Repente
é um tipo de música improvisada popular, muito presente no Nordeste do Brasil.
Ela combina versos e rimas em torno de uma temática dada ou proposta (ex.:
futebol, sogra, mulher, homem, o mundo e muitas outras temáticas). O repente,
muitas das vezes, é cantado por um ou dois cantores (ou mais), chamados
repentistas. Por conta de suas rimas, de sua sonoridade e de sua rica
expressividade, além do caráter popular, o repente pode, com certeza, tornar-se
um rico recurso de ensino-aprendizagem de Filosofia! Um exemplo possível, que
pode ser melhorado:
REPENTE DO
FILÓSOFO FRANCÊS: (Prof. José Antônio Brazão.)
(Refrão)
As
ideias filosóficas
Vale
a pena estudar
A
filosofia de Descartes
Pra
você eu vou contar.
(Estrofe 1)
Descartes foi um filósofo francês
Entender o conhecimento
Da cabeça e da vida alimento
Foi uma das coisas que ele fez.
(Refrão.)
(Estrofe 2.)
Também foi matemático
Descobriu as coordenadas
Que no estudo algébrico e
geométrico
Cartesianas são chamadas.
(Refrão.)
(Estrofe 3)
Ele escreveu as meditações
Dos fundamentos do conhecimento
São verdadeiras reflexões
Para deste encontrar o primeiro
fundamento.
(Refrão.)
(Estrofe 4)
Para melhor o conhecimento
entender
Uma viagem pelo pensamento
Ele resolveu empreender
Pondo em dúvida todo intento.
(Refrão.)
(Estrofe 5)
Hiperbólica chama-se a dúvida
Com o rigor da matemática
Igualmente tida por metódica
Como um caminho em sua ida.
(Refrão.)
(Estrofe 6)
Duvidando dos sentidos
Por quanto são enganosos
Desde o início firmemente
O caminho foi seguido.
(Refrão.)
(Estrofe 7)
Imaginou um espírito enganador
Que a matemática lhe ensinou
A esta resolveu pôr em dúvida
Para não cair nas manhas do
ludibriador.
(Refrão.)
(Estrofe 8)
Radicalizou tanto a dúvida
Que, após duvidar até de Deus,
Até ao fundo do poço chegou
E algo, enfim, ali encontrou.
(Refrão.)
(Estrofe 9)
Existir uma primeira certeza ele
concluiu
Tendo descoberto o cogito
Eu penso, eu existo
Foi o que Descartes descobriu.
(Refrão.)
(Estrofe 10.)
Na mente a existência de uma
ideia inata
Descartes percebeu
De Deus era essa ideia
Que com ele nasceu.
(Refrão.)
(Estrofe 11)
Deus é criador do mundo
E do mundo a existência
A certeza felizmente pôde ter
E portanto é certo de cada
sentido o perceber.
(Refrão.)
(Estrofe 12)
Da matemática também tomou acerto
Pois o Divino Deus
Não permitiria um dos filhos seus
Ser enganado por um espírito
astuto.
(Refrão.)
(Estrofe 13)
Nesse caminho de volta
Descartes pôde finalmente
confirmar
Que a razão humana por ser a base
Com os conhecimentos as pessoas
podem muito realizar.
(Refrão.)
(Estrofe 14)
Hoje as coordenadas cartesianas
Permitem gráficos e cálculos
elaborar
E o pensamento, cogitando,
Grandes ideias formular.
(Refrão.)
(Observação: Esta proposta de repente de Filosofia pode ser melhorada, corrigida,
reelaborada, musicalizada. Outros repentes podem ser criados por docentes e
estudantes. O texto é também poesia muito simples. Tem finalidade educativa.)
A
música popular (aqui, especificamente, o repente) pode ser um rico veículo de
aprendizado de Filosofia e de outros componentes curriculares na escola. E é
boa como meio de memorização e de mais tranquila compreensão dos conteúdos nela
expressos.
Esta
atividade pode ser feita em parceria da Filosofia com a Língua Portuguesa. Trabalhando
interdisciplinarmente, tanto um componente curricular quanto o outro poderão se
ajudar imensamente, aprimorando, corrigindo e combinando ideias para um
aprendizado mais efetivo e eficaz de ambos componentes, além de outros possíveis
que também poderão fazer parte de tal trabalho, como a História e a Geografia.
Outros tipos
de músicas poderão ser trabalhados, de diferentes regiões do Brasil, entrando
também no campo da Arte, outro componente curricular valiosíssimo nos ensino médio
e fundamental, tendo em vista que a música é uma arte por excelência. O
aprendizado de Filosofia pode tornar-se muito mais interessante com esses diálogos
interdisciplinares. As e os estudantes poderão perceber ainda mais que existe
uma conexão profunda entre as diferentes áreas de conhecimento.
No que tange
à Língua Portuguesa, a escrita poética das palavras contidas no repente e em
outros tipos de músicas, sua versificação rigorosa ou livre, suas rimas ricas
e\ou pobres, sua sintaxe e tantos outros elementos do estudo da língua poderão
ser explorados. E, ao mesmo tempo em que lê, elabora, analisa e ouve as músicas,
como o repente, cada estudante passa a ter mais condições de aprender mais
clara e criativamente a Filosofia! Um repente que trate da filosofia moderna e
de suas características pode falar do neoplatonismo renascentista, com as
traduções de Platão e de outros filósofos neoplatônicos, no chamado classicismo
(busca renascentista de inspiração nos modelos antigos, greco-romanos). Poemas
de amor de Camões e Shakespeare, por exemplo, relatam bem esse neoplatonismo.
No que diz
respeito à História, o repente e outras músicas criadas poderão conter pontos
de contextualização, que permitam, no modo poético de exposição musical,
perceber que cada pensador(a), filósofo e\ou filósofa, situa-se num dado
momento do tempo histórico das sociedades humanas e da filosofia. O mesmo com a
Geografia, etc.
Com o
trabalho interdisciplinar todo mundo tem muito a ganhar, como se pode perceber.
Professor(a) de Filosofia, proponha essa ideia. E crie!
Um comentário:
Sou professor de História e filosifia e sou sou fã do seu
Método de ensinar.
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