quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O USO DE FILMES NO ENSINO DE FILOSOFIA (Prof. José Antônio Brazão.)

Há filmes muito interessantes que podem ser utilizados no ensino de filosofia. Estes podem enriquecer muito o aprendizado desta matéria/área de estudo escolar. Abaixo vai o comentário sobre o filme ALEXANDRIA. Pode ser trabalhado com os seguintes propósitos: estudo da ciência antiga; introdução do pensamento helenístico presente em Alexandria na época da decadência do Império Romano; discutir o confronto entre religiões diferentes (no filme aparecem o paganismo, o cristianismo e o judaísmo); discutir as ideias da filósofa, matemática e astrônoma Hipácia; radicalismo religioso; outros (imagine e faça bom proveito). Cabe a você, professor, professora, de Filosofia imaginar e descobrir como poderá usar o filme. Pode ser usado também interdisciplinarmente com a História, a Física, a Matemática e outras áreas. 
O comentário abaixo é simples e pode ajudar na introdução e/ou conclusão da assistência do vídeo. Pode ser enriquecido, corrigido e complementado. Bom proveito!
Pesquisas complementares podem ser feitas pelos e pelas estudantes, aprofundando ainda mais o aprendizado de conteúdos presentes no filme.
Comparações com o mundo atual (século XXI) podem ajudar a fazer uma ponte entre o presente e o passado.
 
FILME ALEXANDRIA (ÁGORA) – COMENTÁRIO (Prof. José Antônio Brazão.)
O filme ALEXANDRIA (ÁGORA) conta a história da astrônoma e matemática, filósofa, Hipácia (ou Hipatia), uma das grandes mentes do mundo antigo, representada pela atriz Rachel Weisz. O período referido no filme é o dos séculos IV/V d.C., momento em que o Império Romano, dividido, vinha encontrando grande decadência, particularmente o do Ocidente.
Alexandria, uma das maiores cidades do Norte do Egito, dispunha de um grande farol e de uma biblioteca que contava com excelente e extenso acervo de livros, conservando muito do conhecimento produzido no mundo antigo. Ali havia pesquisadores, estudiosos, pessoas de ciência, gente que investigava desde a matemática, passando pela história, até o cosmos. E tanto essa biblioteca quanto Hipácia existiram de fato, são históricas.
O filme inicia-se com Hipácia lecionando e debatendo, com seus estudantes, ideias acerca do movimento (circular e perfeito, dos astros, e retilíneo e imperfeito, dos objetos na Terra) e do universo. Eles expõem questionamentos relativos ao pensamento de Ptolomeu (astrônomo, matemático e geógrafo que viveu no século II d.C. e que havia trabalhado na Biblioteca de Alexandria). Este, em seu livro Almagesto, havia proposto um aperfeiçoamento do sistema geocêntrico, colocando nele epiciclos (círculos menores nas órbitas dos planetas), a fim de explicar as variações observadas, de tempos em tempos, no movimento planetário. Vale a pena observar que tais observações dos astros eram feitas a olhos nus! O próprio filme mostra isto, em alguns momentos em que Hipácia, com seu auxiliar, observa(m) os céus.
Um dos estudantes de Hipácia, durante a aula, fala do caráter aleatório (incerto, impreciso) do sistema geocêntrico ptolomaico, por causa dos epiciclos. Hipácia, mesmo mantendo a perspectiva ptolomaica, guardou aquele questionamento e, como o filme mostra, procurou respostas, fez observações, pesquisou, avaliou. Entre os estudantes de Hipácia encontravam-se pagãos, cristãos, judeus, até mesmo um escravo. Esse escravo, que servia Hipácia e acompanhava suas aulas, montou, com fibras e madeira, um modelo do sistema ptolomaico.
O filme mostra cenas em que aparece o comércio e a grandeza da cidade de Alexandria, banhada pelo Mar Mediterrâneo. Cidade grande e próspera, vital dentro do Império Romano.
A ideia da aleatoriedade do movimento dos astros tocou um aluno cristão, que defendeu a ação não aleatória do Deus cristão, Criador do universo, perfeito, eterno e todo-poderoso. Um conflito gerou-se entre os dois alunos. Hipácia, ao pôr um fim no perigo de radicalização da discussão, pediu ao aluno cristão que falasse do que Euclides, o antigo matemático grego, dizia no início de sua obra (Elementos). A igualdade entre termos matemáticos, como Hipácia compara, corresponde à igualdade humana entre as pessoas, como entre ela e seus alunos e destes entre si e com ela.
O nome dos planetas, como aparece no filme e que corresponde ao significado do termo na língua grega, é errantes (os errantes, como os estudantes de Hipácia a eles se referiam). Por quê? Porque aparentemente erravam, de tempos em tempos, a exatidão de seu caminho circular. O nome refere-se ainda a vagantes, caminhantes, por vagarem pelos céus ao redor da Terra, como se acreditava no sistema geocêntrico (com a Terra [Geia, em grego] parada no centro).
O filme mostra o amor do escravo servidor de Hipácia e de um de seus alunos por ela. Este último, aproveitando um momento de teatro em que muitos pagãos encontravam-se reunidos, declarou seu amor pela filósofa, matemática e astrônoma. Contudo, no dia seguinte, Hipácia entregou-lhe, durante a aula, um pano contendo sangue de sua menstruação declarando que não podia aceitar casar-se com ele. O pai de Hipácia, numa conversa com amigos, declara o quanto percebia a independência da filha e o desejo desta em mantê-la para poder dedicar-se aos estudos, às pesquisas e ao ensino.
É interessante notar como o filme faz um constante movimento entre o mundo intelectual, o mundo social, político e religioso daquele tempo, em Alexandria, no Império Romano. Com efeito, Constantino, um dos imperadores romanos, havia se convertido ao cristianismo e, além dele, os imperadores que se seguiram, procuraram incorporar essa religião no âmbito do poder. Em Alexandria conviviam, não pacificamente, três grandes religiões: o paganismo, o cristianismo e o judaísmo, além de pensadores, como Hipácia, que mesmo nascida entre pagãos, tinha ideias independentes.
Os pagãos mantinham o culto ao deus Serápis, governante do universo, que carregava em sua cabeça um vaso de flores como coroa, além de outros deuses antropomorfizados (com formas humanas). Os cristãos, por sua vez, negavam qualquer poder a tais deuses, pondo, inclusive, desafios aos pagãos, como o cristão Amônio, que atravessou o fogo sem se queimar. Para os cristãos os deuses pagãos eram mudos, cegos e sem qualquer poder. O local em que se pôs a discussão foi a ÁGORA (vale lembrar que o nome original do filme é ÁGORA), espaço reservado, desde os gregos, para debates e exposição de ideias, nas cidades-estados. Alexandria não era uma cidade-Estado separada. Era, sim, agora, uma cidade do Império Romano.
O filme mostra conflitos graves causados pelo radicalismo religioso e pela busca do domínio político. Pagãos matam cristãos, cristãos (maioria) matam pagãos, judeus matam cristãos e vice-versa. Tudo em nome das verdades de fé defendidas pelos religiosos. Os conflitos acabam refletindo-se na destruição da Biblioteca de Alexandria. Hipácia, com seus estudantes e outros intelectuais que ali trabalhavam, empenharam-se por salvar tantos livros quantos pudessem salvar, após um conflito envolvendo mortes entre pagãos e cristãos. Numa noite, discutindo com outros acerca do movimento dos astros, um homem de idade, pagão, também refugiado na biblioteca, lembrou o nome de Aristarco, antigo astrônomo e matemático grego que chegou a defender o heliocentrismo (sistema astronômico que põe o Sol no centro do universo). O intelectual pagão recorda que o livro de Aristarco já estivera naquela biblioteca, porém perdeu-se, por causa de uma destruição anterior pela qual ela tinha passado.

A intervenção do imperador e dos governantes locais ocorria, mas, por causa de serem cristãos, defendiam estes, salvando a vida dos pagãos refugiados e dando direito aos cristãos de invadirem a biblioteca.
O filme mostra como a biblioteca, arrasada, tornou-se local de criação de animais e de celebrações cristãs, perdendo seu caráter inicial. Anos depois, quando as coisas foram se acomodando, Hipácia, em sua residência, continuou mantendo escritos que pôde salvar e atendendo crianças, a quem se dispôs ensinar.  Ali, essa mulher, essa grande intelectual, pôde também fazer pesquisas, ainda intrigada pela questão acerca da aleatoriedade do sistema ptolomaico. O estudante que a amava tornou-se prefeito de Alexandria e, acompanhando-a em um passeio de barco, pôde vê-la fazendo uma experiência acerca da queda dos corpos: com o barco em movimento, Hipácia pediu a seu auxiliar para subir com um saco pesado ao alto do mastro central. Hipácia disse ao prefeito e amigo que, de acordo com a visão vigente, o saco, ao cair, não cairia em linha reta, mas sofreria um desvio. Ela, inclusive, se pôs a uma certa distância, mas, constatou que o saco caiu em linha reta e não desviou-se, por alguma razão que ela desconhecia. Continuou fazendo observações.
 Nesse meio tempo, os conflitos religiosos, sociais e políticos continuavam em Alexandria, agora com força entre judeus e cristãos. Assassinatos e perseguições ocorreram, tanto pelo radicalismo de uns quanto pelo radicalismo dos outros. Judeus mataram cristãos em uma igreja, em uma armadilha, e os cristãos, além da resposta violenta, com mortes, expulsaram muitos elementos da comunidade judaica da cidade, obrigando-os a um exílio. Hipácia, em um debate ocorrido entre os religiosos e o prefeito, criticou o radicalismo, mantendo sua independência.
Os líderes religiosos,  especialmente os cristãos, não a viam com bons olhos. Ela própria, questionada acerca de suas crenças, defendeu-se dizendo que reconhecia crer na Filosofia. Enraivecidos, aqueles procuravam um meio de matar a filósofa, matemática e astrônoma, vendo nela um empecilho e alguém que exercia forte influência sobre o prefeito. Impuseram a conversão dos notários/nobres pagãos, buscando, com isto, aumentar seu poder e sua influência.
Em seus estudos, em suas observações, à noite, após ter refletido bastante e ter feito cálculos, com seu auxiliar, no filme, acabou por desconfiar e a afirmar o movimento elíptico dos planetas em torno do Sol (heliocentrismo).  Fez até mesmo uma experiência, colocando duas tochas representativas do Sol, amarrando uma corda em ambas e desenhando uma elipse numa caixa de areia. Hipácia quis compartilhar com amigos seus, um que era prefeito e outro que, tornado cristão anos antes, havia se tornado bispo de Cirene. Ao amigo bispo (ex-aluno) mostrou, em visita que este lhe havia feito, um cone de madeira, com recortes de figuras e linhas geométricas (cone, círculo, hipérbole, parábola e elipse), de um outro antigo matemático grego.
Os conflitos foram se radicalizando entre os religiosos, Hipácia teve que passar a ser acompanhada por soldados, por ser cidadã romana e por estar em risco de morte. O bispo de Alexandria, com ajuda dos parabolanos (uma milícia cristã) e da maioria de cidadãos cristãos, acabou alcançando o poder. O prefeito de Alexandria foi lembrado por Hipácia acerca dessa perda e da vitória do bispo cristão dessa cidade. Chegou a um ponto em que acabou deixando a proteção que a seguia e entregou-se aos parabolanos, que acabaram por mata-la, apedrejando-a e esfolando seu corpo, arrastado pela cidade.

Um fato que aparece no filme, constantemente, é o movimento de imagens do universo, da Terra, do norte da África, mais especificamente, do Egito e da cidade de Alexandria, estabelecendo um nexo valioso entre a grandeza do cosmos e a grandeza do pensamento humano que o investiga (Hipácia e outros membros da Biblioteca de Alexandria), entre a grandeza do cosmos e a pequeneza de mentes que provocam conflitos humanos, entre o macro e o micro-universo.
O filme é muito rico e cheio de detalhes, contendo informações sobre a cultura, a ciência, a matemática, a filosofia, a religião, a sociedade, a economia, a política e as contradições existentes na cidade de Alexandria, nos fins do Império Romano, no Norte da África (no Egito, uma das províncias desse império). Mostra a grandeza da figura dessa mulher que foi Hipácia e do seu empenho em favor do conhecimento e da descoberta das verdades que se encontravam escondidas no universo. Vale a pena, aqui, citar um vídeo que apresenta a biblioteca de Alexandria, como provavelmente foi, e sua grandeza, em uma parte: COSMOS, episódio 1, do astrônomo e cientista norte-americano Carl Sagan (já falecido). Este vídeo pode ser encontrado na videoteca da TV ESCOLA e no YOUTUBE. Sagan até mesmo menciona a figura de Hipácia, seu trabalho na biblioteca de Alexandria, junto com outros intelectuais, e sua morte, causada, sem dúvida, pelo radicalismo religioso.

Vale a pena atentar para uma cena em que são mostrados cristãos discutindo acerca da redondeza ou planura da Terra: "Se a Terra é redonda, por que as pessoas debaixo não caem?" Outro defendeu a crença no universo baú (arca), com os astros fixos a tampa (céus) e a Terra, plana, embaixo.

Vale também observar como no filme aparece a desigualdade social, com pessoas pobres destituídas de tudo, auxiliadas pela caridade religiosa e nas ruas. É curioso observar no comentário de Sagan, no documentário citado (Cosmos, episódio 1), como o conhecimento da biblioteca não era acessível a todos, nem voltado para todos, daí a falta de sentimento de valorização daquele ambiente pela população empobrecida e radicalizada. Junto com isto, sem dúvida, o perigo que o conhecimento (descobertas, ideias novas, informações e estudos) podia pôr em risco ideias religiosas, fundamentadas em dogmas e em textos sagrados definidos divinamente, doutrinariamente, com a religião e a política caminhando juntas.

O filme, efetivamente, é muito rico em detalhes. Professor(a), é preciso estar atento(a) para tais detalhes, resultado de muita pesquisa de quem escreveu e dirigiu essa obra tão rica e valiosa para o ensino de Filosofia e, sem dúvida, também de outros conteúdos (áreas) de ensino escolar, no Ensino Médio. No Fundamental também. E lembre-se: atente para a faixa de idade indicada no filme.

Do filme podem resultar:
Debates.
Resumos.
Pesquisas na biblioteca e/ou no laboratório de informática da escola ou em casa, conforme cada caso. E trazer o resultado dessas pesquisas para dentro da sala!
Elaboração de slides pelos e pelas estudantes, a partir do que foi visto, debatido e/ou da pesquisa.
Uma tabela comparativa sobre a visão de mundo antiga dos pagãos, dos cristãos e dos judeus (no filme eles aparecem).
Enfim, crie! No mais, bom proveito e excelente aprendizado para os seus e as suas estudantes.

 


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O UNIVERSO – TRÊS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS (Prof. José Antônio Brazão.)

 
NO MUNDO EUROPEU MEDIEVAL

(aprox. séc. IV/V – XV d.C.)

 
1)      Geocêntrico e fechado (finito). Para além dele, a habitação de Deus.

2)      Movimento circular uniforme dos astros. Órbitas circulares. Círculo: símbolo da perfeição, pois é a única figura (forma) geométrica que começa e termina em si mesma.

3)      Criado por Deus, conforme Gênesis 1 – 3.

4)      Regido por Deus, segundo a perspectiva religiosa então predominante (cristã).

5)      Universo macroscópico: Terra (parada no centro), Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e esfera das estrelas. O movimento das esferas celestiais ocorre de fora para dentro, reduzindo-se gradativamente, até parar no centro (Terra estática).

6)      Hierarquizado: mundo sublunar (Terra) e mundo supralunar (Lua e demais astros).

7)      O poder de Deus dirige o universo e o põe em movimento.

8)      Universo heterogêneo: há dois diferentes níveis (sublunar e supralunar), com leis diferentes [o mundo supralunar não está sujeito ao devir e seu movimento é regular; o mundo sublunar está sujeito ao devir (mudança) e seus movimentos são irregulares].

9)      Criado em seis dias, de acordo com a Bíblia (Gênesis 1).

10)  Composições diferentes: a) Mundo sublunar (Terra): composto pelos 4 elementos (raízes) de Empédocles (água, ar, terra e fogo); b) Mundo Supralunar (Lua e demais astros): composto por éter, substância pura e cristalina, não havendo vácuo. O mundo supralunar não tem defeitos, é harmônico e bem ordenado.

11)  A vida na Terra foi criada por Deus e definida como aí está (criacionismo bíblico): Gênesis 1 – 3. Homem e mulher são imagem e semelhança de Deus (Gn. 1): “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do ar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.’ Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.” (Gênesis 1, 26 -27).

12)  Destaques em seu estudo (princípio de autoridade): Bíblia, Cláudio Ptolomeu (séc. II d.C.), Aristóteles (séc. IV a. C.), dogmas e ensinamentos da Igreja Católica eram as autoridades que davam bases a essa perspectiva. Cláudio Ptolomeu, tentando corrigir distorções, acrescentou epiciclos às órbitas circulares.

NO MUNDO OCIDENTAL MODERNO

(aprox.. séc.XVI - XVIII)

 
1)     Entre o finito (heliocentrismo copernicano) e o infinito (p. ex.: Giordano Bruno e Blaise Pascal).

2)      Com Kepler: descoberta do movimento elíptico dos planetas. Kepler descobriu, inclusive, leis que regem o movimento planetário. Newton comprovou o movimento elíptico planetário, ao descobrir a lei da gravidade, e Halley estudou detidamente o dos cometas, tendo descoberto um que leva seu nome.
 
3)      De acordo com os religiosos, criado por Deus. De acordo com ateus, tudo é explicado pela matéria e pelas reações e movimentos que nela ocorrem. Vale lembrar que o geocentrismo conviveu, por algum tempo, ainda, com o heliocentrismo. O sistema astronômico geocêntrico é citado, inclusive, em Os Lusíadas, do escritor português, renascentista, Camões.

4)      Abertura para uma perspectiva mais científica, com novas descobertas acerca do universo e do mundo natural (Revolução Científica Moderna). Leis naturais regem o universo (ex.: gravidade e leis descobertas por Newton, Kepler e outros).

5)      Universo macroscópico [Sol (no centro), Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, esfera das estrelas (sistema de Nicolau Copérnico)] e microscópico (invenção do microscópio e, com ele, a descoberta de células e seres unicelulares).

6)      Progressivamente foi-se perdendo a noção de hierarquia no universo. (Ver no. 10 a seguir.)

7)      Leis naturais regem o universo (ex.: inércia, gravidade...).

8)      Homogêneo. As mesmas leis governam o universo e a Terra. P. ex., a lei da gravidade explica tanto o movimento dos astros como a queda de uma maçã. No campo da física, ainda, a lei da inércia, a lei da ação e reação, dentre outras.

9)      Durante bom tempo, permanência da contagem de tempo bíblica.

10)  Galileu Galilei descobriu buracos, montes e vales na Lua, manchas no Sol, luas em Júpiter, com o  telescópio (luneta aperfeiçoada), pondo abaixo a distinção entre sublunar e supralunar. Antes dele, Copérnico já havia descoberto que a Terra é nada mais que um planeta que, como os outros, gira ao redor do Sol (translação anual) e de si mesma (rotação diária).

11)  Início de descobertas dos seres unicelulares. O microscópio foi inventado. Porém, o criacionismo bíblico manteve-se entre os religiosos e em boa parte do campo das ciências. Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564), o pintor italiano renascentista, na Capela Sistina do Vaticano, inclusive, havia pintado o momento da criação do homem por Deus. Outros pintores renascentistas e posteriores também fizeram pinturas da criação. O divino e o humano juntos.

12)  Destaques em seu estudo: Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Isaac Newton, dentre outros. No campo da Filosofia, vale a pena citar a aplicação comparativa da precisão da máquina ao corpo humano em René Descartes e o materialismo de Thomas Hobbes, o ateísmo de certos iluministas(ex.: Diderot).

NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

(aprox. séc. XIX – XXI)

1)      Sem limites visíveis. Dispõe de galáxias que estão em movimento contínuo, desde o BIG BANG (a Grande Explosão originária).

2)      Movimento elíptico dos planetas e outros astros (ex.: cometas). Outros movimentos na natureza: retilíneo, curvilíneo, uniforme, variado, uniformemente variado, acelerado, etc.

3)      Perspectiva explicativa predominante no campo do saber: científica. A ciência busca objetividade e universalidade, mas NÃO é neutra. As religiões continuam existindo e dão também suas explicações teológicas para o mundo. Porém, a ciência busca uma universalidade que não se encontra nas explicações de diferentes religiões e no senso comum.

4)      A ciência não apela para o divino. Leis naturais. O universo originou-se a partir do Big Bang (a grande explosão), há mais ou menos uns 13,5 bilhões de anos.

5)      Entre o imenso (macro) universo, composto por bilhões de galáxias, muitos sistemas solares (ou melhor, estelares), buracos negros, etc., e o minúsculo (micro) universo de átomos, subpartículas, microrganismos. Partículas e subpartículas atômicas (exemplos): elétrons, nêutrons, prótons, quarks, bósons, etc.

6)      Não hierarquizado. Nele, aliás, existem muitos objetos celestiais, para além dos que já eram conhecidos, como as galáxias e os buracos negros.

7)      Leis naturais regem o universo. Ex.: relatividade, leis quânticas, além da gravidade e outras.

8)      Os elementos químicos estão espalhados em todo o universo. Além das leis já descobertas pela física clássica, as leis da relatividade (de Einstein) e outras referentes ao mundo das partículas e subpartículas.

9)      Universo com cerca de 13,5 bilhões de anos. Nascido do BIG BANG. A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos.

10)  Composto por átomos (mais de cem elementos químicos) e conduzido por leis universais. O vácuo existe. Os átomos, por sua vez, são compostos de partículas ainda menores, chamadas subpartículas atômicas. Não se descobriu, ainda, uma lei unificada para todos os fenômenos físicos e universais, apesar de tentativas como as de Einstein.  

11)  Evolucionismo: as espécies existentes surgiram, segundo Darwin, por um processo de evolução por meio da seleção natural, ao longo de milhões (hoje se sabe que bilhões) de anos. Comprovação fóssil, geológica e genética. Choque com o criacionismo e a semelhança com relação a Deus. No evolucionismo, com efeito, os seres humanos evoluíram a partir de outras formas vivas, primitivas, e têm grande semelhança com relação a outros animais e proximidades até mesmo com as plantas. Curiosamente, no Gênesis 1, apenas eles se assemelham a Deus, como imagem e semelhança. Criacionistas britânicos e de outros lugares atacaram duramente as teses evolucionistas de Darwin. (Ver o número 11 relativo ao mundo medieval.)

12)  Destaques em seu estudo: Albert Einstein, Max Plank, Marie Curie e seu esposo Pierre Curie, Edwin Hubble e outros, inclusive bem próximos, como Stephen Hawking e Carl Sagan. Quanto à vida: Charles Darwin, Gregor Mendel, geneticistas, biólogos e outros. No campo da filosofia: as descobertas da Física, p. ex., de Einstein, tiveram forte influência sobre o POSITIVISMO LÓGICO. As descobertas científicas apontadas, além de outras, exerceram, sem dúvida, influências fortes em várias outras correntes da filosofia contemporânea.

Referências simples: livros (1) CONVITE À FILOSOFIA (Ed. Ática).  (2) FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (Ed. Moderna).  (3) FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA (Ed. Saraiva). Todos atualizados. (4) BÍBLIA DE JERUSALÉM (Ed. Paulus). SITE: www.wikipedia.org .

Para debater em sala de aula, acerca do embate entre criacionismo e evolucionismo:
Sendo parentes dos símios e de outros animais, em termos evolutivos, como ficam a imagem e a semelhança entre os seres humanos e Deus? (Por esta pergunta pode-se ter uma ideia da dificuldade encontrada por Darwin em publicar logo suas ideias, no século XIX, o que vale a pena também ser debatido em sala de aula.)
ATIVIDADE: Em uma ou mais folhas brancas ou do caderno, faça um DESENHO para cada uma das perspectivas apresentadas. Pode usar lápis e/ou caneta(s). No caso das duas primeiras perspectivas, caso disponha de um compasso, utilize-o, a fim de dar precisão à circularidade das órbitas dos astros celestiais. Professor(a) de Filosofia, lembre-se: O desenho ajuda a fixar e a entender melhor o conteúdo apresentado em cada uma das perspectivas. Pode ainda ser feito um debate, a fim de perceber como a filosofia se põe, ao longo do tempo, diante das discussões acerca do mundo, da realidade e como estas tinham e têm repercussões a nível de poder, seja ele político, religioso, cultural, científico e até mesmo econômico. Podem ser feitos cartazes, em pequenos grupos de estudantes, em todas as turmas. Outras atividades: use a criatividade, invente. A proposta é enriquecer o aprendizado e reforça-lo, ajudando o desenvolvimento da capacidade de reflexão filosófica e da postura dos e das estudantes diante da realidade e do pensamento científico, geral e do conhecimento.
Vale lembrar o cuidado necessário com a datação: sem rigidez! A história é fluida e não se prende a datas fixas. Estas, porém, nos dão uma ideia de regularidade e de apresentação didática, mantendo-se importantes para o aprendizado.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

DINÂMICA DA FILOSOFIA POR PERGUNTAS E RESPOSTAS (Prof. José Antônio Brazão.)


Uma atividade interessante, que pode ser trabalhada em sala de aula, é uma dinâmica de perguntas e respostas. O professor, a professora, pode elaborar diversas perguntas sobre um tema em estudo ou a ser estudado, com a finalidade de introduzi-lo, desenvolvê-lo, concluí-lo ou aprofundá-lo. Pode ser referente ao estudo de um filósofo específico ou de um tema determinado em estudo.

As perguntas podem ir de questões simples a cada vez mais complexas. Podem referir-se ao dia a dia dos e das estudantes, ligando-o ao conteúdo estudado, e/ou ir diretamente ao estudo do filósofo, a partir de um texto definido.

As perguntas podem ser escritas no quadro da sala de aula, fornecidas através de folha digitada e copiada para cada um(a) ou, simplesmente, de forma direta. Em todo caso, pode ser interessante o professor, a professora, ter em mãos as perguntas, podendo elaborar outras que, porventura, apareçam no momento do diálogo com as turmas. Isto, de fato acontece.

Sócrates (séc. V/IV a.C.), por exemplo, utilizava-se, em seus diálogos com os jovens e outros(as) interlocutores(as), de perguntas diretas ou sutis, a fim de embaraçar quem com ele discutia (ironia), levando-o(a) a enxergar sua ignorância. A seguir, novas perguntas, a fim de leva-lo à construção de suas próprias ideias, de uma reflexão, fazendo nascer, de dentro dele(a) algo novo (maiêutica). Ao voltar-se para Sócrates e as questões por ele colocadas, Platão e Xenofonte, discípulos que deixaram informações sobre o mestre, principalmente o primeiro, queriam levar o(a) leitor(a) a também participar dos diálogos, refletindo sobre as questões postas. Platão, como Sócrates, foi, sem dúvida, um grande mestre de filosofia e um grande escritor.

No mundo medieval houve debates aquecidos de filosofia, nas escolas e nas universidades. Houve, inclusive, debates anuais, em determinadas épocas de cada ano, dos quais professores e estudantes participavam, em torno de questões acaloradas postas pelas ideias novas que apareciam e pelos questionamentos que incitavam.

No século XX, Jostein Gaarder, um filósofo e professor norueguês, também fez uso de perguntas e as colocou, em seu best seller O Mundo de Sofia, nas cartas ou nos lábios de um professor-personagem de Filosofia, direcionando-as à personagem principal, Sofia. Esta, uma adolescente que dali a algum tempo faria seus quinze anos. Com isto, a personagem Sofia, bem como cada leitor e leitora, era convidada a refletir sobre o conteúdo das questões, preparando-se, consequentemente, para o que viria: as aulas escritas e, em alguns momentos, depois de um bom tempo e de muita curiosidade, ao vivo.

Uma vantagem de colocar perguntas e buscar respostas, inicialmente livres e simples, dos e das estudantes é perceber o que pensam sobre determinados temas ou questões, principalmente questões atuais, mas que podem servir para introduzir estudos desses temas em filósofos mais antigos, relativamente próximos ou bem próximos do tempo atual.

Outra vantagem é que as respostas auxiliam no próprio entendimento do conteúdo, tornando sua explicação mais compreensível e reflexiva, despertando o interesse pelo seu estudo e ainda pela filosofia.

Uma outra vantagem é o esclarecimento maior de termos, cujos significados, usados no dia a dia, podem perder sua profundidade original e até mesmo sua amplitude. Para tanto, depois de postos os significados apresentados pelos e pelas estudantes, pode ajudar o uso de bons dicionários de língua portuguesa e de filosofia.

Anotar, no quadro da sala de aula, tanto as perguntas quanto as respostas durante o debate, oferece uma visualização e  contribui, com certeza, para uma melhor memorização e um maior esclarecimento do conteúdo de cada pergunta e resposta. Enfim, o debate, por meio de perguntas e respostas, amplia o entendimento das ideias filosóficas em estudo, seja de um(a) filósofo(a), de uma corrente filosófica, de um livro ou de um texto básico escrito por aquele(a).

Um exemplo simples, que pode ser utilizado e aprimorado em sala de aula:

QUESTÕES INTRODUTÓRIAS AO ESTUDO DE HEGEL

Anotar no quadro, solicitar anotação no caderno (para arquivo e revisão em casa), debater/anotar respostas no quadro.

GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770 – 1831): Filósofo alemão.

1)     Que é história?
2)     Que importância tem o conhecimento da história?
3)     O que é espírito? Que significados tem ou pode ter essa palavra espírito?

4)     O que você entende pela expressão “espírito do tempo”?

5)     Na sua opinião, o espírito está na história? Comente.

6)     O espírito é capaz de fazer história? O que você acha?

7)     Enfim, a história é humana ou espiritual?

8)     Como acontece a história? Comente.

9)     Você se acha parte da história? Por quê?

10) A história é contraditória? Dê sua opinião. Dê também exemplos.

11) O que é contradição? Dê exemplos.

12) Contradições podem ser superadas? Comente.

13) Quando as contradições na família são superadas, algo novo aparece? Opine e dê exemplos.

14) Há contradições da história que foram superadas? Que avanços trouxeram? Dê um exemplo e comente.

15) O espírito, na história, pode contradizer-se e superar-se? Opine.

16) O espírito humano evoluiu (e evolui) com o tempo? O que você acha? Dê algum exemplo.

17) O que é diálogo?

18) Num diálogo podem haver contradições? Comente e dê exemplos.

19) Dialética, o que é? Que significados pode ter essa palavra?

20) O que significam subjetivo, objetivo e absoluto? Dê sua opinião.

21) O que é ideia?

22) E o que é idealismo?

23) Você se lembra de algum filósofo que valoriza muito as ideias? Fale um pouco sobre ele.

24) O que é real?

25) O que é racional?

26) O real pode ser racional? Que você acha? Por quê?

27) E o racional, pode ser real? Que você acha? Por quê?

As perguntas acima são muitas. Questões podem ser reduzidas ou trabalhadas, se forem numa quantidade maior, em partes, em diferentes aulas. Estas são apenas simples exemplos do que se pode propor em sala de aula.
Professor, professora, crie perguntas e faça bom uso delas em sala. Proponha também temas quentes da atualidade, que possam ter ligação com a filosofia. Você terá muito a ganhar, variando, de algum modo, o estilo de suas aulas. Aliás, os e as estudantes terão muito mais ainda a ganhar, ao aprender filosofia e, sobretudo, a filosofar!
Mais algumas perguntas, junto com respostas possíveis:

FILOSOFIA PERGUNTAS E RESPOSTAS: (Professor José Antônio Brazão.)

1)O QUE FILOSOFIA?

A filosofia não é uma ciência, no sentido de ciência experimental-matemática, como se compreende este termo hoje. Ela é, sem dúvida, uma ciência enquanto um saber que busca a compreensão da realidade, seja esta a do mundo natural (os primeiros filósofos gregos, chamados pré-socráticos tiveram essa preocupação), seja a do mundo humano, pondo em discussão e problematização questões que a ambos envolvem, conforme a linha ou área de pensamento da filosofia.

2)E EM QUE ÁREAS ESTÁ DIVIDIDA A FILOSOFIA?

A epistemologia, por exemplo, ocupa-se do estudo do conhecimento e da ciência. A antropologia filosófica, das questões humanas refletidas sob um ângulo filosófico. A metafísica estuda o ser. A lógica, a construção dos raciocínios, sua estruturação, seu caráter de verdade ou falsidade, entre outros aspectos da construção correta do pensamento e sua exposição. Há também a teoria do conhecimento, que trata da compreensão e dos fundamentos do conhecimento humano, suas origens, entre outros elementos a ele ligados. Entre outras.

3)MAS COMO SURGIU A FILOSOFIA?

A filosofia surgiu entre os séculos VII e VI|V antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (atual Turquia) e da Magna Grécia (Sul da Itália). Surgiu dos questionamentos de homens que viveram nesse tempo e que buscavam entender o cosmos (o universo ordenado) partindo de princípios que o teriam originado e que nele estariam presentes. Dentre esses princípios (princípio é tradução de arqué ou arché, em grego) estão a água (Tales de Mileto), o ar (Anaxímenes de Mileto), o fogo (Heráclito de Éfeso), as homeomerias (partículas minúsculas, iguais aos corpos que formam – ideia do filósofo Anaxágoras de Clazômena), até mesmo átomos (Leucipo e Demócrito)! Empédocles de Agrigento acreditava que todas as coisas seriam compostas por quatro elementos básicos: a água, o ar, o fogo e a terra. Pitágoras, outro dos filósofos pré-socráticos, acreditava que tudo é composto e correspondente a números. Houve outros filósofos pré-socráticos, além destes. Estes, aqui citados, são alguns dos principais.

4)E ANTES DA FILOSOFIA, COMO AS PESSOAS EXPLICAVAM O MUNDO, O COSMOS?

Antes dos primeiros filósofos gregos e por muito tempo depois deles, a imensa maioria das pessoas e dos povos do mundo explicavam tudo pelos mitos, relatos ou histórias de cunho sagrado, que tratam das origens do mundo, do trabalho, dos males, dos seres humanos (homens e mulheres), além de outras realidades existentes e diferentes aspectos da vida das pessoas, tudo sob a ação de seres divinos, incluindo semideuses e semideusas. Além dos mitos, também rituais, templos e estátuas foram, no transcurso do tempo, sendo criados, como meios de ligação (religião) entre seres humanos e divindades.

5)O QUE PODE TER LEVADO A OU CONTRIBUÍDO PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA?

Alguns elementos são fundamentais para a compreensão do nascimento da filosofia enquanto saber racional diferente do mito. A seguir vão alguns.

*O nascimento e o crescimento das cidades, na Grécia antiga e em suas colônias, possibilitando o contato com pessoas e ideias as mais diversas. Dentre essas cidades, por exemplo, podem ser citadas: na Grécia continental – Atenas, Esparta, Delos, Delfos e outras; nas colônias gregas – Mileto, Éfeso, Clazômena, Abdera, Agrigento e outras.

*O desenvolvimento de uma escrita mais simples, com menos caracteres, pelos fenícios e outros povos que se aproveitaram do alfabeto fenício, dentre os quais o povo grego. A transmissão de ideias por escrito permite uma maior amplitude em sua divulgação e também maiores debates. Muitos foram os livros escritos da filosofia grega, seja por grandes filósofos, seja por seus discípulos.

*A escravidão. O uso de escravos nos trabalhos permitiu que muitos cidadãos gregos tivessem tempo para dedicar-se a atividades culturais e intelectuais.

*O comércio, que trouxe consigo, além de riquezas e bens, uma série de ideias e informações de culturas de diferentes povos do mundo antigo que aportavam em portos das colônias gregas e também de cidades litorâneas da Grécia continental. Comerciantes trocavam, seguramente, ideias culturais entre si, além de uma série de informações e conhecimentos daquele tempo. Junto com o comércio, o uso da moeda, símbolo de valor abstrato e fundamental para as trocas comerciais, até hoje existente.

*O desenvolvimento das técnicas de construção de edifícios, de instrumentos mais precisos de medidas, de descobertas matemáticas (o teorema de Pitágoras, apesar de muito antigo, foi provado por este e tem fundamental importância em construções e projetos de construção; o teorema de Tales, etc.), de ferramentas de medida e de uso nas edificações, no comércio, etc. Tal desenvolvimento, por exemplo, mostra o quanto a racionalidade foi, cada vez mais, posta em ação, na busca de resolução de problemas, na abstração e na descoberta. Carl Sagan, no episódio 7 (sete) da série Cosmos, chega a mencionar a convivência de filósofos com um tempo em que técnicas postas em ação por arquitetos, construtores e fabricantes de ferramentas estavam sendo desenvolvidas. (Eis um vídeo que merece ser visto, podendo ser encontrado no Youtube.)

6)POR QUE AQUELES FILÓSOFOS SÃO CHAMADOS PRÉ-SOCRÁTICOS?

O nome não é muito preciso, mas advém da concordância, na história da filosofia, do fato de que eles antecederam um filósofo que foi um marco na filosofia: Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C. e que morreu bem no início do IV (em 399 a.C.). Ele é considerado um marco, por conta de ter-se voltado para a discussão de uma série de questões, principalmente humanas, envolvendo a ética, a política, as leis, entre outras, bem mencionadas por Platão em seus livros. E a filosofia é também isto: a discussão, a problematização, o questionamento e até mesmo a colocação em dúvida de verdades aparentemente indiscutíveis e de uma busca da sabedoria.

7)ENFIM, DE ONDE VEM ESSA PALAVRA, FILOSOFIA?

Filosofia vem do grego e significa, literalmente, amizade com a sabedoria ou amor à sabedoria (philo, grego = amigo; philia, gr. = amizade; sophia, gr. = sabedoria).

8)PARA APRENDER MAIS FILOSOFIA, ONDE BUSCAR?

Há um livro, de um professor, filósofo e escritor europeu, chamado Jostein Gaarder, intitulado O Mundo de Sofia, com uma linguagem fácil de ser entendida, que pode dar uma boa ideia da história da filosofia. Além dele, podem ser encontradas, nas livrarias, no setor Filosofia, um mundo de livros, inclusive escritos por filósofos de todos os tempos, relacionados a essa área de conhecimento.

A Wikipédia, uma enciclopédia livre, traz uma lista extensa de filósofos e filósofas. Através dos sites de busca (Google, Yahoo, UOL, MSN, entre outros), podem ser encontrados livros escritos por filósofos e filósofas (escreva, por exemplo: livros de filósofos).

No site DOMÍNIO PÚBLICO (que pode ser acessado por meio dos sites de busca) há livros sobre filosofia e outros escritos por filósofos. Material gratuito, disponível à população.

terça-feira, 16 de julho de 2013

MANIFESTAÇÕES E PROTESTOS PELO BRASIL: UM ASSUNTO PARA A FILOSOFIA? (Prof. José Antônio Brazão.)

Um fato de grande importância, que ocorreu no Brasil, em junho de 2013, em época de Copa das Confederações, foram as manifestações e os protestos, com grandes passeatas em muitas cidades brasileiras. Inicialmente, por conta das tarifas de ônibus, ao que foram agregadas mais razões, como, por exemplo: educação, saúde, PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 37, que versava sobre o poder de investigação do Ministério Público, um projeto de lei referente ao tratamento da homossexualidade (do Deputado Feliciano), necessidade de combate aos altos índices de violência, gastos excessivos com a Copa das Confederações e com a preparação da Copa do Mundo de 2014 em detrimento de outros setores vitais, corrupção, inflação, falta de moradias, falta de reforma agrária (em várias regiões, o MST, Movimento dos Sem-Terra, fez também parte dos movimentos de protesto), dentre outras. Em síntese, as manifestações mostraram um empenho coletivo, de protesto, em prol da melhoria das condições de vida das pessoas.

O mês de junho foi favorável, pois os olhos do mundo estavam voltados para a Copa das Confederações. Passaram a olhar também para os protestos. Muitos desses protestos, das passeatas, acabaram em cenas de vandalismo e depredação por parte de grupos menores que adentraram nas grandes multidões de manifestantes, com perdas de patrimônios.

Em sua essência, foram protestos e manifestações de indignação diante das condições sociais, econômicas e até políticas em que vivem muitas pessoas, cujos direitos não são respeitados.

As pessoas foram, continuam e, certamente, continuarão indo, por mais algum tempo, às ruas. Alguns resultados: a pressão exercida pelas manifestações tem feito a presidente, os governadores, prefeitos e parlamentares se reunirem com mais frequência; tarifas e transportes, em muitos lugares do Brasil, têm caído; a PEC 37, que tiraria do Ministério Público o poder de investigação, caiu, com mais de quatrocentos votos contra, no Congresso Nacional; o governo federal anunciou a proposta de 10 (dez) por cento do PIB para a Educação, além de propor o investimento integral das royalties do petróleo para este setor; a nível social, a indignação de muita gente, pessoas físicas e empresas, que vivenciaram, infelizmente, perdas ocorridas com os vândalos, bandidos e saqueadores que adentram nas manifestações, trazendo sofrimentos e até fechamento de pequenas empresas, perdas difíceis de serem recuperadas; pronunciamentos da Presidente Dilma e de políticos a respeito dos gastos com as copas; a decretação, por parte do Ministério Público, da prisão de um deputado federal corrupto e do irmão dele, com o direito garantido de recursos; entre outros.

Um aspecto interessante e fundamental dessas manifestações e passeatas é que a maioria das pessoas que delas participaram o fizeram de forma pacífica, contando com a presença enorme de jovens, aos quais se aliaram pais, mães, idosos, crianças levadas pelos pais, gente comum, profissionais liberais, professores e professoras, gente de credos diferentes, muita gente boa que deseja mudanças positivas e melhorias nas condições de vida.

É a própria existência pessoal e coletiva que se põe em jogo diante daqueles problemas que precisam ser enfrentados, é a qualidade dessa existência que se apresenta patente, clara, diante dos desafios a serem enfrentados. Ao opor-se à passividade e aos riscos nesta contidos, prejudiciais a todos, as pessoas lutaram e lutam por condições melhores de existência, de vida, não aguentando ficar à espera da ação dos representantes políticos ou de órgãos governamentais.

Infelizmente, também, a falta de confiança na ação dos políticos, representantes do povo, quanto às mudanças nas leis é pouca, como mostrou um telejornal da TV Bandeirantes no dia 25/06/13. Essa desconfiança é fruto da corrupção, com casos frequentemente mostrados na TV e em outros meios de comunicação social, de falsas promessas (promessas não cumpridas) de políticos, gastos excessivos em áreas não diretamente relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida dos cidadãos e das cidadãs, o mal funcionamento da máquina administrativa, a falta de transparência, dentre outros males que acompanham a política brasileira. Os prejuízos daí advindos são para todos, independentemente das classes sociais: todo mundo paga imposto, direta ou indiretamente; pelas estradas esburacadas passam pessoas de classes sociais diversas; todo mundo sofre as consequências das ações políticas, boas ou más.

Isto não quer dizer que as pessoas vejam a política como desnecessária. Não. O que as multidões que saíram às ruas querem é transparência, são ações políticas, econômicas e sociais efetiva e favoravelmente colocadas a serviço das pessoas, com destaque para aquelas que mais precisam, aliás, para todas, independentemente das classes sociais de que façam parte. Sem dúvida, com a corrupção, a perda é maior para a população empobrecida, mas, pensando bem, todo mundo perde, enquanto corruptos se enriquecem. Como foi dito antes, as pessoas que foram para as ruas são de classes sociais diferentes, de diferentes idades, com motivos semelhantes de luta, com muitas razões em comum, buscando uma melhor qualidade de vida para si e para a população como um todo.

E quando a juventude sai às ruas é porque está muito preocupada com o presente que está vivendo e o futuro que está por vir. Tanto neste quanto naquele, os jovens, além de todos os outros, adultos, idosos e crianças, sabem do bem existencial, vital, que as mudanças positivas, favoráveis a todos, podem trazer. Aquele pão a mais que pode ser comprado com a sobra de dinheiro que seria gasto com passagens de coletivos é capaz de tirar a fome das pessoas que precisam destes e daqueles, aquela roupa, aquele bem necessário à vida. Aquele dinheiro que pode sobrar para a compra de um livro também!

No campo do ensino-aprendizagem de Filosofia, além de outros conteúdos escolares, no Ensino Médio, as manifestações e os protestos podem abrir discussões boas em sala de aula sobre: ética, valores éticos, existência, história, lutas sociais e suas motivações ético-políticas, corrupção, questões de gênero (homem, mulher, relações interpessoais, heterossexualismo, homossexualismo, sexualidade humana), direitos humanos, violência, política, cidadania, representatividade político-social, dentre outros.

Professoras e professores de Filosofia, aproveitem o calor dos acontecimentos e de seus resultados para coloca-los e discuti-los em sala de aula. Revistas, jornais e outros meios de comunicação social, além da internet, poderão enriquecer os estudos e as discussões. Aproveitem ainda as opiniões e vivências de estudantes e colegas que estiveram naquelas passeatas. Podem ser abertas discussões sobre questões políticas, éticas, existenciais, além de outras, como foi logo acima exposto. Vale lembrar que tais protestos foram e são verdadeiras manifestações das pessoas comuns, bem como de alguns grupos organizados, como seres históricos que, diante dos desafios postos à sua existência, à sua vida, resolveram agir.