SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS
ENSINO MÉDIO – PRIMEIROS ANOS
CULTURA GOIANA– PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA 11 DO SEGUNDO
SEMESTRE DE 2021 DE CULTURA GOIANA
GOIAS NA ÉPOCA
COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Prof. José
Antônio Brazão.):
Um
aspecto importante dos séculos XVIII e XIX foi o interesse pelas pesquisas
científicas, no mundo ocidental, a partir da Europa. Além das viagens
comerciais que vinham ocorrendo desde alguns séculos anteriores, também viagens
de cunho científico – de pesquisas acerca fauna e da flora, além de mapeamento,
de muitos países do mundo, apoiadas, especialmente, por governos. Os
pesquisadores, então, eram chamados naturalistas, isto é, estudiosos (e
pesquisadores) da natureza – no mundo atual, seus melhores representantes são
os biólogos e as biólogas.
IMAGENS (desenhos
e pinturas feitos por naturalistas que visitaram o Brasil colônia):
No
caso do Brasil, as visitas de pesquisadores ilustres, seja enviados pelo
governo francês ou pela coroa portuguesa, contribuíram muito para o
levantamento de muitas informações a respeito da flora e da fauna no Brasil e,
mais especificadamente, de Goiás.
Entre
os visitantes-pesquisadores que vieram da Europa ao Brasil, por exemplo, pode
ser citado o francês Auguste de Saint Hilaire (1779-1853). Ricardo Bonalume
Neto, em seu texto “Viajantes Históricos: O Brasil dos Cientistas” para a Folha
de São Paulo, faz as seguintes colocações:
“O Brasil se
tornou independente, de fato, em 1808 [na verdade, historicamente, a
Independência comemorada em 07 de setembro se deu em 1822, com Dom Pedro I;
aqui uma forma de dizer que, por conta da vinda da Família Real ao Brasil,
houve um breve rompimento com a metrópole Portugal, que ocorrerá, de vez, em
1822],
e esse foi o começo de uma enxurrada de relatos de viajantes estrangeiros sobre
o país até então hermético [muito fechado]. Ingleses, franceses e outros
descreveram o país em grande detalhe e continuaram a tradição que até hoje
incomoda os habitantes da terra: dar uma opinião honesta sobre ela. (...)
IMAGENS:
Eram, e continuam
sendo, dois, os tipos básicos de visitantes. De um lado, os naturalistas,
empenhados em descrever a natureza quase virgem de observação científica, mas
também externando opiniões sobre a sociedade local. E os outros estrangeiros,
como comerciantes ou navegadores (hoje são os ‘turistas’), que tinham menos interesse
em botânica ou anatomia, mas também sabiam descrever em detalhe o que viam em
torno.
IMAGENS:
Em 1808 o Brasil
passou a ser o centro do império português, já que a corte de Lisboa tinha sido
escorraçada pelo avanço do exército napoleônico. Com a transformação do Rio de
Janeiro em uma nova Lisboa [metrópole capital portuguesa] tropical, tudo o que
era proibido passou a ser lei: imprensa, ciência, comércio com as ‘nações
amigas’, notadamente a mais amiga, o Reino Unido, aliado de Portugal desde o
século 14 e a principal potência marítima, comercial e industrial do planeta.
Foram os britânicos que comboiaram o príncipe regente, futuro Dom João 6º, ao
Rio de Janeiro, os oficiais da Royal Navy [Marinha Real] estão entre os
primeiros a escreverem sobre o paraíso tropical agora aberto a eles.
IMAGENS (A família real no Brasil,
no início do século XIX):
Havia decerto
interesses mais pragmáticos para vasculhar o Brasil, mas se aventurar por rios,
montanhas ou desertos desconhecidos por mera curiosidade era o grande atrativo
da ciência do século 19. Coincidiu com a criação de um mercado literário de
livros de viagens e aventuras. Irônica e tragicamente, uma exceção à tardia
chegada da ciência moderna no Brasil luso foi a última grande expedição
colonial, obra do baiano Alexandre Rodrigues Ferreira(1756-1815) no final do
século 18. Durante nove anos ele explorou a região amazônica, mas o resultado
de suas pesquisas demorou a ser
divulgado. Os espécimes e desenhos estavam em Lisboa quando os franceses
tomaram o país e acabaram saqueados pelo naturalista Geoffroy de Saint-Hilaire
(1772-1844), que tinha no currículo ter acompanhado Napoleão na expedição que
deu origem à moderna egiptologia.
Outro
francês, Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), compensou com folga os danos de
seu conterrâneo com o mesmo sobrenome. Pesquisando no Brasil de 1816 a 1822,
ele colecionou um herbário de 30 mil exemplares composto de 7 mil espécies
diferentes de plantas. (...)”
(BONALUME NETO,
Ricardo. Viajantes Históricos: O Brasil
dos cientistas. In: FOLHA DE SÃO PAULO, domingo, 28 de dezembro de 1997.
Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs281216.htm > Acesso em 24 de outubro de 2021.) O que
está entre colchetes e grifado são de responsabilidade minha, para ajudar na
compreensão.
IMAGENS (Auguste de Saint-Hilaire):
Entre
os locais pelos quais Saint-Hilaire passou em Goiás, se encontram:
“Goyaz (Goiás)
- Santa Luzia
(atual Luziânia),
Corumbá (atual Corumbá de Goiás), Meia Ponte
(atual Pirenópolis), Serra dos Pireneus, Córrego Jaraguá
(atual Jaraguá),
Ouro Fino, Ferreiro, Goiás (município), Serra
Dourada, Caldas
Novas, Rio Paranaíba.[17]”
(WIKIPÉDIA.
Auguste de Saint-Hilaire. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire > Acesso em 24 de outubro de 2021.)
Auguste
de Saint-Hilaire é citado, em sua passagem por PIRENÓPOLIS. Eis o que o próprio
naturalista diz:
“O encantador
arraial de Meia-Ponte [atual Pirenópolis] é ao mesmo tempo sede de um julgado e
de uma paróquia. Situado a 15º30' de latitude S., numa região de grande salubridade,
na intersecção das estradas do Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso e São Paulo,
distante de Vila Boa no máximo 27 léguas e rodeado de terras
extraordinariamente férteis, o arraial era um dos mais bem aquinhoados da
província e o de maior população.
IMAGENS (Pirenópolis no século
XIX):
A extensão da
paróquia de Meia Ponte é de cerca de 32 léguas no sentido norte-sul e de 20 de
leste a oeste. Embora menos extensa que a de Santa Luzia, sua população é bem
mais numerosa, contando com sete mil habitantes. Dela dependem duas capelas, a
de Corumbá e a de Córrego do Jaraguá, que descreverei mais adiante.
O arraial foi
construído numa pequena planície rodeada de montanhas e coberta de árvores de
pequeno porte. Estende-se ao longo da margem esquerda do Rio das Almas, numa
encosta suave, e defronta o prolongamento dos Montes Pireneus. Tem praticamente
o formato de um quadrado e conta com mais de trezentas casas, todas muito
limpas, caprichosamente caiadas, cobertas de telhas e bastante altas para a
região. Cada uma delas, conforme o uso em todos os arraiais do interior, tem um
quintal onde se veem bananeiras, laranjeiras e cafeeiros plantados
desordenadamente. As ruas são largas, perfeitamente retas e com calçadas dos
dois lados. Cinco igrejas contribuem para enfeitar o arraial. A igreja
paroquial, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, é bastante ampla e fica localizada
numa praça quadrangular. Suas paredes, feitas de adobe, tem 12 palmos de
espessura e são assentadas sobre alicerces de pedra. O interior da igreja é
razoavelmente ornamentado, mas o teto não tem forro.”
IMAGENS (Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, de Pirenópolis):
(SAINT-HILAIRE,
Auguste de. O Arraial de Meia Ponte.
Apud: PIRENOPOLIS.TUR.BR – O Portal do Turismo de Pirenópolis. Disponível em:
< https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire
> Acesso em 24 de outubro de 2021.) O que está entre colchetes é meu, a
título de esclarecimento.
IMAGENS:
Nas
citações originais do próprio Saint-Hilaire:
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f331.item (Histórico.)
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f402.item
(Índice do livro.)
https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k10485363/f342.item
(Vegetação.)
Como
se pode ver, o Estado de Goiás, na época do ouro, teve grande importância tanto
para a Coroa Portuguesa quanto para outros países europeus interessados em
conhecer o Brasil, suas paisagens, seus costumes, seu povo. Tais informações
eram vitais para se poder fazer negócios e buscar matérias-primas, bem como
vender produtos advindos da Europa.
Vale
lembrar que o interesse pelo Brasil e, particularmente, por Goiás, não era um
interesse ingênuo, de troca de conhecimentos meramente. Tal conhecimento era,
como ainda é hoje, estratégico. O estudo de plantas, por exemplo, é de grande
importância para o desenvolvimento de remédios, alimentos, obtenção de madeiras
de boa qualidade, entre outros aspectos a serem considerados.
Entre
os séculos XVIII e XIX, a Europa passava pela REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, um grande
desenvolvimento das indústrias, que, progressivamente, começaram a aplicar
princípios científicos. Na área da produção química, por exemplo, vale lembrar
dos trabalhos de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794), cujas pesquisas
contribuíram para o desenvolvimento da Química e de suas aplicações.
Os
trabalhos e as pesquisas de Auguste de Saint-Hilaire, no século XIX, seguiram a
linha da busca de informações e conhecimentos gerais a respeito do mundo
daquele tempo e deixaram marcas profundas no entendimento da natureza e até
mesmo dos costumes, como no caso dos costumes das populações brasileira como um
todo e goiana, em especial.