Para buscar respostas para aquela questão é preciso pedir apoio a outras ciências contemporâneas. A interdisciplinaridade pode ser enriquecedora e contribuir para aprofundar a pesquisa sobre assuntos diversos, como este.
Não viemos necessariamente dos macacos atuais. Mas é certo, real, que TODOS OS SERES VIVOS EVOLUÍRAM E CONTINUAM EVOLUINDO. Como as ciências comprovam isto? A seguir vão as respostas de algumas ciências.
A GEOLOGIA tem descoberto, nos últimos séculos, que a idade das Terra e de suas rochas é muito mais antiga do que se pensava, tendo bilhões de anos de existência, tempo suficiente para a evolução dos seres vivos. Além do mais, diferentes camadas do solo e de rochas contêm informações de milhões e milhões de anos de história, algumas delas dispondo de registros fósseis (restos petrificados) de seres vivos de eras passadas. Em livros de Geografia e de Biologia podem ser encontradas, geralmente, linhas de tempo da Terra.
A BIOLOGIA: estudos biológicos e químicos levaram à descoberta do RNA (ácido ribonucleico) e do DNA (ácido desoxirribonucleico), moléculas fundamentais na constituição da vida, com destaque para a segunda, que contém genes responsáveis pelas características que definem os seres vivos e os diferenciam uns dos outros. Todos os seres vivos são, comprovadamente, constituídos por aquelas macromoléculas. No caso do homem e dos chimpanzés, por exemplo, cerca de 98 % do DNA é igual. O que tornam as pessoas seres humanos são os cerca de 2% restantes. Além disto, a anatomia comparada demonstra que muitos animais têm estruturas anatômicas semelhantes. Macacos e homens, além de outros animais, têm muitos órgãos, ossos e sistemas similares.
A existência de FÓSSEIS de eras antigas, os quais possibilitam detectar um processo contínuo de evolução. Em livros de Biologia e até em um ou outro de Filosofia, por exemplo, pode-se ver uma sequência de primatas até o homem atual, sequência esta que é fruto de pesquisas com fósseis encontrados na África e em outros lugares do mundo. Fósseis são partes, restos ou corpos de plantas e animais pré-históricos que foram petrificados e que hoje aparecem como verdadeiros registros daqueles tempos da história da Terra.
A ARQUEOLOGIA: arqueólogos, ao longo dos últimos séculos, fizeram e fazem pesquisas, escavações, conseguindo descobertas de fósseis e indícios de ferramentas (p. ex.: pedras lascadas, pontas de lanças e flechas), restos de alimentos comidos e petrificados, dentre outros materiais fabricados ou utilizados por homens pré-históricos. A descoberta de fósseis de primatas e seres humanos mais antigos, de diferentes épocas, reforça, claramente, a certeza da evolução. Esse material existe e pode ser encontrado em museus de história natural e institutos de pesquisas e universidades, no Brasil e no mundo. Ex.: plioptecus, homo erectus, homo habilis, homem de Neanderthal, homem de Cromagnon e outros, até chegar ao homo sapiens.
A capacidade do RNA e do DNA, em condições favoráveis, com água e matéria orgânica suficiente, de se replicarem. No passado muito distante, conforme os cientistas acreditam hoje, réplicas com mutações deram origem aos diferentes tipos de seres vivos que existiram no passado e à diversidade biológica hoje existente.
O fato de organismos unicelulares, microrganismos, como bactérias, protozoários e vírus se tornarem mais resistentes e produzirem novas cepas aponta para a evolução em curso. No caso de tais microrganismos, em décadas. Um exemplo disto, próximo no tempo, é o vírus H1N1, da gripe suína e humana, que é letal, podendo matar em pouco tempo. É resultado da evolução de parte dos vírus da gripe. Houve um combate acirrado a ele, ainda hoje há, e é preciso tomar cuidado. Isto é a evolução em ação. Organismos pluricelurares demoram mais, porém evoluem e evoluirão também. O ser humano é um destes e continuará evoluindo.
Junto com a evolução biológica, lenta e contínua, os seres humanos passaram e vêm passando por uma EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA. Os computadores, tablets e muitas outras máquinas que o digam!
Alguns mecanismos que provocam a evolução das espécies são:
a) A ADAPTAÇÃO a condições e ambientes, em busca de sobrevivência. Descoberta feita por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, no século XIX. Um exemplo: os pássaros surgiram dos dinossauros. O arqueoptérix é uma evidência disto.
b) O TEMPO: milhões e bilhões de anos foram necessários à evolução das espécies até chegar às atuais. Descoberta da Geologia, da Biologia e de outras ciências.
c) CRUZAMENTOS entre indivíduos e grupos de uma mesma espécie, passando novas informações genéticas aos descendentes, tornando-os mais resistentes e melhor adaptados.
d) A MORTE DE CERTAS ESPÉCIES propicia a evolução de outras. Por exemplo: a morte dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos atrás, propiciou a evolução de pequenos mamíferos em muitas espécies, entre as quais a espécie humana.
e) A RADIAÇÃO: a radiação de certos elementos químicos (ex.: urânio, plutônio, rádio) pode provocar mutações que são passadas aos descendentes. Mulheres grávidas são proibidas de tirar raios X, a fim de não atingir o feto. Isto é real e comprovável pela medicina.
Unindo todas essas informações para responder à pergunta inicial (“Viemos dos macacos?”), feita por uma aluna, em sala de aula, no início de 2013, foi possível mostrar que a evolução biológica dos seres humanos é real e acompanha a de outros seres vivos (plantas, animais, peixes, etc.). É interessante que o assunto nasceu em uma aula introdutória sobre os mitos, na primeira série do Ensino Médio. O fato de a pergunta ter brotado espontaneamente foi e é muito bom. A filosofia tem por propósito, como outras áreas de conhecimento, de levar as pessoas ao questionamento, fruto da curiosidade despertada.
Junto com a pergunta acima, uma segunda pergunta seguiu, da mesma aluna: “Se Deus criou o mundo [havíamos comentado sobre Gênesis 1, 1 – 2,4, além de outros mitos], quem criou Deus?” Essa pergunta será discutida com a turma em outra(s) aula(s). Ela me fez lembrar de Carl Sagan, cientista estadunidense, que, no episódio 2 da série COSMOS, faz a mesma pergunta, tanto ao falar do relojoeiro do universo quanto, ao final deste episódio ou de outro, em uma atualização, em que fala do “fazedor de bolhas” do universo.
Valorizar as perguntas dos e das estudantes e colocá-las em debate, buscando respostas possíveis e verdadeiras (fundamentadas), pode contribuir para despertar outras! A filosofia pode contribuir muito com o desenvolvimento da reflexão, do questionamento, da capacidade de problematização.
Uma possível resposta para a segunda pergunta, sobre Deus, é que a filosofia e as ciências, em geral, com exceções, procuram não apelar para o divino, o transcendente, para buscar respostas às suas investigações, evitando, assim, o apelo ao místico, até ao misticismo, respostas conclusivas (palavras finais), tidas perigosamente como definitivas que, porventura, possam gerar ou reforçar a intolerância. E vale lembrar de Aristóteles que, não aceitando o idealismo de Platão, afirmava ser amigo deste, mas mais amigo da verdade, ainda que não absoluta.
As religiões já trilham o caminho do transcendente e do culto a este. E cada pessoa segue o caminho que melhor reponde aos seus anseios. Cabe a todos o profundo RESPEITO pela diversidade religiosa e por aquelas pessoas que lidam com o conhecimento filosófico e científico de forma desvinculada do religioso, e vice-versa, mutuamente. No respeito mútuo, as pessoas humanizam-se e geram uma boa e saudável convivência.
O debate tem grande valor, pode e deve ser despertado em sala de aula, lembrando-se sempre do respeito às crenças e ideias de cada um, sem descuidar da busca da verdade. Ademais, é preciso escutar os questionamentos que surgem em sala de aula e enfrentá-los, junto com os e as estudantes, com bom preparo e sem medo.