domingo, 30 de outubro de 2022

QUARTO BIMESTRE – AULA 15 DO SEGUNDO SEMESTRE DE 2021 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS: GOIAS NA ÉPOCA COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Parte 3/Comentários) (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica


QUARTO BIMESTRE – AULA 15 DO SEGUNDO SEMESTRE DE 2021 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS:  

GOIAS NA ÉPOCA COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Parte 3/Comentários) (Prof. José Antônio Brazão.):

Tendo vindo ao Brasil, ao passar por Goiás, Auguste de Saint-Hilaire, o naturalista e pesquisador francês, fez todo um levantamento de espécies animais e vegetais por onde passou, tendo observado muito as populações que moravam, então, no país  e, especialmente, neste Estado. Vejamos um comentário que fez a uma fazenda situada na região de Pirenópolis(CONCLUSÃO):

“Uma Fazenda Modelo [Fazenda Babilônia](CONCLUSÃO)

(...)

Durante minha permanência na casa do comandante de Meia-Ponte visitei as várias dependências de sua fazenda, o chiqueiro, o paiol, o moinho de farinha, o local onde era ralada a mandioca e onde ficava instalada a máquina de descaroçar o algodão, a fábrica de fiação, etc. etc., e em toda parte encontrei uma ordem e uma limpeza incomparáveis. Os fornos do engenho-de-açúcar não tinham sido feitos de acordo com as especificações da técnica moderna. Seu aquecimento era feito pelo lado de fora, o que pelo menos tornava menos penosa para os trabalhadores a operação de cozimento. Um tambor horizontal movido a água punha em movimento doze pequenas máquinas de descaroçar algodão.

IMAGENS (descaroçador de algodão do século XIX):

https://www.google.com/search?q=descaro%C3%A7ador+de+algod%C3%A3o+do+s%C3%A9culo+XIX&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjUydfuoPfzAhVwppUCHQwpChkQ_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=pqEPqb_hH0MIqM

IMAGENS (O casarão da fazenda):

https://www.fazendababilonia.com.br/galerias/galeria?id=3

Produçao:

https://www.google.com/search?q=algod%C3%A3o+s%C3%A9culo+xix&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiM_MHEwYb0AhVxppUCHbhUDmYQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=DaqACRaiOdyj3M

Era também a água a máquina de ralar mandioca, da qual darei aqui uma descrição. A casa onde se achava instalada era construída sobre estacas e embaixo do assoalho fora colocada uma roda em posição horizontal, que era movida pela água que caía de uma calha em plano inclinado. O eixo da roda atravessava o assoalho e se elevava até certa altura, tendo na extremidade outra roda horizontal cujo aro era revestido por um ralo de metal. O eixo e a roda superior ficavam encaixados dentro de um quadrado formado por quatro estacas, cada uma das quais tinha uma chanfradura na parte interna, ao nível do ralo. Quando a roda começava a girar, quatro pessoas seguravam as mandiocas, encaixando-as nas chanfraduras. Tendo esse ponto de apoio, seus braços podiam manter-se firmes e a ação da máquina não sofria interrupção.

IMAGENS (máquina de ralar mandioca):

Conjunto 1:

https://www.google.com/search?q=m%C3%A1quina+de+ralar+mandioca+da+fazenda+babilonia+no+s%C3%A9culo+xix&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjPj_CdovfzAhWOq5UCHcruAB4Q_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=McF3L2EJoTaH0M

Conjunto 2:

https://www.google.com/search?q=m%C3%A1quina+de+ralar+mandioca+movida+por+%C3%A1gua+em+engenho&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiKvpOYrPfzAhUFqZUCHcjMDR8Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=UhhBUijVIb4bIM&imgdii=GdpmiFoCKT0NbM

Numa parte de suas terras o comandante de Meia-Ponte [Pirenópolis] tinha deixado de lado o método primitivo adotado geralmente pelos brasileiros em suas lavouras. Passara a usar o arado e adubava a terra com o bagaço da cana. Dessa forma não havia necessidade de queimar novas matas todo ano. A cana era replantada sempre no mesmo terreno, que ficava situado perto da casa para facilitar a supervisão do dono e poupar tempo aos escravos. O açúcar e a cachaça eram vendidos em Meia-Ponte e Vila Boa, mas o algodão era exportado para o Rio de Janeiro e Bahia. Joaquim Alves foi o primeiro, como já disse, a demonstrar a vantagem dessas exportações, e seu exemplo foi seguido por vários outros colonos.

VISUALIZANDO:

Conjunto1:

https://www.google.com/search?q=aproveitamento+do+baga%C3%A7o+da+cana+de+a%C3%A7ucar+adubo&tbm=isch&ved=2ahUKEwjb2P--vYb0AhWVNbkGHRm0BXEQ2-cCegQIABAA&oq=aproveitamento+do+baga%C3%A7o+da+cana+de+a%C3%A7ucar+adubo&gs_lcp=CgNpbWcQAzoECAAQGFCTFFjYeGDWggFoBHAAeACAAcQBiAGADpIBBDAuMTGYAQCgAQGqAQtnd3Mtd2l6LWltZ8ABAQ&sclient=img&ei=H-WHYZvNDpXr5OUPmeiWiAc&bih=597&biw=1242#imgrc=w2yMep8WAWvQaM

Conjunto2:

https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/residuo-da-cana-de-acucar-vira-adubo-que-promete-melhorar-producao-cafeeira-na-alta-mogiana.ghtml

Por ocasião de minha viagem ele estava planejando aumentar ainda mais suas plantações de algodão e tinha intenção de instalar no próprio arraial de Meia-Ponte uma descaroçadora, bem como uma fiação onde pretendia empregar as mulheres e as crianças sem trabalho. Depois de descaroçado, o algodão da região, cuja qualidade é excelente, era vendido no local a 3.000 réis a arroba. O transporte de Meia-Ponte à Bahia custava 1.800 réis a arroba, e até o Rio de Janeiro 2.000. O lucro obtido com as exportações a esse preço era tão garantido que Joaquim Alves não vacilara em se oferecer para comprar, à razão der 3.000 réis, o algodão produzido por todos os agricultores das redondezas.

IMAGENS:

https://www.google.com/search?q=com%C3%A9rcio+algodoeiro+no+s%C3%A9culo+xix+em+goi%C3%A1s&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwj0tIb9p_fzAhWnq5UCHQXBDc8Q_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=oFsdWZFZKi4HdM&imgdii=DaqACRaiOdyj3M

Obs.: Arroba = (METROLOGIA [estudo das medidas]) antiga unidade de medida de peso que corresponde a 32 arráteis (cerca de 14,7 kg). (Definições Oxford Languages, Google).

Ao dedicar sua atenção a um produto que podia ser exportado com proveito, o comandante de Meia-Ponte [Pirenópolis] incentivava seus compatriotas a tomar novos rumos, indicando-lhes o que devia ser feito para arrancar sua região do estado de penúria em que a mergulhara uma exportação do ouro mal orientada. Enquanto ele agia de maneira prática, vários de seus concidadãos afirmavam que só havia salvação para a província numa ideia absurda apresentada por Luís Antônio da Silva e Souza. Segundo eles, a única maneira de deter a decadência sempre crescente da província seria impedir a saída do ouro para fora de suas fronteiras, criando-se para isso uma moeda provincial.

VISUALIZAÇÃO:

Ouro:

https://www.google.com/search?q=barras+de+ouro+s%C3%A9culo+xix&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiWq5H2vob0AhUnp5UCHdr1C30Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=CQCIlS_gAiytWM

Moedas:

https://www.google.com/search?q=moedas+brasileiras+do+s%C3%A9culo+xix+somente+para+ver&tbm=isch&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjD2uPJv4b0AhVaNrkGHTOfAgkQBXoECAEQDw&biw=1226&bih=597#imgrc=pKWA3MvluGBW_M

Poder-se-ia argumentar, entretanto, que se essa moeda não tivesse valor como metal não haveria força humana capaz de lhe dar algum crédito. Se, pelo contrário, ela fosse de cobre, de ouro ou de prata, acabaria saindo da província de uma forma ou outra, por mais rigorosa que fosse a proibição, como acontecem todos os dias com o ouro em pó. Uma vez fora de suas fronteiras, porém, ela só seria aceita pelo seu valor intrínseco, e em consequência os comerciantes de Goiás passarão a vender suas mercadorias por um preço que compense a sua desvalorização. O ouro adulterado que circula em Goiás já pode ser considerado uma espécie de moeda provincial, pois só é aceito ali, e quando o comerciante o remete para fora ele se vê obrigado a reduzi-lo ao seu valor real, purificando-o, para em seguida reajustar os seus preços de acordo com a redução de peso sofrida pelo ouro.

OBS.: Ouro adulterado era ouro misturado com outros metais, a fim de aumentar o peso. Por exemplo, com parte de prata ou outro metal. (Prof. José Antônio.)

IMAGENS (ouro misturado):

https://www.google.com/search?q=ouro+misturado+com+prata+e+cobre&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwj-yYP_pPfzAhWPrpUCHU3NDuYQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597&dpr=1.1#imgrc=UwFqQ7TSdP34bM

Depois de tantas jornadas tediosas e cansativas através dos sertões, senti-me feliz por me achar numa casa que reunia todo o conforto que a região podia oferecer, onde eu gozava de inteira liberdade e cujo proprietário, um homem esclarecido, tinha por mim toda consideração. O tempo que passei na casa de Joaquim Alves foi muito proveitoso. Meus homens fizeram uma esplêndida caçada nas margens de uma lagoa situada nas proximidades. Quanto a mim, passei para o papel uma parte dos dados que recolhera sobre vários assuntos e obtive novas informações em conversas com meu hospedeiro. [Grifo feito pelo Prof. José Antônio, a título de destaque.]

Deixei a fazenda cheio de gratidão pela excelente acolhida que me deu o seu proprietário e me dirigi a Meia-Ponte, distante dali uma légua.

(SAINT-HILAIRE, Auguste de. Uma fazenda modelo. Disponível em: < https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire#Uma%20Fazenda%20Modelo > Acesso em 01 de novembro de 2021.) (O que está entre chaves e/ou grifado é meu.)

O que há de muito interessante nesses relatos de Auguste de Saint-Hilaire, em sua visita à Fazenda Babilônia, em Pirenópolis, são elementos que marcaram muito a história e a cultura do Brasil e, particularmente, de Goiás nos séculos XVIII e XIX, como, por exemplo:

1)    A produção de açúcar e derivados da cana (ex.: cachaça).

2)    O poder de fazendeiros e a importância das grandes fazendas.

3)    A influência do poder desses grandes fazendeiros em sua região.

4)    O trabalho escravo nas fazendas, nas minas, em diferentes funções e trabalhos.

5)    A produção de algodão. Exportado como matéria-prima para as indústrias europeias. Época do auge da Revolução Industrial.

6)    O cuidado dos naturalistas visitantes em registrar o máximo de informações possíveis, desde a natureza até mesmo locais e costumes.

7)    A utilização do bagaço de cana de açúcar na adubação da terra, no intuito de evitar maiores desmatamentos.

8)    O comentário do risco de uma moeda própria na Província de Goiás, de sua não aceitação até a desvalorização (no penúltimo parágrafo do texto de Saint-Hilaire acima).

9)    Etc.

 

VISUALIZAÇÃO (COMPLEMENTO):

https://tertuliabibliofila.blogspot.com/2011/05/auguste-de-saint-hilaire-apontamentos.html

COMENTÁRIO COMPLEMENTAR (Prof. José Antônio Brazão.):

A visita de Auguste de Saint-Hilaire a Goiás, depois de ter passado por outros lugares do Brasil, permite perceber que, no século XIX, além da variedade natural (fauna e flora – animais e vegetação, além de minerais, rochas e outros materiais extraídos da natureza) aliou-se à observação da vida e dos costumes de quem, então, aqui morava e também no Brasil.

No campo dos estudos científicos, o peso enorme do conhecimento do mundo natural. Tais estudos permitiam compreender melhor o funcionamento dos sistemas vivos e seu entrelaçamento com a matéria inerte, além do humano.

Outro ponto importantíssimo: Saint-Hilaire fez levantamento de informações históricas, como no caso do conflito entre indígenas e pelotão de soldados, por ele mencionado em um de seus textos. Esse conjunto informacional permite entender, com outros, como ocorreu a dizimação de tribos inteiras, incluindo a que deu origem ao nome de Goiás (os índios goyazes). É claro, contribuíram para essa dizimação em alguns casos as doenças, os conflitos de índios com fazendeiros e bandeirantes.

Vale lembrar que os bandeirantes, além da busca de ouro e pedras preciosas, a escravização de indígenas foi comum.

Dos relatos de Saint-Hilaire, ainda, a escravidão negra, que esteve presente em quase todo o século XIX, só encaminhando-se para o fim em 1888, com a Lei Áurea. O trabalho escravo negro, mais ainda que o indígena, teve grande peso no Brasil colonial, incluindo Goiás.

A observação de fazendas por onde passou e a comparação entre elas permitem dispor também de uma imagem sobre sua organização. Saint-Hilaire viu, na Fazenda Babilônia, uma organização, inclusive produtiva, que não viu em outras fazendas.

Sobre Auguste de Saint-Hilaire, alguns sites:

Pirenópolis Tur:

https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire

A França no Brasil – As viagens de Auguste de Saint-Hilaire:

Parte 1 (Usar Google Tradutor ou outro):

https://bndigital.bn.gov.br/dossies/dossie-antigo/matrizes-nacionais/figuras-de-viajantes/as-viagens-de-auguste-de-saint-hilaire/?lang=fr

Parte 2 (Usar Google Tradutor ou outro):

https://heritage.bnf.fr/france-bresil/fr/auguste-st-hilaire-article#auguste-st-hilaire

Parte 3 (GOIÁS) (Livro de Saint-Hilaire sobre Goiás. Usar Google Tradutor ou outro):

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363?rk=107296;4

Tábua dos capítulos – Capítulo XVI, que trata de Goiás:

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f402.item

Quadro geral da Província de Goiás (página inicial) (Usar Google Tradutor ou outro):

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f330.item

 

 

 

 

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