quarta-feira, 10 de abril de 2013

ENTREVISTA SOBRE TEMA FILOSÓFICO OU INTERDISCIPLINAR (Prof. José Antônio Brazão.)

Uma atividade que pode ser muito valiosa para o aprendizado de filosofia é a entrevista. Entrevista é um diálogo, com perguntas direcionadas, muitas vezes previamente preparadas (ainda que haja várias espontâneas, nascidas no calor da própria entrevista), estabelecido entre pessoas em torno de um tema determinado, de alguma questão ou de um tema. Este pode ser um tema polêmico ou não. O tipo mais conhecido de entrevistas é o de repórteres de rádio, televisão, jornais ou revistas com celebridades. No entanto, a entrevista pode ser simples e útil no ensino-aprendizagem de filosofia e até mesmo de outros conteúdos escolares.
As perguntas da entrevista podem ser brotadas espontaneamente e anotadas ou gravadas pelos estudantes. As respostas, junto com as perguntas feitas, também. A vantagem de anotar previamente as questões é que estas podem dar uma direção à entrevista, evitando, assim, o risco de desvio do tema ou conteúdo proposto. Mas também são bem vindas questões espontâneas surgidas na hora da entrevista. Há, de fato, questões que vêm à mente nessa hora e acrescentam informações ao conteúdo da entrevista.
As entrevistas podem ser um meio muito interessante e uma boa oportunidade para que os estudantes também trabalhem com as mídias disponíveis na escola (ex.: laboratório de informática escolar, com computadores, sejam eles novos ou bem usados, não importa, câmeras, notebooks, etc.) e também aquelas que possuem (ex.: celulares que contêm gravadores e câmeras de gravação de vídeo, câmeras portáteis de vídeo, câmeras fotográficas que possuem sistema de gravação de vídeo e áudio, dentre outras tecnologias). A entrevista pode ser editada, de preferência, na escola ou, caso não seja possível, em casa. O trabalho em grupo pode ajudar muito.
Na edição da entrevista, na escola, podem ser usados softwares de edição de vídeo e áudio, nos quais podem ser juntadas entrevistas de vários grupos.
E por falar em grupos, numa turma de 20 a 40 alunos, por exemplo, podem ser formadas equipes de quatro ou cinco. Algumas vantagens dos grupos: colegas que têm facilidade de falar, outros de lidar com computadores e mídias, outros que possuem mídias diferentes dos demais colegas, outros que sabem escrever, digitar bem. O grupo oferece ainda outras vantagens: a segurança e a troca de ideias, a divisão entre o que cada um pode ajudar a fazer e é capaz de fazer para ajudar a todos, desenvolve a capacidade de trabalhar em equipe (no mundo atual, até mesmo a nível de trabalho, há muitas empresas que demandam o trabalho em equipe), o desenvolvimento da capacidade de diálogo, a crítica positiva, correções, dentre outras.
Cabe ao professor e à professora levantar a temática da entrevista, dentro do tema em estudo (ex.: filosofia antiga, filósofos da Escola de Frankfurt, vida, morte, sexualidade, corrupção [tema relacionado à ética], mitos no mundo de hoje, fé e crenças, etc.), além de propor algumas questões aos grupos, deixando, é claro, que eles também proponham as deles. Cabe ainda orientar os estudantes a respeito do que devem e podem fazer, como fazer, com quem fazer a entrevista, os cuidados que devem ter, inclusive cuidados éticos, dependendo do tema. Enfim, avaliar os trabalhos dos estudantes, seja individual, seja grupalmente. A avaliação pode contar com avaliações dos grupos e das turmas, no momento da apresentação final de cada grupo. Pode contar ainda com a ajuda de outros profissionais da docência, em caso de trabalho interdisciplinar. Ou a temática da entrevista pode ser levantada pelos próprios estudantes. A participação deles e delas deve ir do começo ao fim do trabalho, sempre em diálogo. Com essa atitude aprendem a também dialogar, o que pode ser-lhes de muito proveito para a vida toda!
Quanto à ética, o professor e a professora devem deixar claro aos estudantes o cuidado de não expor as pessoas entrevistadas a situações vexatórias, evitar atitudes não condizentes com a moralidade, além de não poderem publicar a entrevista sem expressa permissão de quem foi entrevistado (por escrito é melhor ainda). Isto também pode ser e é bom que seja discutido com cada turma antes mesmo das entrevistas acontecerem e faz imenso bem aos estudantes, já que, no grupo maior, de toda a turma, aprendem a expor suas ideias e a traçar valores que consideram ser importantes e que devem ser respeitados. Até os grandes jornalistas têm códigos de ética que seguem.
Feitas as entrevistas, cada grupo apresentará o resultado, que poderá ser lido, em caso de entrevista escrita, manuscrita ou digitada, e/ou visto e ouvido, em caso de entrevista gravada em áudio ou áudio e vídeo. Ao final, um debate e o levantamento de considerações pelos estudantes e pelo professor, pela professora ou a equipe de professores (em caso de trabalho interdisciplinar).
As entrevistas podem ser também arquivadas, seja em pastas ou em computadores ou outra mídia que possibilite a gravação em forma de arquivos. Isto permite que elas possam ser retomadas e discutidas também em outras ocasiões, em épocas de estudos de conteúdos afins. Poderão ser publicadas, sob o cuidado de permissão dos entrevistados, por escrito, na internet, em blogs, no Youtube ou outro site que permita a publicação desse tipo de atividade. Poderão também ser publicadas no jornal filosófico, na revista filosófica, cujas propostas são apresentadas também neste projeto de ensino-aprendizagem. Com isto, unem-se atividades diferentes e enriquecedoras de aprendizado de Filosofia.
Uma sugestão aos professores e à professoras é que também aprendam a lidar com as mídias disponíveis na escola e aquelas de que possa dispor pessoalmente. Esse conhecimento pode ajudar na orientação de estudantes, no laboratório de informática ou na sala de aula, que porventura não saibam lidar adequadamente com aquelas. Há núcleos de tecnologia educacional (NTEs) espalhados pelo Brasil afora, que fazem parte do Ministério da Educação e das secretarias de educação, que os podem ajudar muito. Oferecem cursos gratuitos para docentes a respeito do uso das mídias. Podem aprender também com leituras e práticas próprias, pessoais e coletivas (junto com outros e outras colegas), sem dúvida nenhuma. Podem aprender e tirar dúvidas com os e as estudantes, muitos dos quais conhecem bem o uso dos instrumentos midiáticos!
O trabalho interdisciplinar é outro diferencial enorme, que pode ajudar a enriquecer o aprendizado de filosofia, de outras áreas de ensino e estabelecer um diálogo entre essas elas e a Filosofia enquanto disciplina escolar. Professor, professora, converse com outros e outras colegas de outras matérias escolares e planeje com eles e elas o que fazer e como fazer. Ganhar-se-á em profundidade, em diversidade de visões, em interações entre estas e poder-se-á ver que a Filosofia não é uma matéria estanque das demais, mas  uma parceira. Por exemplo: ao estudar a filosofia moderna, as descobertas na área da Física (uma entrevista de Física e Filosofia, com alguém, sobre a Revolução Científica), da Astronomia, da Biologia, acontecimentos históricos ocorridos naquele momento, além de outros aspectos (uma entrevista de História, Filosofia e Ensino Religioso, com um pastor evangélico e um padre, sobre a Reforma Protestante). Todo esse material coletado poderá ajudar no entendimento das ideias filosóficas modernas, com mais clareza e profundidade.
Vale a pena. Estudantes, professores, professoras, escolas e a Educação, de um modo geral, só terão a ganhar!