COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
OBS.: A AULA ANTERIOR, COM TEXTO E
DEBATE, TRATOU DAS FOLIAS DE REIS EM GOIÁS, UM COSTUME ADVINDO DOS TEMPOS
COLONIAIS.
QUARTO BIMESTRE
– AULA 10/11 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS:
GOIAS NA ÉPOCA COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE
AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Prof. José Antônio Brazão.):
Um aspecto importante dos séculos
XVIII e XIX foi o interesse pelas pesquisas científicas, no mundo ocidental, a
partir da Europa. Além das viagens comerciais que vinham ocorrendo desde alguns
séculos anteriores, também viagens de cunho científico – de pesquisas acerca
fauna e da flora, além de mapeamento, de muitos países do mundo, apoiadas,
especialmente, por governos. Os pesquisadores, então, eram chamados
naturalistas, isto é, estudiosos (e pesquisadores) da natureza – no mundo
atual, seus melhores representantes são os biólogos e as biólogas.
IMAGENS (desenhos e pinturas feitos por naturalistas
que visitaram o Brasil colônia):
No caso do Brasil, as visitas de
pesquisadores ilustres, seja enviados pelo governo francês ou pela coroa
portuguesa, contribuíram muito para o levantamento de muitas informações a
respeito da flora e da fauna no Brasil e, mais especificadamente, de Goiás.
Entre os visitantes-pesquisadores que
vieram da Europa ao Brasil, por exemplo, pode ser citado o francês Auguste de
Saint Hilaire (1779-1853). Ricardo Bonalume Neto, em seu texto “Viajantes
Históricos: O Brasil dos Cientistas” para a Folha de São Paulo, faz as
seguintes colocações:
“O
Brasil se tornou independente, de fato, em 1808 [na verdade, historicamente, a Independência comemorada em 07 de setembro
se deu em 1822, com Dom Pedro I; aqui uma forma de dizer que, por conta da
vinda da Família Real ao Brasil, houve um breve rompimento com a metrópole
Portugal, que ocorrerá, de vez, em 1822],
e esse foi o começo de uma enxurrada de relatos de viajantes estrangeiros sobre
o país até então hermético [muito fechado]. Ingleses, franceses e outros
descreveram o país em grande detalhe e continuaram a tradição que até hoje
incomoda os habitantes da terra: dar uma opinião honesta sobre ela. (...)
IMAGENS:
Eram, e
continuam sendo, dois, os tipos básicos de visitantes. De um lado, os
naturalistas, empenhados em descrever a natureza quase virgem de observação
científica, mas também externando opiniões sobre a sociedade local. E os outros
estrangeiros, como comerciantes ou navegadores (hoje são os ‘turistas’), que
tinham menos interesse em botânica ou anatomia, mas também sabiam descrever em
detalhe o que viam em torno.
IMAGENS:
Em 1808
o Brasil passou a ser o centro do império português, já que a corte de Lisboa
tinha sido escorraçada pelo avanço do exército napoleônico. Com a transformação
do Rio de Janeiro em uma nova Lisboa [metrópole capital portuguesa] tropical,
tudo o que era proibido passou a ser lei: imprensa, ciência, comércio com as
‘nações amigas’, notadamente a mais amiga, o Reino Unido, aliado de Portugal
desde o século 14 e a principal potência marítima, comercial e industrial do
planeta. Foram os britânicos que comboiaram o príncipe regente, futuro Dom João
6º, ao Rio de Janeiro, os oficiais da Royal Navy [Marinha Real] estão entre os
primeiros a escreverem sobre o paraíso tropical agora aberto a eles.
IMAGENS (A
família real no Brasil, no início do século XIX):
Havia
decerto interesses mais pragmáticos para vasculhar o Brasil, mas se aventurar
por rios, montanhas ou desertos desconhecidos por mera curiosidade era o grande
atrativo da ciência do século 19. Coincidiu com a criação de um mercado
literário de livros de viagens e aventuras. Irônica e tragicamente, uma exceção
à tardia chegada da ciência moderna no Brasil luso foi a última grande
expedição colonial, obra do baiano Alexandre Rodrigues Ferreira(1756-1815) no
final do século 18. Durante nove anos ele explorou a região amazônica, mas o
resultado de suas pesquisas demorou a
ser divulgado. Os espécimes e desenhos estavam em Lisboa quando os franceses
tomaram o país e acabaram saqueados pelo naturalista Geoffroy de Saint-Hilaire
(1772-1844), que tinha no currículo ter acompanhado Napoleão na expedição que
deu origem à moderna egiptologia.
Outro francês, Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853),
compensou com folga os danos de seu conterrâneo com o mesmo sobrenome.
Pesquisando no Brasil de 1816 a 1822, ele colecionou um herbário de 30 mil
exemplares composto de 7 mil espécies diferentes de plantas. (...)”
(BONALUME
NETO, Ricardo. Viajantes Históricos: O
Brasil dos cientistas. In: FOLHA DE SÃO PAULO, domingo, 28 de dezembro de
1997. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs281216.htm > Acesso em
24 de outubro de 2021.) O que está entre colchetes e grifado são de
responsabilidade minha, para ajudar na compreensão.
IMAGENS
(Auguste de Saint-Hilaire):
Entre os locais pelos quais
Saint-Hilaire passou em Goiás, se encontram:
“Goyaz (Goiás)
- Santa Luzia (atual Luziânia),
Corumbá (atual Corumbá de Goiás), Meia Ponte (atual Pirenópolis), Serra dos
Pireneus, Córrego Jaraguá
(atual Jaraguá), Ouro Fino, Ferreiro, Goiás (município), Serra Dourada, Caldas Novas, Rio Paranaíba.[17]”
(WIKIPÉDIA.
Auguste de Saint-Hilaire. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire > Acesso em
24 de outubro de 2021.)
Auguste de Saint-Hilaire é citado, em
sua passagem por PIRENÓPOLIS. Eis o que o próprio naturalista diz:
“O
encantador arraial de Meia-Ponte [atual Pirenópolis] é ao mesmo tempo sede de
um julgado e de uma paróquia. Situado a 15º30' de latitude S., numa região de
grande salubridade, na intersecção das estradas do Rio de Janeiro, Bahia, Mato
Grosso e São Paulo, distante de Vila Boa no máximo 27 léguas e rodeado de
terras extraordinariamente férteis, o arraial era um dos mais bem aquinhoados
da província e o de maior população.
IMAGENS
(Pirenópolis no século XIX):
A
extensão da paróquia de Meia Ponte é de cerca de 32 léguas no sentido norte-sul
e de 20 de leste a oeste. Embora menos extensa que a de Santa Luzia, sua
população é bem mais numerosa, contando com sete mil habitantes. Dela dependem
duas capelas, a de Corumbá e a de Córrego do Jaraguá, que descreverei mais
adiante.
O
arraial foi construído numa pequena planície rodeada de montanhas e coberta de
árvores de pequeno porte. Estende-se ao longo da margem esquerda do Rio das
Almas, numa encosta suave, e defronta o prolongamento dos Montes Pireneus. Tem
praticamente o formato de um quadrado e conta com mais de trezentas casas,
todas muito limpas, caprichosamente caiadas, cobertas de telhas e bastante
altas para a região. Cada uma delas, conforme o uso em todos os arraiais do interior,
tem um quintal onde se veem bananeiras, laranjeiras e cafeeiros plantados
desordenadamente. As ruas são largas, perfeitamente retas e com calçadas dos
dois lados. Cinco igrejas contribuem para enfeitar o arraial. A igreja
paroquial, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, é bastante ampla e fica
localizada numa praça quadrangular. Suas paredes, feitas de adobe, tem 12
palmos de espessura e são assentadas sobre alicerces de pedra. O interior da
igreja é razoavelmente ornamentado, mas o teto não tem forro.”
IMAGENS
(Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de Pirenópolis):
(SAINT-HILAIRE,
Auguste de. O Arraial de Meia Ponte.
Apud: PIRENOPOLIS.TUR.BR – O Portal do Turismo de Pirenópolis. Disponível em:
< https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire > Acesso em 24 de outubro de 2021.) O que está
entre colchetes é meu, a título de esclarecimento.
IMAGENS:
Nas citações originais do próprio
Saint-Hilaire:
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f331.item (Histórico.)
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f402.item (Índice do livro.)
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f342.item (Vegetação.)
Como se pode ver, o Estado de Goiás,
na época do ouro, teve grande importância tanto para a Coroa Portuguesa quanto
para outros países europeus interessados em conhecer o Brasil, suas paisagens,
seus costumes, seu povo. Tais informações eram vitais para se poder fazer
negócios e buscar matérias-primas, bem como vender produtos advindos da Europa.
Vale lembrar que o interesse pelo
Brasil e, particularmente, por Goiás, não era um interesse ingênuo, de troca de
conhecimentos meramente. Tal conhecimento era, como ainda é hoje, estratégico.
O estudo de plantas, por exemplo, é de grande importância para o
desenvolvimento de remédios, alimentos, obtenção de madeiras de boa qualidade,
entre outros aspectos a serem considerados.
Entre os séculos XVIII e XIX, a
Europa passava pela REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, um grande desenvolvimento das
indústrias, que, progressivamente, começaram a aplicar princípios científicos.
Na área da produção química, por exemplo, vale lembrar dos trabalhos de Antoine-Laurent
de Lavoisier (1743-1794), cujas pesquisas contribuíram para o desenvolvimento
da Química e de suas aplicações.
Os trabalhos e as pesquisas de
Auguste de Saint-Hilaire, no século XIX, seguiram a linha da busca de
informações e conhecimentos gerais a respeito do mundo daquele tempo e deixaram
marcas profundas no entendimento da natureza e até mesmo dos costumes, como no
caso dos costumes das populações brasileira como um todo e goiana, em especial.
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