SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE GOIÁS
COORDENAÇÃO REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE
GOIÂNIA
COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS
ENSINO MÉDIO
EaD – EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA 2020
FILOSOFIA – PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA DE 10 DE DEZEMBRO DE 2020.
FILOSOFIA GREGA – PLATÃO:
Texto:
A alegoria da caverna – A República (514a-517c)
Imagem 1:
Cavernas:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caverna#/media/Ficheiro:Alabama_cave_2005-04-24.km.jpg
Sócrates: Agora imagine a
nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo
com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma morada
subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura
da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas
pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça
para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima
por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um
caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro,
semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o
público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo.
Glauco: Entendo.
Sócrates: Então, ao longo
desse pequeno muro, imagine homens que carregam todo o tipo de objetos
fabricados, ultrapassando a altura do muro; estátuas de homens, figuras de
animais, de pedra, madeira ou qualquer outro material. Provavelmente, entre os
carregadores que desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam.
Imagem 2: Alegoria (Mito)
da Caverna. [Alegoria = comparação; no caso, comparação com a vida real. Mito =
história, relato.]
https://es.wikipedia.org/wiki/Alegor%C3%ADa_de_la_caverna#/media/Archivo:Plato_-_Allegory_of_the_Cave.png
Glauco: Estranha
descrição e estranhos prisioneiros!
Sócrates: Eles são
semelhantes a nós. Primeiro, você pensa que, na situação deles, eles tenham
visto algo mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos que o fogo
projeta na parede da caverna à sua frente?
Glauco: Como isso seria
possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a cabeça
imóvel?
Sócrates: Não acontece o
mesmo com os objetos que desfilam?
Glauco: É claro.
Sócrates: Então, se eles
pudessem conversar, não acha que, nomeando as sombras que veem, pensariam
nomear seres reais?
Glauco: Evidentemente.
Sócrates: E se, além disso,
houvesse um eco vindo da parede diante deles, quando um dos que passam ao longo
do pequeno muro falasse, não acha que eles tomariam essa voz pela da sombra que
desfila à sua frente?
Glauco: Sim, por Zeus.
Sócrates: Assim sendo, os
homens que estão nessas condições não poderiam considerar nada como verdadeiro,
a não ser as sombras dos objetos fabricados.
Glauco: Não poderia ser
de outra forma.
Imagem 3: Alegoria ou Mito
da Caverna:
https://it.wikipedia.org/wiki/Mito_della_caverna#/media/File:Platon_Cave_Sanraedam_1604.jpg
Sócrates: Veja agora o que
aconteceria se eles fossem libertados de suas correntes e curados de sua
desrazão. Tudo não aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens
fosse solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a
olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria
ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras
anteriormente. Na sua opinião, o que ele poderia responder se lhe dissessem
que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto
da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que
ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam,
obrigando-o com perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria
embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras
do que os objetos que lhe mostram agora?
Imagem 4: Mito ou Alegoria
da Caverna.
https://psiconlinews.com/wp-content/uploads/2017/06/mito-da-caverna.jpg
Glauco: Certamente, elas
lhe pareceriam mais verdadeiras. Sócrates: E se o forçassem a olhar para a
própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e
voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente
mais nítidas do que as coisas que lhe mostram?
Glauco: Sem dúvida alguma.
Sócrates: E se o tirarem de
lá à força, se o fizessem subir o íngreme caminho montanhoso, se não o
largassem até arrastá-lo para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao
ser assim empurrado para fora? E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo
brilho, não seria capaz de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora
serem verdadeiros.
Glauco: Ele não poderá
vê-los, pelo menos nos primeiros momentos.
Sócrates: É preciso que ele
se habitue, para que possa ver as coisas do alto. Primeiro, ele distinguirá
mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros objetos
refletidas na água, depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a
noite, ele poderá contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar
para a luz dos astros e da lua mais facilmente que durante o dia para o sol e
para a luz do sol.
Glauco: Sem dúvida.
Sócrates: Finalmente, ele
poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície
lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal como é.
Glauco: Certamente.
Sócrates: Depois disso,
poderá raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que produz as estações
e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo a causa de
tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.
Glauco: É indubitável que
ele chegará a essa conclusão.
Sócrates: Nesse momento, se
ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se possuía e de seus
antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena
deles?
Glauco: Claro que sim.
Sócrates: Quanto às honras
e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às recompensas
concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para discernir a
passagem das sombras na parede e de uma memória mais fiel para se lembrar com
exatidão daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm
juntas, e que, por isso mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria
depois, acha que nosso homem teria inveja dele, que as honras e a confiança
assim adquiridas entre os companheiros lhe dariam inveja? Ele não pensaria
antes, como o herói de Homero, que mais vale “viver como escravo de um
lavrador” e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória da
caverna e viver como se vive lá?
Glauco: Concordo com
você. Ele aceitaria qualquer provação para não viver como se vive lá.
Imagem 5: https://psiconlinews.com/wp-content/uploads/2017/06/mito-da-caverna.jpg
Sócrates: Reflita ainda
nisto: suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar.
Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir
diretamente do sol?
Glauco: Naturalmente.
Sócrates: E se ele tivesse
que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os
prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está
confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo
curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os
prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista
perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar
os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e
executá-lo, não o matariam?
Glauco: Sem dúvida
alguma, eles o matariam.
Imagem 6: As Sombras da
Vida, com Piteco (de Maurício de Sousa).
http://izabelahendrix.edu.br/humanidades1/ser-humano-relacoes/artigos/arquivos/piteco-as-sombras-da-vida.pdf
Sócrates: E agora, meu caro
Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos
anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na
prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à
contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até
o lugar inteligível, e não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas
conhecê-la. Deus sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre
a verdade. Em todo o caso, eis o que me aparece tal como me aparece; nos
últimos limites do mundo inteligível aparece-me a ideia do Bem, que se percebe
com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo
o que há de reto e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz,
no mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a
inteligência. Acrescento que é preciso vê-la se quer comportar-se com
sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública.
Glauco: Tanto quanto sou
capaz de compreender-te, concordo contigo.
Imagem 7: Platão aponta
para o Mundo das Ideias (Formas perfeitas de tudo que existe) ou Mundo Inteligível
(percebido pelo pensamento). Imutável, perfeito, eterno.
https://en.wikipedia.org/wiki/Idea#/media/File:Plato-raphael.jpg
Imagem 8: Mundo Sensível
(mundo percebido pelos 5 sentidos): Natureza. Este mundo é, segundo Platão, uma
cópia imperfeita do Mundo das Ideias. Mutável, imperfeito, sujeito ao devir
(vir a ser, transformação) de todas as coisas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza#/media/Ficheiro:44_-_Iguazu_-_D%C3%A9cembre_2007.jpg
Imagem 9: Mundo Sensível
(mundo percebido pelos 5 sentidos): Cidade. Este mundo é, segundo Platão, uma cópia
imperfeita do Mundo das Ideias. Mutável, imperfeito, sujeito ao devir (vir
a ser, transformação) de todas as coisas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade#/media/Ficheiro:Colosseum_in_Rome,_Italy_-_April_2007.jpg
(Referência:
A Alegoria da caverna: A Republica, 514a-517c tradução de Lucy Magalhães. In:
MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de
Filosofia: dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 2a ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2000. Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf
Acesso em 11/08/2020.)
De
acordo com Platão, o mundo sensível foi elaborado, a partir da matéria pré-existente,
pelo Demiurgo, um ser divino que, observando a beleza do Mundo das Ideias, quis
copiar as Ideias (FORMAS) eternas e perfeitas, fazendo outras cópias com a matéria
de que dispunha. (Prof. José A. B.)
Imagem 10: Demiurgo.
https://lidianefranqui.com.br/o-demiurgo-platonico-e-a-geracao-da-vida-cosmica/
Como a alma pode se desprender do mundo
sensível e elevar-se ao Mundo das Ideias? Através da lembrança daquilo que ela,
alma, outrora contemplou no Inteligível, antes de ser enviada ao mundo das
coisas sensíveis, materiais, imperfeitas. A alma precisa elevar-se das coisas
sensíveis até as Ideias, chegando à visão ou lembrança do BEM, a Ideia mais
perfeita. O que a pode ajudar? A contemplação e o aprendizado. Através da vivência
de uma vida reta também (veja o final do texto de Platão, acima). (Prof. José
Antônio Brazão.)
Imagem 11:
Contemplação.
https://it.wikipedia.org/wiki/Contemplazione#/media/File:Chi_ha_detto_che_le_stelle_puoi_guardarle_sono_da_lontano?.jpg
Imagem 12:
Aprendizado.
https://es.wikipedia.org/wiki/Aprendizaje#/media/Archivo:William-Adolphe_Bouguereau_(1825-1905)_-_The_Difficult_Lesson_(1884).jpg
VÍDEO: “[Episódio] 05 - Ser Ou Não Ser -
Platão, O Mito Da Caverna - Viviane Mosé - Fantástico.flv” . Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ei-kSPL4Lg4