A ética é constituída a partir de um conjunto de valores que norteiam ou devem nortear a vida humana, incluindo a sociedade e a vida pessoal. A vivência da ética pode possibilitar uma melhor qualidade de vida dentro da sociedade. Ela inclui o respeito à dignidade das pessoas, sua valorização e o empenho coletivo de construção de uma sociedade mais justa e humana. Junto com a ética vão também a garantia dos direitos e o cumprimento dos deveres, fundamentais à vida em sociedade.
Os valores éticos, bem vivenciados pelas pessoas, podem ajudar na garantia de uma vida melhor a todos, na busca do bem comum. A ética, de fato, visa o bem comum e sua vivência, sua aplicação vai desde o mais simples cidadão até o político cujo trabalho deve ser o serviço bem feito à coletividade.
Contudo, no Brasil e no mundo, encontram-se casos em que a ética se vê desfigurada: problemas graves no trânsito, a continuidade da miséria e da pobreza num mundo em que existe fartura, as desigualdades sociais que implicam em acessos diferentes a bens sociais, a corrupção, conflitos armados aqui e ali, a violência urbana e no campo, a destruição do meio ambiente com conseqüências graves para todo o planeta, etc.
No campo da política, casos de corrupção: desvio de verbas públicas que poderiam contribuir para um melhor atendimento à população, superfaturamento de obras públicas, nepotismo, empresas falsas prestando serviços ao estado, usos indevidos de dinheiro e bens públicos, etc. O que deveria beneficiar a toda a população passa a beneficiar a poucos, que fazem mal uso de seu trabalho e do dinheiro que têm à disposição.
Algo positivo, porém, pode-se ver de uns anos para cá: fala-se mais, na TV e em outros meios de comunicação social, da corrupção e de corruptos; a Polícia Federal, aliada ao Ministério Público, atuando para descobrir e desbaratar esquemas de corrupção; a realização de CPIs pelo Congresso Nacional e assembleias estaduais; julgamentos de casos graves de corrupção, com prisões e devolução de bens, perdas de mandatos, etc. Mas, mesmo assim, muito ainda precisa ser feito: uma maior conscientização da população a respeito da política, aliada ao acesso e à permanência no âmbito da educação formal, uma vigilância cada vez maior, por parte de todos, sobre o uso das verbas públicas municipais, estaduais e federais, a melhoria da educação em todos os seus níveis, o cumprimento de leis de forma mais rigorosa, dentre outras ações.
O fato é que corrupção fere a ética e todo o dinheiro desviado por ela (bilhões de reais anualmente) poderia ser investido na melhoria de vida de muitas pessoas, muitas das quais poderiam ser, inclusive, tiradas da margem da pobreza e da miséria. Esse dinheiro falta à saúde, à educação, à habitação, ao saneamento, à pesquisa científica, além de outros. É muito dinheiro indo para os bolsos de pessoas e grupos particulares, trazendo prejuízos terríveis a todos os demais.
A corrupção alia-se a interesses de grupos, de grandes empresas que prestam serviços para os governos, dentre outros, pessoas já enriquecidas, aliadas a políticos, que usurpam muitos bens econômicos da coletividade. Tais grupos, inclusive, doam grandes quantias de dinheiro para as campanhas políticas, a fim de eleger políticos que sirvam a seus propósitos, garantindo a continuidade dos casos de corrupção. Infelizmente, há casos de grupos cujas atividades são ilegais que aplicam grandes quantias em políticos e pessoas ligadas à vida política, estendendo seus tentáculos até ao âmbito da polícia, aliciando policiais que passam também a servir a seus propósitos, além de colocar pessoas a seu serviço em órgãos públicos.
O conhecimento, a consciência e a conscientização a respeito da corrupção são de fundamental importância para a busca do resgate dos valores éticos, da exigência e da luta em prol do bem comum. Não são fáceis de serem obtidos, porém são possíveis e necessários. A isto devem aliar-se ações comuns (acompanhamento do trabalho dos políticos, passeatas, abaixo-assinados, uso positivo e valioso da internet e de outros meios de comunicação social, etc.), buscando lutar coletivamente contra aquele grave problema sócio-político. Não basta votar nos políticos na época das eleições. É preciso mais: o acompanhamento do trabalho de cada um deles, do uso das verbas, etc. Algo hoje muito positivo é a exigência federal da publicação das verbas e dos gastos públicos através da internet. Isto pode permitir um maior e melhor acompanhamento do uso dos bens e do dinheiro públicos.
A conscientização passa pela educação. Esta, por sua vez, ocorre no âmbito da família: ensino e vivência de valores éticos por parte de pais e filhos, acompanhamento do desenvolvimento dos filhos e filhas, dos valores por eles e elas aprendidos, de suas ações, aprendizado até mesmo de valores religiosos (que também são carregados de significância ética), etc. No âmbito da escola: a fala e a vivência de valores éticos, intervenções positivas que possam ser feitas, estudos reforçados de história, cidadania, filosofia, ética, aliás, de todos os conteúdos, sabendo-se que cada professor e professora podem transmitir, através de suas respectivas matérias, ideias e discutir temas que envolvam o mundo da ética: ética na política, na família, no que se refere ao meio ambiente, no campo da ciência, etc. Na sociedade em geral, até mesmo em empresas públicas e privadas, na transmissão, na vivência e na exigência de aplicação da ética dentro e fora. Isto demanda muito esforço por parte de todos e o compromisso sério com a vivência dos valores éticos, na busca do bem comum, indo muito além dos interesses particulares, tendo em vista que a corrupção prejudica decisivamente a todos, desde aquele miserável que vive nas ruas até o grande empresário que necessita de meios e condições para ampliar e melhorar seus serviços e, com isto, até mesmo seus ganhos.
A educação, que envolve consigo a ética, é dever de todos, não só da escola, assim como a luta em favor do bem de toda a coletividade, lembrando que, quando não há aplicação efetiva da ética, todos perdem, e que, quando ela existe, todos ganham, sem sombra de dúvida: aquele hospital cujas obras são concluídas devidamente, com o uso correto das verbas em sua construção e em sua constante manutenção material e econômica, pode permitir o atendimento de muitas pessoas, salvar muitas vidas; aquela escola concluída e bem feita pode dar atendimento a muitas crianças e jovens, que aí poderão se preparar bem para a vida social e profissional; etc.
Mas não pode haver descuido. A vigilância precisa ser constante e plenamente consciente, com o envolvimento de todos e de todas: adultos, jovens e até mesmo crianças. É preciso conhecer, agir e jamais cruzar os braços. É fácil? Não, mas sim um verdadeiro desafio a todas as pessoas que convivem em sociedade. Individualmente é difícil, porém coletivamente as ações são possíveis e imprescindíveis!
Professores e professoras de Filosofia e de todos os outros conteúdos escolares, interdisciplinarmente: ao discutir esse tema com as turmas, nas escolas, aproveitem materiais de revistas, jornais, internet (informações e imagens), que possam ser pesquisados e estudados com alunos e alunas, e tragam-nos para a sala de aula, enriquecendo, assim, debates e discussões diversas a respeito do conteúdo proposto. O texto acima pode ajudar, mas precisa ser enriquecido com informações, conseguidas através daqueles meios, além de outros textos, de autores e autoras diversos em livros e na internet.
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