Questão número
50 do Caderno 3 Branco, do primeiro dia de provas.
QUESTÃO
50: Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de
Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à
atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que
encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque
receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a
esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
(BRÉHIER, E. História da Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.)
O
texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na
(A) contemplação
da tradição mítica.
(B) sustentação
do método dialético.
(C) relativização
do saber verdadeiro.
(D) valorização
da argumentação retórica.
(E) investigação
dos fundamentos da natureza.
RESPOSTA:
Letra (B).
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Duas
pistas são claramente dadas para a resposta exata da questão, bem presentes no
texto: as palavras conversação e ouvinte. Conversação é a ação de
conversar, dialogar, bater papo. Ouvinte é quem ouve. Se ouve é porque tem
alguém que fala e, geralmente, numa conversação, quem ouve fala também,
trocando ideias com a(s) outra(s) pessoa. E nas alternativas, o que há de
similar? Duas palavras das alternativas são possíveis, por envolverem ouvintes:
dialético(da alternativa B) e retórica (da alternativa D). E o que significam?
Dialético
é uma palavra que provém de dialética. Dialético, ao pé da letra
(literalmente), aquele que pratica a dialética, ao nos referirmos a pessoas;
pode ser também um método que envolve a contradição. Dialética, por sua vez, tem sua raiz em diálogo. Em seu significado primário, dialética é a arte do
diálogo. E o que é diálogo? Diálogo é uma conversa, uma troca de ideias entre
pessoas por meio das palavras, um bate papo, enfim, uma conversação!
Retórica
é a arte de falar bem em público, oratória, segundo os dicionários de língua
portuguesa. A retórica é usada por políticos, pessoas que fazem discursos, por
advogadas e advogados e outras tantas pessoas que precisam falar bem em
público. Porém, é diferente de conversação. Geralmente, a retórica é usada para
se pronunciar discursos inflamados, calorosos, como os dos políticos e das
políticas, para defender clientes, como os das advogadas e dos advogados, e
assim por diante.
Nos
significados destas duas palavras podemos ver o quanto o conhecimento da
significação das palavras presentes na língua portuguesa é fundamental!
A língua portuguesa é uma imensa parceira no aprendizado de qualquer matéria
escolar e, particularmente, de Filosofia. Estudante, quando você for estudar
livros, apostilas e outros materiais escolares, de quaisquer matérias,
especialmente, neste caso, de Filosofia, tenha sempre do lado um dicionário de
língua portuguesa. Pode ser um bom dicionário básico. Dicionários não são luxo
e nem são caros. Outros livros também. Caro é você não conseguir a pontuação do
ENEM! Lembre-se sempre disto. Muitos estudantes têm celulares caros e não têm o
costume de comprar sequer um bom dicionário. Outros bons livros (e os ler)
também. Estou ou não estou certo disto?!
Então,
diante das duas definições que apontei a respeito de dialético e retórica, qual
das duas encaixaria melhor em CONVERSAÇÃO? Dialético, é claro! Então, por aí
você já praticamente teria a resposta da questão: letra B.
Outras
palavrinhas que aparecem nas alternativas e que você pode, de hoje em diante,
buscar o significado no dicionário de língua portuguesa: contemplação (palavra
da qual, comumente, temos alguma ideia do significado), tradição, mítica,
sustentação, método, relativização (!), argumentação, investigação, além de
dialético e retórica. Dê uma olhada nos diferentes significados destas palavras
no dicionário e, tendo um caderninho, vá anotando os significados destas e de
outras palavras filosóficas, científicas e comuns não tão bem conhecidas que
aparecerem nas aulas de Filosofia, na escola, bem como nos livros, com destaque
para o de Filosofia. Ok?
Duas
palavras que aparecem na letra B, antes de dialético: sustentação e método. O
que significam? Sustentação é a ação de sustentar, suportar, manter firme, mas
também significa defesa, ação de defender, sentido este que marca o
significado de sustentação na questão. E método? Método, em sua etimologia
(significado original da palavra, raiz da palavra), é caminho, ou seja, o caminho
que alguém percorre. Então Sócrates sustentou (defendeu, manteve firme) o
caminho (método) do diálogo (dialético) com seus ouvintes e, diversos deles,
igualmente debatedores, dialogadores. Ora, ninguém conversa sozinho.
Quanto
à alternativa (A)contemplação da tradição mítica. Tradição é aquilo que é
transmitido, passado adiante pelas sociedades às pessoas, ao longo da história
e da vida. Mítica é dos mitos. Transmissão dos mitos, relatos fantásticos e de
fé (muitas pessoas acreditavam piamente neles) a respeito das deusas, dos
deuses e de outros seres que viveram nos primórdios dos tempos e, a seguir, da
história humana. No caso da Grécia antiga: Zeus, Diana, Hélios (Apolo), Dioniso
e muitos(as) outros(as). Essa tradição era passada, através da educação, dos
sacerdotes e das sacerdotisas, de poetas (aedos e rapsodos) e por outros meios
às pessoas, desde a infância. Sócrates não foi um contemplador da tradição dos
mitos, com certeza. É claro, ele tinha fé, como comenta bem em livros de Platão
chamados Defesa de Sócrates, Fédon,
etc.
Quanto
à alternativa (C)relativização do saber verdadeiro. Relativização é a ação de
relativizar. Relativizar é tornar relativo. Neste caso da questão, relativo é
aquilo que depende de cada um, da opinião e das concepções de cada um. O saber
deixaria de ser verdadeiro universalmente (para todos, do mesmo modo) e
passaria a depender de cada um. E quem ensinava a relativização do saber
verdadeiro? Os sofistas! Quem eram estes? Professores-filósofos ou
filósofos-professores que vendiam seus conhecimentos em troca de dinheiro.
Ensinavam, principalmente, àqueles que queriam seguir alguma carreira,
especialmente a de político. Cobravam bem.
Quanto
à alternativa (D)valorização da argumentação retórica. De retórica já vimos os
significados básicos, fundamentais à sua compreensão. E o que é argumentação? É
a ação de usar argumentos, instrumentos linguísticos (de uso da língua) do
discurso que têm por finalidade defender posições (os argumentos dos políticos,
por exemplo), convencer pessoas (políticos, advogados, etc.), derrubar posições
contrárias, etc. Novamente, foram os sofistas os que, em suas aulas, ensinaram
a seus estudantes a fazer bom uso da argumentação retórica. Sócrates não queria
ensinar pessoas a falarem bem em público, ainda que tivesse uma preocupação
grande com as palavras e seu uso.
Quanto
à alternativa (E)investigação dos fundamentos da natureza. Vale lembrar que os
que estiveram preocupados com buscar os fundamentos da natureza, isto é, seus
princípios originários e fundantes foram os filósofos pré-socráticos (veja o
comentário sobre Demócrito – nele aparecem outros filósofos pré-socráticos).
Então,
o que sobra? A letra (B)sustentação do
método dialético.
Cara
estudante, caro estudante, ficam as dicas para o ENEM:
(1) Preste
muita atenção às aulas.
(2) Tenha
em mãos o livro didático de Filosofia. Estude-o sempre. Adquira o hábito de ler
diariamente, desenvolva-o.
(3) Tenha
em mãos um bom dicionário de língua portuguesa. Ele é uma ferramenta
extremamente importante em seu aprendizado. Vital.
(4) Leia
sempre com um dicionário de língua portuguesa do lado. Por quê? Porque ajuda a
entender melhor as palavras do texto em leitura, enriquecendo,
consequentemente, o seu próprio vocabulário e ajudando você a compreender
melhor o que lê, estuda.
(5) Tire
dúvidas com sua professora ou seu professor de Filosofia diante de qualquer
incompreensão de termos e ideias em sala
de aula
(6) Adquira
e leia bons livros
(7) E
assim por diante.
(8) E
mais: lembre-se sempre que CARO É VOCÊ TIRAR NOTA RUIM NO ENEM por conta de
descuidos de atenção nos textos, de desconhecimento de palavras-chaves e
outras, por falta de mais dedicação aos estudos (leituras e outros recursos
escolares e extra-escolares), por falta de conhecimentos filosóficos básicos,
adquiríveis em aulas, boas leituras e por outros meios (são muitos – descubra!).
(9) E o essencial, que todos podem aprender com Sócrates: Filosofia não é para passar no ENEM, ainda que ajude muitos(as) nesse sentido. Ela, com outras matérias, não sozinha, é para ajudar você a desenvolver habilidades de leitura crítica (problematizadora, questionadora, analítica) do mundo, da realidade, e aprender, também com outras matérias (interdisciplinarmente), a ser um(a) cidadão(ã) consciente, agente transformador(a) da história! O ENEM é só um momento, ainda de grande importância em sua vida. A história continua, incluindo a de sua vida. Aprenda muito e aprenda conscientemente, afim de ser pleno(a) cidadão(ã), com outros(as) cidadãos(ãs).
(9) E o essencial, que todos podem aprender com Sócrates: Filosofia não é para passar no ENEM, ainda que ajude muitos(as) nesse sentido. Ela, com outras matérias, não sozinha, é para ajudar você a desenvolver habilidades de leitura crítica (problematizadora, questionadora, analítica) do mundo, da realidade, e aprender, também com outras matérias (interdisciplinarmente), a ser um(a) cidadão(ã) consciente, agente transformador(a) da história! O ENEM é só um momento, ainda de grande importância em sua vida. A história continua, incluindo a de sua vida. Aprenda muito e aprenda conscientemente, afim de ser pleno(a) cidadão(ã), com outros(as) cidadãos(ãs).
E para você, professor(a) de Filosofia, fica a dica, de diálogo com a Língua Portuguesa: o Dicionário de Filosofia e Língua Portuguesa. Um caderno só para palavras de filosofia e de língua portuguesa desconhecidas ou pouco conhecidas por estudantes. Neste blog você encontrará um modelo. Vá em Postagens Antigas. Uma delas é a proposta desse dicionário. Use outros recursos também: o diálogo, a problematização e o questionamento foram muito usados por Sócrates. Há outros - busque fazer uso dos três propostos por Sócrates, descubra e até crie os seus. Dê asas à imaginação e ao conhecimento. Há bons livros de recursos didáticos de Filosofia - um deles, por exemplo, é o da Professora Lídia Maria Rodrigo, além de outros tantos. Neste site você encontrará também sugestões.