terça-feira, 27 de agosto de 2013

DINÂMICA DA FILOSOFIA POR PERGUNTAS E RESPOSTAS (Prof. José Antônio Brazão.)


Uma atividade interessante, que pode ser trabalhada em sala de aula, é uma dinâmica de perguntas e respostas. O professor, a professora, pode elaborar diversas perguntas sobre um tema em estudo ou a ser estudado, com a finalidade de introduzi-lo, desenvolvê-lo, concluí-lo ou aprofundá-lo. Pode ser referente ao estudo de um filósofo específico ou de um tema determinado em estudo.

As perguntas podem ir de questões simples a cada vez mais complexas. Podem referir-se ao dia a dia dos e das estudantes, ligando-o ao conteúdo estudado, e/ou ir diretamente ao estudo do filósofo, a partir de um texto definido.

As perguntas podem ser escritas no quadro da sala de aula, fornecidas através de folha digitada e copiada para cada um(a) ou, simplesmente, de forma direta. Em todo caso, pode ser interessante o professor, a professora, ter em mãos as perguntas, podendo elaborar outras que, porventura, apareçam no momento do diálogo com as turmas. Isto, de fato acontece.

Sócrates (séc. V/IV a.C.), por exemplo, utilizava-se, em seus diálogos com os jovens e outros(as) interlocutores(as), de perguntas diretas ou sutis, a fim de embaraçar quem com ele discutia (ironia), levando-o(a) a enxergar sua ignorância. A seguir, novas perguntas, a fim de leva-lo à construção de suas próprias ideias, de uma reflexão, fazendo nascer, de dentro dele(a) algo novo (maiêutica). Ao voltar-se para Sócrates e as questões por ele colocadas, Platão e Xenofonte, discípulos que deixaram informações sobre o mestre, principalmente o primeiro, queriam levar o(a) leitor(a) a também participar dos diálogos, refletindo sobre as questões postas. Platão, como Sócrates, foi, sem dúvida, um grande mestre de filosofia e um grande escritor.

No mundo medieval houve debates aquecidos de filosofia, nas escolas e nas universidades. Houve, inclusive, debates anuais, em determinadas épocas de cada ano, dos quais professores e estudantes participavam, em torno de questões acaloradas postas pelas ideias novas que apareciam e pelos questionamentos que incitavam.

No século XX, Jostein Gaarder, um filósofo e professor norueguês, também fez uso de perguntas e as colocou, em seu best seller O Mundo de Sofia, nas cartas ou nos lábios de um professor-personagem de Filosofia, direcionando-as à personagem principal, Sofia. Esta, uma adolescente que dali a algum tempo faria seus quinze anos. Com isto, a personagem Sofia, bem como cada leitor e leitora, era convidada a refletir sobre o conteúdo das questões, preparando-se, consequentemente, para o que viria: as aulas escritas e, em alguns momentos, depois de um bom tempo e de muita curiosidade, ao vivo.

Uma vantagem de colocar perguntas e buscar respostas, inicialmente livres e simples, dos e das estudantes é perceber o que pensam sobre determinados temas ou questões, principalmente questões atuais, mas que podem servir para introduzir estudos desses temas em filósofos mais antigos, relativamente próximos ou bem próximos do tempo atual.

Outra vantagem é que as respostas auxiliam no próprio entendimento do conteúdo, tornando sua explicação mais compreensível e reflexiva, despertando o interesse pelo seu estudo e ainda pela filosofia.

Uma outra vantagem é o esclarecimento maior de termos, cujos significados, usados no dia a dia, podem perder sua profundidade original e até mesmo sua amplitude. Para tanto, depois de postos os significados apresentados pelos e pelas estudantes, pode ajudar o uso de bons dicionários de língua portuguesa e de filosofia.

Anotar, no quadro da sala de aula, tanto as perguntas quanto as respostas durante o debate, oferece uma visualização e  contribui, com certeza, para uma melhor memorização e um maior esclarecimento do conteúdo de cada pergunta e resposta. Enfim, o debate, por meio de perguntas e respostas, amplia o entendimento das ideias filosóficas em estudo, seja de um(a) filósofo(a), de uma corrente filosófica, de um livro ou de um texto básico escrito por aquele(a).

Um exemplo simples, que pode ser utilizado e aprimorado em sala de aula:

QUESTÕES INTRODUTÓRIAS AO ESTUDO DE HEGEL

Anotar no quadro, solicitar anotação no caderno (para arquivo e revisão em casa), debater/anotar respostas no quadro.

GEORG WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770 – 1831): Filósofo alemão.

1)     Que é história?
2)     Que importância tem o conhecimento da história?
3)     O que é espírito? Que significados tem ou pode ter essa palavra espírito?

4)     O que você entende pela expressão “espírito do tempo”?

5)     Na sua opinião, o espírito está na história? Comente.

6)     O espírito é capaz de fazer história? O que você acha?

7)     Enfim, a história é humana ou espiritual?

8)     Como acontece a história? Comente.

9)     Você se acha parte da história? Por quê?

10) A história é contraditória? Dê sua opinião. Dê também exemplos.

11) O que é contradição? Dê exemplos.

12) Contradições podem ser superadas? Comente.

13) Quando as contradições na família são superadas, algo novo aparece? Opine e dê exemplos.

14) Há contradições da história que foram superadas? Que avanços trouxeram? Dê um exemplo e comente.

15) O espírito, na história, pode contradizer-se e superar-se? Opine.

16) O espírito humano evoluiu (e evolui) com o tempo? O que você acha? Dê algum exemplo.

17) O que é diálogo?

18) Num diálogo podem haver contradições? Comente e dê exemplos.

19) Dialética, o que é? Que significados pode ter essa palavra?

20) O que significam subjetivo, objetivo e absoluto? Dê sua opinião.

21) O que é ideia?

22) E o que é idealismo?

23) Você se lembra de algum filósofo que valoriza muito as ideias? Fale um pouco sobre ele.

24) O que é real?

25) O que é racional?

26) O real pode ser racional? Que você acha? Por quê?

27) E o racional, pode ser real? Que você acha? Por quê?

As perguntas acima são muitas. Questões podem ser reduzidas ou trabalhadas, se forem numa quantidade maior, em partes, em diferentes aulas. Estas são apenas simples exemplos do que se pode propor em sala de aula.
Professor, professora, crie perguntas e faça bom uso delas em sala. Proponha também temas quentes da atualidade, que possam ter ligação com a filosofia. Você terá muito a ganhar, variando, de algum modo, o estilo de suas aulas. Aliás, os e as estudantes terão muito mais ainda a ganhar, ao aprender filosofia e, sobretudo, a filosofar!
Mais algumas perguntas, junto com respostas possíveis:

FILOSOFIA PERGUNTAS E RESPOSTAS: (Professor José Antônio Brazão.)

1)O QUE FILOSOFIA?

A filosofia não é uma ciência, no sentido de ciência experimental-matemática, como se compreende este termo hoje. Ela é, sem dúvida, uma ciência enquanto um saber que busca a compreensão da realidade, seja esta a do mundo natural (os primeiros filósofos gregos, chamados pré-socráticos tiveram essa preocupação), seja a do mundo humano, pondo em discussão e problematização questões que a ambos envolvem, conforme a linha ou área de pensamento da filosofia.

2)E EM QUE ÁREAS ESTÁ DIVIDIDA A FILOSOFIA?

A epistemologia, por exemplo, ocupa-se do estudo do conhecimento e da ciência. A antropologia filosófica, das questões humanas refletidas sob um ângulo filosófico. A metafísica estuda o ser. A lógica, a construção dos raciocínios, sua estruturação, seu caráter de verdade ou falsidade, entre outros aspectos da construção correta do pensamento e sua exposição. Há também a teoria do conhecimento, que trata da compreensão e dos fundamentos do conhecimento humano, suas origens, entre outros elementos a ele ligados. Entre outras.

3)MAS COMO SURGIU A FILOSOFIA?

A filosofia surgiu entre os séculos VII e VI|V antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (atual Turquia) e da Magna Grécia (Sul da Itália). Surgiu dos questionamentos de homens que viveram nesse tempo e que buscavam entender o cosmos (o universo ordenado) partindo de princípios que o teriam originado e que nele estariam presentes. Dentre esses princípios (princípio é tradução de arqué ou arché, em grego) estão a água (Tales de Mileto), o ar (Anaxímenes de Mileto), o fogo (Heráclito de Éfeso), as homeomerias (partículas minúsculas, iguais aos corpos que formam – ideia do filósofo Anaxágoras de Clazômena), até mesmo átomos (Leucipo e Demócrito)! Empédocles de Agrigento acreditava que todas as coisas seriam compostas por quatro elementos básicos: a água, o ar, o fogo e a terra. Pitágoras, outro dos filósofos pré-socráticos, acreditava que tudo é composto e correspondente a números. Houve outros filósofos pré-socráticos, além destes. Estes, aqui citados, são alguns dos principais.

4)E ANTES DA FILOSOFIA, COMO AS PESSOAS EXPLICAVAM O MUNDO, O COSMOS?

Antes dos primeiros filósofos gregos e por muito tempo depois deles, a imensa maioria das pessoas e dos povos do mundo explicavam tudo pelos mitos, relatos ou histórias de cunho sagrado, que tratam das origens do mundo, do trabalho, dos males, dos seres humanos (homens e mulheres), além de outras realidades existentes e diferentes aspectos da vida das pessoas, tudo sob a ação de seres divinos, incluindo semideuses e semideusas. Além dos mitos, também rituais, templos e estátuas foram, no transcurso do tempo, sendo criados, como meios de ligação (religião) entre seres humanos e divindades.

5)O QUE PODE TER LEVADO A OU CONTRIBUÍDO PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA?

Alguns elementos são fundamentais para a compreensão do nascimento da filosofia enquanto saber racional diferente do mito. A seguir vão alguns.

*O nascimento e o crescimento das cidades, na Grécia antiga e em suas colônias, possibilitando o contato com pessoas e ideias as mais diversas. Dentre essas cidades, por exemplo, podem ser citadas: na Grécia continental – Atenas, Esparta, Delos, Delfos e outras; nas colônias gregas – Mileto, Éfeso, Clazômena, Abdera, Agrigento e outras.

*O desenvolvimento de uma escrita mais simples, com menos caracteres, pelos fenícios e outros povos que se aproveitaram do alfabeto fenício, dentre os quais o povo grego. A transmissão de ideias por escrito permite uma maior amplitude em sua divulgação e também maiores debates. Muitos foram os livros escritos da filosofia grega, seja por grandes filósofos, seja por seus discípulos.

*A escravidão. O uso de escravos nos trabalhos permitiu que muitos cidadãos gregos tivessem tempo para dedicar-se a atividades culturais e intelectuais.

*O comércio, que trouxe consigo, além de riquezas e bens, uma série de ideias e informações de culturas de diferentes povos do mundo antigo que aportavam em portos das colônias gregas e também de cidades litorâneas da Grécia continental. Comerciantes trocavam, seguramente, ideias culturais entre si, além de uma série de informações e conhecimentos daquele tempo. Junto com o comércio, o uso da moeda, símbolo de valor abstrato e fundamental para as trocas comerciais, até hoje existente.

*O desenvolvimento das técnicas de construção de edifícios, de instrumentos mais precisos de medidas, de descobertas matemáticas (o teorema de Pitágoras, apesar de muito antigo, foi provado por este e tem fundamental importância em construções e projetos de construção; o teorema de Tales, etc.), de ferramentas de medida e de uso nas edificações, no comércio, etc. Tal desenvolvimento, por exemplo, mostra o quanto a racionalidade foi, cada vez mais, posta em ação, na busca de resolução de problemas, na abstração e na descoberta. Carl Sagan, no episódio 7 (sete) da série Cosmos, chega a mencionar a convivência de filósofos com um tempo em que técnicas postas em ação por arquitetos, construtores e fabricantes de ferramentas estavam sendo desenvolvidas. (Eis um vídeo que merece ser visto, podendo ser encontrado no Youtube.)

6)POR QUE AQUELES FILÓSOFOS SÃO CHAMADOS PRÉ-SOCRÁTICOS?

O nome não é muito preciso, mas advém da concordância, na história da filosofia, do fato de que eles antecederam um filósofo que foi um marco na filosofia: Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C. e que morreu bem no início do IV (em 399 a.C.). Ele é considerado um marco, por conta de ter-se voltado para a discussão de uma série de questões, principalmente humanas, envolvendo a ética, a política, as leis, entre outras, bem mencionadas por Platão em seus livros. E a filosofia é também isto: a discussão, a problematização, o questionamento e até mesmo a colocação em dúvida de verdades aparentemente indiscutíveis e de uma busca da sabedoria.

7)ENFIM, DE ONDE VEM ESSA PALAVRA, FILOSOFIA?

Filosofia vem do grego e significa, literalmente, amizade com a sabedoria ou amor à sabedoria (philo, grego = amigo; philia, gr. = amizade; sophia, gr. = sabedoria).

8)PARA APRENDER MAIS FILOSOFIA, ONDE BUSCAR?

Há um livro, de um professor, filósofo e escritor europeu, chamado Jostein Gaarder, intitulado O Mundo de Sofia, com uma linguagem fácil de ser entendida, que pode dar uma boa ideia da história da filosofia. Além dele, podem ser encontradas, nas livrarias, no setor Filosofia, um mundo de livros, inclusive escritos por filósofos de todos os tempos, relacionados a essa área de conhecimento.

A Wikipédia, uma enciclopédia livre, traz uma lista extensa de filósofos e filósofas. Através dos sites de busca (Google, Yahoo, UOL, MSN, entre outros), podem ser encontrados livros escritos por filósofos e filósofas (escreva, por exemplo: livros de filósofos).

No site DOMÍNIO PÚBLICO (que pode ser acessado por meio dos sites de busca) há livros sobre filosofia e outros escritos por filósofos. Material gratuito, disponível à população.