinesa, estadunidense, inglesa e muitas outras).
Em
aulas posteriores tratar-se-á também das MIGRAÇÕES DE NEGROS, forçados principalmente pela escravidão, para o Brasil e
para GOIÁS, com as muitas contribuições que trouxeram para a formação e o
enriquecimento da CULTURA GOIANA.
REFERÊNCIAS:
CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000162.pdf
> Acesso em 27/05/2023.
MADEIRA, Nuno R. et alii. Contribuição
portuguesa à produção e ao consumo de hortaliças no Brasil: uma revisão
histórica. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/hb/a/Fskw4J7xrHtJSkfC3f3VYhJ/?lang=pt
> Acesso em 27/05/2023.
PRIBERAM DICIONÁRIO. Significado de cultivar e significados de outras palavras. Disponível
em: < https://dicionario.priberam.org/
> Acesso em 27/05/2023.
WIKCIONÁRIO. Taprobana. Disponível em: < https://pt.wiktionary.org/wiki/Taprobana
> Acesso em 27/05/2023.
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