COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 10 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS
Em caso de devolução
de provas corrigidas: expor e comentar no quadro.
OS SOFISTAS (Prof. José Antônio Brazão.)
Os sofistas foram filósofos
professores itinerantes, isto é, que iam de um lugar a outro, por toda a
Grécia, vendendo seus conhecimentos a quem os pudessem pagar. Eram professores
de Retórica e Dialética, respectivamente: eloquência ou a arte de falar bem e
com domínio em público; arte do diálogo, do debate, da discussão de
ideias. O uso das palavras de modo a
convencer as pessoas e seus pares (no caso de políticos, outros políticos) para
sua causa ou sua proposta.
IMAGENS (Debate em assembleia política na
antiguidade):
IMAGENS (Debate em assembleia no mundo atual):
Os sofistas ensinavam aos jovens e a
adultos que queriam uma posição no mundo da política daquele tempo, sabendo
usar as palavras com maestria (domínio), precisão e até mesmo fazendo uso de
argumentos nem sempre verdadeiros. O que é um argumento?
De acordo com a Wikipédia:
“Um argumento pode ser definido como uma
afirmação acompanhada de justificativa (argumento retórico) ou como uma
justaposição de duas afirmações opostas, argumento e contra-argumento
(argumento dialético).” (Wikipédia, verbete Argumento)
Argumento é uma afirmação (pode ser
também uma negação) acompanhada de uma justificativa (RAZÃO, uma fundamentação,
um porquê, etc.). Na vida do dia a dia até mesmo nós fazemos usos de argumentos
para defender nossas ideias e posições quanto a determinados assuntos, temas,
certas questões, etc.
Para se argumentar é preciso ter
conhecimento e domínio das palavras e de seu uso – aí entram a Retórica e a
Dialética, além da Gramática e outros conhecimentos referentes às palavras. Os
sofistas antigos (e os atuais) sabiam (e sabem) fazer grande uso das palavras.
Até mesmo hoje, de onde vem o
aprendizado das palavras, além da família em primeiro lugar? Vem da ESCOLA.
Primeiramente, com o aprendizado da Língua Portuguesa, mas também com o
aprendizado de todas as matérias escolares. Vem de CURSOS feitos ao longo da
vida, nos quais a palavra seja continuamente requisitada. Vem da vivência no
dia a dia, com amigos e outras pessoas. Da UNIVERSIDADE, onde muitas coisas são
aprendidas e, junto com estas, a língua portuguesa e seu uso. Por meio dos
LIVROS. Da TV. Enfim, vem de MÚLTIPLOS
MEIOS. Mas é preciso ficar atento(a) para que esse aprendizado da palavra ou
das palavras seja bem cimentado em forma de conhecimentos úteis à vida, a si e
à sociedade.
Semelhantemente, é o que ocorreu com
os sofistas: ensinaram a cidadãos da
polis (cidade-Estado), recebendo por isto. Além Retórica e Dialética, o ensino
da gramática (no caso, a gramática da língua grega antiga). Ensinavam o uso das
palavras a juízes e magistrados também.
IMAGENS (HELIEIA em Atenas e outras cidades gregas
antigas):
Foi na Helieia de Atenas que ocorreu
o julgamento de Sócrates, por exemplo, que será estudado depois dos sofistas, a
seu tempo.
Magistrados (conhecedores das leis,
como juízes, por exemplo), advogados e cidadãos eram chamados a participar de
assembleias. É claro, na maioria das vezes, prevaleciam os julgamentos de quem
apresentava maiores argumentos (ver, acima, o temo argumento). Os sofistas davam uma mãozinha intelectual a
estes também.
Górgias, sofista, por exemplo, no
Elogio de Helena, se mostra um grande advogado em defesa de Helena grega
raptada por um príncipe troiano apaixonado por ela e por quem, se acreditava,
ela veio a se apaixonar também. Vista por muitos gregos antigos como adúltera e
causadora da Guerra de Troia, mostrada no livro ILÍADA, de Homero, antigo poeta grego. Górgias se pôs a defende-la
no referido texto. Vejamos um trecho significativo:
“Pois,
ou por determinação da Sorte e por deliberação dos deuses e por decreto da
Necessidade fez o que fez, ou foi raptada à força, ou persuadida pelos
discursos, ou surpreendida pelo amor. Se foi, então, por causa do primeiro, o
causador merece ser acusado, pois o ímpeto de um deus, por precaução humana, é
impossível impedir. Pois não é natural o mais forte ser impedido pelo mais
fraco, mas o mais fraco pelo mais forte ser governado e conduzido, e o mais
forte conduzir, mas o mais fraco seguir. Um deus é mais forte do que o homem em
força e em sabedoria e nas outras coisas. Se, então, deve-se atribuir a causa à
Sorte e ao deus, deve-se absolver Helena da infâmia.” (GÓRGIAS.
Elogio de Helena. Tradução de Daniela Paulinelli. Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270803/mod_resource/content/1/GORGIAS%20Elogio%20de%20Helena.pdf > Acesso em 11 de abril de 2021.)
Helena é assim descrita na Wikipédia:
“Numa
viagem a Esparta, Páris encontra
a princesa Helena, que está casada com Menelau,
irmão de Agamenon, filhos de Atreu, rei de Micenas.
Após nove dias entretendo Páris, Menelau, no décimo, parte para Creta, para os rituais
fúnebres de Catreu, seu avô materno.[6] Helena
e Páris fogem para Troia, abandonando Hermíone,
então com nove anos de idade;[6] Menelau,
Agamenon, e outros reis juntam-se numa guerra contra Troia.” [WIKIPÉDIA. Helena (mitologia). Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia) > Acesso em 11 de abril de 2021.]
IMAGENS [Helena (mitologia), na Wikipédia:
https://de.wikipedia.org/wiki/Helena_(Mythologie)#/media/Datei:Helen_Menelaus_Louvre_G424.jpg
Helena foi RAPTADA e levada, por Páris para Troia. Mas o que levou Helena (da Grécia)
e Páris (de Troia) a se sentirem atraídos um pelo outro? De acordo com a
mitologia grega, por conta das flechas de Cupido (deus do amor) a mando de
deusas descontentes com certa escolha de Páris tempos antes. Aqui entra o
discurso de Górgias, advogando em favor de Helena. Vejamos, novamente, o texto
acima.
Górgias usa argumentos em defesa de
Helena (em cada trecho do texto se pode ver um argumento). Vejamos:
1) “Pois, ou por determinação da Sorte e
por deliberação dos deuses e por decreto da Necessidade [Helena] fez o que fez,
ou foi raptada à força, ou persuadida pelos discursos, ou surpreendida pelo
amor.” (Górgias). (O nome de Helena que está entre colchetes foi posto por mim
a título de esclarecimento.)
2) “Se foi, então, por causa do
primeiro, o causador merece ser acusado, pois o ímpeto de um deus, por
precaução humana, é impossível impedir.” (Górgias).
3) “Pois não é natural o mais forte ser
impedido pelo mais fraco, mas o mais fraco pelo mais forte ser governado e
conduzido, e o mais forte conduzir, mas o mais fraco seguir. Um deus é mais
forte do que o homem em força e em sabedoria e nas outras coisas.” (Górgias).
4) CONCLUSÃO: “Se, então, deve-se
atribuir a causa à Sorte e ao deus, deve-se absolver Helena da infâmia [má
fama, difamação (ação de dar má fama a alguém, no caso, a Helena].” (Górgias). (O que está entre
colchetes foi posto por mim para esclarecimento do termo.)
O que se quis mostrar com o texto de
Górgias é um pouquinho do que foi o trabalho de sofistas, no manuseio das
palavras no intuito de convencer as pessoas e defender ideias. Argumentações
desses tipos eram ensinadas por eles a seus estudantes.
No entanto, os sofistas (Górgias,
Trasímaco, Protágoras e outros) fizeram uma grande revolução no pensamento
filosófico da Grécia antiga:
1) Trouxeram a discussão para o âmbito
da realidade humana, realidade vivida, particularmente, nas cidades (póleis,
plural de pólis) gregas, diferenciando-se da preocupação cosmológica (de origem
e fundamentos do cosmos) de filósofos que os precederam (Tales, Anaxímenes,
Heráclito, Parmênides...) e que até lhes foram contemporâneos (ex.: Leucipo e
Demócrito). Como dizia Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas.”
2) Puseram em dia a discussão em torno
da política. Trasímaco, por exemplo, citado por Platão, diz: Trasímaco: ``Cada
governo estabelece leis para a sua conveniência. Promulgadas tais leis, dizem
que é justo para os governos aquilo que lhes convém... há um só modelo de
Justiça em todos os Estados -o que convém aos poderes constituídos". (TRASÍMACO. Citação feita por Roberto Romano, na Folha de São Paulo de 09
de outubro de 1995. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/09/opiniao/11.html#:~:text=Tras%C3%ADmaco%3A%20%60%60Cada%20governo%20estabelece,ou%20capazes%20de%20errar%3F%22. > Acesso em 11 de abril de 2021.)
3) Duvidaram de crenças estabelecidas,
mostrando a contrariedade possível de argumentos. Exemplo, de Protágoras de
Abdera: “Todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias,
inclusive este de que a tese favorável e contrária são igualmente defensáveis
[sujeitas à defesa].” (Em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/ )
4) Relativizaram a verdade (a verdade
depende de cada um). Diz Protágoras: “Tal como cada coisa se apresenta para
mim, assim ela é para mim, tal como ela se apresenta para você, assim ela é
para você." (Em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/ )
5) Reforçaram o ensino da Retórica e da
Dialética, além de outros conhecimentos que pudessem ajudar no uso persuasivo
(convencedor) das palavras. Como diz Isócrates: “Eloquência é a arte de
avolumar as pequenas coisas e diminuir as grandes.” (Em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/ )
6) Discutiram a Justiça: “Das coisas
belas, umas são belas por natureza e outras por lei, mas as coisas justas não
são justas por causa da natureza, os homens estão continuamente disputando pela
justiça e a alteram também continuamente.” (Protágoras, citado em: https://www.pensador.com/frases_sofistas/ )
7) Contribuíram para o desenvolvimento
da Educação, ao se preocuparem em oferecer uma formação humanística, que fugia
em parte da educação tradicional grega. Até cobravam pelo ensino: o
conhecimento e o preparo para a vida política têm preço!
8) Etc.
OBS.: Fazer uma ponte
entre o passado e o presente pode ser muito enriquecedor no aprendizado da
filosofia, mostrando sua vivacidade e atualidade!
Há cursos de retórica e
dialética ainda hoje. Pagos!
REFERÊNCIAS:
ARANHA,
Maria L. de A. e MARTINS, Maria H. P. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 4.ed. São Paulo, Moderna, 2009.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à
Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.
GÓRGIAS. Elogio de Helena. Tradução de Daniela
Paulinelli. Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270803/mod_resource/content/1/GORGIAS%20Elogio%20de%20Helena.pdf > Acesso em 21/03/2024.
O PENSADOR. Frases de Sofistas. Disponível em: < https://www.pensador.com/frases_sofistas/ > Acesso em 21/03/2024.
TRASÍMACO.
Citação feita por Roberto Romano, na Folha de São Paulo de 09 de outubro de
1995. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/09/opiniao/11.html#:~:text=Tras%C3%ADmaco%3A%20%60%60Cada%20governo%20estabelece,ou%20capazes%20de%20errar%3F%22. > Acesso em 21/03/2024.
WIKIPÉDIA. Página Principal. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acesso em 21/03/2024.
WIKIPÉDIA. Helena (mitologia). Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia) > Acesso em 21/03/2024.
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