segunda-feira, 29 de maio de 2023

SEGUNDO BIMESTRE - AULA 18 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS DOS SEGUNDOS ANOS. GOIÁS: POVOAMENTOS E MIGRAÇÕES – A PRESENÇA PORTUGUESA (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

 

 

SEGUNDO BIMESTRE

AULA 18 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS DOS SEGUNDOS ANOS:

RETOMAR E CONCLUIR AULA 17.

O POVOAMENTO DE GOIÁS E AS CORRENTES MIGRATÓRIAS:

Apontamentos:

·       A vinda de portugueses, de descendentes e outros europeus em busca do ouro.

·       A presença dos escravos negros.

·       A escravização dos índios (indígenas) em Goiás.

·       A decadência do ouro e a sociedade formada em Goiás: cidades pequenas – SETOR RURAL (aumentado em proporção com o ouro em decadência).

·       Êxodos causados pela decadência do ouro.

GOIÁS: POVOAMENTOS E MIGRAÇÕES – A PRESENÇA PORTUGUESA (Prof. José Antônio Brazão.)

Na aula anterior falamos a respeito das migrações milenares de povos que vieram para as Américas até o Brasil, originando os indígenas, inclusive as tribos indígenas de GOIÁS.

De fato, quando chegaram aqui, de acordo com a Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, os portugueses se depararam com habitantes que andavam nus e moravam em cabanas de fibras vegetais e madeira. Usavam a linguagem oral, com suas línguas próprias. A tradição indígena era e assim continuou por alguns séculos, de fato, oral.

E os portugueses, que trouxeram para o Brasil? Os portugueses dispunham como meios de comunicação a palavra falada (língua portuguesa falada) e a palavra escrita, ambas posteriormente enriquecidas com vocábulos indígenas, como visto em certa aula passada. Os portugueses andavam vestidos, tinham barcos enormes para se movimentar sobre os mares. Os índios, por sua vez, tinham embarcações menores, como é descrito na carta de Caminha, mas só para movimentos próximos.

Os portugueses tinham armas e instrumentos de metal e madeira bem elaborados: espadas, facas, armas de fogo, ferramentas de metal, etc. Para navegar longinquamente dispunham de astrolábios, bússolas, sextantes e mapas que viriam a ser completados com as descobertas.

Desse primeiro choque de civilizações com costumes diferentes os índios goianos, via, em parte, pelo diálogo, pela catequese e também pela escravidão, também viriam a fazer parte no decorrer de algumas décadas posteriores, com as entradas e bandeiras portuguesas. 

Os portugueses tinham hábitos alimentares que se mesclariam com outros, no Brasil colonial. Por conta do fluxo crescente de portugueses (e portuguesas) e o domínio das novas terras, bem como pelo controle exercido por eles, o seu domínio, a língua predominante, hoje, no Brasil, é justamente o português.

O que motivou as migrações portuguesas?

A vinda dos primeiros navegantes, como Pedro Álvares Cabral e outros, foi a busca de terras e de riquezas. Ou, como diz o poeta português Luís Vaz de Camões:

OS LUSÍADAS

 Luís de Camões

Canto I

“As armas e os Barões assinalados

Que da Ocidental praia Lusitana

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

 

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando,

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando,

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.”

(CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000162.pdf  > Acesso em 27/05/2023.)

Notas: (1)Barões: varões, homens. (2)Assinalados: corajosos, valorosos, marcados pela coragem e a bravura. (3)Taprobana, de acordo com o Wikcionário: “Ta.pro.ba.na próprio feminino: 1) nome antigo dado pelos gregos e romanos à ilha de Ceilãoatual Sri Lanka [país da Ásia Meridional]” (WIKCIONÁRIO. Taprobana. Disponível em: < https://pt.wiktionary.org/wiki/Taprobana > Acesso em 27/05/2023.)

 

O texto de Camões resume bem o que queriam os portugueses naqueles tempos: “Por mares nunca de antes navegados” – isto é, navegar por lugares por onde jamais alguém foi. “Passaram ainda além da Taprobana” – ultrapassar os limites, indo além deles, como os limites territoriais da Ásia e de outros lugares. “Em perigos e guerras esforçados/ Mais do que prometia a força humana,” – enfrentando perigos que poderiam ir das capacidades e forças humanas. “E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;” – um Novo Reino, que tanto glorificaram, engrandeceram, é claro, um Novo Reino português, sob o domínio do Rei de Portugal, como bem prova a Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal.

“E também as memórias gloriosas/ Daqueles Reis que foram dilatando” – estendendo as memórias, as lembranças de reis de Portugal, principalmente, reis do passado e o rei português do presente. “A Fé, o Império,” – a ideia era levar, além da Fé católica (Portugal era um reino católico e o foi por muito tempo), também estender o Império, isto é, o domínio português por outras terras, outros povos, outros lugares.  “e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando,” – terras corruptas, depravadas, como as da África e da Ásia, parte das quais os portugueses se empenharam por dominar, “devastar”, ou seja, pilhar, saquear, despojar com violência.

“E aqueles que por obras valerosas/ Se vão da lei da Morte libertando,/ Cantando espalharei por toda parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e arte” – e Camões se propõe, no seu livro, como se poderá ver ao lê-lo, relembrar as obras valorosas, as conquistas, as lutas, as batalhas, muitos dos quais já haviam morrido, mas que pela lembrança, pela memória, se libertam da morte do esquecimento, homens de muito valor. Camões quer espalhar essas memórias, essas lembranças, de forma rica, poética, com “engenho e arte”, com domínio da palavra escrita, poética.

Ainda que Os Lusíadas tratem especificamente da viagem de Vasco da Gama, contornando a África até as Índias, o trecho citado nos dá boa ideia do que queriam os portugueses com suas viagens, com suas navegações, inclusive vindo a descobrir o Brasil ou, como diz Pero Vaz de Caminha, realizar seu “achamento”. O texto acima mostra bem o poder português naqueles tempos, inclusive com grandes escritores como Luís Vaz de Camões e Pero Vaz de Caminha. Um que usou a poesia, o outro a prosa. Caminha com a sobriedade de quem descreve o que vê. Camões com a pujança (o vigor, a força, a robustez) de quem coloca muita emoção em sua pena, ao escrever.

Muitos portugueses viriam, ao longo dos séculos da colonização, de 1500 e, principalmente, de 1530 adiante, cada vez mais decididamente, viriam MIGRANDO para o Brasil – alguns com intenção de vir, fazer possível riqueza e voltar, outros para ficar.

A cultura portuguesa de então fazia uso de madeiras, como as muitas extraídas no Brasil, para construir casas, navios (naus e caravelas), elaborar móveis, extrair tinta (exemplo, do pau brasil), entre outros muitos usos. Dispunha do domínio de muitos conhecimentos, úteis para realizar coisas incríveis, mas também para dominar, controlar e escravizar povos – no caso do Brasil, especialmente a escravidão indígena e a escravidão de negros africanos. Dispunham dos conhecimentos náuticos (ver mais acima) e das armas (Camões as cita em seu primeiro verso), conheciam bem a astronomia (os índios também, dos quais não se pode esquecer, com muitas gerações de observações e transmissão oral), a matemática e outras ciências. Sabiam (e sabem) fazer negócios.

Em Goiás, marcas da cultura portuguesa estão presentes, inclusive, na religião – por mais de dois séculos a religião católica marcou a cultura goiana e a marca ainda hoje, por meio das congadas (misto de elementos afro-brasileiros e da fé católica trazida pelos portugueses, dilatar da Fé e do Império, como expôs Camões), da Festa do Divino Pai Eterno, de Nossa Senhora Auxiliadora, de Nossa Senhora da Abadia, etc.

No que tange à alimentação, o modo de cultivar, somado ao dos indígenas, com culturas agrícolas vindas da Europa via Portugal. Como dizem Nuno R. Madeira e outros:

“Após a descoberta do Brasil em 1500 e o início da colonização sistemática em 1530, os portugueses foram paulatinamente se estabelecendo ao longo do litoral brasileiro. Ocorreu então, promovido pelos colonos, navegadores e jesuítas portugueses um amplo processo de troca de plantas, dentre elas as hortaliças, entre Portugal, Brasil e as outras possessões portuguesas na África e na Ásia. Além de diversificar a alimentação, estas introduções serviram de material básico para o melhoramento genético, muitas vezes realizado de forma empírica [experimental, direta, prática], na adaptação destas espécies às condições edafoclimáticas [relativas ao solo e ao clima] brasileiras. A partir do século XVIII, intensificou-se a imigração portuguesa para o Brasil em função da descoberta de ouro nas Minas Gerais [depois, também em Mato Grosso e em Goiás], verificando-se também um forte surto urbano. Também, em meados do século XVIII, ocorreu a imigração sistematizada de açorianos para o Sul do Brasil. Com eles, muitas variedades de hortaliças, especialmente de cebola e cenoura. Em cebola, a maioria das variedades brasileiras são originárias deste material. A partir de seleção dentro da cultivar [palavra de origem inglesa que significa variedade cultivada, plantada] portuguesa Garrafal [espécie de cebola portuguesa], originou-se a cultivar de cebola Baia-Periforme, cultivar mais plantada no Sudeste até o advento dos híbridos [fusões de espécies diferentes]. Também as cebolas do tipo Crioula, até hoje as mais plantadas no Sul do Brasil, são originárias de material vindo dos Açores. Em cenoura, o chamado germoplasma tropical, também seleção de materiais trazidos pelos açorianos, foi base para o melhoramento genético de cenoura tropical, culminando com o lançamento da cultivar [variedade] Brasília em 1981 até hoje o material mais plantado no verão. Os portugueses deixaram profundas heranças para a cultura brasileira, determinando alguns de nossos hábitos, entre eles os alimentares. No ano em que se completam 200 anos da vinda da família real portuguesa ao Brasil, aproveitamos a oportunidade para falar sobre as contribuições lusas na introdução, na produção e no consumo de hortaliças no Brasil.” (MADEIRA, Nuno R. et alii. Contribuição portuguesa à produção e ao consumo de hortaliças no Brasil: uma revisão histórica. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/hb/a/Fskw4J7xrHtJSkfC3f3VYhJ/?lang=pt > Acesso em 27/05/2023.) (Os negritos e as chaves com esclarecimentos são meus.)

Enfim, como foi dito antes, o cruzamento de duas civilizações diferentes, cada qual com sua riqueza e seus valores. Os mais fortes militarmente acabaram por dominar, sendo que, hoje, muitos indígenas falam português e empenham-se por resguardar o que ainda há de sua antiga e rica cultura. Embate de valores e de crenças que, juntamente com a cultura africana (escravos negros), enriqueceria muito a cultura brasileira e, em especial, a CULTURA GOIANA, como se pôde ver no ano passado e se poderá continuar vendo.

A cultura e os valores portugueses, como a arte, a religião, a língua e os costumes marcaram, sem sombra de dúvida, os costumes e a cultura do Brasil e de Goiás, enriquecida, com o passar dos séculos, também de outras culturas externas (italiana, japonesa, chinesa, estadunidense, inglesa e muitas outras).

Em aulas posteriores tratar-se-á também das MIGRAÇÕES DE NEGROS, forçados principalmente pela escravidão, para o Brasil e para GOIÁS, com as muitas contribuições que trouxeram para a formação e o enriquecimento da CULTURA GOIANA.

REFERÊNCIAS:

CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000162.pdf  > Acesso em 27/05/2023.

MADEIRA, Nuno R. et alii. Contribuição portuguesa à produção e ao consumo de hortaliças no Brasil: uma revisão histórica. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/hb/a/Fskw4J7xrHtJSkfC3f3VYhJ/?lang=pt > Acesso em 27/05/2023.

PRIBERAM DICIONÁRIO. Significado de cultivar e significados de outras palavras. Disponível em: < https://dicionario.priberam.org/ > Acesso em 27/05/2023.

WIKCIONÁRIO. Taprobana. Disponível em: < https://pt.wiktionary.org/wiki/Taprobana > Acesso em 27/05/2023.

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