domingo, 9 de outubro de 2022

QUARTO BIMESTRE – AULA 10/11 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS: GOIAS NA ÉPOCA COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

 

OBS.: A AULA ANTERIOR, COM TEXTO E DEBATE, TRATOU DAS FOLIAS DE REIS EM GOIÁS, UM COSTUME ADVINDO DOS TEMPOS COLONIAIS.

QUARTO BIMESTRE – AULA 10/11 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS:

GOIAS NA ÉPOCA COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Prof. José Antônio Brazão.):

Um aspecto importante dos séculos XVIII e XIX foi o interesse pelas pesquisas científicas, no mundo ocidental, a partir da Europa. Além das viagens comerciais que vinham ocorrendo desde alguns séculos anteriores, também viagens de cunho científico – de pesquisas acerca fauna e da flora, além de mapeamento, de muitos países do mundo, apoiadas, especialmente, por governos. Os pesquisadores, então, eram chamados naturalistas, isto é, estudiosos (e pesquisadores) da natureza – no mundo atual, seus melhores representantes são os biólogos e as biólogas.

IMAGENS (desenhos e pinturas feitos por naturalistas que visitaram o Brasil colônia):

https://www.google.com.br/search?q=naturalistas+no+brasil+col%C3%B4nia&hl=pt-BR&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=657&ei=oFd1YdnnH6rK1sQPhLWR0Aw&ved=0ahUKEwjZt9SCjOPzAhUqpZUCHYRaBMoQ4dUDCAc&uact=5&oq=naturalistas+no+brasil+col%C3%B4nia&gs_lcp=CgNpbWcQAzoICAAQgAQQsQM6BQgAEIAEOgsIABCABBCxAxCDAToECAAQHjoGCAAQBRAeOgYIABAIEB5Q8QpYwFlg9V9oBHAAeACAAcoCiAGXK5IBCDAuMzMuMS4xmAEAoAEBqgELZ3dzLXdpei1pbWewAQA&sclient=img#imgrc=wO9A3C90Q-LtpM 

No caso do Brasil, as visitas de pesquisadores ilustres, seja enviados pelo governo francês ou pela coroa portuguesa, contribuíram muito para o levantamento de muitas informações a respeito da flora e da fauna no Brasil e, mais especificadamente, de Goiás.

Entre os visitantes-pesquisadores que vieram da Europa ao Brasil, por exemplo, pode ser citado o francês Auguste de Saint Hilaire (1779-1853). Ricardo Bonalume Neto, em seu texto “Viajantes Históricos: O Brasil dos Cientistas” para a Folha de São Paulo, faz as seguintes colocações:

“O Brasil se tornou independente, de fato, em 1808 [na verdade, historicamente, a Independência comemorada em 07 de setembro se deu em 1822, com Dom Pedro I; aqui uma forma de dizer que, por conta da vinda da Família Real ao Brasil, houve um breve rompimento com a metrópole Portugal, que ocorrerá, de vez, em 1822], e esse foi o começo de uma enxurrada de relatos de viajantes estrangeiros sobre o país até então hermético [muito fechado]. Ingleses, franceses e outros descreveram o país em grande detalhe e continuaram a tradição que até hoje incomoda os habitantes da terra: dar uma opinião honesta sobre ela. (...)

 IMAGENS:

https://www.google.com.br/search?q=viajantes+que+chegaram+ao+Brasil+colonial&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwis4vS8jePzAhXGr5UCHTH5ApAQ_AUoA3oECAEQBQ&biw=1366&bih=657&dpr=1#imgrc=lCnLKZceq-Ji_M

Eram, e continuam sendo, dois, os tipos básicos de visitantes. De um lado, os naturalistas, empenhados em descrever a natureza quase virgem de observação científica, mas também externando opiniões sobre a sociedade local. E os outros estrangeiros, como comerciantes ou navegadores (hoje são os ‘turistas’), que tinham menos interesse em botânica ou anatomia, mas também sabiam descrever em detalhe o que viam em torno.

IMAGENS:

https://www.google.com.br/search?q=expedi%C3%A7%C3%B5es+cient%C3%ADficas+no+brasil+do+s%C3%A9culo+xix&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwj7wcX8jePzAhWUpZUCHSsADh8Q_AUoAnoECAEQBA&biw=1366&bih=657&dpr=1#imgrc=YUd0TCuTmK6nNM

Em 1808 o Brasil passou a ser o centro do império português, já que a corte de Lisboa tinha sido escorraçada pelo avanço do exército napoleônico. Com a transformação do Rio de Janeiro em uma nova Lisboa [metrópole capital portuguesa] tropical, tudo o que era proibido passou a ser lei: imprensa, ciência, comércio com as ‘nações amigas’, notadamente a mais amiga, o Reino Unido, aliado de Portugal desde o século 14 e a principal potência marítima, comercial e industrial do planeta. Foram os britânicos que comboiaram o príncipe regente, futuro Dom João 6º, ao Rio de Janeiro, os oficiais da Royal Navy [Marinha Real] estão entre os primeiros a escreverem sobre o paraíso tropical agora aberto a eles.

IMAGENS (A família real no Brasil, no início do século XIX):

https://www.google.com/search?q=fam%C3%ADlia+real+no+brasil&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwi2iPzIi-PzAhUrr5UCHY3VDuMQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1

Havia decerto interesses mais pragmáticos para vasculhar o Brasil, mas se aventurar por rios, montanhas ou desertos desconhecidos por mera curiosidade era o grande atrativo da ciência do século 19. Coincidiu com a criação de um mercado literário de livros de viagens e aventuras. Irônica e tragicamente, uma exceção à tardia chegada da ciência moderna no Brasil luso foi a última grande expedição colonial, obra do baiano Alexandre Rodrigues Ferreira(1756-1815) no final do século 18. Durante nove anos ele explorou a região amazônica, mas o resultado de suas pesquisas  demorou a ser divulgado. Os espécimes e desenhos estavam em Lisboa quando os franceses tomaram o país e acabaram saqueados pelo naturalista Geoffroy de Saint-Hilaire (1772-1844), que tinha no currículo ter acompanhado Napoleão na expedição que deu origem à moderna egiptologia.

Outro francês, Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), compensou com folga os danos de seu conterrâneo com o mesmo sobrenome. Pesquisando no Brasil de 1816 a 1822, ele colecionou um herbário de 30 mil exemplares composto de 7 mil espécies diferentes de plantas. (...)”

(BONALUME NETO, Ricardo. Viajantes Históricos: O Brasil dos cientistas. In: FOLHA DE SÃO PAULO, domingo, 28 de dezembro de 1997. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs281216.htm  > Acesso em 24 de outubro de 2021.) O que está entre colchetes e grifado são de responsabilidade minha, para ajudar na compreensão.

IMAGENS (Auguste de Saint-Hilaire):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire#/media/Ficheiro:Henrique_Manzo_-_Retrato_de_Augusto_de_Saint_Hilaire,_Acervo_do_Museu_Paulista_da_USP.jpg

Entre os locais pelos quais Saint-Hilaire passou em Goiás, se encontram:

“Goyaz (Goiás)

(WIKIPÉDIA. Auguste de Saint-Hilaire. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire  > Acesso em 24 de outubro de 2021.)

Auguste de Saint-Hilaire é citado, em sua passagem por PIRENÓPOLIS. Eis o que o próprio naturalista diz:

“O encantador arraial de Meia-Ponte [atual Pirenópolis] é ao mesmo tempo sede de um julgado e de uma paróquia. Situado a 15º30' de latitude S., numa região de grande salubridade, na intersecção das estradas do Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso e São Paulo, distante de Vila Boa no máximo 27 léguas e rodeado de terras extraordinariamente férteis, o arraial era um dos mais bem aquinhoados da província e o de maior população.

IMAGENS (Pirenópolis no século XIX):

https://www.google.com/search?q=piren%C3%B3polis+no+s%C3%A9culo+xix&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjR86u3nePzAhXUKrkGHYDLB1wQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=Z56SU4LmC_991M

A extensão da paróquia de Meia Ponte é de cerca de 32 léguas no sentido norte-sul e de 20 de leste a oeste. Embora menos extensa que a de Santa Luzia, sua população é bem mais numerosa, contando com sete mil habitantes. Dela dependem duas capelas, a de Corumbá e a de Córrego do Jaraguá, que descreverei mais adiante.

O arraial foi construído numa pequena planície rodeada de montanhas e coberta de árvores de pequeno porte. Estende-se ao longo da margem esquerda do Rio das Almas, numa encosta suave, e defronta o prolongamento dos Montes Pireneus. Tem praticamente o formato de um quadrado e conta com mais de trezentas casas, todas muito limpas, caprichosamente caiadas, cobertas de telhas e bastante altas para a região. Cada uma delas, conforme o uso em todos os arraiais do interior, tem um quintal onde se veem bananeiras, laranjeiras e cafeeiros plantados desordenadamente. As ruas são largas, perfeitamente retas e com calçadas dos dois lados. Cinco igrejas contribuem para enfeitar o arraial. A igreja paroquial, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, é bastante ampla e fica localizada numa praça quadrangular. Suas paredes, feitas de adobe, tem 12 palmos de espessura e são assentadas sobre alicerces de pedra. O interior da igreja é razoavelmente ornamentado, mas o teto não tem forro.”

IMAGENS (Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de Pirenópolis):

https://www.google.com/search?q=igreja+nossa+senhora+do+ros%C3%A1rio+piren%C3%B3polis&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwinlI-InuPzAhWsKLkGHUo8Bl4Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=YcD8Kx8cW5HYZM

(SAINT-HILAIRE, Auguste de. O Arraial de Meia Ponte. Apud: PIRENOPOLIS.TUR.BR – O Portal do Turismo de Pirenópolis. Disponível em: < https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire > Acesso em 24 de outubro de 2021.) O que está entre colchetes é meu, a título de esclarecimento.

IMAGENS:

https://www.google.com/search?source=univ&tbm=isch&q=les+dessins+d%27auguste+de+saint-hilaire+du+br%C3%A9sil+naturel&fir=P-D-xvt6DUo2FM%252CLhgl2FuhVAkFaM%252C_%253BM7MaXDVLKTM0lM%252CjsBY1H00aeXDxM%252C_%253BDp_w5dhdPYUaoM%252CLhgl2FuhVAkFaM%252C_%253BUWgCYZkLzaMGoM%252C8VMPBVDePuWRbM%252C_%253BF1pJCwf6fh0mtM%252CrwOCF9wyvANMJM%252C_%253B28XXoQ8JEnEQHM%252Cr_AAL2jyl19RcM%252C_%253BFsxO94TMKqH3VM%252CrwOCF9wyvANMJM%252C_%253BMLcL-wnRHmst9M%252Cyu4steEGvF-6AM%252C_%253B_kBN1QRthBwy5M%252CrwOCF9wyvANMJM%252C_%253BLFTK4GiEyAlHOM%252CrwOCF9wyvANMJM%252C_&usg=AI4_-kTSyMHLyARQGAluaGwzSyKipnARKA&sa=X&ved=2ahUKEwjR_pi4lOPzAhVarJUCHX-bBa8QjJkEegQIAxAC&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=M7MaXDVLKTM0lM

Nas citações originais do próprio Saint-Hilaire:

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f331.item (Histórico.)

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f402.item (Índice do livro.)

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f342.item (Vegetação.)

Como se pode ver, o Estado de Goiás, na época do ouro, teve grande importância tanto para a Coroa Portuguesa quanto para outros países europeus interessados em conhecer o Brasil, suas paisagens, seus costumes, seu povo. Tais informações eram vitais para se poder fazer negócios e buscar matérias-primas, bem como vender produtos advindos da Europa.

Vale lembrar que o interesse pelo Brasil e, particularmente, por Goiás, não era um interesse ingênuo, de troca de conhecimentos meramente. Tal conhecimento era, como ainda é hoje, estratégico. O estudo de plantas, por exemplo, é de grande importância para o desenvolvimento de remédios, alimentos, obtenção de madeiras de boa qualidade, entre outros aspectos a serem considerados.

Entre os séculos XVIII e XIX, a Europa passava pela REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, um grande desenvolvimento das indústrias, que, progressivamente, começaram a aplicar princípios científicos. Na área da produção química, por exemplo, vale lembrar dos trabalhos de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794), cujas pesquisas contribuíram para o desenvolvimento da Química e de suas aplicações.

Os trabalhos e as pesquisas de Auguste de Saint-Hilaire, no século XIX, seguiram a linha da busca de informações e conhecimentos gerais a respeito do mundo daquele tempo e deixaram marcas profundas no entendimento da natureza e até mesmo dos costumes, como no caso dos costumes das populações brasileira como um todo e goiana, em especial.

 

 

 

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