*Os Lusíadas
contêm também um trecho muito interessante, poético, de Camões a respeito do
UNIVERSO GEOCÊNTRICO. Vale lembrar que o modelo geocêntrico persistiu até os
séculos XVI (Copérnico teve que defrontar-se com ele) e XVII (chegou a vez de
Galileu Galilei defrontar-se com o modelo geocêntrico e defender o heliocentrismo
de Copérnico).
*Ainda de Camões, os Sonetos são carregados de uma
PERSPECTIVA PLATÔNICA e NEOPLATÔNICA de ver o amor. Pode ser um texto
interessante de ser trabalhado ao estudar Platão e o neoplatonismo. Bons livros
didáticos de Língua Portuguesa trazem comentários sobre o neoplatonismo
renascentista. Camões insere-se no Renascimento Artístico-Cultural moderno e na
preocupação deste com os modelos clássicos (classicismo).
*Apontamentos à NOVA ORTOGRAFIA (2009 em diante) podem
ser feitos nas anotações de informações filosóficas no quadro e em textos, bem
como na fala do(a) professor(a) de Filosofia.
*Levantamentos podem ser feitos, durante as aulas, no
diálogo com os e as estudantes, aqui e ali, de palavras filosóficas cujas
raízes encontram-se em prefixos, sufixos e raízes das línguas grega e latina
(ou outras) referidas em gramáticas.
*Na busca do sentido das palavras e ideias, mensagens,
em um texto filosófico-literário e\ou literário, a Filosofia pode ajudar no
aprendizado de interpretação textual, também presente em estudos de Língua
Portuguesa. Dicionários de Língua Portuguesa, de Filosofia e até mesmo
gramáticas podem ajudar. Assim, continua o diálogo entre as duas matérias
escolares.
*Um outro trabalho interessante para FILOSOFIA e
LÍNGUA PORTUGUESA pode ser a extração de informações de um texto filosófico
e\ou de língua portuguesa que tenham pertinência filosófica e\ou linguística.
*Apontar elementos gramaticais e literários que possam
ser encontrados em textos filosóficos, permitindo aos e às estudantes uma
melhor compreensão dos elementos filosóficos e linguístico-literários ali
presentes.
*Levantar elementos filosóficos que possam estar
patentes (claros, explícitos) e ou subjacentes (escondidos) em ideias expostas
em poesia e prosa por escritores brasileiros e\ou de língua portuguesa em
geral. Por exemplo: o poema EU, ETIQUETA, de Carlos Drumond de Andrade permite
ilustrar a discussão marxiana (de Marx) a respeito da alienação e da
reificação; trechos de VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos, podem ilustrar e
enriquecer o entendimento das ideias de Marx e Engels, além de outros
pensadores posteriores, a respeito do trabalho. Graciliano Ramos, na cadeia,
por causa de ditadura, escreveu o livro MEMÓRIAS DO CÁRCERE. Curiosamente,
Antonio Gramsci, um marxista italiano preso na ditadura de Mussolini, escreveu
os CADERNOS DO CÁRCERE. Ainda que as perspectivas destes dois divirjam em
na forma de escrever, sem dúvida, uma comparação pode ser feita,
buscando-se pontos em comum (ex.: rigor, densidade).
*Duas palavras, MAL e MAU, BEM e BOM, às vezes, podem
gerar confusão na cabeça dos e das estudantes. Ao falar o MAL em Santo
Agostinho (Aurélio Agostinho) e do BEM em Platão, um breve comentário do(a)
professor(a) de Filosofia pode ajudar a reforçar o conteúdo aprendido em Língua
Portuguesa e vice-versa, com o(a) professor(a) desta matéria escolar
exemplificando a diferença daquelas palavras, na escrita, fazendo pequenas
referências àqueles filósofos e\ou outros que tratam da questão do bem e do
mal. O bom e o mau aparecem em discussões estéticas, quando se estuda o gosto (p.
ex.: na expressão: bom ou mau gosto).
*O cuidado com a correção linguística, durante as aulas
e nos debates de Filosofia, em sala de aula, buscando aproximar-se da linguagem
padrão, pode contribuir para um bom aprendizado de Língua Portuguesa,
ligando-a, é claro, à linguagem filosófica e às ideias filosóficas em estudo.
Reforço mútuo!
*Em textos escritos pelos(as) estudantes, na área de
Filosofia (questionários, respostas dissertativas de provas, redações, artigos,
etc.), observar incorreções de língua portuguesa e aponta-los para que
aqueles(as) possam corrigir, pode ajudar no melhor aprendizado desta e daquela.
*Poemas de escritores(as) brasileiros(as) e outros(as),
contendo temas correlatos de Filosofia, podem também ser muito úteis. Há livros
didáticos de Filosofia que, inclusive, citam alguns. Temas como a existência, a
transitoriedade da vida e do mundo, dentre outros, costumam aparecer tanto em
escritores quanto em filósofos (os filósofos existencialistas que o digam!). É
claro, o enfoque pode ser diferente entre uns e outros, mas há, sem dúvida,
algo em comum.
*Ao analisar textos de filósofos e em redações
filosóficas dos(as) estudantes podem ser trabalhados elementos estruturais,
como a sequência de introdução, desenvolvimento e conclusão, não precisando
estarem obrigatoriamente na mesma sequência, e estilísticos (ex.: figuras de linguagem)
podem ser levados em conta pelo(a) professor de Filosofia no trabalho
interdisciplinar com a Língua Portuguesa e em diálogo com ela.
*Com a História pode-se contextualizar textos
literários de língua portuguesa em seu tempo, podendo-se também encontrar aí
elementos histórico-filosóficos (que podem fazer referência, direta ou
indireta, à história da Filosofia). Exemplos: O neoplatonismo em poemas de amor
(com destaque para os Sonetos) de Camões e textos de outros escritores do mundo
moderno, como Shakespeare e Cervantes, os quais viveram bem na época do
Renascimento Artístico-Cultural moderno. Assim, junto com o Português e a
Filosofia, une-se a História.
*Temas atuais da língua e da literatura brasileira e
portuguesa em geral, com certeza, aparecem na Filosofia também, ainda que o
modo de encará-los diferencie-se entre escritores e filósofos.
O diálogo interdisciplinar entre
FILOSOFIA e LÍNGUA PORTUGUESA, juntamente com outras matérias escolares afins (especialmente
as da área de ciências humanas) pode ser muito valioso para o aprendizado dos e
das estudantes, permitindo-lhes uma percepção mais ampla dos conteúdos
aprendidos e reforçando-os. Conteúdos das áreas de ciências também podem ser
discutidos com aquelas matérias: Camões, o neoplatonismo renascentista e os
primórdios da ciência moderna conviveram ao mesmo tempo, entre os séculos XV e
XVI. Acima foi comentado acerca do geocentrismo. Além de aparecer em Os
Lusíadas, é contestado pelo cientista (astrônomo e matemático) Copérnico. A
percepção de mundo, provocada pelas ciências, a partir do século XX, também influenciou a filosofia e as
literaturas (dentre elas a de língua portuguesa) em todo o mundo. Vale a pena conferir e integrar nos estudos filosóficos!
Professor(a), é preciso estar
atento(a) para os conteúdos ensinados em Filosofia, em Língua Portuguesa e em
outras áreas de aprendizado, aproveitando oportunidades ricas de aprendizado
dos e das estudantes. O diálogo só pode trazer bem para todos(as), mostrando
que as matérias escolares não são setores estanques, separados, mas que
interagem entre si. Com tal diálogo todos têm a ganhar!
Muitas vezes, pergunta-se para que
serve a filosofia. Servir para nada é algo positivo, pois, como brinquei outro
dia com um estudante, do nada surgiu (ou foi criado) o universo. Perceber que
ela influenciou e influencia, direta e\ou indiretamente escritores, escultores,
artistas e até mesmo cientistas (Pitágoras era filósofo e matemático, tendo
demonstrado um teorema que leva seu nome; Leibniz foi matemático e filósofo;
Pascal, filósofo e matemático, inventou uma máquina de calcular, Leibniz também
inventou uma; Einstein fez referência à compreensão de Espinosa acerca do
universo, comparando-a à sua visão), e vice-versa, pode ajudar a ver que do
nada filosófico pode nascer algo muito rico.
Numa sociedade em que há globalização e a lida constante com o trabalho, o corre-corre do dia a dia e a preocupação com o fato de que os seres e as ideias devem ter uma serventia prática, o nada da filosofia incomoda, mas abre espaço para o diálogo com outras áreas de conhecimento, tanto na escola quanto fora dela. E num universo curvo, em que até a luz faz dobra, no vergar da luz dos conhecimentos é possível o diálogo entre saberes.
Numa sociedade em que há globalização e a lida constante com o trabalho, o corre-corre do dia a dia e a preocupação com o fato de que os seres e as ideias devem ter uma serventia prática, o nada da filosofia incomoda, mas abre espaço para o diálogo com outras áreas de conhecimento, tanto na escola quanto fora dela. E num universo curvo, em que até a luz faz dobra, no vergar da luz dos conhecimentos é possível o diálogo entre saberes.
Este texto nasceu de um debate na escola em que trabalho, hoje de manhã, acerca de como outros conteúdos escolares
podem ajudar no reforço do aprendizado de Língua Portuguesa. Sem dúvida, no reforço do aprendizado desta, um incremento no aprendizado de Filosofia!
Professor(a) de Filosofia, encontre, descubra, outros modos de dialogar com a Língua Portuguesa, além de outros conteúdos (matérias) escolares. Seus alunos e alunas só terão a ganhar. Bom proveito!