DEMÓCRITO, O
VAZIO, O TURBILHÃO E OS ÁTOMOS: (Prof. José A. Brazão.)
Este
texto é complemento de um ou dois textos que o antecedeu(ram) sobre Demócrito, neste site.
Tem por fim tecer algumas considerações sobre o vazio e a ação dos átomos no
universo (cosmos).
De
acordo com as ideias de Demócrito, bem como de seu mestre Leucipo, tudo é
formado por átomos e vazio. Eis o que é dito no fragmento 168: “(Os discípulos de Demócrito chamavam os átomos de:) natureza. (No vazio
são) projetados em todas as direções.” (IN: BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos, p.114. Ver
citação no referencial.) (grifos meus). Átomos, como o próprio nome, no grego,
diz, são partículas indivisíveis (Idem. Doxografia, frag. 4, p. 125) de
matéria. São as partezinhas constituintes de toda a matéria que existe. São em
grande número. E o vazio? No fragmento 10 da Doxografia (conjunto de citações e
opiniões de outros filósofos e escritores sobre ele, da antiguidade), de acordo
com Demócrito e seus discípulos, “o
movimento se dá graças ao vazio”. Sem vazio, sem movimento. Se tudo fosse
cheio, não haveria espaço para o movimento.
Já
havendo comentado sobre o vazio e os átomos anteriormente, como disse, agora
sobre o vazio cósmico. De onde poderia Demócrito ter tido a ideia do vazio no
cosmos, convivendo com átomos e corpos por eles formados? Nas colônias gregas
da Ásia Menor e próximas dali, como é o caso de Abdera (daí Demócrito de
Abdera), os céus estampavam os astros – que Demócrito também cria serem
formados de incontáveis átomos. Durante o dia, o Sol majestoso, com sua intensa
luminosidade e seu calor. À noite, as estrelas, os planetas e outros astros. Se
uma pessoa olhar diretamente para o Sol, durante o dia, verá uma esfera de
calor e luz fortes, não havendo nada que atrapalhe a visão dele, exceto alguma
nuvem, de vez em quando. Mas sem nuvens a visão é clara. O que pode indicar
isto? Que há espaço vazio, muito espaço vazio, entre a Terra e o Sol.
Curiosamente, dia após dia, a forma do Sol não muda, nada havendo que interfira
em sua visão direta.
Se
se observar os céus à noite, em noites de céu claro, ver-se-á, dia após dia, as
constelações de estrelas sempre na mesma posição, ainda que se movimentando em
conjunto em sua esfera, a Lua, os planetas e outros astros em movimento,
girando ao redor da Terra, conforme a crença no geocentrismo. Como na visão do
Sol, entre a Terra e os astros celestiais noturnos o que há? Espaço. Espaço
VAZIO. O fragmento 16 da Doxografia fornece boas pistas e expõe com clareza: “Demócrito tinha a opinião de que os átomos
se movem eternamente em um espaço vazio. Há inumeráveis mundos, que se
distinguem pelo seu tamanho. (Hippol. I. 13, 2).” (Ibid., p.126). Como
durante o dia, o que poderia atrapalhar a visão direta dos astros celestiais
noturnos seriam nuvens, em noites de grande nebulosidade ou chuvas.
Uma
parede de tijolos ou um muro de pedras não permitem ver além deles por quê?
Porque são reuniões de inúmeros átomos tão agregados que a luz e as imagens não
podem passar por eles. E os átomos do ar? Sendo gasoso, o ar tem átomos soltos,
espalhados, de tal modo que é possível ver para além do espaço vazio que há
entre eles. Quando há fumaça de madeira queimando, esta, como também é gasosa,
toma espaços vazios entre os átomos que compõem o ar.
Há
dois princípios universais, de acordo com Demócrito: o cheio e o vazio. No
fragmento doxográfico 2 aparece o seguinte: “Os
princípios são o cheio e o vazio. (Aet. I, 3, 16”). Não existe só o cheio,
senão não haveria movimento, nem geração de algo novo. Nem só o vazio, pois não
haveria possibilidade sequer de se tratar de Demócrito e Leucipo. Ligando o
vazio e o cheio, os átomos, as menores partículas da matéria.
E
como Leucipo e Demócrito chegaram à conclusão de que há partículas indivisíveis
(átomos)? Observando os fenômenos naturais e fazendo, muito certamente,
diferentes experimentos simples, usando, além dos sentidos, a imaginação e a
razão. Por exemplo: o tijolo ou uma pedra pode ser esmigalhado(a) em pedaços
minúsculos; uma fruta pode ser cortada, com uma faca afiada, até o limite do
possível. Para além do limite dos pedacinhos possíveis, cortáveis com a faca ou
esmigalháveis, atuam a imaginação e a razão (o intelecto). O corpo de um ser
vivo, quando morto, se desfaz, chegando até o pó. Ainda que não fosse da
cultura grega, mas da hebraica, a Bíblia diz: “Tu és pó e ao pó voltarás”
(Gênesis cap. 3), referindo-se ao corpo humano. Pó é algo muito fino, formado
de partículas minúsculas. Um pedaço de madeira, queimado ao fogo, libera gases,
calor, luz e vira cinzas (pó, partículas minúsculas).
E
a espada e outros instrumentos de metal? Enferrujando-se, após um bom tempo,
acabam virando pó (pó de ferrugem). Metais, aliás, podem e costumam ser
derretidos e sua composição separada, se se quiser, em pedaços pequeninos
(bolinhas de metal, por exemplo). Pedaços de metais, por sua vez, podem ser
fundidos pelo calor e vir a formar espadas e ferramentas. Pedaços, partes
grandes (torrões) e pequenas de matéria-prima metálica.
Outro
ponto interessante dos átomos: reunidos, podem ser moldados, combinados e
recombinados, obtendo formas diferentes a cada vez, como se vê no caso dos
metais. São reutilizáveis pela natureza ou, como diz o fragmento 168, citado,
constituem a própria natureza das coisas, dos seres. O fragmento doxográfico 12
aponta: “Demócrito e Leucipo, tendo
estabelecido as formas, derivam destas a mudança e a geração; pela reunião e
separação, o nascimento e a destruição; pela ordenação e pela posição, a
mudança.” (Arist., De gen. corr. 1, 2, 316) (Ibid., p.126). Tudo, no
universo, no cosmos, na natureza, de fato, tem formas: os corpos têm uma
simetria, as pedras têm arredondamentos, achatamentos, pontas, os astros são
redondos (ex.: Sol, Lua, planetas), etc. A mudança e a geração acompanham as
formas. Átomos são reunidos e separados. A árvore que um dia nasceu da
sementinha, composta por átomos, um dia pode ser destruída pelo fogo ou pela
morte e o apodrecimento consequente. Seus átomos, por sua vez, podem ser
recombinados em outra ordem ou servir de alimentos a seres que vão crescer e se
desenvolver acompanhando uma forma natural, com cada parte em uma dada posição.
Enfim, tudo muda.
De
onde veio essa ideia da mudança? De Heráclito de Éfeso, outro pré-socrático
fundamental. Ele diz que a mudança (o devir ou vir-a-ser) é inerente a todas as
coisas, como um rio que flui e no qual não se pode banhar duas vezes nas mesmas
águas. Tudo encontra-se em contínuo movimento. Daí se poder entender o que é
dito nos fragmentos doxográficos 5 e 6: “(5)Demócrito
afirmava como única espécie de movimento o impulso. (Aet. I, 23, 3).” E o
(6) acrescenta: “Por necessidade entende
Demócrito o choque, o movimento e o impulso da matéria. (Aet. I, 26, 2).”.
E de onde vêm o impulso (5), o choque, o movimento e o impulso da matéria? Ocorrem
por necessidade. Como assim? São naturais, são inerentes ao mundo natural e
cósmico, necessariamente. Ademais, vale lembrar o que diz Demócrito sobre o
turbilhão (o redemoinho) no fragmento 167: “Um
turbilhão de todos os tipos de formas separou-se do Todo.” Que Todo é este?
Uma pista pode ser buscada em Hesíodo.
A
Teogonia, livro do poeta Hesíodo, já
dizia que tudo veio do Caos e deste foi-se separando. O Caos, pelo que se pode
refletir a partir do texto, era a mistura indistinta de tudo (um todo
misturado). Do Caos nasceu o Cosmos, o universo ordenado e harmônico (cosmos,
no grego, é ordem). Isto mostra que a filosofia, em seu nascimento, ainda
guardou algo da reflexão dos mitos, porém indo além destes, buscando uma
explicação natural (os átomos de Leucipo e Demócrito são totalmente naturais)
para os fenômenos do universo (cosmos) e da Terra que dele faz parte, fundados
em causas naturais (fragmento doxográfico 9 de Demócrito, citado à p. 125 de
Bornheim).
O
Todo (como o Caos de Hesíodo) precisou de espaço para separar-se em partes que
viriam a compor o cosmos. Um espaço cheio? Não. Pois não haveria espaço onde
dispor os astros e os seres. Então, só poderia ser um espaço VAZIO! O que
ajudou nessa separação? O turbilhão.
Demócrito
fala de um turbilhão, isto é, de um redemoinho. Redemoinhos de vento, em dias
de calor e poeira, são comuns. Em rios e até no mar, há redemoinhos e trombas
d’água. Coisas que eram vistas (observáveis) e sabidas naquele tempo. Os astros
giram, harmonicamente, ao redor da Terra (geocentrismo antigo). Se se pensar
bem, pode-se comparar ao turbilhão que gira. Os planetas giram uniformente, sem
nada que os impeça de se mover, no vazio. Outro fragmento dá igualmente pista,
o fragmento doxográfico 21: “(...) E de
todas as formas, as esféricas são as mais movediças, constituindo estas tanto o
fogo como o espírito. (Arist. De Anima, I, 2, 405a)”. Ora, observando a Lua
e os planetas, são redondos, esféricos! A redondeza também ajuda no movimento.
Quando diz “E de todas as formas...” (grifo meu), pode-se
perceber que, além das esféricas mencionadas, os átomos têm diferentes formas e
grandezas (fragmento doxográfico 1).
Enfim,
Demócrito – como seu mestre Leucipo – foi um grande observador da natureza e,
com certeza, um experimentador prático, na vivência do dia a dia, vendo como
objetos materiais podem ser separados em pedaços minúsculos, como sofrem geração
e destruição, decomposição, queima, transformações dos mais diferentes tipos, e
não se tornam um caos, apesar da destruição! Sinal de que a natureza reordena e
reposiciona, reaproveitando, todos os átomos, formando novos seres, obedecendo
a formas e dando-as aos seres.
As
formas estão também nos átomos. Estes são duros (indivisíveis), são muitos, em
número e grandeza (tamanhos), conforme o fragmento doxográfico 1, e como se
unem? Por ganchos ou encaixes ou engates, objetos e partes de peças visíveis e
comuns no tempo de Demócrito e Leucipo, donde ambos devem ter tirado a imagem
da presença deles nos átomos. Em O Mundo
de Sofia, Jostein Gaarder compara os átomos às peças do brinquedo de Lego,
que se encaixam formando objetos dos mais variados tipos e podendo ser
desmontadas e encaixadas de formas diferentes, formando outros objetos e seres.
No
que tange às formas, o fragmento 3 de Pitágoras (página 50 do livro de
Bornheim), outro filósofo Pré-Socrático, aponta que os números estão presentes
no universo (cosmos), gerando toda a harmonia e a beleza que o compõem.
Universo matemático. A matemática envolve, junto com os números, formas
geométricas, embora, no caso da Terra, não extremamente rigorosas como na
geometria plana, por conta da matéria e das mudanças. Para se ver que Demócrito
e Leucipo não foram os primeiros ou únicos a ver formas no universo e como
estas interferem em sua composição e constituição. Mas, para além dos números e
nas formas geométricas de Pitágoras, fundados na observação e na decomposição e
composição dos seres, constituindo-os, Leucipo
e Demócrito conseguiram enxergar, observando os fenômenos cotidianos, com a
prática, a imaginação e a razão, os átomos e os seres de diferentes
formas que são capazes de constituir e reconstituir, compor, decompor e compor
novos, obedecendo as formas (ver fragmento 167, citado acima).
Curiosamente, muitos séculos antes dos cientistas contemporâneos chegarem à
comprovação da existência do mundo atômico, dos elementos químicos e da tabela
periódica. Impressionante! Sinal do poder da razão e da capacidade humana de
observar o mundo, imaginar e atravessar as barreiras do espaço e da matéria
mensuráveis.
Ainda
quanto às formas, dois outros fragmentos doxográficos podem ser citados:
“12
– Demócrito e Leucipo, tendo estabelecido as formas, derivam destas a mudança e
a geração; pela união e pela separação, o nascimento e a destruição; pela ordenação
e pela posição, a mudança. (Arist., De Gen.corr. 1, 2, 316).” (Id. Ibid., p. 126)
“13
– E como todos os corpos diferem pelas formas, e são infinitas as formas, dizem
que também os corpos simples são infinitos. (Arist., De Coelo, III, 4, 303).” (Id. Ibid., p.
126)
Tomando
o fragmento 12 primeiramente, a fim de o entender: “12 – Demócrito e Leucipo, tendo estabelecido as formas, derivam destas
a mudança e a geração; pela união e pela separação, o nascimento e a
destruição; pela ordenação e pela posição, a mudança. (Arist., De Gen.corr. 1,
2, 316).” (Id. Ibid., p. 126) Das formas, ver acima o que já foi comentado.
Como elas provocam a mudança e a geração? Seguindo formas naturais, átomos de
formas diferentes se unem e separam, num movimento (mudança) constante, como Heráclito
acreditava. Como têm formas diferentes, ao se separarem (seres sofrem destruição),
encaixam-se com outros, formando outros seres (geração/nascimento), depois
outros e assim por diante, ordenando-se e posicionando-se, mudando formas de
seres compostos.
Há
padrões? Sim, formas naturais. Ora, o universo não é mais um turbilhão caótico,
tornou-se um cosmos ordenado, harmônico, ainda que nele haja mudança, geração,
nascimento e destruição contínuas. Átomos encaixam-se de formas definidas,
formando uma multiplicidade de seres, diferindo-se em formas, que são infinitas
(fragmento doxográfico 13), como infinitos são os átomos (“corpos simples”,
frag.dox. 13), formando “mundos ilimitados, engendrados e perecíveis”
(fragmento dox. 1). No fragmento 2 de Leucipo há um ponto interessante, que
ajuda a entender: “Nada deriva do acaso, mas tudo tem uma razão e sob a
necessidade” (BORNHEIM, 2000, p. 103). O cosmos tem uma racionalidade (razão)
que lhe é inerente e necessária. Olhando-se diretamente para a natureza e os céus
é possível ver ordem, apesar das mudanças e transformações que ocorrem no mundo
natural.
De
onde pode Demócrito ter tirado a ideia de que existem ilimitados mundos? Da
infinitude dos “corpos simples” (átomos) (frag.dox. 13). E a partir de que pode
também ter extraído o pensamento de que existem outros mundos, além do mundo
geocêntrico em que se acreditava na época? Olhando para os céus, à noite, a visão
de estrelas dá a ver claramente que são luminosas. Mas igualmente que estão
muito distantes. Se se olhar para um farol bem distante, numa noite clara, ele
aparece apenas como um ponto luminoso. Aproximando-se mais e mais dele, vê-se
que é grande, mais do que mostra a aparência inicial. Então, fazendo um
paralelo, as estrelas, distantes, devem ser grandes e, sendo luminosas, podem
ser vistas ao longe. Faróis eram comuns naquele tempo. Cidades iluminadas à
noite, vistas numa planície ou num monte, de longe também parecem pequenas,
tornando-se maiores à medida que se chega a elas. Naquele tempo, cinco séculos
antes de Cristo, o Mediterrâneo, mares e terras adjacentes eram povoados por
muitas cidades.
Tirou
também de seu mestre Leucipo de Abdera. Vejamos o fragmento doxográfico 1. Diógenes
Laertius diz:
1 –
“Leucipo foi discípulo de Zenão. Pensava que todas as coisas são ilimitadas, e
que se transformam umas nas outras; o todo seria vazio e ocupado por corpos; os
mundos se formariam quando estes corpos entrassem no vazio, misturando-se uns
aos outros; do seu movimento e de sua aglomeração nasceria a natureza dos
astros; o Sol se moveria em um círculo maior em volta da Lua; a Terra teria
sido levada ao centro por um movimento de rotação, sendo semelhante a um tambor.
Foi o primeiro a afirmar os átomos como
princípio de todas as coisas. (...) o universo é ilimitado, com uma
parte cheia e outra vazia, que chama de elementos. Os mundos que criam são
ilimitados e se desfazem nesses elementos. Os mundos se formam da seguinte
maneira: muitos átomos de formas variadas reúnem-se no imenso vazio após a
separação do ilimitado; uma vez unidos, formam um único turbilhão, e,
ferindo-se e rolando em todos os sentidos, separam-se, unindo-se os semelhantes
com os semelhantes. (...) (Diog. Laet. IX, 30 ss.)” (BORNHEIM, 2000,
p. 104).
Além
do mais, sendo tudo feito de átomos e vazio, para além da imensidão dos espaços
vazios outros mundos são possíveis, por conta do turbilhão que espalhou átomos
por todos os lados (fragmentos filosóficos 167 e 168 de Demócrito), na origem
do universo, os quais foram se agregando e tomando formas – a prova disto é que
o cosmos é ordem. Havendo outros mundos é preciso que haja sóis que os
iluminem. Que sóis? As estrelas. O que elas têm em comum com o Sol? São astros,
mas muito distantes. Têm luz. Devem ser tão grandes quanto o Sol, ainda que
distantes. Se há outros seres inteligentes nesses mundos, os fragmentos
existentes de Leucipo e Demócrito não permitem diretamente inferir.
Impressionante
ver que Leucipo e Demócrito enxergaram, junto com os átomos, o vazio (por
exemplo, nos fragmentos doxográficos 1, 2)! A física atual (séculos XX e XXI) já
sabe que os átomos são divisíveis, sendo compostos de partículas ainda menores
e que há entre os elétrons e o núcleo um vazio imenso! Imensas partes do
universo, sabe-se hoje, são vazias. Curiosamente, os planetas, luas e outros
astros, formados em bilhões de galáxias, são frutos de choques aleatórios, mas
seguindo um padrão definido pelas leis da natureza, dentre elas, como Newton
descobriu e Einstein revisou, a da gravidade. As subpartículas, na origem do
Big Bang, se chocavam no vazio, foram-se agregando, formando átomos de Hidrogênio
e Hélio, dando origem a estrelas, galáxias, nebulosas e mundos menores ao redor
de estrelas. As nebulosas são verdadeiros turbilhões de matérias, mães de
estrelas, de planetas e outros astros. Assim aconteceu com o sistema solar. É
claro, vale lembrar que o mundo de Leucipo e Demócrito era geocêntrico, mas de
uma grandeza maior do que se pensava então, constituído de “ilimitados mundos”
(fragmento doxográfico 1 de Leucipo, e fragmento doxográfico 1 de Demócrito).
Perecíveis (fragmento doxográfico 1 de Demócrito)! O universo do Big Bang, como
se sabe hoje, é igualmente perecível, com átomos e subpartículas, matéria
(grande parte) e anti-matéria. Ou como diz Einstein: energia e matéria (E =
m.c2[ao quadrado]).
Onde
Demócrito e Pitágoras, com visões diferentes, viam formas a comandar a
estruturação do cosmos e da natureza, impedindo-o de ser permanente caos, hoje
a ciência vê leis naturais, tanto as fundamentais, como a gravidade, quanto
outras leis.
Leucipo
e Demócrito nem sequer chegaram a imaginar um Big Bang, mas a ideia do turbilhão,
em que o vazio e o cheio interagem, é muito interessante. Não foram visionários
do futuro, apenas homens curiosos, desejosos de saber para além do que até então
era ensinado pelos mitos e pelas religiões. Usando a visão, outros sentidos, a
imaginação e a razão (o logos, no grego),
foram capazes de irem além, de enxergar imaginariamente ÁTOMOS em todos os
seres e em ilimitados mundos, em meio ao vazio. Os átomos existem de fato,
ainda que, sabe-se hoje, divisíveis por fissão nuclear. Um universo em que as
formas encontram-se presentes claramente. Como sugestão, veja-se um desenho
simples, Donald no País da Matemágica,
que menciona Pitágoras, Galileu Galilei e as formas matemáticas, presentes
desde as espirais de galáxias até nas simples flores, bem como no restante do
mundo natural. Além do desenho, quem se interessar, em inglês há The Great Math Mystery NOVA, além de muitos
livros de filosofia, astronomia, astrofísica, etc., incluindo livros didáticos
escolares.
Demócrito
influenciou profundamente um filósofo helenístico posterior, Epicuro de Samos, citado
no fragmento doxográfico 3 de Demócrito (BORNHEIM, op. cit., p.124), que
aprendeu com seguidores do atomismo de Leucipo e Demócrito. Dante, na Divina
Comédia, no mundo medieval, cita Demócrito entre outros pensadores de outros
tempos. Veja-se:
“Honrarias todos vão lhe oferecer;
Sócrates vejo entre eles e Platão,
mais próximos que os outros, a o entreter.
Demócrito que o acaso faz razão
do mundo, e Annaxágoras e Tales,
Empédocles, Heráclito e Zenão;
Dioscórides que às plantas deu avales,
e Túlio, Lino, Diógenes e Orfeu;
Sêneca, que indagou do mundo os males;
o geômetra Euclides, Ptolomeu,
Hipócrates, Avicena e Galeno,
e Averróis que o Comentário nos deu.”
(Trecho
da primeira parte de A Divina Comédia,
intitulada Inferno, Canto IV, versos 133 a 144. Ver citação completa no
Referencial Bibliográfico.)
Outro
pensador fundamental dentre os pré-socráticos, que também acreditava em partículas
minúsculas, as HOMEOMERIAS, foi Anaxágoras de Clazômenas. Mas este fica para
outro texto.
REFERENCIAL
BÁSICO:
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. (La Divina Commedia)
Trad. Ítalo Eugenio Mauro. Rio de Janeiro, Editora 34 Ltda., 2009. (FNDE – MEC,
PNBE, ano 2011)
BORNHEIM, Gerd (organizador). Os Filósofos Pré-Socráticos. pdf. São
Paulo, Cultrix, 1998 – 2000. Disponível em: < https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxpZnJqZmlsb3NvZmlhfGd4OjU0MzgwMzA2MDY0NWQ4ZDk > Acesso em
22 de fevereiro de 2020.
EPICURO. Pensamentos. Trad. Johannes Mewaldt e outros. São Paulo, Martin
Claret, 2006.
HESÍODO. Teogonia – A Origem dos Deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo,
Iluminuras, s/ data. (Biblioteca Pólen, s/ número.) Disponível em: < https://www.assisprofessor.com.br/documentos/livros/hesiodo_teogonia.pdf > Acesso em
22 de fevereiro de 2020.
SUGESTÃO DE
VÍDEOS:
COSMOS, Episódio 7: A Espinha
Dorsal da Noite. De Carl Sagan. Disponível no Youtube. Trata os filósofos
pré-socráticos gregos. (Em português e em inglês.)
DONALD NO PAÍS DA MATEMÁGICA –
Disponível no Youtube. Trata da matemática presente na natureza, como Pitágoras
a via, nos jogos, nas máquinas, em tudo no universo. Aí as formas geométricas!
(Em português, inglês e até em espanhol.)
BBC/NOVA. THE GREAT MATH MYSTERY. Disponível no Youtube em: < https://www.youtube.com/watch?v=mpcpzXuzdQk
> Acesso em 25 de fevereiro de 2020. Similarmente ao desenho de Donald,
trata da matemática presente em tudo. (Em inglês.)