Uma atividade interessante, que pode
ser trabalhada em sala de aula, é uma dinâmica de perguntas e respostas. O
professor, a professora, pode elaborar diversas perguntas sobre um tema em
estudo ou a ser estudado, com a finalidade de introduzi-lo, desenvolvê-lo,
concluí-lo ou aprofundá-lo. Pode ser referente ao estudo de um filósofo
específico ou de um tema determinado em estudo.
As perguntas podem ir de questões
simples a cada vez mais complexas. Podem referir-se ao dia a dia dos e das
estudantes, ligando-o ao conteúdo estudado, e/ou ir diretamente ao estudo do
filósofo, a partir de um texto definido.
As perguntas podem ser escritas no
quadro da sala de aula, fornecidas através de folha digitada e copiada para
cada um(a) ou, simplesmente, de forma direta. Em todo caso, pode ser
interessante o professor, a professora, ter em mãos as perguntas, podendo
elaborar outras que, porventura, apareçam no momento do diálogo com as turmas.
Isto, de fato acontece.
Sócrates (séc. V/IV a.C.), por
exemplo, utilizava-se, em seus diálogos com os jovens e outros(as) interlocutores(as),
de perguntas diretas ou sutis, a fim de embaraçar quem com ele discutia
(ironia), levando-o(a) a enxergar sua ignorância. A seguir, novas perguntas, a
fim de leva-lo à construção de suas próprias ideias, de uma reflexão, fazendo
nascer, de dentro dele(a) algo novo (maiêutica). Ao voltar-se para Sócrates e
as questões por ele colocadas, Platão e Xenofonte, discípulos que deixaram
informações sobre o mestre, principalmente o primeiro, queriam levar o(a)
leitor(a) a também participar dos diálogos, refletindo sobre as questões
postas. Platão, como Sócrates, foi, sem dúvida, um grande mestre de filosofia e
um grande escritor.
No mundo medieval houve debates aquecidos
de filosofia, nas escolas e nas universidades. Houve, inclusive, debates
anuais, em determinadas épocas de cada ano, dos quais professores e estudantes
participavam, em torno de questões acaloradas postas pelas ideias novas que
apareciam e pelos questionamentos que incitavam.
No século XX, Jostein Gaarder, um filósofo
e professor norueguês, também fez uso de perguntas e as colocou, em seu best
seller O Mundo de Sofia, nas cartas
ou nos lábios de um professor-personagem de Filosofia, direcionando-as à
personagem principal, Sofia. Esta, uma adolescente que dali a algum tempo faria
seus quinze anos. Com isto, a personagem Sofia, bem como cada leitor e leitora,
era convidada a refletir sobre o conteúdo das questões, preparando-se,
consequentemente, para o que viria: as aulas escritas e, em alguns momentos,
depois de um bom tempo e de muita curiosidade, ao vivo.
Uma vantagem de colocar perguntas e
buscar respostas, inicialmente livres e simples, dos e das estudantes é
perceber o que pensam sobre determinados temas ou questões, principalmente
questões atuais, mas que podem servir para introduzir estudos desses temas em filósofos
mais antigos, relativamente próximos ou bem próximos do tempo atual.
Outra vantagem é que as respostas
auxiliam no próprio entendimento do conteúdo, tornando sua explicação mais
compreensível e reflexiva, despertando o interesse pelo seu estudo e ainda pela
filosofia.
Uma outra vantagem é o
esclarecimento maior de termos, cujos significados, usados no dia a dia, podem
perder sua profundidade original e até mesmo sua amplitude. Para tanto, depois
de postos os significados apresentados pelos e pelas estudantes, pode ajudar o
uso de bons dicionários de língua portuguesa e de filosofia.
Anotar, no quadro da sala de aula,
tanto as perguntas quanto as respostas durante o debate, oferece uma
visualização e contribui, com certeza, para uma melhor memorização e um maior
esclarecimento do conteúdo de cada pergunta e resposta. Enfim, o debate, por meio de perguntas e respostas, amplia o entendimento
das ideias filosóficas em estudo, seja de um(a) filósofo(a), de uma corrente
filosófica, de um livro ou de um texto básico escrito por aquele(a).
Um exemplo simples, que pode
ser utilizado e aprimorado em sala de aula:
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS AO ESTUDO DE HEGEL
Anotar no quadro,
solicitar anotação no caderno (para arquivo e revisão em casa), debater/anotar
respostas no quadro.
GEORG WILHELM
FRIEDRICH HEGEL (1770 – 1831): Filósofo alemão.
1)
Que é história?
2) Que importância tem o conhecimento da
história?
3) O que é espírito? Que significados
tem ou pode ter essa palavra espírito?4) O que você entende pela expressão “espírito do tempo”?
5) Na sua opinião, o espírito está na história? Comente.
6) O espírito é capaz de fazer história? O que você acha?
7) Enfim, a história é humana ou espiritual?
8) Como acontece a história? Comente.
9) Você se acha parte da história? Por quê?
10) A história é contraditória? Dê sua opinião. Dê também exemplos.
11) O que é contradição? Dê exemplos.
12) Contradições podem ser superadas? Comente.
13) Quando as contradições na família são superadas, algo novo aparece? Opine e dê exemplos.
14) Há contradições da história que foram superadas? Que avanços trouxeram? Dê um exemplo e comente.
15) O espírito, na história, pode contradizer-se e superar-se? Opine.
16) O espírito humano evoluiu (e evolui) com o tempo? O que você acha? Dê algum exemplo.
17) O que é diálogo?
18) Num diálogo podem haver contradições? Comente e dê exemplos.
19) Dialética, o que é? Que significados pode ter essa palavra?
20) O que significam subjetivo, objetivo e absoluto? Dê sua opinião.
21) O que é ideia?
22) E o que é idealismo?
23) Você se lembra de algum filósofo que valoriza muito as ideias? Fale um pouco sobre ele.
24) O que é real?
25) O que é racional?
26) O real pode ser racional? Que você acha? Por quê?
27) E o racional, pode ser real? Que você acha? Por quê?
As perguntas acima são muitas. Questões podem
ser reduzidas ou trabalhadas, se forem numa quantidade maior, em partes, em diferentes aulas. Estas são apenas simples
exemplos do que se pode propor em sala de aula.
Professor, professora, crie perguntas
e faça bom uso delas em sala. Proponha também temas quentes da atualidade, que
possam ter ligação com a filosofia. Você terá muito a ganhar, variando, de
algum modo, o estilo de suas aulas. Aliás, os e as estudantes terão muito mais
ainda a ganhar, ao aprender filosofia e, sobretudo, a filosofar!
Mais algumas perguntas, junto com respostas possíveis:
Mais algumas perguntas, junto com respostas possíveis:
FILOSOFIA
PERGUNTAS E RESPOSTAS: (Professor José Antônio Brazão.)
1)O QUE
FILOSOFIA?
A filosofia não
é uma ciência, no sentido de ciência experimental-matemática, como se
compreende este termo hoje. Ela é, sem dúvida, uma ciência enquanto um saber
que busca a compreensão da realidade, seja esta a do mundo natural (os
primeiros filósofos gregos, chamados pré-socráticos tiveram essa preocupação),
seja a do mundo humano, pondo em discussão e problematização questões que a
ambos envolvem, conforme a linha ou área de pensamento da filosofia.
2)E EM QUE ÁREAS
ESTÁ DIVIDIDA A FILOSOFIA?
A epistemologia,
por exemplo, ocupa-se do estudo do conhecimento e da ciência. A antropologia
filosófica, das questões humanas refletidas sob um ângulo filosófico. A
metafísica estuda o ser. A lógica, a construção dos raciocínios, sua
estruturação, seu caráter de verdade ou falsidade, entre outros aspectos da
construção correta do pensamento e sua exposição. Há também a teoria do
conhecimento, que trata da compreensão e dos fundamentos do conhecimento
humano, suas origens, entre outros elementos a ele ligados. Entre outras.
3)MAS COMO
SURGIU A FILOSOFIA?
A filosofia
surgiu entre os séculos VII e VI|V antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia
Menor (atual Turquia) e da Magna Grécia (Sul da Itália). Surgiu dos
questionamentos de homens que viveram nesse tempo e que buscavam entender o
cosmos (o universo ordenado) partindo de princípios que o teriam originado e
que nele estariam presentes. Dentre esses princípios (princípio é tradução de arqué ou arché, em grego) estão a água (Tales de Mileto), o ar (Anaxímenes
de Mileto), o fogo (Heráclito de Éfeso), as homeomerias (partículas minúsculas,
iguais aos corpos que formam – ideia do filósofo Anaxágoras de Clazômena), até
mesmo átomos (Leucipo e Demócrito)! Empédocles de Agrigento acreditava que
todas as coisas seriam compostas por quatro elementos básicos: a água, o ar, o
fogo e a terra. Pitágoras, outro dos filósofos pré-socráticos, acreditava que
tudo é composto e correspondente a números. Houve outros filósofos
pré-socráticos, além destes. Estes, aqui citados, são alguns dos principais.
4)E ANTES DA FILOSOFIA, COMO AS
PESSOAS EXPLICAVAM O MUNDO, O COSMOS?
Antes dos
primeiros filósofos gregos e por muito tempo depois deles, a imensa maioria das
pessoas e dos povos do mundo explicavam tudo pelos mitos, relatos ou histórias
de cunho sagrado, que tratam das origens do mundo, do trabalho, dos males, dos
seres humanos (homens e mulheres), além de outras realidades existentes e
diferentes aspectos da vida das pessoas, tudo sob a ação de seres divinos,
incluindo semideuses e semideusas. Além dos mitos, também rituais, templos e
estátuas foram, no transcurso do tempo, sendo criados, como meios de ligação
(religião) entre seres humanos e divindades.
5)O QUE PODE TER
LEVADO A OU CONTRIBUÍDO PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA?
Alguns elementos
são fundamentais para a compreensão do nascimento da filosofia enquanto saber
racional diferente do mito. A seguir vão alguns.
*O nascimento e
o crescimento das cidades, na Grécia antiga e em suas colônias, possibilitando
o contato com pessoas e ideias as mais diversas. Dentre essas cidades, por
exemplo, podem ser citadas: na Grécia continental – Atenas, Esparta, Delos,
Delfos e outras; nas colônias gregas – Mileto, Éfeso, Clazômena, Abdera,
Agrigento e outras.
*O
desenvolvimento de uma escrita mais simples, com menos caracteres, pelos
fenícios e outros povos que se aproveitaram do alfabeto fenício, dentre os
quais o povo grego. A transmissão de ideias por escrito permite uma maior
amplitude em sua divulgação e também maiores debates. Muitos foram os livros escritos
da filosofia grega, seja por grandes filósofos, seja por seus discípulos.
*A escravidão. O
uso de escravos nos trabalhos permitiu que muitos cidadãos gregos tivessem
tempo para dedicar-se a atividades culturais e intelectuais.
*O comércio, que
trouxe consigo, além de riquezas e bens, uma série de ideias e informações de
culturas de diferentes povos do mundo antigo que aportavam em portos das
colônias gregas e também de cidades litorâneas da Grécia continental.
Comerciantes trocavam, seguramente, ideias culturais entre si, além de uma
série de informações e conhecimentos daquele tempo. Junto com o comércio, o uso
da moeda, símbolo de valor abstrato e fundamental para as trocas comerciais,
até hoje existente.
*O
desenvolvimento das técnicas de construção de edifícios, de instrumentos mais
precisos de medidas, de descobertas matemáticas (o teorema de Pitágoras, apesar
de muito antigo, foi provado por este e tem fundamental importância em
construções e projetos de construção; o teorema de Tales, etc.), de ferramentas
de medida e de uso nas edificações, no comércio, etc. Tal desenvolvimento, por
exemplo, mostra o quanto a racionalidade foi, cada vez mais, posta em ação, na
busca de resolução de problemas, na abstração e na descoberta. Carl Sagan, no
episódio 7 (sete) da série Cosmos, chega a mencionar a convivência de filósofos
com um tempo em que técnicas postas em ação por arquitetos, construtores e
fabricantes de ferramentas estavam sendo desenvolvidas. (Eis um vídeo que
merece ser visto, podendo ser encontrado no Youtube.)
6)POR QUE
AQUELES FILÓSOFOS SÃO CHAMADOS PRÉ-SOCRÁTICOS?
O nome não é
muito preciso, mas advém da concordância, na história da filosofia, do fato de
que eles antecederam um filósofo que foi um marco na filosofia: Sócrates,
filósofo ateniense que viveu no século V a.C. e que morreu bem no início do IV
(em 399 a.C.). Ele é considerado um marco, por conta de ter-se voltado para a
discussão de uma série de questões, principalmente humanas, envolvendo a ética,
a política, as leis, entre outras, bem mencionadas por Platão em seus livros. E
a filosofia é também isto: a discussão, a problematização, o questionamento e
até mesmo a colocação em dúvida de verdades aparentemente indiscutíveis e de
uma busca da sabedoria.
7)ENFIM, DE ONDE
VEM ESSA PALAVRA, FILOSOFIA?
Filosofia vem do
grego e significa, literalmente, amizade com a sabedoria ou amor à sabedoria (philo,
grego = amigo; philia, gr. = amizade; sophia, gr. = sabedoria).
8)PARA APRENDER
MAIS FILOSOFIA, ONDE BUSCAR?
Há um livro, de
um professor, filósofo e escritor europeu, chamado Jostein Gaarder, intitulado
O Mundo de Sofia, com uma linguagem fácil de ser entendida, que pode dar uma
boa ideia da história da filosofia. Além dele, podem ser encontradas, nas
livrarias, no setor Filosofia, um mundo de livros, inclusive escritos por
filósofos de todos os tempos, relacionados a essa área de conhecimento.
A Wikipédia, uma
enciclopédia livre, traz uma lista extensa de filósofos e filósofas. Através
dos sites de busca (Google, Yahoo, UOL, MSN, entre outros), podem ser
encontrados livros escritos por filósofos e filósofas (escreva, por exemplo:
livros de filósofos).
No site DOMÍNIO
PÚBLICO (que pode ser acessado por meio dos sites de busca) há livros sobre
filosofia e outros escritos por filósofos. Material gratuito, disponível à
população.
4 comentários:
Agradecida,foi de utilidade para mim ,pesquisar esta dinamica ,facilitou a minha busca, inovar ,transformar ,criar dinamicas para as aulas de filosofia.
Obrigado por compartilhar suas experiências, foi muito útil na minha busca pra melhorar minhas aulas.
Para mim que estou cursando Licenciatura em Pedagogia, foi um canal de experiencia inovador pois filosofia faz parte do nosso cotidiano, do nosso aprendizado como ser humano e émuito bom inovar a cada dia.
Muito bom.
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