QUARTA QUESTÃO
COMENTADA DE FILOSOFIA DO ENEM 2018 (Prof. José Antônio Brazão.)
Questão 67 do caderno branco do
ENEM 2018 FILOSOFIA:
A quem não basta pouco, nada
basta. (Epicuro. Os pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1985.)
Remanescente do período helenístico,
a máxima apresentada valoriza a seguinte virtude:
(A)
Esperança,
tida como confiança no porvir.
(B)
Justiça,
interpretada como retidão de caráter.
(C) Temperança, marcada pelo domínio da vontade.
(D)
Coragem,
definida como fortitude na dificuldade.
(E)
Prudência,
caracterizada pelo correto uso da razão.
RESPOSTA: (C) Temperança, marcada
pelo domínio da vontade.
(ENEM
2018. Questão 67 do caderno branco [Questão de Filosofia]. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/provas-e-gabaritos
. Acesso em 05 de fevereiro de 2020.)
COMENTÁRIO:
A resposta é a
letra C, por quê? Porque a vontade é que domina os desejos. O desejo que querer
ter mais que guarda o perigo de se querer mais e mais, numa ambição sem fim.
Daí, nada, de fato, basta a quem acredita que o pouco não basta, isto é, a quem
o pouco não é suficiente.
Epicuro viveu
entre 341 e 270 antes de Cristo, de acordo com a Wikipédia. Ou seja, entre os
séculos IV e III a.C. No período da filosofia grega conhecido como período
helenístico. Este foi um período em que o Império Macedônico estendeu seu
domínio por vastas regiões do mundo antigo, incluindo a Grécia. Por influência
dos macedônicos, principalmente de Alexandre Magno e seus generais, a cultura
helênica (grega) estendeu-se por aquelas regiões. Epicuro foi um filósofo
helenístico!
De acordo com o
Dicio – Dicionário Online de Português:
“helênico
Significado
de Helênico
substantivo
feminino
Pessoa
que nasceu na Grécia antiga (Hélade).
[Linguística]
Tronco linguístico do qual se originou o grego moderno e o coiné.
adjetivo
Relativo
à Grécia antiga, ao seu povo, aos seus costumes.
Etimologia
(origem da palavra helênico). Do grego hellenikós.
Sinônimos
de Helênico
A cultura grega,
de fato, neste tempo, já havia alcançado grande desenvolvimento, o que pode ser
visto na arquitetura e na engenharia extraordinárias, com precisão matemática,
na própria matemática (vale citar Tales de Mileto, Pitágoras, Platão e seus
sólidos, entre outros), na arte, na religião, na astronomia, na filosofia
(pré-socráticos, por volta dos séculos VII e VI a.C., sofistas, Sócrates,
Platão e Aristóteles, do período chamado clássico, além dos helenísticos
posteriores). A própria língua grega. A admiração dos macedônicos foi enorme. Diferentes
correntes filosóficas surgiram no período helenístico (que vai, por volta, do
século IV a.C. ao V ou VI d.C., aproximadamente), podendo ser citadas: o
epicurismo, o estoicismo, o cinismo, o neoplatonismo, além de outras.
O epicurismo,
como o nome aponta, foi fundado por Epicuro de Samos, o da questão acima.
Ensinava a busca do prazer, de forma equilibrada, ao longo da vida. Para os
epicuristas tudo é feito de átomos e tudo se desfaz, voltando os átomos a
constituírem novos seres. O estoicismo, de Zenão de Cítio (Citium), propunha o
controle dos desejos e das paixões. O cinismo, fundado por Antístenes de Atenas
(444 – 365 a.C.) e que teve Diógenes de Sínope (413 – 323 a.C.) como grande
representante, desprezava riquezas e o apego a coisas efêmeras. Diógenes levou
a ideia tão a sério que viveu em um barril, em Atenas.
Os epicuristas
não eram radicais. Pelo contrário, propunham a busca do prazer, pois para eles
não existia vida além desta vida humana. Mas o prazer precisa ser equilibrado,
caso contrário, em vez de bem, pode fazer mal. “A quem não basta pouco, nada
basta.”, conforme Epicuro. Pois uma pessoa que não aprende a contentar-se com o
pouco, pode perder o controle sobre seus desejos, entrar numa ambição
desenfreada e maléfica para ela própria e para outras pessoas. A vontade deve
controlar o desejo, a busca de prazer, não perdendo esta, mas educando-a, a fim
de que o prazer, sendo buscado quotidianamente, seja tão equilibrado que seja
continuamente benéfico, reduzindo os sofrimentos e as dores quase a nada.
A temperança é
uma grande virtude. É aquela que ensina à vontade o controle sobre os desejos,
não permitindo nem a falta nem o excesso. Nem ser anoréxico, nem ser guloso,
mas alimentar-se prazerosamente de modo equilibrado, beneficiando e mantendo a
saúde e a vitalidade do corpo. Nem a falta de bens ou de dinheiro nem a ambição
desenfreada que é capaz de levar alguém até a pisar sobre os outros para
conseguir o que quer e que quer cada vez mais. O prazer do ter é resultante do
desejo e da busca temperante dos bens. Aí a resposta “(C) Temperança, marcada
pelo domínio da vontade.” ser a correta. Nesse sentido, a afirmação de Epicuro
adequa-se ao que propõe sua filosofia.
Uma curiosidade:
Paulo apóstolo, o cristão, discutiu com filósofos estoicos e epicureus
(epicuristas) no Areópago, em Atenas, de acordo com o capítulo 17 (dezessete)
do livro bíblico Atos dos Apóstolos,
do Novo Testamento. O fato de terem saído da discussão, no momento em que
Paulo, em sua fala, apresentou a ressurreição, é porque não criam na
imortalidade da alma. Tudo é feito de átomos (teoria aprendida com seguidores
de Leucipo e Demócrito) e tudo se desfaz.
Outra
curiosidade: um rico seguidor de Epicuro e do epicurismo, chamado Diógenes de
Enoanda, do século II da era cristã, amava tanto essa filosofia e queria tanto
que outras pessoas a aprendessem a ponto de mandar inscrever em muros de
Enoanda, “na Lícia (atual sudoeste da Turquia )” (Wikipédia), as doutrinas
epicuristas! Muitas dessas inscrições ainda existem por lá, umas inteiras,
outras em parte.
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