SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE GOIÁS
COORDENAÇÃO
REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA
COLÉGIO
ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS
PRIMEIROS ANOS E ENSINO PROFISSIONALIZANTE 1 (EP1)
FILOSOFIA
– PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA ZOOM 10 DE FILOSOFIA 2021
OS SOFISTAS GREGOS (Prof. José
Antônio Brazão.)
Os
sofistas foram filósofos professores itinerantes, isto é, que iam de um lugar a
outro, por toda a Grécia, vendendo seus conhecimentos a quem os pudessem pagar.
Eram professores de Retórica e Dialética, respectivamente: eloquência ou a arte
de falar bem e com domínio em público; arte do diálogo, do debate, da discussão
de ideias. O uso das palavras de modo a
convencer as pessoas e seus pares (no caso de políticos, outros políticos) para
sua causa ou sua proposta.
IMAGENS (Debate em
assembleia política na antiguidade):
IMAGENS (Debate em
assembleia no mundo atual):
Os
sofistas ensinavam aos jovens e a adultos que queriam uma posição no mundo da
política daquele tempo, sabendo usar as palavras com maestria (domínio), precisão
e até mesmo fazendo uso de argumentos nem sempre verdadeiros. O que é um
argumento?
De
acordo com a Wikipédia:
“Um argumento pode ser definido como uma afirmação
acompanhada de justificativa (argumento retórico) ou como uma justaposição de
duas afirmações opostas, argumento e contra-argumento (argumento dialético).”
(Wikipédia, verbete Argumento)
Argumento
é uma afirmação (pode ser também uma negação) acompanhada de uma justificativa
(RAZÃO, uma fundamentação, um porquê, etc.). Na vida do dia a dia até mesmo nós
fazemos usos de argumentos para defender nossas ideias e posições quanto a
determinados assuntos, temas, certas questões, etc.
Para
se argumentar é preciso ter conhecimento e domínio das palavras e de seu uso –
aí entram a Retórica e a Dialética, além da Gramática e outros conhecimentos
referentes às palavras. Os sofistas antigos (e os atuais) sabiam (e sabem)
fazer grande uso das palavras.
Até
mesmo hoje, de onde vem o aprendizado das palavras, além da família em primeiro
lugar? Vem da ESCOLA. Primeiramente, com o aprendizado da Língua Portuguesa,
mas também com o aprendizado de todas as matérias escolares. Vem de CURSOS
feitos ao longo da vida, nos quais a palavra seja continuamente requisitada.
Vem da vivência no dia a dia, com amigos e outras pessoas. Da UNIVERSIDADE,
onde muitas coisas são aprendidas e, junto com estas, a língua portuguesa e seu
uso. Por meio dos LIVROS. Da TV. Enfim,
vem de MÚLTIPLOS MEIOS. Mas é preciso ficar atento(a) para que esse aprendizado
da palavra ou das palavras seja bem cimentado em forma de conhecimentos úteis à
vida, a si e à sociedade.
Semelhantemente,
é o que ocorreu com os sofistas: ensinaram a cidadãos da polis (cidade-Estado), recebendo
por isto. Além Retórica e Dialética, o ensino da gramática (no caso, a gramática
da língua grega antiga). Ensinavam o uso das palavras a juízes e magistrados também.
IMAGENS (HELIEIA
em Atenas e outras cidades gregas antigas):
Foi
na Helieia de Atenas que ocorreu o julgamento de Sócrates, por exemplo, que será
estudado depois dos sofistas, a seu tempo.
Magistrados
(conhecedores das leis, como juízes, por exemplo), advogados e cidadãos eram
chamados a participar de assembleias. É claro, na maioria das vezes,
prevaleciam os julgamentos de quem apresentava maiores argumentos (ver, acima,
o temo argumento). Os sofistas davam uma
mãozinha intelectual a estes também.
Górgias,
sofista, por exemplo, no Elogio de Helena, se mostra um grande advogado em
defesa de Helena grega raptada por um príncipe troiano apaixonado por ela e por
quem, se acreditava, ela veio a se apaixonar também. Vista por muitos gregos
antigos como adúltera e causadora da Guerra de Troia, mostrada no livro ILÍADA, de Homero, antigo poeta grego. Górgias
se pôs a defende-la no referido texto. Vejamos um trecho significativo:
“Pois, ou por
determinação da Sorte e por deliberação dos deuses e por decreto da Necessidade
fez o que fez, ou foi raptada à força, ou persuadida pelos discursos, ou
surpreendida pelo amor. Se foi, então, por causa do primeiro, o causador merece
ser acusado, pois o ímpeto de um deus, por precaução humana, é impossível impedir.
Pois não é natural o mais forte ser impedido pelo mais fraco, mas o mais fraco
pelo mais forte ser governado e conduzido, e o mais forte conduzir, mas o mais
fraco seguir. Um deus é mais forte do que o homem em força e em sabedoria e nas
outras coisas. Se, então, deve-se atribuir a causa à Sorte e ao deus, deve-se
absolver Helena da infâmia.” (GÓRGIAS. Elogio de
Helena. Tradução de Daniela Paulinelli. Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270803/mod_resource/content/1/GORGIAS%20Elogio%20de%20Helena.pdf > Acesso em 11 de abril de 2021.)
Helena
é assim descrita na Wikipédia:
“Numa viagem
a Esparta, Páris encontra
a princesa Helena, que está casada com Menelau, irmão
de Agamenon,
filhos de Atreu,
rei de Micenas.
Após nove dias entretendo Páris, Menelau, no décimo, parte para Creta, para os
rituais fúnebres de Catreu, seu avô materno.[6] Helena
e Páris fogem para Troia, abandonando Hermíone,
então com nove anos de idade;[6]
Menelau,
Agamenon, e outros reis juntam-se numa guerra contra Troia.” [WIKIPÉDIA. Helena (mitologia). Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia)
> Acesso em 11 de abril de 2021.]
IMAGENS [Helena
(mitologia), na Wikipédia:
https://de.wikipedia.org/wiki/Helena_(Mythologie)#/media/Datei:Helen_Menelaus_Louvre_G424.jpg
Helena foi RAPTADA e
levada, por Páris para Troia. Mas o que levou Helena
(da Grécia) e Páris (de Troia) a se sentirem atraídos um pelo outro? De acordo
com a mitologia grega, por conta das flechas de Cupido (deus do amor) a mando
de deusas descontentes com certa escolha de Páris tempos antes. Aqui entra o
discurso de Górgias, advogando em favor de Helena. Vejamos, novamente, o texto
acima.
Górgias
usa argumentos em defesa de Helena (em cada trecho do texto se pode ver um
argumento). Vejamos:
1) “Pois,
ou por determinação da Sorte e por deliberação dos deuses e por decreto da
Necessidade [Helena] fez o que fez, ou foi raptada à força, ou persuadida pelos
discursos, ou surpreendida pelo amor.” (Górgias). (O nome de Helena que está
entre colchetes foi posto por mim a título de esclarecimento.)
2) “Se
foi, então, por causa do primeiro, o causador merece ser acusado, pois o ímpeto
de um deus, por precaução humana, é impossível impedir.” (Górgias).
3) “Pois
não é natural o mais forte ser impedido pelo mais fraco, mas o mais fraco pelo
mais forte ser governado e conduzido, e o mais forte conduzir, mas o mais fraco
seguir. Um deus é mais forte do que o homem em força e em sabedoria e nas
outras coisas.” (Górgias).
4) CONCLUSÃO:
“Se, então, deve-se atribuir a causa à Sorte e ao deus, deve-se absolver Helena
da infâmia [má fama, difamação (ação de dar má fama a alguém, no
caso, a Helena].” (Górgias). (O que está entre colchetes
foi posto por mim para esclarecimento do termo.)
O
que se quis mostrar com o texto de Górgias é um pouquinho do que foi o trabalho
de sofistas, no manuseio das palavras no intuito de convencer as pessoas e
defender ideias. Argumentações desses tipos eram ensinadas por eles a seus
estudantes.
No
entanto, os sofistas (Górgias, Trasímaco, Protágoras e outros) fizeram uma
grande revolução no pensamento filosófico da Grécia antiga:
1) Trouxeram
a discussão para o âmbito da realidade humana, realidade vivida,
particularmente, nas cidades (póleis, plural de pólis) gregas, diferenciando-se
da preocupação cosmológica (de origem e fundamentos do cosmos) de filósofos que
os precederam (Tales, Anaxímenes, Heráclito, Parmênides...) e que até lhes
foram contemporâneos (ex.: Leucipo e Demócrito). Como dizia Protágoras: “O
homem é a medida de todas as coisas.”
2) Puseram
em dia a discussão em torno da política. Trasímaco, por exemplo, citado por
Platão, diz: Trasímaco: ``Cada governo estabelece leis para a sua conveniência.
Promulgadas tais leis, dizem que é justo para os governos aquilo que lhes
convém... há um só modelo de Justiça em todos os Estados -o que convém aos
poderes constituídos". (TRASÍMACO.
Citação feita por Roberto Romano, na Folha de São Paulo de 09 de outubro de
1995. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/09/opiniao/11.html#:~:text=Tras%C3%ADmaco%3A%20%60%60Cada%20governo%20estabelece,ou%20capazes%20de%20errar%3F%22.
> Acesso em 11 de abril de 2021.)
3) Duvidaram
de crenças estabelecidas, mostrando a contrariedade possível de argumentos.
Exemplo, de Protágoras de Abdera: “Todo o argumento permite sempre a discussão
de duas teses contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária
são igualmente defensáveis [sujeitas à defesa].” (Em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/
)
4) Relativizaram
a verdade (a verdade depende de cada um). Diz Protágoras: “Tal como cada coisa
se apresenta para mim, assim ela é para mim, tal como ela se apresenta para
você, assim ela é para você." (Em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/
)
5) Reforçaram
o ensino da Retórica e da Dialética, além de outros conhecimentos que pudessem
ajudar no uso persuasivo (convencedor) das palavras. Como diz Isócrates: “Eloquência
é a arte de avolumar as pequenas coisas e diminuir as grandes.” (Em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/
)
6) Discutiram
a Justiça: “Das coisas belas, umas são belas por natureza e outras por lei, mas
as coisas justas não são justas por causa da natureza, os homens estão
continuamente disputando pela justiça e a alteram também continuamente.” (Protágoras,
citado em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/
)
7) Contribuíram
para o desenvolvimento da Educação, ao se preocuparem em oferecer uma formação
humanística, que fugia em parte da educação tradicional grega. Até cobravam
pelo ensino: o conhecimento e o preparo para a vida política têm preço!
8) Etc.
OBS.:
Fazer uma ponte entre o passado e o presente pode ser muito enriquecedor no
aprendizado da filosofia, mostrando sua vivacidade e atualidade!
Há
cursos de retórica e dialética ainda hoje. Pagos!
REFERÊNCIAS:
ARANHA, Maria L. de A. e MARTINS,
Maria H. P. Filosofando: Introdução à
Filosofia. 4.ed. São Paulo, Moderna, 2009.
CHAUÍ,
Marilena. Iniciação à Filosofia.
3.ed. São Paulo, Ática, 2017.
GÓRGIAS. Elogio de Helena. Tradução de Daniela Paulinelli. Disponível em:
< https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270803/mod_resource/content/1/GORGIAS%20Elogio%20de%20Helena.pdf
> Acesso em 11 de abril de 2021.
O PENSADOR. Frases de Sofistas. Disponível em: < https://www.pensador.com/frases_sofistas/
> Acesso em 11 de abril de 2021.
TRASÍMACO. Citação feita por
Roberto Romano, na Folha de São Paulo de 09 de outubro de 1995. Disponível em:
< https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/09/opiniao/11.html#:~:text=Tras%C3%ADmaco%3A%20%60%60Cada%20governo%20estabelece,ou%20capazes%20de%20errar%3F%22.
> Acesso em 11 de abril de 2021.
WIKIPÉDIA. Página Principal. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
> Acesso em 07 de março de 2021.
WIKIPÉDIA. Helena (mitologia). Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia)
> Acesso em 11 de abril de 2021.
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