SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS
SEGUNDAS SÉRIES DO ENSINO MÉDIO
FILOSOFIA –
PROFESSOR JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA
23: TEORIA DO CONHECIMENTO – IMMANUEL KANT (PARTE 2). (Prof. José Antônio Brazão.)
TEORIA
DO CONHECIMENTO (Prof. José A. Brazão.)
IMMANUEL
(ou EMMANUEL) KANT (1724-1804)
(Prof. José Antônio Brazão).
PARTE II:
*O tempo e o
espaço sempre ocuparam a mente humana. Tudo se passa no tempo. Todos os corpos
se deslocam no espaço, dispondo de velocidade, aceleração e outras
características (motor, impulso...). Heráclito de Éfeso, cerca de seis séculos
antes de Cristo, já dizia que tudo natureza está em devir, como um rio cujo
fluxo é contínuo.
*Aristóteles (séc.
IV a.C.) havia dito que o movimento é a passagem da potência (possibilidade de
vir a ser) ao ato (realização da
potência), como uma tora que vem a se tornar mesa com o trabalho do ser humano
ou a semente (que tem dentro de si a árvore em potência) que, com o tempo e as
condições necessárias, vem a ser árvore (ato, realização da potência contida na
semente).
*Galileu Galilei
fez experiências de queda dos corpos e com planos inclinados, por exemplo, até
matematizando (quantificando) o movimento. Isaac Newton definiu o tempo e o
espaço como absolutos. De acordo com André Ferrer P. Martins e João Zanetic:
“Para Isaac Newton (1642-1727), espaço
e tempo têm existência independente dos objetos e dos fenômenos físicos. Além
disso, ele diferencia nos Principia tempo absoluto de tempo
relativo, sendo o último uma medida do primeiro:
‘I - O tempo
absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e da sua própria natureza, flui
uniformemente sem relação com qualquer coisa externa e é também chamado de
duração; o tempo relativo, aparente e comum é alguma medida de duração
perceptível e externa (seja ela exata ou não uniforme) que é obtida através do
movimento e que é normalmente usada no lugar do tempo verdadeiro, tal como uma
hora, um dia, um mês, um ano.’ (2). Assim, o tempo absoluto de Newton, que não
tem relação com qualquer coisa externa, é uma pura abstração. É
interessante, também, notar como a noção de um fluir uniforme permanece,
até os nossos dias, bastante presente na visão comum sobre o
tempo. (...)” (Ver citação nas referências.)
*Kant descobriu
que espaço e tempo são duas formas internas, existentes na mente humana: as formas a priori da sensibilidade. Todos os conhecimentos são,
portanto, construídos a partir delas e todas as informações que são obtidas
pelos cinco sentidos passam, necessariamente, por elas.
IMAGENS (TEMPO E
ESPAÇO):
Conjunto 1 (tempo):
Conjunto 2 (relógios):
Conjunto 3
(espaços planos):
Conjunto 4 (mente, onde habitam as
formas a priori da sensibilidade: tempo e espaço):
*Espaço e tempo
são formas a priori. Mas por que a priori? A priori é uma
expressão latina que significa: que vem antes da experiência, que antecede a
experiência, isto é, Kant acreditava que espaço e tempo, na mente humana, é que
permitem a estruturação da matéria fornecida pelos sentidos e que, com o
trabalho da razão, vai se transformar em conhecimento.
IMAGENS:
*Experiência sensível é a obtenção direta de
informações que as pessoas retiram do mundo por meio dos cinco sentidos (olfato, tato, paladar, audição e visão),
tais como: cores, sabores, cheiros, formas, sons, etc. Experiência sensível é, pois, o contato direto que as pessoas
fazem com o mundo através desses sentidos. O conhecimento dela é a
posteriori (que vem depois da experiência).
IMAGENS:
Olfato:
Tato:
Paladar:
Audição:
Visão:
*Mas como essas
informações se tornam conhecimento, de acordo com Kant? Um exemplo bem simples
pode ajudar:
*Imaginemos a mente como um forno (a imagem
não é de Kant, foi posta aqui para ajudar na compreensão), que contém
previamente dentro dele duas formas: o tempo e o espaço. Imaginemos também que
o conhecimento fosse um bolo, sendo, portanto, necessários ingredientes para
sua produção: as informações sensíveis. Os sentidos recebem esses ingredientes
e os juntam. As formas do tempo e do espaço organizam e dão forma a essas informações (os
ingredientes), contribuindo assim para que elas venham a ter uma ordem e sejam reelaboradas e
memorizadas pela mente (a razão), transformando-se, enfim no conhecimento (como
o bolo formado a partir dos ingredientes), um combinado de centenas e até
milhares de informações.
IMAGENS:
Conjunto 1
(ingredientes do bolo):
Conjunto 2 (o bolo
pronto):
https://en.wikipedia.org/wiki/Cake#/media/File:Pound_layer_cake.jpg
O bolo, com os
ingredientes, é uma brincadeira para facilitar o entendimento. O importante é
recordar que sem as formas a priori
do tempo e do espaço, antecedendo a
experiência e permitindo estruturar suas informações, não é possível o
conhecimento. A seguir, imagens do que o conhecimento permite produzir.
Conjunto 3 (ver os
sentidos anteriormente postos em imagens): O CONHECIMENTO (produto do trabalho
da razão, por meio das formas a priori da sensibilidade [tempo e espaço] e a
matéria-prima dos sentidos [sensações, percepções]):
*Ao valorizar o
sujeito do conhecimento, percebendo nele formas a priori da
sensibilidade (tempo e espaço), Kant deslocou o foco dado até então ao objeto (aquilo que é percebido
pelo sujeito), colocando em seu lugar o sujeito.
Eis aí a revolução copernicana de Kant. Copérnico
deslocou o centro do universo, colocando aí o Sol, não a Terra. Similarmente,
Kant deslocou o centro do
conhecimento: pôs aí o sujeito cognoscente (aquele que conhece), não o objeto
cognoscível (que é conhecido). Percebe-se aqui um casamento entre as teorias provindas do empirismo e o
pensamento racionalista, entre a experiência e a razão (ratio, lat.). No
sujeito encontram-se os sentidos que lhe dão a experiência sensível, mas também
as formas a priori da sensibilidade.
*REVISANDO: de
acordo com Kant, existem no sujeito duas formas
a priori: o tempo e o espaço. Não são formas que estão fora dele, mas
dentro dele. Ambas possibilitam ao sujeito organizar as informações enviadas
pelos cinco sentidos. Sem as formas do tempo e espaço seria impossível haver
organização dessas informações. Poderiam ser comparadas, de um modo simples, talvez
simplório, mas meramente didático, com as fôrmas de bolo. O bolo seria o
conhecimento, os ingredientes seriam as informações enviadas pelos sentidos (no
caso da intuição sensível) e as ideias dentro da mente (no caso da intuição
intelectual), as formas seriam o tempo e o espaço, o forno seria a mente
humana. As informações sensoriais são postas nas formas do tempo e do espaço,
que as organizam e as transformam no bolo
do conhecimento.
*Em outras aulas
comentaremos sobre outros elementos ligados à razão humana, segundo as
reflexões de Kant.
*O QUE É
ILUMINISMO?
*No tempo de Kant,
surgiu, em um jornal, uma pergunta desafiadora: “O que é o Iluminismo?”.
Kant, então, escreveu um opúsculo com o título dessa pergunta. Ele vai dizer aí
que o Iluminismo é a saída da menoridade, na qual as pessoas se encontram até
por vontade própria, não tendo coragem de sair dela. Mas para que se alcance as
luzes da razão é preciso
ousar saber, ter coragem de querer saber mais e aprender cada vez mais, saindo
progressiva e decididamente da ignorância, da superstição e do erro. Em O que é o Iluminismo? Kant critica os
guias (intelectuais, religiosos e outros), que acabam mantendo as pessoas
dependentes.
*Kant diz que as
pessoas são mantidas também na menoridade por conta de seus guias\tutores e convida os
governantes para que deem liberdade aos seus súditos para que possam perguntar,
investigar sobre a verdade e buscar respostas próprias. A saída dos súditos da
menoridade, da dependência e da ignorância a que estão sujeitos, pode ajudar
até mesmo no desenvolvimento dos reinos. A educação
e o conhecimento são razões de desenvolvimento e do progresso das técnicas, da
compreensão do mundo, da investigação
científica e das descobertas, elevando o progresso dos países, das nações,
contribuindo para que as pessoas se tornem menos dependentes e dominadas por
outras.
*PAZ PERPÉTUA
(proposta kantiana de uma sociedade das nações):
*No seu livro À Paz
Perpétua, propõe uma sociedade das nações que busque o diálogo entre todas, que contribua para
o desenvolvimento delas e que não aceite a tirania. A paz, mencionada no
título, pode haver, de forma contínua e até permanente, se todos os países do mundo se empenharem
coletivamente em sua busca, no respeito recíproco, no empenho do diálogo e
baseados em leis comuns, elaboradas coletivamente e pelas quais todos são
responsáveis.
QUADRO
COMPARATIVO:
JOHN
LOCKE |
RENÉ
DESCARTES |
IMMANUEL
KANT |
Experiência
sensorial. |
Razão. |
Experiência
e razão. |
Não
há ideias inatas. |
Ideias
inatas (exemplos): Deus/Cogito. |
Formas
a priori da sensibilidade: tempo e espaço. |
Conheceu
a ciência de seu tempo. |
Também
conheceu a ciência de seu tempo. |
Idem.
Fortemente influenciado pelas descobertas de Isaac Newton. |
Sentidos:
ponto de partida. |
Dúvida
hiperbólica. |
Ponto
de partida: o sujeito. |
Ideias
primárias e secundárias. |
Método. |
Tribunal
(julgamento) da razão. |
REFEFÊNCIAS:
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo,
Ática, 2017.
CURY, Fernanda. Copérnico e a Revolução da Astronomia.
São Paulo, Odysseus, 2003. (Col. Iluminados da Humanidade.)
MARTINS, André Ferrer P. e ZANETIC,
João. TEMPO: ESSE VELHO ESTRANHO CONHECIDO. Disponível em: < http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252002000200029
> Acesso em 22 de agosto de 2021.
WIKIPÉDIA. Página principal da Wikipédia. Disponível em: < https://www.wikipedia.org/
> Acessos ao longo de agosto de 2021.
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