SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS
ENSINO MÉDIO – PRIMEIROS ANOS
CULTURA GOIANA– PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA 14 DO SEGUNDO
SEMESTRE DE 2021 DE CULTURA GOIANA
GOIAS NA ÉPOCA
COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Parte 4/Comentários):
OS ÍNDIOS (Prof. José Antônio Brazão.):
Tendo
vindo ao Brasil, ao passar por Goiás, Auguste de Saint-Hilaire, o naturalista e
pesquisador francês, fez todo um levantamento de espécies animais e vegetais
por onde passou, tendo observado muito as populações que moravam, então, no
país e, especialmente, neste Estado.
TEXTO
DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE:
Os
Índios Coiapós (A.Sain-Hilaire)
“Chegando
ao alto da serra tive uma ampla visão de todas as terras ao redor e distingui
nitidamente Vila Boa, ao longe, parecendo um oásis no meio de um deserto. Mais
longe ainda, avistei os dois cumes dos Montes Pireneus."
"Antes
de chegar à Aldeia de S. José avista-se de longe o povoado. Entediado pela
triste monotonia da região, é com prazer que o visitante vê o encantador efeito
produzido na paisagem pela série de construções regulares que contrastam com o
aspecto selvagem e desértico das terras circunvizinhas.
Essa
aldeia, habitadas pelos índios Caiapós, ou Coiapós, como se diz geralmente na
região, não foi originalmente destinada a essa nação indígena.
Desde
os primeiros tempos da descoberta de Goiás, os aventureiros que se espalharam
por estas terras fizeram contra os índios as mais temíveis crueldades, e estes
se vingaram muitas vezes por meio de represálias não menos terríveis. O governo
português, geralmente generoso em relação aos índios, tomou-os sob sua
proteção, expedindo ordens para que fossem tratados com doçura, mandando chamar
jesuítas para que os catequizassem e civilizassem, determinando que não fosse
poupada nenhuma despesa e se fizesse um inquérito contra os seus carrascos. É
grande, porém, a distância entre Lisboa e Goiás, e essas medidas bem-intencionadas
não surtiram nenhum resultado.
Não
obstante, foram fundadas algumas aldeias, com grande dispêndio de dinheiro,
entre elas as do Douro e de Formiga, perto do Arraial das Almas, na parte
setentrional da província. Inicialmente, foi confiada a direção dessas aldeias
aos jesuítas, que logo exerceram sobre os Acróas ali reunidos uma enorme
influência. Todavia, cinco anos mais tarde foi instalada uma guarnição militar
junto aos indígenas. Estes se revoltaram e a maioria foi massacrada.
No
governo do Capitão-geral José de Almeida, Barão de Mossamedes, por volta de
1773 ou 1774, eles tornaram a se revoltar. os chefes foram executados, e o
resto aprisionado e levado para as proximidades da capital, onde todos os
cativos foram instalados numa aldeia construída em 1755 a 5 léguas de Vila Boa.
Era a Aldeia S. José de Mossamedes, ou S. José, como é simplesmente chamada,
nome dado em homenagem ao capitão-geral.
Os
acroás não tardaram a se extinguir ou se dispensar, e por volta de 1781 foram
substituídos pelos Javaés e os Carajás, trazidos da Aldeia da Nova Beira, no
norte da província, os quais por sua vez não tardaram a desaparecer.
Enquanto
esses fatos iam se sucedendo, outros ocorriam em diferentes partes do país.
Tão
logo foi descoberta a província de Goiás começou a guerra entre os aventureiros
paulistas e os índios Coiapós, que vagueavam a sudoeste da província por vastas
extensões de terras praticamente inexploradas. A guerra de desencadeava com
igual crueldade de ambos os lados.
Os
Coiapós atacavam de surpresa as tropas de burros que vinham de São Paulo, tendo
forçado os portugueses a abandonarem vários postos estabelecidos por eles na
parte setentrional da província do mesmo nome. As hostilidades se prolongaram
até 1780, quando então um simples soldado chamado Luís, que tomara parte em
várias expedições contra os índios, tomou a si o encargo, sob a proteção do
Capitão-geral Luís da Cunha Menezes, de subjugar os Coiapós, tido até então
como indomáveis. Acompanhado apenas de meia centena de portugueses e três
índios, ele se pôs a caminho em 15 de fevereiro de 1780, embrenhando-se no
território dos Coiapós. Durante vários meses esses destemidos aventureiros
viveram apenas do que caçavam e de mel silvestre. Aproximavam-se, com sinais de
amizade, de todos os Coiapós que encontravam e conversavam com eles ajudados
por três intérpretes. Mostravam-se afáveis, davam-lhes presentes e por fim
conseguiram convecer um certo número deles a acompanhá-los até Vila Boa para
conhecerem o grande capitão, nome que os índios dão ao chefe supremo. Um grupo
de cerca de quarenta pessoas, composto de um velho, seis guerreiros, mulheres e
crianças, chegou à capital da província com o soldado Luís, sendo recebido com
toda pompa possível. Organizaram-se festas, deram-se tiros de canhão, cantou-se
um Te Deum e batizaram-se as crianças. O velho encantado com essa recepção,
declarou que não voltaria mais para suas matas. Permaneceu em Goiás com as
mulheres e as crianças, mandando os seis guerreiros de volta e lhes
recomendando que retornassem á cidade, passadas seis luas, trazendo um grupo
ainda maior. No mês de maio de 1781 duzentos e trinta e sete Coiapós fizeram
sua entrada em Vila Boa sob o comando de dois caciques, tendo uma recepção
semelhante à dos primeiros. O capitão-geral mandou construir para todos eles, a
11 léguas da capital, uma aldeia que recebeu o nome de Maria, em honra de D.
Maria I, Rainha de Portugal. Ali se instalou uma população composta de 600
Coiapós. Parece que, a partir dessa época, as tropas de burros jamais voltaram
a ser atacadas pelos índios na estrada de S. Paulo."
"Habituados
nas matas a dormir em choças, nas quais só podem entrar agachados, os índios
acharam muito frias as casas de teto alto e cobertas de telhas que lhe foram
reservadas, e eles próprios construíram outras, mais baixas, a poucos passos da
aldeia. O teto destas é feito de palha e a sua estrutura é a mesma das casas
lusos-brasileiras, compondo-se de varas fincadas no chão e atadas com cipó a
compridos bambus dispostos transversalmente. Mas, enquanto que os portugueses
costumam tapar com barro os espaços vazios entre as varas cruzadas, os Coiapós
se limitam a trançar folhas de palmeiras entre elas, como outros indígenas,
tentando imitar as construções européias. As choças que os Coiapós construíram
nas proximidades da aldeia não ultrapassam uma dezena. É a uma légua de S.
José, nas suas plantações, que se encontra a maioria de suas moradas."
"O
governo geral da aldeia é confiado a um coronel que mora em Vila Boa e dirige
todas as aldeias da província. Os Coiapós se acham em S. José sob a tutela
imediata de um destacamento militar composto de um cabo, que tem o título de
comandante, de um simples soldado dos Dragões - ambos pertencentes à Companhia
de Vila Boa - e de quinze pedestres, dos quais dois são oficiais subalternos.
Entre os restantes encontram-se um serralheiro e um carpinteiro, sendo o
primeiro encarregado de consertar as ferramentas dos Coiapós e o segundo de
fazer as construções da aldeia. O cabo-comandante tem autoridade para punir os
índios, amarrando os homens ao tronco e aplicando a palmatória nas mulheres e
crianças. Os Coiapós cultivam a terra em comum, trabalhando cinco dias por
semana, sob a supervisão do pedestre. A colheita é recolhida aos armazéns da
aldeia e em seguida destribuída, pelo cabo-comandante, entre as famílias
indígenas, de acordo com a necessidade de cada uma. O excedente é vendido à
cidade ou aos pedestres, que são obrigado a custear seu próprio alimento. Com o
produto dessa venda, o diretor geral compra sal, fumo, tecidos de algodão e
utensílios de ferro, que envia ao cabo-comandante para que sejam distribuídos
entre os indígenas. Há na aldeia um moinho de água que move ao mesmo tempo uma
mó destinada a moer o milho, uma máquina de descaroçar o algodão e, finalmente,
vinte e quatro fusos. Uma mulata recebe 50.000 réis por ano para ensinar as
mulheres coiapós a fiar e tecer o algodão. O produto desse trabalho também
pertence à comunidade, como os produtos da terra. Os dois dias de folga que tem
os índios são o domingo e a segunda-feira, que eles aproveitam para caçar ou
cuidar de pequenas plantações particulares de inhame e de batatas.
A
forma de governo que acabo de descrever foi calcada na que havia sido adotada
pelos jesuítas, e forçoso é admitir que ela convém aos índios, os quais, por
sua total falta de previdência, são incapazes de governarem a si próprios. Mas
não bastam apenas bons regulamentos. É preciso que haja também homens capazes
de fazer com que sejam obedecidos, e não há ninguém que não perceba que é
absurdo pretender conseguir com soldados o mesmo resultado obtido com
missionários. Os jesuítas eram movidos por duas forças que sempre produziram
grandes coisas: a religião e a honra. Eles teriam tido sucesso ainda que
tivessem escolhido para os índios uma forma de governo mais imperfeita. Mas que
se pode esperar de homens como os pedestres, todos eles mulatos e oriundos da
camada mais baixa da sociedade, homens que não se deixam dominar nem mesmo pelo
temor, pois vivem afastados de seus superiores, e que, mal remunerado, não têm
outro objetivo senão o do se aproveitarem dos Coiapós em seu próprio interesse?
Os índios se sentem insatisfeitos e fogem para as matas. São perseguidos e
recapturados, mas tornam a fugir. Um único padre da Companhia de Jesus
governava às vezes milhares de índios, enguanto que dezessete soldados mal
conseguem manter reunidos duzentos Coiapós, sem nenhuma utilidade para o Estado
e quase nenhum proveito para eles próprios."
"Os
portuguêses deram, não sei porque, o nome de Coiapós ou Caiapós a esses
indígenas. Pelo que me disseram, parece que um grupo deles, que ainda vive nas
matas (1819), sem nenhuma outra tribo nas vizinhanças, não tinha nome que os
identificasse, e por isso passaram a usar a palavra panariá a fim de se
distinguirem, como raça, dos negros e dos brancos. De onde se deve concluir, ao
que me parece, que essa palavra passou a ser usada posteriormente à descoberta,
bastante recente, da região, e que antes dessa época os Caiapós provavelmente,
se julgavam sozinhos no Universo.
São
encontrados nesses indígenas todos os traços os traços característicos da raça
americana: Cabeça grande, socada entre os ombros, cabelos lisos, pretos, duros
e bastos, tórax largo, pele parda, pernas finas. As características
particulares de sua tribo são a cabeça arredondada, a fisionomia aberta e
inteligente, a elevada estatura, os olhos e a cor escura da pele. Os Coiapós
são uma bela raça.”
(SAINT-HILAIRE.A. Os Índios Coiapós. Disponível em:<https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire>
VISUALIZAÇÃO
(COMPLEMENTO):
https://tertuliabibliofila.blogspot.com/2011/05/auguste-de-saint-hilaire-apontamentos.html
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