terça-feira, 4 de novembro de 2014

HELENISMO E CRISTIANISMO com caça-palavras e questionário (Prof. José Antônio Brazão.)


Entre os séculos IV\III a.C. e o século V da era cristã, ao final do período dos grandes filósofos gregos, com a dominação macedônica e, tempos depois, a romana, as cidades-estados (póleis) gregas haviam perdido muito de sua liberdade e sua autonomia. A cidadania, que antes estava ligada à pólis (cidade-estado), agora foi perdida. No entanto, em meio a essa perda de autonomia e sob a dominação da Macedônia (e no período romano), a cultura grega foi levada a diversos povos dominados pelo novo império. Ocorre o que se convencionou chamar helenismo, por causa dos gregos, também chamados helenos. Um dos grandes responsáveis por isto foi Alexandre Magno, rei e grande general macedônico. Esse processo foi continuado por seus generais, depois da morte de Alexandre, os quais dividiram entre si o império conquistado. A Grécia foi dominada, contudo acabou dominando culturalmente.

Alexandre Magno, inclusive, fundou uma cidade no Egito que leva o seu nome, ainda hoje, Alexandria, na qual veio a existir uma grande biblioteca, que durou por vários séculos e, depois, destruída. Essa biblioteca representa o valor que o conhecimento humano passou a ser conservado, por intermédio da escrita, da pesquisa (a biblioteca foi também um importante centro de pesquisa no mundo antigo), da cópia, aquisição e reprodução de livros e ideias. Livros de comerciantes, estudiosos viajantes e de outros navegantes, que se encontravam nos navios, eram solicitados e copiados, devolvidos, ampliando o acervo dessa grande biblioteca. No entanto, conforme Carl Sagan, cientista norte-americano do século XX, no episódio 1 de sua série em vídeo-documentários COSMOS, nem todas as pessoas tinham acesso a ela, principalmente as mais pobres. Pensadores importantes da antiguidade fizeram parte dos que por ela passaram, como Cláudio Ptolomeu (astrônomo, matemático e geógrafo) e a filósofa Hipácia. A regularidade e a beleza do cosmo (ou cosmos) eram intrigantes.

A arquitetura, a arte, a religião e as ideias gregas atravessaram as fronteiras da Grécia, marcando, de modo especial, o mundo ocidental. Nos livros dos Macabeus, parte da Bíblia católica e considerados apócrifos por judeus e evangélicos, há menção a esse período, ao domínio helenístico e à reação da família macabeia.

No que diz respeito ao mundo ocidental propriamente dito, de um modo muito particular, no caso de Roma e de suas províncias, a arquitetura do Império Romano foi muito marcada pela simetria geométrica dos gregos, sua língua predominante, o Latim, assimilou muitas palavras e raízes da língua grega, deuses e deusas gregos foram incorporados na mitologia romana, com nomes diferentes (ver no texto A humanidade e os mitos), festas, costumes, além de outros elementos culturais. Curiosamente, da língua latina, os vocábulos gregos e suas raízes passaram para as línguas neolatinas, que evoluíram durante o fim do mundo antigo e o mundo medieval (até hoje!): inglês (em boa parte), francês, italiano, romeno, português, espanhol, etc.

Dentro da ciência, na época helenística, Ptolomeu (séc. II d.C.) fez muitas observações dos céus, das estrelas e outros astros, conhecendo também as ideias astronômicas de filósofos e astrônomos que o antecederam, desenvolveu um sistema astronômico geocêntrico, com a Terra (Geia, em grego) no centro e os astros girando em torno dela, inclusive o Sol. O que o diferenciou de outros foi o acréscimo de epiciclos (círculos menores em cima dos círculos orbitais), percorridos, de tempos em tempos, pelos astros celestiais e que tinham por finalidade explicar porque as órbitas planetárias sofriam, aqui e ali, variações, parecendo ir e voltar ao movimento normal. Hoje se sabe que a causa é o fato de as órbitas serem elípticas, não circulares, porém, no tempo de Ptolomeu fazia-se necessário manter a perfeição circular. Ptolomeu, como geógrafo, também fez mapas e criou linhas de longitude a latitude (informação apresentada no Globo Ciência, Cláudio Ptolomeu, que pode ser visto no Youtube). O geocentrismo perdurou até o século XVI, quando foi contestado por Copérnico (heliocentrismo).

Outro destaque importante, no campo da ciência, que antecedeu Ptolomeu, foi Arquimedes de Siracusa (Siracusa, 287 a.C.212 a.C.), um grande cientista, que desenvolveu um sistema de bombeamento de água chamado, hoje, parafuso de Arquimedes, estudou a curva os planos, a parábola, o cilindro, os esferoides, os corpos flutuantes, o contador de areia, estudou a alavanca e seu poder, projetou armas que viriam a proteger Siracusa, por um bom tempo, da invasão dos romanos. Arquimedes foi um verdadeiro gênio e inventor.

No campo da filosofia, no período helenístico desenvolveram-se também diversas escolas filosóficas, dentre as quais destacaram-se:

O CETICISMO: Teve, por exemplo, como representante, Pirro de Élis ou Élida. Os céticos punham em dúvida (sképsis, em grego) a possibilidade do conhecimento da verdade.  O conhecimento objetivo e universal não é possível. Num contexto de incertezas e de decadência dos valores das póleis gregas, essa maneira de encarar a realidade encontra um momento propício de retomada (vale lembrar que os sofistas, tempos antes, foram também céticos).

O CINISMO. Diógenes de Sínope, o Cínico, foi um de seus representantes. Os cínicos tinham o ideal de uma vida simples, não viam com bons olhos e até desprezavam as convenções sociais. O nome cínico vem de kyon, kynos, que significa cachorro, cão, em grego (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinismo). Conta-se, inclusive, que Diógenes vivia em um barril, sendo visto por pessoas que passavam pela rua e convivendo com animais que por aí circulavam.

O ESTOICISMO. Zenão de Citio foi seu fundador. Teve também um imperador romano, Marco Aurélio, que o seguiu. Defendiam o controle dos desejos, das paixões e dos impulsos, propunham uma vida simples, sem a radicalidade dos cínicos. Além do imperador, teve também, como seguidor, no período romano, por exemplo, o filósofo Sêneca.

O EPICURISMO. Epicuro de Samos foi seu fundador, daí o nome. Os epicuristas tinham como objetivo a busca do prazer, de forma equilibrada. De acordo com Epicuro, o mundo é formado por átomos, inclusive a alma. Os átomos da alma se desfazem com o corpo, ao final da vida. Para ele, as pessoas não devem se preocupar com os deuses. Epicuro era ateu. Curiosamente, Paulo, no primeiro século da era cristão, debateu, em Atenas, no Areópago, com filósofos estoicos e epicureus ou epicuristas. Quando falou da ressurreição dos mortos, os filósofos o abandonaram. O tal debate de Paulo, o discípulo, apóstolo, seguidor de Jesus Cristo, com esses filósofos é apresentado no capítulo 17 do livro Atos dos Apóstolos, presente no Novo Testamento bíblico.

O NEOPLATONISMO. Já no período cristão, fundado por Amônio Saccas, teve como grande expoente um discípulo deste: Plotino. O pensamento neoplatônico de Plotino encontra-se apresentado no livro Enéadas (ou Enéades). Retoma o pensamento platônico e defende a busca do UNO (faz recordar o BEM de Platão), através de um movimento de elevação da alma, numa ascensão progressiva. Tendência filosófica carregada de racionalismo e idealismo, especialmente de influência platônica. O neoplatonismo veio a exercer forte influência sobre o pensamento do cristão Aurélio Agostinho (Santo Agostinho). Para este a filosofia não é inimiga da , mas auxiliar.

As escolas de Platão e Aristóteles – Academia e Liceu, respectivamente – continuaram existindo durante séculos, tendo sido, enfim, fechadas no período cristão. Uma das grandes vantagens destas escolas é que possibilitaram a reprodução e a preservação das ideias de seus filósofos fundadores, que viriam a exercer forte influência sobre o pensamento cristão da Patrística e da Escolástica.

Uma característica importante desse período, no campo do pensamento e da sociedade em geral foi o cosmopolitismo, palavra que quer dizer, basicamente: cidadania (da palavra pólis, cidade-estado, cidade) e cosmo (palavra grega que quer dizer mundo), em razão daquela perda do referencial da autonomia das cidades-estados, da expansão do helenismo e de uma percepção maior da realidade política.

Um fato interessante e digno de nota é que, no período cristão, a filosofia helenística conviveu com o pensamento cristão, como pôde ser observado ao falar do debate de Paulo com os filósofos estoicos e epicuristas (epicureus, dependendo da tradução do texto bíblico de Atos dos Apóstolos, cap. 17, versículos 15 a 34), além de outros episódios de contato de intelectuais cristãos com a filosofia greco-romana (helenística), como foi o caso dos que pertenceram à Patrística, até o fechamento, por força da influência da fé cristã, então institucionalizada, da Academia.

Para saber mais:





http://plato.stanford.edu/entries/epicurus/ (em inglês) (Use tradutores online. São bons.)

http://plato.stanford.edu/entries/stoicism/ (em inglês) (Use tradutores online. São bons.)

http://plato.stanford.edu/entries/epictetus/ (em inglês) (Use tradutores online. São bons.)

http://plato.stanford.edu/entries/marcus-aurelius/ (em inglês) (Use tradutores online.)

http://plato.stanford.edu/entries/seneca/ (em inglês) (Use tradutores online. São bons.)

http://plato.stanford.edu/entries/skepticism-ancient/ (em inglês) (Use tradutores online.)

http://plato.stanford.edu/entries/ammonius/ (em inglês) (Use tradutores online. São bons.)

http://plato.stanford.edu/entries/plotinus/ (em inglês) (Use tradutores online. São bons.)

http://plato.stanford.edu/entries/cosmopolitanism/ (em inglês, contém informações também sobre Diógenes de Sínope) (Use tradutores online. São bons.)

Obs.: Todas as páginas em inglês podem ser traduzidas com uso do Google Tradutor ou outro(s) tradutor(es) online:




A seguir, vai a proposta de algumas atividades que podem ser realizadas:



(A)    CAÇA-PALAVRAS FILOSÓFICO: HELENISMO (Direita, esquerda, vertical, horizontal, diagonal) (Prof. José Antônio Brazão.)

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BOM PROVEITO E EXCELENTE APRENDIZAGEM! (Prof. José Antônio Brazão.)


(B)  QUESTIONÁRIO: FILOSOFIA HELENÍSTICA E CRISTIANISMO:

1)      O Novo Testamento da Bíblia foi escrito em que língua? Por quê?

2)      Como o apóstolo João chama Jesus, logo no início do seu evangelho? Que significados tem essa palavra? O que ela tem em haver com os gregos?

3)      Paulo e seus amigos fundaram diversas comunidades cristãs no Império Romano. Pelas cartas que Paulo escreveu, cite seis dessas comunidades.

4)      Nos Atos dos Apóstolos (Atos, cap. 17, versículos 15 a 34) consta que Paulo debateu com filósofos gregos helenistas:

a)      Em que cidade da Grécia?

b)      Em que lugares daquela cidade? E em qual lugar, mais especificamente?

c)      Que filósofos eram, isto é, de que correntes filosóficas helenísticas?

d)      O que eles queriam saber de Paulo?

e)      O que Paulo lhes diz? Resuma.

f)        Os filósofos aceitaram bem as conclusões de Paulo? Por que razão ou razões?

g)      Faça um pequeno resumo das teorias das escolas ou correntes helenísticas daqueles filósofos. Pesquise e anote.

h)      O texto também fala de deuses(as). O que é politeísmo? E monoteísmo? Dê exemplos.

5)      Quais são as sete igrejas do Apocalipse cuidadas por João? Em que região do Império Romano ficavam?

6)      Que comunidade de Paulo e, depois, de João foi cidade de um importante filósofo pré-socrático? Qual filósofo? Onde fica(va) tal cidade, em que região?

ONDE PESQUISAR:

a)      Na Bíblia (NOVO TESTAMENTO).

b)      No livro didático em uso na escola.

c)      Na internet.

d)      Em enciclopédias.

e)      Dicionários de Língua Portuguesa.

f)        Dicionários de Filosofia que possam ser encontrados na biblioteca da escola.

OBSERVAÇÃO: O questionário envolve helenismo e cristianismo. Pode ser interessante seu uso e discussão, em razão de, no Brasil e em outros países, haverem estudantes cristãos de diferentes denominações, mas que têm a Bíblia cristã em comum. Isto pode ajudar a mostrar que o pensamento grego da antiguidade acabou defrontando-se com o pensamento cristão, fato que se estendeu pelos séculos seguintes e durante todo o período medieval (filosofia medieval) e parte do moderno.

(C) FILME ALEXANDRIA (Original: ÁGORA). Ver resumo-comentário deste filme neste site. Basta baixar a barra de rolagem e ir clicando, embaixo, em Postagens Mais Antigas. Uma destas postagens é, justamente, o tal resumo comentário, em Uso de Filmes No Ensino de Filosofia. É um filme muito rico, que mostra bem a convivência conflituosa do pensamento helenístico e do pensamento cristão. Vale a pena vê-lo e trabalha-lo em sala de aula.

domingo, 5 de outubro de 2014

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (Prof. José Antônio Brazão.)


Inteligência é uma capacidade mental que o ser humano dispõe e que lhe permite entender, interligar ideias e informações, analisar, avaliar, calcular, interpretar o mundo que o rodeia, refletir sobre este e explica-lo, além de muitas outras, conforme cada aspecto que a psicologia, a filosofia e outras ciências tomem como próprio dela. Artificial é tudo o que é feito ou criado pelo ser humano. Inteligência artificial, portanto, é um tipo de inteligência criada pelos seres humanos, na forma de máquinas que realizam funções similares às da inteligência humana. Dentre essas máquinas destaca-se o computador.

Desde a mais remota antiguidade, os seres humanos vêm buscando formas de tornar sua vida mais fácil e de melhor enfrentar os desafios impostos pela natureza. Ao longo do tempo, aprenderam a criar ferramentas e instrumentos que ampliaram o poder de seus braços, de suas mãos, enfim, de seu corpo: pedras talhadas e pontiagudas, flechas, a agulha, a alavanca, a roda, o arado e tantos outros. Também em termos mentais, com a finalidade de ampliar sua memória, gravar informações da produção material, bem como facilitar seu entendimento do mundo e da vida material:  desenhos nas cavernas e rochas, pedrinhas (literalmente: cálculos) para contar e registrar a quantidade de animais, o ábaco, sistemas de medição com auxílio de réguas de madeira resistente, a escrita em suas diferentes formas (hieroglífica, cuneiforme, alfabética e outras). Armas permitiram aos seres humanos caçarem animais, se protegerem de forma mais eficiente, mas também atacarem e até mesmo escravizarem outros.

No mundo antigo, instrumentos de cálculo, como a régua, o compasso, o esquadro, etc., foram fundamentais no aperfeiçoamento e na aceleração do trabalho e da ciência antiga, permitindo que homens como Euclides e Arquimedes pudessem contribuir para o evoluir da matemática. Arquimedes, inclusive, inventou máquinas fantásticas e valiosas para seu tempo: o parafuso de Arquimedes, o uso da alavanca, instrumentos de guerra para proteger Siracusa e outros mais. Além destes dois, vale a pena citar o mecanismo de Anticítera, que, dispondo de peças e mecanismos engenhosamente elaborados e dispostos, permitia calcular e oferecer informações acerca do movimento dos astros em diferentes tempos da história passada, presente e até mesmo futura, um verdadeiro trunfo da capacidade dos antigos. Tal mecanismo era, dito de forma geral, como um computador!

À medida que a produção da vida material e novas necessidades foram surgindo, ferramentas novas foram sendo criadas, aparelhos, instrumentos e meios diversos de melhoria da capacidade corporal humana. Necessidades materiais novas, postas por cada modo de produzir ou até mesmo responsáveis por estes, juntamente com a capacidade humana de imaginar e de criar, puseram em ação, cada vez mais, novas forças e, com estas, mais novidades. Descobertas foram sendo feitas, desafiando antigas ideias e até mesmo o poder que sobre estas se sustentava: o telescópio de Galileu permitiu-lhe ver que a tradição científico-religiosa de seu tempo não conseguia mais explicar o mundo, o universo, como este devia ser, observações, estudos e cálculos matemáticos permitiram que Kepler e Newton dessem passos fundamentais adiante na compreensão do cosmos: órbitas elípticas e suas leis, no caso do primeiro; lei da gravidade, estudos sobre o movimento, estudos e descobertas sobre a luz, etc., do outro.

No campo dos cálculos, os filósofos e matemáticos Pascal e Leibniz desenvolveram máquinas de calcular cheias de mecanismos e pequenas peças que efetuavam cálculos rápidos e precisos, tornando-se, com o tempo e com aprimoramentos posteriores, instrumentos muito úteis no comércio e, inclusive, no dia a dia de muita gente. Elas demonstram o quanto a necessidade de ampliar o poder da mente foi se pondo como necessidade, até mesmo na ciência, tornando-o mais célere e exato.

Num momento avançado da Revolução Industrial europeia, que se deu entre os séculos XVIII e XIX, foram inventados cartões, com código binário (0 ou 1), que permitiam às máquinas de tecelagem tecerem padrões os mais diversos de tecidos. As descobertas e o uso mais e mais presente da energia elétrica permitiram, por seu turno, a criação de aparelhos, como o telégrafo a fio e sem fio, o telefone e muitos mais.

No século XX, as duas grandes guerras de sua primeira metade (1914 – 1918; 1939 – 1945) puseram em ação forças descomunais, com armas extremamente letais e com aparelhos e instrumentos que ampliavam, mais ainda, a capacidade humana de cálculo, envio e decifração de mensagens codificadas, como foi o caso da máquina alemã chamada Enigma, bem complexa em seus mecanismos. Tendo-a descoberto em um submarino alemão capturado, os aliados, através de seus cientistas, puseram-se a estuda-la e decifrá-la. Mais ainda, com o cientista inglês Turing e outros, inventaram um protótipo muito grande de computador, que funcionava a base de energia elétrica, com válvulas, tubos, mecanismos diversos, junto com cartões similares àqueles das máquinas de tecelagem. Com este, gradativa e mais rapidamente, foram conseguindo decifrar códigos dos diversos inimigos, agindo com mais presteza no ataque a eles e na própria defesa contra os ataques por eles desfechados. Ampliava-se, então, o desenvolvimento da hoje chamada inteligência artificial: a inteligência presente em máquinas, constituída por meio de mecanismos cada vez mais complexos e, progressivamente, menores.

Do computador a válvulas e mecanismos, gigante e melhorado no decurso das décadas que se seguiram, até os computadores pessoais, a passagem foi progressiva, dada, principalmente, nas décadas de 1970 e 1980, pelos trabalhos de Steve Jobs e Bill Gates, com suas respectivas equipes. Novos computadores, usando placas, microcircuitos e microprocessadores, foram sendo inventados e melhorados, ano após ano, até hoje! Estes, atualmente, encontram-se em casas, escolas, bancos, fábricas, centros de pesquisa científica e em muitos outros lugares, por todo o mundo. Eles, como outros mais antigos, são fruto do entendimento do funcionamento da mente humana (um neurônio liga-se a outros, formando teias de bilhões de células, que necessitam de alimento e energia), bem como de descobertas levadas adiante, anteriormente, nos campos da eletricidade, da química, da física, da eletrônica e outros.

Robôs foram criados e, atualmente, carregam dentro deles verdadeiros computadores que, programados, permitem que aqueles realizem tarefas diversas. Há robôs que já foram enviados até para o planeta Marte! Tais robôs são uma demonstração clara de até que ponto a inteligência artificial é capaz. Há ainda os supercomputadores, capazes de processar milhões de informações em poucos segundos.

A inteligência dos computadores e de outras máquinas que a eles se assimilam, como os celulares, os tablets e os ipads, tem como base o código binário. Cada um desses inventos é capaz de ler e decifrar sequências de 0 e\ou 1, aprimoradas por softwares (programas) cada vez mais perfeitos, permitindo a assimilação de várias descobertas humanas e uma única. Com efeito, cada computador tem softwares de textos, de internet, de vídeo e áudio, de imagens, de cálculos, de memória e uma grande gama de outros. Ampliou-se o poder da mente humana!

Mas um computador é capaz de substituir a mente humana? Em parte, sim, naquilo que a mente humana levaria muito tempo para efetuar, para calcular, realizar. Porém, em outra parte, não, pois a inteligência humana é inventiva, intuitiva, convive com sentimentos e valores, dos quais depende e os quais, por sua vez, com seu auxílio, podem ser entendidos e melhor expressos. Da inteligência humana depende a manutenção daquelas máquinas fantásticas!

Os computadores são capazes de resolver os problemas humanos? São capazes de ajudar na sua solução, porém, sozinhos, por mais capazes, poderosos, que sejam, não podem fazer nada: agir contra a fome, a miséria, contra catástrofes ambientais e outros problemas humanos e naturais, depende muito mais das ações políticas e dos interesses econômicos, sociais, políticos e mesmo militares de quem tem o poder político-econômico em suas mãos. Mas esse agir, de forma parecida, depende das ações de pessoas comuns: ações educadas e preocupadas com o meio ambiente e com os semelhantes, com a melhoria de sua realidade social, que se empenhem coletiva e pessoalmente por mudanças no mundo em que vivem.

Os computadores, com sua inteligência artificial primorosa, são neutros? Nenhuma invenção ou descoberta humana foi ou é neutra, em termos de poder, seja ele econômico, político, militar, religioso ou em qualquer outra forma. Hackers e crackers são capazes de entrar em computadores do sistema financeiro e de pessoas comuns, por meio de programas determinados (vírus). Há empresas de espionagem cibernética que trabalham para governos e empresas que as podem pagar e manter, chegando a ferir direitos internacionais e regras ético-políticas definidas pelas nações (pela ONU, p.ex.). O caso Snowden mostra bem isto. Existem armas tecnológicas que são programadas e capazes de tomar decisões com base nesses programas. Algumas são guiadas a longas distâncias sem, sequer, terem pilotos dentro delas, mas dispondo de circuitos e pequenos computadores dentro delas, servindo à vigilância e podendo carregar mísseis e armas, sendo, portanto, letais!

Satélites e telescópios espaciais são capazes de dar imagens nítidas do mundo, das condições do clima e uma infinidade de informações sobre a Terra e o universo. Porém, também possibilitam ver detalhes de terrenos, de nações e de grupos de pessoas consideradas potencial ou efetivamente perigosas à “ordem mundial”!

Sem dúvida, tanto a inteligência natural dos seres humanos como as diferentes formas de inteligência artificial que criaram, nas últimas décadas e, hoje, mais que nunca, proporcionam benefícios imensos à humanidade, contudo, igualmente, por conta de interesses diversos, põem desafios à ética e à vida político-social, tanto internacional  quanto pessoal. Isto não desmerece todo o trabalho histórico de milhares de pessoas que contribuíram para o desenvolvimento de máquinas inteligentes que pudessem ajudar os grupos humanos, mas, com certeza, lembra a necessidade de conhecimento da realidade e da falta de neutralidade no uso daqueles equipamentos.

No campo educacional, por um lado, sem dúvida, o uso das diferentes formas de expressão da inteligência artificial (equipamentos e computadores) traz consigo grandes benefícios, tornando possíveis aulas mais dinâmicas e um acesso a uma imensa bagagem de conhecimentos humanos. Por outro lado, ainda em termos educacionais, no Brasil e em outras partes do mundo, o ampliar do uso de equipamentos como celulares e programas extremamente atrativos da internet impõe desafios, como a redução do tempo de estudos em casa (tempo maior é dedicado ao uso quase vago da internet, em sites de relacionamentos entre pessoas, que à leitura e ao estudo, em muitos casos), o atrapalhar do andamento de aulas em diferentes conteúdos escolares, certa perda de momentos ricos de aprendizagem que poderiam ser melhor aproveitados. É claro, esta realidade impõe-se como um desafio às comunidades escolares. Sua solução é possível, todavia depende do empenho de todos.

O uso de sites e mensagens que contêm bullying é outro problema, nos campos da educação e do trabalho, prejudicando a muita gente. Diante disto, dessa quebra da ética, novamente, vale lembrar da necessidade de conhecimento tanto das tecnologias quanto das leis que protegem as pessoas, como a Lei Carolina Dieckmann, o Código de Direito Civil e outros, conforme cada lugar em que se esteja no mundo ou, especificamente, no Brasil.

O uso da inteligência artificial em múltiplas máquinas – desde um supercomputador até um telefone celular –, como se pôde ver, traz consigo usos maravilhosos, mas também levanta questões éticas e até políticas. Contudo, é inegável a capacidade humana, dentro de cada contexto histórico-econômico, de buscar construir ferramentas e máquinas que impulsionem o poder do corpo e da própria mente, ampliando suas capacidades e contribuindo para que novas descobertas surjam, para que que o próprio universo seja mais ampla e precisamente conhecido, para que o próprio clima e as intervenções humanas, positivas e\ou negativas, sejam compreendidas, moléculas e átomos sejam analisados em detalhes os mais mínimos possíveis, etc.

Quanto ao aspecto ético-político é preciso conhecimento e vigilância, em ações coletivas que mostrem os perigos do mal uso de máquinas que dispõem de inteligência artificial, sem radicalismos mas firmemente!


PARA SABER MAIS:




http://plato.stanford.edu/entries/logic-ai/   (Em inglês. Use tradutores online, dão uma ideia boa do conteúdo do texto. Ex.: Google Tradutor, além de outros.)


http://plato.stanford.edu/entries/turing/   (Também em inglês. Idem.)