quarta-feira, 9 de abril de 2008
Os primeiros filósofos gregos (parte 2) (Prof. José Antônio Brazão.)
Anaxímenes de Mileto afirmou que o princípio de todas as coisas (a arché/arqué) é o ar, também através de um processo de rarefação e de condensação. De fato, o ar preenche grande parte da terra, sem ele nem um ser vivo pode continuar vivendo, além de ser uma matéria extremamente fina, em relação, por exemplo, à água e à terra. Anaximandro de Mileto, por sua vez, afirmou que tudo proviria do ápeiron, um princípio ilimitado, indeterminado (significado desse nome). Com efeito, Anaximandro não admitia a idéia de que princípios tão comuns como o ar e a água fossem a origem de tudo. Xenófanes de Cólofon afirma que o princípio originário seria a terra. De onde teria tirado essa idéia? Possivelmente do fato de que muitos seres animados e inanimados são compostos de massa. Além disto, curiosamente, relaciona o crescimento e o desenvolvimento da criança e dos animais com os alimentos por eles comidos. De onde vêm os alimentos? Da terra! A água brota da terra. O ar que respiramos está ligado à terra. O fogo que os homens produzem provém de materiais comburentes presentes na terra (p.ex.: a lenha tirada das árvores, as quais se fixam na terra). É claro, ao falar de terra como arqué, é preciso lembrar que se fala da terra primordial, além de se referir à terra tal como a vemos. Heráclito de Éfeso diz que o princípio primeiro de tudo é o fogo. O fogo carrega consigo uma grande energia, podendo, inclusive, queimar quem dele se aproxima. Do fogo primordial foram se formando todas as coisas. O fogo tem um grande poder transformador da matéria: derrete metais, faz a água entrar em ebulição e evaporar-se, queima madeira, a mão de quem o toca, cozinha a comida, etc. O sol é quente e emite calor, a lava vulcânica é quente ao sair do fundo da terra. Certamente, foi observando fenômenos como esses e outros, e estabelecendo racionalmente uma relação entre eles, que Heráclito veio a propor o fogo como a arqué fundante de tudo quanto existe. Outro fato que Heráclito observou na natureza é que tudo está num processo de contínuo e permanente devir, vir-a-ser, isto é, de transformação. Nada permanece o mesmo na natureza. Uma criança vem a ser jovem, adulta, anciã. Os corpos se decompõem e se transformam em matérias que, por sua vez, darão origem a outros seres ou serão transformadas pela natureza. A pedra, pela ação da água, do vento e de outras forças naturais, acaba desgastando-se. Para referir-se a isto, Heráclito compara o devir às águas de um rio em que alguém se banha, elas não permanecem as mesmas. No entanto, por trás da mutabilidade dos seres e de sua impermanência, Heráclito percebia que existia uma harmonia cósmica, formando uma unidade harmônica entre tudo que existe. Parmênides de Eléia, contrapondo-se ao que afirma Heráclito, diz que o devir é ilusão e que o ser é aquilo que permanece eternamente o mesmo. De fato, nos fragmentos de textos de Parmênides, ainda existentes, ele relata uma visão que teve. Conta ele que foi conduzido por aurigas (condutoras de cavalos) que o transportaram, em um carro todo luminoso, até a presença da deusa Justiça. A deusa disse a ele que deveria conhecer dois caminhos: o caminho do ser, que diz que "o ser é e que o não-ser não é" e que "pensar e ser são o mesmo", pois só se pode pensar verdadeiramente o ser; o caminho do não-ser, representado pelo devir, já que nada permanece o mesmo. Parmênides, de acordo com a deusa, deveria seguir o caminho do ser, caminho da verdade. Porém, também deveria conhecer o caminho do não-ser, do devir, tal como é percebido pelas pessoas, no dia-a-dia, sem se prender a ele, pois esse caminho é o caminho da ilusão. Zenão de Eléia, discípulo de Parmênides, curiosamente, propôs alguns argumentos que comprovariam as idéias do mestre. Dentre eles, o da flecha e o de Aquiles e a tartaruga. O da flecha diz basicamente que o aparente movimento de uma flecha lançada nada mais é que uma seqüência de momentos em que ela esteve parada. O de Aquiles e a tartaruga diz que se, numa corrida entre o grande corredor e uma tartaruga, esta desse um passo à frente, ele jamais a alcançaria. Com isto quer provar a ilusão do movimento, do devir. Como? Matematicamente uma reta é composta de infinitos pontos. Para alcançar a tartaruga, Aquiles teria que percorrer os pontos por ela percorridos, jamais alcançando-a. É um argumento interessante, pois apela para a matemática, uma ciência extremamente abstrata, para demonstrar suas idéias. A filosofia, de fato, é fruto, justamente, da união entre argumentação, demonstração e derrubada ou confirmação/aperfeiçoamento de idéias. Na linha da matemática,
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