quarta-feira, 17 de junho de 2020

RODA DE CONVERSA "ESCRAVIDÃO NO ANTIGO MUNDO CLÁSSICO: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIOLÓGICOS E FILOSÓFICOS [Resumão] (Prof. Israel Vasconcelos Viana e Prof. José Antônio Brazão.)


SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS
COORDENAÇÃO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA
COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS
RODA DE CONVERSA – HISTÓRIA, SOCIOLOGIA E FILOSOFIA
(RESUMÃO)
DATA: 17 DE JUNHO DE 2020
PROFESSORES ISRAEL VASCONCELOS VIANA E JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
*Israel Vasconcelos Viana é professor de História e José Antônio Brazão, de Filosofia e Sociologia, do Colégio Estadual Deputado José de Assis, de Goiânia – GO.

TEMA: ESCRAVIDÃO NO ANTIGO MUNDO CLÁSSICO: ASPECTOS HISTÓRICOS, SOCIOLÓGICOS E FILOSÓFICOS.
Escravo(a) é aquele(a) que trabalha forçado para outro e de forma gratuita (sem receber). Além disto, é uma pessoa destituída de liberdade.
A escravidão é algo muito antigo. Desde o momento em que certos grupos humanos aprenderam que colocar outros para trabalhar para eles seria bom, acabaram por dominar outros e os subjugar, impondo-lhes a escravidão.
A escravidão é tão antiga que é mencionada, inclusive, na Bíblia. [A referência à Bíblia é porque, além dos livros didáticos, muitos estudantes dispõem dela em casa.]
Como os escravos eram também mercadorias, dispostas à venda e compra, tanto na antiguidade quanto em tempos posteriores (até recentemente, no Brasil, por exemplo), sempre houve o tráfico de escravos. Alguns traficantes e comerciantes de escravos chegaram até a ficar ricos. Dois exemplos podem ser citados, como chaves de memória, no caso da antiguidade: o caso de José, mencionado no livro do Gênesis, na Bíblia, que foi vendido pelos irmãos a um mercador de escravos e revendido a um egípcio, e o filme O Gladiador, que apresenta uma cena em que o personagem principal é apreendido por um mercador de escravos e transformado em gladiador do Império Romano.
No mundo antigo, entre as formas de escravidão, havia, por exemplo: escravos por guerras, por dívidas, por nascimento, vendidos e comprados nos mercados. A principal fonte era a guerra. Quem perdia era escravizado. Inclusive, o filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu por volta do século VI a.C., diz no fragmento 53:
A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei; de uns fez deuses, de outros homens; de uns, escravos, de outros, homens livres.” (BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos. Heráclito, fragmento 53. Ver referencial.). (grifos nossos)
A fala do filósofo Heráclito apresenta dois pontos interessantes: escravos e homens livres. Os escravos realizavam as tarefas pesadas, permitindo aos homens livres (senhores e escravizadores, vitoriosos) tempo livre para se dedicarem à educação, à política, aos estudos, aos debates, às reflexões, a banquetes em que havia discussões sobre temas, enfim, à cultura teórica. Não foi à toa que gregos e, a seguir, os romanos desenvolveram culturas que impactaram o mundo ocidental e até geral, mundial, de certa maneira, como se verá um pouco mais adiante.
No que diz respeito à dedicação à educação e aos estudos, aos banquetes com debates, à cultura teórica, exemplos de imagens foram citados e mostrados dos livros didáticos, no momento do debate (ao final, uma lista com as páginas em que se encontram imagens).
Os filósofos Platão e Aristóteles (séculos V\IV a.C.), grandes representantes do período de maior desenvolvimento da cultura grega (a era clássica grega), não viam a escravidão com maus olhos. Até aceitavam-na como natural. Aristóteles, por exemplo, comenta no livro I da Política:
“Pertence também ao desígnio da natureza que comande quem pode, por sua inteligência, tudo prover e, pelo contrário, que obedeça quem não possa contribuir para a prosperidade comum a não ser pelo trabalho de seu corpo. Esta partilha é salutar para o senhor e para o escravo. (...)” (ARISTÓTELES. Política, livro I.)
A escravidão sempre esteve presente em diferentes períodos da história humana. E qual a diferença entre os escravos da antiguidade e os que vieram para as Américas e o Brasil? Duas diferenças são marcantes: os escravos da antiguidade clássica (greco-romana, por exemplo) eram, em sua imensa maioria, brancos, nas Américas e no Brasil modernos, negros; os primeiros eram frutos de guerras entre cidades-estados (póleis\pólis, em grego) e contra outros povos da Europa e da Ásia Menor, alguns da África, do outro lado do Mar Mediterrâneo, os segundos, principalmente da África (não podendo se esquecer dos índios, num primeiro momento, nas Américas), frutos também de conflitos, ataques e do mercado.
Nos mundos grego e romano, na antiguidade, escravos eram a principal força de trabalho. Tanto que são mencionados como casos clássicos de modo de produção escravista, no campo da História.  Escravos trabalhavam nas casas, em obras, no campo, em todo lugar; os piores lugares eram as minas (gregas e romanas) e as galeras (embarcações romanas). O tempo de vida nas galeras era bem curto, assim como nas minas. Uma porcentagem razoável de pessoas que moravam nas grandes cidades da antiguidade era composta de escravos(as)!
Mas nem todos os escravos tinham uma vida terrível, embrutecida. Houve escravos que, por saberem ler e escrever, trabalhavam como administradores. A origem da palavra pedagogo é grega e vem do fato de que havia um escravo que levava a criança à escola – o pedagogo (literalmente, da língua grega: o condutor de criança).
Em termos históricos e sociológicos, por outro lado, houve revoltas de escravos naqueles tempos, dadas as condições terríveis de vida e de trabalho de muitos. Um grande exemplo citado foi o caso do escravo Espartaco (Spartacus), que liderou uma grande rebelião de escravos no período do Império Romano. No mundo posterior, um outro exemplo curioso foi citado: o caso dos escravos que fugiam de fazendas, no Brasil, e iam para os quilombos.
Escravos construíram cidades, abriram estradas, fizeram aquedutos, etc. Os aquedutos romanos são impressionantes, fruto da engenharia muito desenvolvida por homens livres e do trabalho de um grande número de escravos. E na posteridade, no Brasil? Um exemplo bem próximo foi dado: o caso da Cidade de Goiás, no interior do Estado de Goiás, que teve muitas de suas construções feitas por escravos, na era colonial brasileira!
Voltando à Filosofia, um exemplo interessante foi o de Platão, homem livre, de família abastada de Atenas, que, tendo ido, a convite, à corte do rei de Siracusa, depois de um certo tempo e de tentativas frustradas de implantar seu ideal de rei-filósofo, acabou sendo acusado de fazer parte de uma conspiração e vendido como escravo. Graças a um amigo, ali do Sul da Itália (Magna Grécia, como era conhecida a região), Arquitas (um filósofo pitagórico), conseguiu ser liberto e retornar a Atenas.
Outro exemplo citado, no que tange ao pensamento de Platão, foi o famoso mito da caverna ou alegoria da caverna, que aparece no início do livro VII de A República: um grupo de prisioneiros em uma caverna que, obrigados a olhar para a frente, sempre viam sombras e ouviam falas (na verdade, provindas de um plano superior da caverna, de uma fogueira e de pessoas que por ali passavam, por trás de um muro, carregando objetos na cabeça). Os prisioneiros não eram, propriamente, escravos. Mas se assemelhavam a estes, por conta da escravidão da ilusão. Eram escravos da ilusão ou das ilusões (sombras)!
No mundo medieval, que seguiu-se à queda do Império Romano, a sociedade feudal tinha como base o trabalho dos servos (camponeses, em sua imensa maioria). Não eram escravos, mas estavam ligados ao feudo (latifúndios [imensidão de terras]) do senhor (senhor feudal). Eram cristãos e livres! Mas a vida deles era difícil. Tinham que se sustentar e sustentar o senhor feudal, além de pagar dízimos à Igreja Católica e certos impostos ao senhor.
E no mundo atual? É interessante observar que o diálogo entre professores e estudantes viajou da antiguidade, passou pela história e chegou ao mundo atual. O trabalho escravo contribuiu para construir impérios coloniais, no mundo moderno. A Revolução Industrial transformou a vida de muitos operários em verdadeiro trabalho escravo – até no Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, no século XIX, é citado e comentado o trabalho extremamente explorado de trabalhadores. O trabalho de mulheres e crianças nas fábricas!
Casos de escravidão são citados, aqui e ali, em diferentes estados do Brasil, ainda hoje! A perda de direitos trabalhistas, nos últimos anos, sob a defesa de aumentar a oferta de trabalhos, é algo significativo, ainda que não uma escravidão direta.
Para lembrar da relação escravo\homem livre, no que diz respeito à cultura que surgiu em meio à escravidão, no mundo antigo, vale lembrar as seguintes heranças gregas:
*Olimpíadas.
*Teatro (destaque para a tragédia e a comédia).
*A Filosofia.
*A História, com Heródoto, por exemplo.
*A Matemática abstrata (teórica), bem vista e apresentadas nos livros didáticos, por exemplo, além de outros.
*A Política.
*A democracia. Vale lembrar que a participação de cidadãos em Atenas, por exemplo, era composta somente de homens, nascidos na cidade-Estado [pólis]. Mulheres, crianças, escravos e estrangeiros não tinham direito à participação. Mas o ideal passou adiante e está presente ainda hoje.
*Muitas palavras gregas na língua portuguesa, além de sufixos, prefixos e outros termos.
*Termos científicos!
*Nomes de matérias escolares (Biologia, Física, Matemática, Filosofia, etc.).
*O Novo Testamento foi escrito todo em grego!
*O estilo de construção clássico, tanto da Grécia quanto de Roma.
*Literatura.
*Muitas outras contribuições!
Das heranças romanas:
*Palavras advindas do latim, mais prefixos, sufixos, etc. daí advindos. Ex.: et coetera.
*O Direito Romano (ex.: Lei das Doze Tábuas). Muitos termos do Direito, no Brasil e no mundo, advêm do latim e do Direito Romano. Por exemplo: Habeas corpus.
*A institucionalização do Cristianismo.
*O estilo clássico romano de construção.
*As línguas neolatinas (francês, italiano, espanhol, parte do inglês, o português, o romeno, etc.).
*Literatura.
*Astronomia de Alexandria, com Cláudio Ptolomeu, por exemplo. (Gregos e romanos).
*A arte clássica (greco-romana) marcou profundamente o Renascimento posterior, na Idade Moderna.
*Nomes dos planetas (mitologia greco-romana).
*Nomes de certos complexos estudados pela Psicologia. P.ex.: complexo de Édipo (mitologia greco-romana).
*Etc.
No Brasil, por exemplo, bem posterior ao mundo clássico greco-romano, a escravidão propiciou uma MISTURA DE CULTURAS: cultura negra africana, cultura portuguesa, cultura indígena, além de outras que, com certeza, contribuíram para a mescla cultural.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO BÁSICO:
BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. 14.ed. São Paulo, Cultrix, 1998/2000. Disponível em:  < https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxpZnJqZmlsb3NvZmlhfGd4OjU0MzgwMzA2MDY0NWQ4ZDk > Acesso em 12 de junho de 2020.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.
MOCELLIN, Renato e CAMARGO, Rosiane de. História em debate. 4.ed. São Paulo, Editora do Brasil, 2016. (Volumes 1 [referências ao mundo antigo e medieval], 2 [referências ao mundo moderno e ao Brasil colonial] e 3 [referências ao mundo contemporâneo e ao Brasil atual].)
SILVA, Afrânio et alii. Sociologia em Movimento. 2.ed. São Paulo, Moderna, 2017.
IMAGENS APRESENTADAS AO LONGO DO DEBATE (PÁGINAS DOS LIVROS E IMAGENS):
DO LIVRO DE SOCIOLOGIA:
P. 175: Péricles (governante de Atenas, séc. V a.C.), que proibiu a escravidão por dívidas.
P. 143 e p. 233: Escravos negros no Brasil.
P. 216: Escravos na Grécia e em Roma. (Casos)
DO LIVRO DE FILOSOFIA:
P. 39: Cidade de Corinto.
P. 47: Mapa do mundo grego antigo, com a Itália e a Ásia Menor inclusive.
P. 49 e p. 57: A Educação dos homens livres: música, escrita [+cálculos...] (pintura emvaso de argila grego), etc.\Aristóteles ensinando a Alexandre e a outros meninos (foto pequena).
P. 58: Afresco [pintura em parede] A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, no Vaticano.
P. 135: Aristóteles (pequena foto, em cima). [Mencionada aqui.]
P. 202: Imagem do livro O Banquete [Simpósio], de Platão, com Sócrates sentado, à direita, conversando, e um orador em pé.
P. 345 (embaixo): Jovem escravo grego servindo em um banquete (simpósio).
P. 238: Servos trabalhando no campo, no mundo medieval. (Mencionado aqui.)


Um comentário:

Unknown disse...

muito bom professor!! da uma base ampla sobre o tema.