sábado, 24 de agosto de 2024

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 27 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS. A QUESTÃO DO TRABALHO EM MARX, WEBER E DURKHEIM (TABELA) (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

TERCEIRO BIMESTRE

AULA 27 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS:

TEMA: TRABALHO E SOCIEDADE. (Segundos anos)

Diálogo interdisciplinar entre Sociologia, Filosofia, História e Arte.

(A)A QUESTÃO DO TRABALHO EM MARX, WEBER E DURKHEIM (TABELA) (Prof. José Antônio Brazão.):

MAX WEBER

(ALEMÃO)

KARL MARX

(ALEMÃO)

ÉMILE DURKHEIM

(FRANCÊS)

Contexto histórico dos três: SÉCULO XIX – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL.

A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

Manifesto do Partido Comunista, O Capital.

Da Divisão Social do Trabalho.

Grécia antiga: sistema escravista. Trabalho, na mitologia grega: Prometeu e o Mito de Pandora, por exemplo.

Trabalho explorado, que gera riqueza para a classe dominante, a cada época da história.

Trabalho: ligado à solidariedade comunitária.

O trabalho é um elemento essencial na sociedade, reunindo pessoas e pondo-as em uma ação produtiva, na qual cada um faz sua parte.

Roma antiga: sistema escravista. Tripalium (latim, língua do Império Romano), instrumento de tortura, origem da palavra trabalho.

Luta de classes: motor da história.

Mais valia: trabalho extra não pago ao trabalhador e apropriado, como forma de lucro, pelos capitalistas.

Solidariedade mecânica: pré-capitalista. Mais natural. Exemplo: tribos indígenas; grupos de caçadores-coletores primitivos.

Solidariedade orgânica: por exemplo, no capitalismo, com as necessidades individuais supridas pelos membros, como um corpo formado por órgãos interdependentes. Há funções a serem cumpridas.

Na Idade Média: Trabalho, fruto do pecado de Adão e Eva, expulsos do Paraíso (Gênesis 2 – 3).

Mais valia absoluta: caracterizada, principalmente, pelo exercício de mais tempo de trabalho. Mais valia relativa: caracterizada pela produtividade acelerada, em menos tempo, com o auxílio de máquinas.

Tensões sociais pela exploração capitalista: vistas como questão moral, que pode gerar anomia (falta de lei, regra, norma). Perspectiva econômico-moral.

Idade Moderna, com a o Protestantismo – ética de valorização do trabalho, que impõe uma vida regrada, produz riqueza e pode ajudar até na salvação da alma. Porém: aceitação passiva da exploração capitalista.

Burguesia: faz a apropriação do trabalho explorado do trabalhador (operários, camponeses). Proletariado (trabalhadores comuns): sofre a expropriação, restando a cada um(a) a força de trabalho. Expropriação histórica.

Referência:

SILVA, Afrânio et alii. Trabalho e Sociedade. In: __________. Sociologia em Movimento. 2.ed. São Paulo, Moderna, 2016. (Cap. 9)

(B)Trabalho: tem o poder de transformar a natureza, essencial para a produção humana, a sobrevivência e o comércio.

(C)Transformação da natureza pelo trabalho humano, unida à exploração e à expropriação (perda de bens e de direitos), é geradora de problemas ambientais, aliada à ambição da classe dominante capitalista. Hoje se fala muito da Amazônia (desmatamento e queimadas), do Pantanal de Mato Grosso (desmatamento e queimadas), da poluição dos oceanos, etc. Neoliberalismo.

(D)IDADE MÉDIA (COMPLEMTO, visando a questão do trabalho):

*Na Idade Média (séculos V a XV d.C., aproximadamente, de acordo com o quadripartismo histórico, divisão da história em Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea) a sociedade tornou-se feudal. Feudos eram grandes extensões de terras dominada por senhores (latifundiários), os chamados senhores feudais. O trabalho era dividido entre:

(a) Servos da gleba (gleba = campo de plantio) e artesão, de cujo trabalho dependia toda a sociedade, em termos de produção;

(b) Guerreiros, os senhores feudais, que tinham soldados a seu serviço, além de serem guerreiros – os reis eram também senhores feudais;

(c) Oradores: a Igreja Católica, cuja estrutura permitiu-lhe permanecer firme mesmo diante da queda do Império Romano, no final do mundo antigo. A Igreja realizava o trabalho sagrado (ligação dos homens com Deus) e intelectual (manutenção da cultura escrita e intelectual, inclusive antiga). O trabalho de copistas (boa parte, monges) foi imprescindível para a preservação de documentos da antiguidade e daqueles tempos.  As cópias, antes de existir a imprensa, que surgiria só no século XV, na Europa, eram feitas à mão!

*Um ponto importante: a comparação entre as roupas grosseiras dos servos da gleba (servos e familiares catando madeira) e as refinadas ou melhores de senhoras e senhores feudais (exemplo da roupa no casamento entre membros de famílias de senhores feudais diante da Igreja).

*Na Idade Média houve conflitos: guerras entre senhores feudais, países da Europa, as guerras levadas adiante através das cruzadas (guerras contra islamitas sob a pretensão de liberar a Terra Santa e lugares sagrados, bem como de conversão), heresias (doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja Católica), entre outros. (Slides mostraram bem armamentos, cercos de cidades e castelos e mortos caídos ao chão.)

*No que diz respeito às guerras e aos cercos, na Idade Média (e até depois): domínio de regiões, cobrança de impostos, saques e butins (despojos [bens] obtidos por meio dos ataques). Que relação existe entre isto e o trabalho? Impostos cobrados e bens são frutos do TRABALHO. Em terras conquistadas, produção de alimentos e outros produtos daí extraíveis. Naqueles tempos, trabalho de servos, servas e seus demais familiares. Havia escravidão também, que não sendo profundamente característica da divisão social medieval europeia, ainda sim, aqui e ali, existia.

*Composição da família medieval: como uma árvore, cujas raízes são antepassados da família, o tronco os pais e os galhos os descendentes. Em alguns casos, havia uma pequena cidade ao fundo (ou um castelo de senhor feudal) rodeada de campos – o feudo. Mas nem todo senhor feudal, necessariamente, tinha castelo. Podia ser uma casa grande de madeira, rodeada pelos campos e a vila dos camponeses ou suas casas.

PEQUENO COMENTÁRIO COMPLEMENTAR DO PROFESSOR:

 

·       Enquanto Marx e Engels, ao analisarem o capitalismo e outros modos de produção, com exceção do primitivo, viram neles a LUTA DE CLASSES e propunham a luta para a derrubada do capitalismo, Max Weber e Émile Durkheim não adentraram no conflito de classes, nem eram socialistas!

·       Sem dúvida alguma, os quatro pensadores (Marx e Engels, Weber e Durkheim) deram contribuições de fundamental importância para o entendimento do trabalho no mundo ocidental e, particularmente, no capitalismo.

 

REFERÊNCIAS BÁSICAS:

ROMEIRO, Julieta et alii. Diálogo – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2021. (Seis volumes.) (Livros didáticos.) Material disponível em: < https://pnld.moderna.com.br/ensino-medio/obras-didaticas/area-de-conhecimento/ciencias-humanas-e-sociais/dialogo > Acessos em 24/08/2024 e ao longo do bimestre.

SILVA, Afrânio et alii. Trabalho e Sociedade. In: __________. Sociologia em Movimento. 2.ed. São Paulo, Moderna, 2016. (Cap. 9) (Livro didático.)

 

SUGESTÕES DE VÍDEOS:

FARACO JÚNIOR, Antônio Luiz Arquetti. A política como vocação, de Max Weber. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=uWUYXbi064M > Acesso em 23/08/2024.

GLOBO CIÊNCIA. Adam Smith e Karl Marx: Liberalismo e Socialismo. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=QOmFyRpTvFM > Acesso em 23/08/2024.

 

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 27 DE SOCIOLOGIA DOS PRIMEIROS ANOS: KARL MARX EM CORDEL (contin.) – AS FORÇAS PRODUTIVAS E OUTROS TEMAS (Prof. José Antônio Brazão.)

 

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TERCEIRO BIMESTRE

AULA 27 DE SOCIOLOGIA DOS PRIMEIROS ANOS:

KARL MARX EM CORDEL (contin.) – AS FORÇAS PRODUTIVAS E OUTROS TEMAS (Prof. José Antônio Brazão.)

 

Pelas FORÇAS PRODUTIVAS os modos de produção

Têm seus respectivos movimentos,

Constituídas pelos meios de produção,

O trabalho humano, técnicas e instrumentos.

 

Condições materiais necessárias,

Aparatos físicos: ferramentas, transportes,

Estruturas materiais, terras e áreas,

Em resumo: INFRAESTRUTURA.

 

As religiões, o Direito, as leis,

Tudo que faz parte da cultura,

A arte e conhecimento hábeis,

Constituindo a SUPERESTRUTURA.

 

Frutos da PRODUÇÃO SOCIAL [produção da vida material],

Da inerente histórica contradição:

A desigualdade e todo o seu mal,

A luta de classes, a alienação.

 

Estudando as origens do SISTEMA CAPITALISTA,

Marx e Engels viram claramente

As fontes da riqueza: invasões e conquistas,

O explorado trabalho e a escravidão deprimente.

 

Nas fábricas, os trabalhos extras não pagos

A garantir a abastança da burguesia,

Contribuindo para aumentar seus lucros,

Marx e Engels chamaram de MAIS VALIA.

 

MAIS VALIA, um mais valor

Adquirido com o sacrifício

De cada operário, trabalhador:

Do domínio burguês e dos lucros um artifício.

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 27 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS. O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO (Prof. José Antônio Brazão.)

  

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Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

TERCEIRO BIMESTRE

AULA 27 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS

PARTE 1: POEMA.

PARTE 2: DESENHO NO QUADRO. Desenhar e explicar, juntamente com o poema.

PARTE 3: TABELA COMPARATIVA – MITO DA CAVERNA/OS DOIS MUNDOS DE PLATÃO (Mundo das Ideias ou Inteligível e Mundo Sensível.) No quadro. Explicar.

Observação: Ir referenciando o conteúdo com o livro Diálogos, capítulo 7, pp.73 e 74.

O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO (Prof. José Antônio Brazão.)

Nos socráticos platônicos diálogos, o amor, o poder e a guerra,

Por seu valor, vieram a aparecer,

Também coisas divinas e coisas da Terra,

A atenção do discípulo filósofo puderam merecer.

 

Enfrentando do pensamento novos desafios, divergindo dos sofistas,

Filósofos-professores no mundo grego itinerantes,

Para além das ideias desses pensadores relativistas,

A verdade e os valores são realidades vivas e operantes.

 

Platão, seguindo os passos do mestre,

Muito dele, por anos, incansavelmente, aprendeu

E mesmo com a morte de Sócrates

De seus pensamentos e valores jamais se esqueceu.

 

Da caverna um mito ou alegoria

N’A República uma história a todos contou

Uma prisão de pessoas, sem vera alegria,

Naquele lugar subterrâneo imaginou.

 

Homens, mulheres, meninas e meninos

Naquela caverna, voltados para um paredão

Se encontravam presos desde pequeninos

E ali de sombras vistas criam na ilusão.

 

Certo dia, um dos prisioneiros foi liberto

Obrigado a sair, ficou da luz de uma fogueira quase cego,

Mas por um caminho a saída e lá fora, por esforço certo,

Vendo coisas novas, a verdade, superou o mal do ego.

 

Voltando à antiga prisão,

Para as coisas belas e novas lá de fora

Dos amigos e amigas chamou a atenção

Sair da caverna seria, de fato, boa hora.

 

Apesar de pelos ex-companheiros mal julgado,

O liberto não desistiu

Da verdade, insistente e ousado,

Ainda que sob risco de morte servil.

 

Para além daquela imaginária história,

Num mundo imutável Platão vinh’acreditar

Das ideias, formas perfeitas e eternas, pela memória,

Reminiscência, meio para as almas presas do sensível mundo se libertar.

 

No mesmo político livro, sem aristofânicas galhofas,

Uma cidade ideal o filósofo apresentou,

Governada por filósofos e filósofas

O platônico pensamento a vislumbrou.

 

Em diálogos, seguindo do antigo mestre a ironia e a maiêutica,

Sobre o amor, a imortalidade e a justiça ele escreveu

Das discussões à maneira socrática

Calorosos debates Platão descreveu.

 

Em Atenas, uma nova escola Platão fundou

Da filosofia e das verdadeiras ciências o conhecimento

Nova maneira de encarar se disseminou,

Abrindo de grandes discípulos, por séculos, o entendimento.

TABELA COMPARATIVA:

MITO DA CAVERNA

OS DOIS MUNDOS

Dentro e fora da caverna.

Mundo sensível e mundo inteligível ou das Ideias.

...................... Completar no quadro.

..........................Completar no quadro.

MATERIAL COMPLEMENTAR (dicas de vídeos):

Vídeo 1: O MITO DA CAVERNA EXPLICADO (Pedro Loos).

https://www.youtube.com/watch?v=c_41FEx-wm8

Vídeo 2: UM TOUR PELA CAVERNA DE PLATÃO. Tinocando.

https://www.youtube.com/watch?v=V7gp-ixrWjk

Vídeo 3: Ser Ou Não Ser - Platão, O Mito Da Caverna - Viviane Mosé - Fantástico.flv. Em: https://www.youtube.com/watch?v=ei-kSPL4Lg4

 

 

sábado, 17 de agosto de 2024

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 26 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS: KARL MARX E A ALIENAÇÃO (Prof. José Antônio Brazão.)

  

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TERCEIRO BIMESTRE

AULA 26 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS:

KARL MARX E A ALIENAÇÃO (Prof. José Antônio Brazão.)

EU, ETIQUETA (Carlos Drummond de Andrade)

 

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comparo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam

e cada gesto, cada olhar

cada vinco da roupa

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrine me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

 

Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

O texto acima encontra-se em:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994. P. 50. Também disponível na internet, podendo ser encontrado em: < https://www.faberj.edu.br/cfb-2015/downloads/biblioteca/filosofia/Filosofando.pdf > Acesso em 19/08/2023.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/ Acesso em 04 de junho de 2017.

O texto de Carlos Drummond de Andrade presta-se a um trabalho interdisciplinar muito bom entre Filosofia e Língua Portuguesa (dentro desta, a literatura brasileira contemporânea, no campo da poética). Nele encontram-se temáticas como: (1)Moda – Filosofia: Theodor Adorno e Max Horkheimer, com a Indústria Cultural. (2)Alienação – Filosofia: Ludwig Feuerbach e Karl Marx. (3)Identidade – o EU em diversos filósofos. (4)Ser sentinte, pensante e outros – Filosofia: o ser, ser humano, ser pensante (ex.: René Descartes). (5)Existência e vida – Filosofia: o Existencialismo. (6)Liberdade – Na Filosofia: vários filósofos e filósofas (ex.: Hannah Arendt). (7)(Várias outras temáticas e filósofos[as].) Escolher textos curtos bons das temáticas desses(as) filósofos(as) e pôr em discussão com o texto literário do escritor.

POEMA EU, ETIQUETA, DE CARLOS D. DE ANDRADE [comentário]: (Prof. José Antônio.)

O poema Eu, etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade, trata da transformação das pessoas em objetos, marcas, anúncios, de sua perda de identidade, transformando-se em coisas, abandonando o ser, sua essência.

O ser aparece no poema na forma de verbo conjugado no presente do indicativo, apontando para a realidade da coisificação (reificação) pessoal, e como substantivo (o nome ser), referindo-se ao gênero humano (ser humano, ser pessoa).

De tanto fazer uso de vestes e acessórios para o corpo contendo marcas de produtos do mercado e, por vontade própria (“eu é que mimosamente pago”), propagandeiam aquelas mercadorias, as pessoas acabam perdendo aquilo que as identifica(m). Em vez de mostrar o que são, mostram coisas, nomes de produtos, de mercadorias), acabando por identificar-se com elas, ainda que não as comprem ou usem. A moda impõe-se, a personalidade obedece, a moda entra, a personalidade sai, esvaindo-se, perdendo-se.

O poema expõe a antítese (oposição) entre o ser (ser humano, pessoa) e o não-ser, isto é, a perda da identidade humana, que acaba por tornar-se coisa, objeto de anúncio mercadológico. O mercado, com suas marcas (etiquetas), impõe-se sobre a pessoa, levando-a a identificar-se com as mercadorias, alienando-se de seu ser.

No século 19 (XIX), Karl Marx estudou as ideias de Ludwig Feuerbach (filósofo alemão também do mesmo século). Este, ao estudar as religiões, concluiu que os homens criam os deuses, prestando-lhes culto e criando doutrinas ao redor de suas crenças. Com o passar do tempo, os criadores (pessoas) se tornaram criaturas daqueles que, na verdade, haviam criado, isto é, tornaram-se criaturas dos deuses e deusas. Desta forma, os seres humanos alienaram-se.

Aliu(s), no latim, é outro. Alienação é a ação de tornar-se outro (aliu[s]), deixando de ser o que se é e perdendo, portanto, sua identidade humana, de criador, passando a identificar-se como criaturas dos deuses. Por meio dessa alienação surgiram, pois, os deuses e as deusas, cabendo às criaturas alienadas (pessoas) submeter-se àqueles e aos seus representantes religiosos, os sacerdotes.

Marx aplicou as ideias de Feuerbach na análise da mercadoria. Toda mercadoria é algo produzido por trabalhadores e trabalhadores, principalmente em fábricas (indústrias), muitas vezes com o auxílio de máquinas – de fato, na época de Marx, a Revolução Industrial já havia avançado muito e, com ela, também a exploração de tais produtores(as). Mercadoria é um produto que vai para o mercado, a fim de ser vendido, conferindo lucros aos donos da produção (comerciantes, industriais e outros), ou seja, aos capitalistas.

A exploração de cada trabalhador e trabalhadora, de todos(as) os(as) trabalhadores(as) ocorria (e ocorre) de diferentes modos, com destaque para a mais valia – um valor a mais produzido que é apropriado pelos capitalistas –, seja através do aumento das horas trabalhadas (horas extras) e não pagas, seja pelo incremento da produção, tornando-a mais rápida e em maior escala, com o auxílio de máquinas e da colocação dos(as) trabalhadores(as) em linha. Também salários baixos – os salários eram tão baixos, no século 19 (XIX), que mulheres e crianças tinham que postas para trabalhar a fim de dar condições de sobrevivência às famílias, e recebiam salários menores que os dos homens. Não havia previdência social. As condições de trabalho nas fábricas eram péssimas, até mesmo insalubres. Havia crianças e adultos que perdiam mãos e até braços, estraçalhados pelas máquinas em momentos de descuido. Pior: perdiam o emprego quando isso ocorria, sem qualquer direito. Muitas vezes, todos(as) trabalhavam mais de 12 horas por dia! Férias inexistiam. Relógios eram manipulados para que cada trabalhador(a), com sua mulher e seus filhos trabalhassem a mais.

E as mercadorias? Postas no mercado, passaram a ser vistas como objetos de necessidade e, muitas vezes, até de desejos. O trabalhador e a trabalhadora (operários, operárias e outros) deixaram de ver as mercadorias como produtos do trabalho explorado. As mercadorias, com o tempo, foram se tornando fetiches. A alienação estava em curso: a mercadoria fetichizada perdeu seu caráter de produto e se tornou um bem em si, inclusive como objeto de desejo, de culto, como os deuses de Feuerbach. Cada trabalhador(a) se tornou um outro ser diante da mercadoria exposta na vitrine e no mercado, não enxergando nela um produto, fruto da exploração que enriquece os capitalistas. Só para dar alguns exemplos atuais: as mercadorias aparecem na televisão, em outdoors, vitrines de shoppings e mercados, lojas, etc., desejáveis e até mesmo idolatráveis, fetiches! Aquele carro do ano, aquela roupa da moda, aquele tênis, aquela grife, etc., como bem apresenta também o poema de Carlos Drummond de Andrade.

Fetiche significa, originalmente, feitiço, encantamento. A mercadoria, que se tornou um objeto encantado pelo mercado, objeto de profundo desejo e de adoração. E o que é uma crise econômica? Uma crise dessa adoração, desse encantamento, momento em que, por causa da falta de compra e redução nas vendas (muitas vezes, pela falta de dinheiro pela maioria das pessoa), o mercado entra em colapso. Então, os capitalistas, com o mercado, fazem? Em sua adoração à riqueza e à ambição desenfreadas, sacrifica a vida de milhões e milhões de pessoas, desempregadas e, muitas, levadas de volta à miséria.

No século 19 (XIX), crises de superprodução eram comuns. Produzia-se além do poder de consumo das pessoas, então sobrava muito, perdas podiam ser grandes. E a solução? Reduzir a produção, diminuindo a quantidade de trabalhadores(as), levados(as) ao desemprego e sujeitos, mais ainda, a salários curtíssimos – algo similar ao que ocorre no mundo atual –, no intuito de manter as riquezas do capital. O capital transforma as pessoas em coisas, palavra que aparece tanto no poema de Drummond (século 20 [XX]) quanto, antes dele, em Karl Marx (século 19 [XIX]).

O ser humano alienado – tornado outro –, ou seja, alguém sem identidade, torna-se coisa. Marx usa o termo reificação, ação de tornar-se res (palavra do latim que significa coisa) – coisificação. Daí, como bem aparece no poema, o Eu tornar-se “coisa, coisamente”.

A alienação – perda de identidade de produtor(a) de mercadorias, perda de identidade das pessoas enquanto pessoas – reforça a exploração, escondendo a realidade dessa exploração. Uma crise econômica, como a atual, no Brasil e no mundo, por exemplo, aparece ideologicamente como crise da falta de venda de mercadorias, como fruto do desaquecimento do mercado, não como fruto da reificação, da coisificação de milhões e milhões de trabalhadores(as) e de suas famílias. Ao deus mercado, junto com a ambição desenfreada em busca do aumento das riquezas de empresas e bancos, sacrificam-se vidas, famílias inteiras. Criam-se aparências, como a de que a culpa é também da Previdência ou das leis trabalhistas ditas antigas ou ultrapassadas. Esconde-se que, por trás, existe, no fundo, a exploração e milhões de pessoas cujo trabalho sustenta o modo de produção capitalista. Mexer em direitos de trabalhadores(as) para aumentar as riquezas e o poder econômico e político de grandes empresários, empresas multinacionais, investidores nacionais e estrangeiros, latifundiários e outros, a quem as reformas diretamente vão beneficiar e que não sofrerão com as perdas sofridas por aqueles(as).

Além dos seres humanos (operários e outros trabalhadores), o próprio mundo natural continua a ser sacrificado pelo capital. Uma das razões dos impasses em conferências climáticas, das saídas de grandes poluidores mundiais de tratados internacionais, é a produção de mercadorias e bens, sejam estes de compra e venda diretas, em mercados comuns, sejam eles bens financeiros (ações e outros produtos presentes em bolsas de valores). Uma produção fundada na exploração, de muitas formas, como as já apresentadas: mais valia, salários baixíssimos, horas extras não pagas, perda de direitos trabalhistas (na previdência, nas leis, etc.), etc. A própria corrupção, nas negociações e até na política aliada aos interesses do capital, é um meio de exploração – pessoas e grupos ricos se enriquecem às custas também do roubo do que é coletivo. Dentre os resultados, igualmente se encontram milhares de mortes em hospitais e serviços públicos de saúde, pessoas morrendo de fome em continentes inteiros, como é o caso da África, das Américas e outros, e tantos desmandos.

As mercadorias fetichizadas, não vistas mais como produtos frutos do trabalho explorado mas como bens de consumo, tornam-se objetos de desejo e de adoração, reforçados pela propaganda constante, seja na televisão, seja no rádio, em outdoors e por outros meios de comunicação, seja, como mostra bem o poema de Drummond, através da própria roupa, ou melhor, do próprio corpo, que estampa marcas e ideias de consumo, realizando gratuita e escravizadamente (“escravo da matéria anunciada”) a tal propaganda. Ao fetiche reforçado da mercadoria todos estão sujeitos: adultos, idosos, jovens, homens, mulheres e crianças. Aos fundamentos e às consequências do mercado e até de seu descontrole também!

E aqui um comentário sobre a “matéria anunciada”, da qual se torna escravo, perdendo a identidade, como aparece no poema. Matéria é o estofo, o conteúdo de que que uma mercadoria é feita. Curiosamente, a mercadoria é apresentada como matéria. Tem-se aqui uma metonímia – figura de linguagem que troca, neste caso, o contido (o bem, mercadoria) pelo conteúdo de que ele é composto. E não aparece à toa. A matéria transformada pelo trabalho se torna mercadoria, que é anunciada por meio das etiquetas. As mercadorias expostas à venda nos mercados, em sua imensa maioria, são, na verdade, matérias anunciadas, matérias em sua essência – diferentemente da essência humana, responsável pela identidade das pessoas enquanto seres inigualáveis, em sua “invencível condição”.

Crises econômicas (e políticas) trazem consigo, entre outros males, o desemprego. Ora, o desemprego, no sistema capitalista, também faz parte da exploração: empurra para baixo salários, obriga a realização de horas extras sem reclamação, oferece um exército de mão-de-obra barata constante, reduz o desejo de greve e desarticula movimentos de luta em prol dos(as) trabalhadores(as), possibilita que uma reforma trabalhista injusta – que leva à perda de direitos e ao aumento da exploração capitalista – seja engolida por goela abaixo pela imensa maioria daqueles(as) trabalhadores(as) desempregados(as) e também pelos(as) que estão empregados(as) sem reação e sem reclamação. Obriga a realização também de reformas político-econômicas injustas, a perda de bens coletivos da maioria, mas mantendo privilégios de quem dispõe de imensas riquezas nas mãos.

Guerras e violência entram, igualmente, nesse contexto. Mais de quinhentas mil pessoas mortas em guerra na Síria, milhares mortas na África, outros milhares pela violência no Brasil e em países do mundo todo (milhões de pessoas, se somados os milhares). Invasões, manutenção de exércitos (tropas) e outros meios de demonstração e sustentação do poder são outros fatos. Pessoas que perderam a identidade, que se tornaram coisas. Fetiche da mercadoria, fetiche do poder e da riqueza. Reificação (coisificação) de seres humanos, similar àquela presente no texto de Carlos Drummond de Andrade e que a reforça. Para que o consumo reificado de mercadorias e bens ocorra, além da identidade, pessoas perdem a vida e o mundo natural, com os seres humanos dentro dele, sofre com o aquecimento global e outros desastres naturais e humanos.

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/  Acesso em 17/08/2024.

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. Zahar, São Paulo, s/data. Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7049739/mod_resource/content/1/Bottomore_dicion%C3%A1rio_pensamento_marxista.pdf > Acesso em 17/08/2024.