quarta-feira, 5 de março de 2025

PRIMEIRO BIMESTRE - AULA 07 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS. OS TRÊS PODERES EM MONTESQUIEU E LOCKE. (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

PRIMEIRO BIMESTRE

AULA 07 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS:

TEXTO 1: TRECHO DE MONTESQUIEU, EM DO ESPÍRITO DAS LEIS, SOBRE OS TRÊS PODERES:

TEXTO DE MONTESQUIEU SOBRE OS TRÊS PODERES:

Do espírito das leis

Existem em cada Estado três tipos de poder: o poder Legislativo, o poder Executivo das coisas que emendem do direito das gentes e o poder Judiciário daquelas que dependem do direito civil.

Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que foram feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, instaura a segurança, previne Invasões. Com o terceiro, ele castiga os crimes, ou julga as querelas entre os particulares. Chamaremos a este último poder de julgar e ao outro simplesmente poder Executivo do Estado. A liberdade política, em um cidadão, é esta tranquilidade de espírito que provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e para que se tenha esta liberdade é preciso que o governo seja tal que um cidadão não possa temer outro cidadão.

Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura, o poder legislativo está reunido ao poder Executivo, não existe liberdade; porque se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado crie leis tirânicas para executá-las tiranicamente.

Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for separado do poder Legislativo e do Executivo. Se estivesse unido ao poder Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse unido ao poder Executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.

Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as querelas entre os particulares (…)

Eis então a constituição fundamental do governo de que falamos. Sendo o cargo legislativo composto de duas partes, uma prende a outra com sua mútua faculdade de impedir. Ambas estarão presas ao poder Executivo, que estará ele mesmo preso ao Legislativo. Estes três poderes deveriam formar um repouso ou uma inação. Mas, como pelo movimento necessário das coisas eles são obrigados a avançar, serão obrigados a avançar concertadamente [em comum acordo].”

(MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Livro XI. Disponível em: < https://proenem.com.br/enem/filosofia/montesquieu-e-o-espirito-das-leis/ > Acesso em 02/03/2024.) O que está entre chaves é do Prof. José Antônio.

TEXTO 2: A SEPARAÇÃO DOS PODERES EM JOHN LOCKE:

Diferentemente da clássica teoria da separação dos poderes, que divide o poder do Estado em Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, no capítulo XII, do Segundo tratado sobre o governo civil, Locke garante que há três poderes que se convertem em dois13: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Federativo. Competência do Poder Federativo é a de administrar a segurança e o interesse público externo e competência do Poder Executivo é a da execução das leis internas (LOCKE, 1994, p. 171).

No entanto, mais adiante, afirma que esses dois Poderes estão “quase sempre unidos”. E embora os Poderes Executivo e Federativo sejam distintos em si, “dificilmente devem ser separados e colocados ao mesmo tempo nas mãos de pessoas distintas”, pois “submeter a força pública a comandos diferentes” resultaria em “desordem e ruína” (LOCKE, 1994, p. 171-172).

Locke (1994, p. 162) apresenta o Poder Legislativo como poder supremo em toda comunidade civil, sendo a primeira atribuição da sociedade política criá-lo. Tem como a sua “primeira lei natural a própria preservação da sociedade e (na medida em que assim o autorize o poder público) de todas as pessoas que nela se encontram.” “O poder absoluto arbitrário, ou governo sem leis estabelecidas e permanentes, é absolutamente incompatível com as finalidades da sociedade e do governo, aos quais os homens não se submeteriam à custa da liberdade do estado de natureza, senão para preservar suas vidas, liberdades e bens...” (LOCKE, 1994, p. 165).

Segundo Locke (1994, p. 169), os limites que se impõem ao Poder Legislativo são quatro, quais sejam: 1o ) as leis devem ser estabelecidas para todos igualmente, e não devem ser modificadas em benefício próprio; 2o ) as leis “só devem ter uma finalidade: o bem do povo”; 3o ) não deve haver imposição “de impostos sobre a propriedade do povo sem que este expresse seu consentimento, individualmente ou através de seus representantes”; 4o ) a competência para legislar não pode ser transferida para outras mãos que não aquelas a quem o povo confiou.

Traça a separação entre os Poderes Legislativo e Executivo quando afirma que “não convém que as mesmas pessoas que detêm o poder de legislar tenham também em suas mãos o poder de executar as leis, pois elas poderiam se isentar da obediência às leis que fizeram, e adequar a lei à sua vontade, tanto no momento de fazê-la quanto no ato de sua execução, e ela teria interesses distintos daqueles do resto da comunidade, contrários à finalidade da sociedade e do governo.” (LOCKE, 1994, p. 170).

(PELICIOLI, Angela Cristina. A atualidade da reflexão sobre a separação dos poderes. Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/43/169/ril_v43_n169_p21.pdf > Acesso em 02/03/2024.)

COMENTÁRIO DO PROFESSOR JOSÉ ANTÔNIO:

Hoje, no Brasil, se vê quão importante é a divisão dos poderes proposta por Montesquieu e já apresentada, com pequena diferença, como se pode ver nos textos, por John Locke. Os poderes divididos, na República Brasileira atual, têm concordâncias e discordâncias entre si, porém a divisão tem um peso enorme nas decisões políticas e jurídicas, impedindo a interferência contínua de um poder sobre os outros, impedindo uma ditadura de um poder pretensamente central.

Os reis medievais, até mesmo os antigos e os dos primórdios da Idade Moderna (Absolutismo) detinham, nas mãos, largos poderes, agindo, muitas vezes, de forma despótica (ditatorial), ferindo, inclusive, o direito popular em favor de poucos, como eram os nobres antes da Revolução Francesa.

Uma corrente de pensamento que teve enorme importância, seguindo os passos anteriores de John Locke, foi o Iluminismo do século XVIII. Diferentes pensadores, na França e em outros lugares da Europa, fizeram severas críticas ao poder absoluto, inclusive defendendo, como fez o francês Voltaire (François Marie Arouet), a burguesia e sua importância para os países (ver Cartas Filosóficas, por exemplo), inclusive para a França.

A Revolução Francesa (a partir de 1789), de fato, bebeu a fundo, em termos teóricos, no pensamento dos iluministas e de John Locke. Vale lembrar, ainda, a influência profunda desse pensamento sobre a Independência dos Estados Unidos da América (EUA) (1776) e, por sua vez, também sobre aquela.

Nos dois casos, a divisão de poderes que viria a ser adotada seria, justamente, a dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) proposta pelo francês Montesquieu, mas também antecedida e iluminada pela proposta e pelos comentários feitos pelo inglês Locke.  

No Brasil atual, a divisão dos poderes tem sido de extrema importância para o bom andamento da democracia: o Presidente da República, no poder executivo; o Congresso Nacional, no legislativo; o STF (Supremo Tribunal Federal), no judiciário. Cada qual com suas devidas competências (aquilo que lhes compete [deve, cabe] fazer).

A ação harmônica dos três poderes é o que pode dar segurança ao bom funcionamento do país como um todo, de cada Estado e município, estes igualmente com suas respectivas representações dos três poderes: cada Estado com o governador no executivo, os tribunais regionais no judiciário e a assembleia de deputados estaduais no poder legislativo; o prefeito do município (poder executivo), a câmara de vereadores (legislativo) e o fórum municipal (judiciário).

Essa segurança é o que permite que a economia e a vida social fluam devidamente, resguardando os direitos das pessoas, das empresas e o trabalho das instituições (ministérios, secretarias e outras instituições, inclusive as escolas).

Quando há conflito entre os três poderes ou mesmo entre dois deles, o impacto negativo sobre a vida social acontece, infelizmente. Claro que, na imensa maioria das vezes, o diálogo entre eles tem sido imensamente positivo e valioso. E assim há a esperança de que se continue dialogando e trabalhando em prol do povo brasileiro. Em outros países, onde há essa divisão, espera-se o mesmo. Com isto, todos terão a ganhar e o Direito poderá continuar sendo firmado e reafirmado, mantendo a harmonia de que fala a Constituição Federal do Brasil: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Artigo 2 do Título 1: Dos Princípios Fundamentais. Ver citação completa nas referências.). (Grifos meus.)

REFERÊNCIAS:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Artigo 2 do Título 1: Dos Princípios Fundamentais. Disponível em: <  https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#:~:text=Art.%202%C2%BA%20S%C3%A3o%20Poderes%20da,o%20Executivo%20e%20o%20Judici%C3%A1rio. > Acesso em 02/03/2024.

MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Livro XI. Disponível em: < https://proenem.com.br/enem/filosofia/montesquieu-e-o-espirito-das-leis/ > Acesso em 02/03/2024.

PELICIOLI, Angela Cristina. A atualidade da reflexão sobre a separação dos poderes. Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/43/169/ril_v43_n169_p21.pdf > Acesso em 02/03/2024.

TABELA DE TEMPO HISTÓRICO-SOCIOLÓGICA:



PRIMEIRO BIMESTRE - AULA 07 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS - CONTEÚDO: OS PRIMEIROS FILÓSOFOS GREGOS. HERÁCLITO DE ÉFESO E PARMÊNIDES DE ELEIA - ZENÃO DE ELEIA (séc. V a.C.): (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

PRIMEIRO BIMESTRE

AULA 07 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS

CONTEÚDO: OS PRIMEIROS FILÓSOFOS GREGOS

HERÁCLITO DE ÉFESO E PARMÊNIDES DE ELEIA

 

ZENÃO DE ELEIA (séc. V a.C.):  (Prof. José Antônio Brazão.)

Diálogo interdisciplinar com a Arte, a Sociologia e a História.

*Discípulo de Parmênides de Eleia.

*Defendeu as ideias de Parmênides quanto à ilusão da crença no movimento.

*O movimento é uma ilusão.

*Para provar a tese da ilusão do movimento, Zenão apresentou quatro argumentos. Vejamos:

ARGUMENTO 1:

“Fragmento 8 – Há quatro argumentos de Zenão sobre o movimento de dificuldades para quem os quiser resolver. No primeiro a impossibilidade do movimento é deduzida do seguinte modo: o móvel transportado deve atingir primeiro a metade antes de atingir o termo (...).” (BORNHEIM, 1998, p. 63).

Um esclarecimento preliminar: argumento é uma exposição (afirmação ou negação) que tem uma ideia ou sequência de ideias apresentada de forma a defender, reforçar ou derrubar uma outra ideia ou conjunto de ideias, uma teoria ou uma tese (afirmação).

A tese (afirmação) de Parmênides defendida por Zenão, como vimos antes, é que o movimento é uma ilusão ou, como o texto acima diz, uma “impossibilidade” (frag. 8 de Zenão de Eleia). De acordo com Parmênides, de fato, só o caminho do SER (eterno, perfeito, esférico, imóvel, ...) é que é verdadeiro.

O argumento de Zenão para comprovar a tese de Parmênides e sua crença na impossibilidade do movimento é que “o móvel transportado deve atingir primeiro a metade antes de atingir o termo” (frag. 8 de Zenão de Eleia). Como assim? Móvel é aquilo que move. Esse móvel é transportado – carregado ou impulsionado. “Termo”, aqui, é final, indicando o final do caminho. Entre o início do movimento e o seu “termo” (fim, ponto de chegada) há o meio do caminho (“a metade”). Se o movimento é o deslocamento de um lugar inicial a outro final, há uma metade do caminho (50%). Depois dessa metade, entre ela e o fim, há uma metade (25%). Depois desta segunda metade, há uma outra (12,5%), e assim por diante. Ora, de acordo com o argumento, tendo o móvel que atravessar metades, ainda que cada vez menores, jamais chegará ao fim (o “termo”). PORTANTO, isto prova que O MOVIMENTO É IMPOSSÍVEL.

IMAGENS (Zenão de Eleia):  https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea

Conjunto 1 de slides:

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_of_Elea_Tibaldi_or_Carducci_Escorial.jpg

Conjunto 2 de slides:

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_Achilles_Paradox.png

ARGUMENTO 2:

Frag. 8 (contin.) – “O segundo [argumento] chama-se de Aquiles. É o seguinte: o mais lento em uma corrida jamais será alcançado pelo mais rápido; pois este, o perseguidor, deverá primeiro atingir o ponto de onde partiu o fugitivo e assim o lento estará sempre mais adiantado. É o mesmo raciocínio que o da dicotomia [divisão]: a única diferença está em que, se a grandeza sucessivamente acrescentada estiver bem dividida, ela não o será em dois. Conclui-se do argumento que o mais lento não será alcançado pelo mais rápido; e isto pela mesma razão da dicotomia [divisão]: nos dois casos conclui-se pela impossibilidade em atingir o limite, estando a grandeza de uma e mesma maneira; mas, neste, acrescenta-se que mesmo este herói [Aquiles] em velocidade não poderá alcançar, em sua perseguição, o mais lento [a tartaruga] (...).” (BORNHEIM, 1998, p. 63). (O que está entre colchetes foi posto para esclarecimento pelo Prof. José Antônio Brazão.)

IMAGEM:

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_Dichotomy_Paradox_alt.png

Também:

http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2014/03/

Resumindo: Aquiles, que foi um herói e corredor, que lutou na Guerra de Troia (mencionada na Ilíada, de Homero), ao disputar corrida com uma tartaruga, se esta der o primeiro passo, ele jamais a alcançará. Portanto: O MOVIMENTO É ILUSÃO, É IMPOSSÍVEL.

Que absurdo! Absurdo se visto pela visão (um dos cinco sentidos do corpo). Mas Zenão de Eleia apela para a matemática, ou seja, para a abstração (o que está fora do nível concreto, que está a nível de pensamento). Como assim? A matemática, como aprendemos, diz que uma reta é constituída por infinitos pontos. Aquiles e a tartaruga correndo numa reta, com ponto de saída e ponto de chegada (início e fim do movimento – algo parecido com o argumento 1, mas um pouquinho diferente, por vir a apelar para frações do espaço menores que a metade).

(Lembra a história da Lebre e a Tartaruga, ainda que um pouco diferente também.)

Vejamos aqui uma reta constituída de infinitos pontos, mesmo uma semirreta também é subdivisível ao infinito:

.......................................................................................

Início...................................................................Chegada.

*A tartaruga deu um passo à frente de Aquiles.

*Aquele passo é um pedaço de reta, uma semirreta.

*Aquiles tem que passar ponto por ponto para alcançar a tartaruga.

*A tartaruga dá um passo adiante.

*Aquiles tem que atravessar cada ponto desse segundo passo.

*E assim por diante.

*Como a matemática mostra, O ESPAÇO É SUBDIVÍSVEL: divisível em partes cada vez menores, ao infinito, em frações (pedaços menores).

Deste modo, como a matemática prova, é matematicamente impossível Aquiles alcançar a tartaruga. Portanto: O MOVIMENTO É UMA ILUSÃO, É IMPOSSÍVEL! Parmênides acertou!

(O argumento 1 também é matemático.)

ARGUMENTO 3:

Fragmento 8 (contin.): “Estes são dois dos argumentos. O terceiro [argumento] (...) pretende que a flecha, em voo, esteja imóvel. Deriva-se da suposição de um tempo composto de instantes; recusada essa hipótese [quase tese; possibilidade], cessa o silogismo [argumento, conjunto de afirmações de onde se tira uma conclusão].” (BORNHEIM, 1998, p. 63). (O que está entre colchetes foi posto para esclarecimento pelo Prof. José Antônio Brazão. O grifado e sublinhado é meu também.)

IMAGEM (na Wikipédia):

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_Arrow_Paradox.png

Também: http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2014/03/

Explicando:

*Um arqueiro, no dia a dia, estica o arco e lança uma flecha.

*A flecha percorre um caminho do arqueiro (A) até o alvo (B).

*Pelos olhos sensíveis (olhos do corpo) a flecha aparece como ter estado em movimento o tempo todo, do ponto A (arqueiro) até o ponto B (alvo), tendo parado somente ao atingir este.

*Mas Zenão pensa matematicamente.

*Entre o ponto A e o ponto B há um espaço. Ora, o espaço, na matemática, pode ser subdivido (divido em espaços menores). Quais espaços? No caso, os espaços compostos pelo comprimento da flecha. Cada pedaço do espaço é o comprimento da flecha. Vejamos:

PONTO A (ARQUEIRO)-ESPAÇO 1 [FLECHA]-ESPAÇO 2[FLECHA]-ESPAÇO 3 [FLECHA]-ESPAÇO 4 [FLECHA]-ESPAÇO 5, etc. .... –ESPAÇO 20 [FLECHA] – PONTO B (ALVO).

*Em cada espaço a flecha esteve parada, em cada instante.

*Esteve parada, num instante, no espaço 1.

*Esteve parada, num outro instante, no espaço 2.

*Esteve parada, num outro instante, no espaço 3.

*Esteve parada, num outro instante, no espaço 4.

*Nos espaços 5, 6, 7,...20.

*No alvo: parada.

*Ora, se em todos esses espaços a flecha esteve PARADA, isto indica que O MOVIMENTO NÃO EXISTE, É UMA ILUSÃO, É IMPOSSÍVEL. Parmênides está certo.

ARGUMENTO 4:

As imagens a seguir ajudarão a entender parte do argumento 4 de Zenão.

IMAGENS (Estádio e Olímpia [cidade das Olimpíadas antigas]):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ol%C3%ADmpia

Conjunto 1 de slides:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio#/media/Ficheiro:Est%C3%A1dio_da_Luz_em_dia_de_jogo.jpg

Conjunto 2 de slides:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ol%C3%ADmpia#/media/Ficheiro:Olympie_Temple_Zeus.JPG

Conjunto 3 de slides:

https://el.wikipedia.org/wiki/%CE%9F%CE%BB%CF%85%CE%BC%CF%80%CE%AF%CE%B1#/media/%CE%91%CF%81%CF%87%CE%B5%CE%AF%CE%BF:Olympie_Temple_Zeus.JPG

Conjunto 4 de slides:

https://en.wikipedia.org/wiki/Olympia,_Greece#/media/File:Ancient_Olympia,_Greece2.jpg

Fragmento 8 (contin.): “O quarto [argumento] baseia-se no movimento em sentido contrário de massas iguais, em um estádio, ao longo de outras massas iguais, umas a partir do fim do estádio, outras no meio, em velocidades iguais; pretende-se na conclusão que a metade do tempo seja igual ao seu dobro. O paralogismo [raciocínio falso, de acordo com Aristóteles, que citou este argumento] consiste em aceitar que uma grandeza igual move-se, com igual velocidade, em um tempo igual, quer seja ao longo do que é movido, quer ao longo do que está em repouso. Isto, contudo, [dirá Aristóteles], é um erro. (Aristóteles, Física, VI, 9, 239b)” (BORNHEIM, 1998, p. 63). (O que está entre colchetes foi posto para esclarecimento pelo Prof. José Antônio Brazão.)

VER IMAGENS EM: https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea

Também: https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone

Conjunto 1 (slides):

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_of_Elea_Tibaldi_or_Carducci_Escorial.jpg

Conjunto 2 (slides):

https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone#/media/File:Due_masse_nello_stadio_Zenone.png  (Ver explicação embaixo.)

*”(...)movimento em sentido contrário de massas iguais, em um estádio, ao longo de outras massas iguais(...)” (p. 63). No caso citado da Wikipédia, com o estádio de futebol: os jogadores, em sentidos contrários, têm a mesma massa (conteúdo e peso), ainda que, no desenho para ilustrar, com cores de peles diferentes. Um se move em direção ao outro: só para lembrar, no caso do futebol, certamente, seria para tomar a bola do outro, impedindo-o de fazer gol, por exemplo.

https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone#/media/File:Due_masse_nello_stadio_Zenone.png

*”(...) ao longo de outras massas iguais, umas a partir do fim do estádio, outras no meio, em velocidades iguais(...)” (p.63). No caso do desenho da Wikipédia, no estádio de futebol: dois jogadores, em outra posição , mas igualmente opostos (parte dos times adversários), no meio do caminho.

*Conclusão: “(...)pretende-se na conclusão que a metade do tempo seja igual ao seu dobro.” (p. 63). (Grifo e sublinhado meus.) A Wikipédia mostra uma explicação interessante, através do futebol, que, vale lembrar, não existia na Grécia Antiga:

“Na imagem, os dois corredores, A e B, correm na direção oposta: A terá, portanto, a sensação de se mover muito mais rápido do que na realidade, ou seja, uma velocidade igual à sua somada à do corredor B; o mesmo acontece com B. O observador C, por outro lado, está parado e consegue perceber a velocidade real dos dois corredores.” (WIKIPÉDIA, 2021, verbete Paradossi di Zenone [Paradoxos de Zenão, na versão brasileira do nome dado Wikipédia italiana]. Texto traduzido diretamente pelo Google Tradutor.)

Explicação complementar (Prof. José Antônio.): Por que os jogadores A e B têm “a sensação de se mover muito mais rápido do que na realidade, ou seja, uma velocidade igual à somada à do corredor B”? Um: Porque, estando na mesma velocidade um do outro (ver o argumento), a velocidade é somada (no caso, 10 mais 10 = 20 km/h.), dando a impressão (sensação) de que estão correndo mais rápido em direção ao outro (no futebol em si, um com a bola para fazer gol, o outro para impedir e tentar fazer gol no campo adversário).

*O paralogismo (raciocínio falso): “uma grandeza [número, valor, valor numérico, quantidade...] igual move-se, com igual velocidade, em um tempo igual, quer seja ao longo do que é movido, quer ao longo do que está em repouso” (p.63). Ver a explicação do futebol acima.

Conjunto 2 (slides):

https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone#/media/File:Due_masse_nello_stadio_Zenone.png

Comentário complementar do Prof. José Antônio:

O que este quarto argumento quer reforçar? Além dos outros três, que os sentidos são enganosos. Não se pode confiar neles. O movimento percebido pelos sentidos pode enganar – para dar um outro exemplo bem atual de móveis se movendo em direção um do outro, com massas iguais: dois carros da mesma marca, um em direção ao outro, numa rodovia. No caso, o descuido dos motoristas pode ser fruto dos sentidos, entre os quais, a visão – um motorista acredita que pode sair de sua faixa para ultrapassar outro veículo, acreditando que o carro que vem do lado oposto vem em velocidade menor, mas, na verdade, velocidade igual. O risco de choque, portanto, será grande, mesmo porque as velocidades terão se somado, fazendo o dobro: suponhamos que 100 km/h mais 100 km/h, dando 200 km/h. (Acreditamos que a perícia de um dos motoristas, usando a RAZÃO e a destreza, virá, efetivamente a evitar o acidente!)

A RAZÃO matematicamente, de forma abstrata (não concreta, a partir de que o exemplo é concreto), consegue apreender (captar) o que os sentidos não conseguem, indo além do que estes podem mostrar. A razão tem o poder de PENSAR, libertando-se das coisas sensíveis e elevando o PENSAMENTO até o SER que, de acordo com Parmênides, é eterno, perfeito, imóvel, completo, pleno (cheio) em si mesmo, esférico (completo). Como diz Parmênides em seu poema, através da deusa Têmis: “Pensar e ser são o mesmo”.

Aristóteles, filósofo greco-macedônico, que viveu no século IV a.C., vê o raciocínio (trabalho da razão passando de um ponto a outro até atingir uma conclusão) de Zenão como um paralogismo, isto é, um raciocínio enganoso. Na verdade, o que Zenão queria é levar seus leitores e ouvintes, no caso de uma exposição oral ou textual, a perceberem o caráter enganoso dos sentidos, que o movimento percebido pelos sentidos, principalmente a visão, é enganoso (exemplo citado: a visão do movimento do carro B que vem na direção oposta, que dá a falsa impressão de se poder ultrapassar e ter tempo para voltar à faixa da estrada original do carro A).

Hoje, a teoria da relatividade de Einstein (cientista que viveu entre os séculos XIX e XX), que fala de dois móveis (seres em movimento) ou um em movimento e outro parado, em posições diferentes e que, dependendo de quem vê, a percepção do tempo-espaço é diferente. Curiosamente, a teoria de Einstein é fundamental para o sistema de GPS (Global Positioning System – Sistema Global de Posicionamento), reunindo os movimentos relativos (relacionados um com o outro) da Terra (em contínuo movimento) e do veículo, graças ao posicionamento de satélites.

Como se vê, os paradoxos (raciocínios incomuns) de Zenão de Eleia, mesmo não sendo científicos no sentido atual de ciência, são capazes de pôr a RAZÃO para trabalhar, apontando uma visão que vai além da posição das pessoas comuns, em seu dia a dia. Apontam para a certeza e a veracidade (caráter verdadeiro) do SER DE PARMÊNIDES, em contraposição ao engano dos cinco sentidos (ainda que o mundo das coisas sensíveis deva ser conhecido também, de acordo com o que diz a deusa Têmis a Parmênides) e ao movimento (devir, vir a ser) heracliteano (como concebeu Heráclito de Éfeso). Outros filósofos tiveram que se haver (lidar) com as posições de Heráclito e Parmênides, entre eles, além de pré-socráticos como Leucipo e Demócrito, especialmente Platão, que será estudado num futuro próximo.

Para mais detalhes, o livro de Gerd Bornheim é indicado.

REFERÊNCIAS:

ARANHA, Maria L. de A. e MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4.ed. São Paulo, Moderna, 2009.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. 14.ed. São Paulo, Cultrix, 1998.

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.

WIKIPÉDIA. Verbetes: ZENÃO DE ELEIA, PARADOXOS DE ZENÃO. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acesso em 02 de março de 2024.

VÍDEOS SUGERIDOS:

TEM CIÊNCIA – O PARADOXO DE AQUILES E A TARTARUGA, DE ZENÃO DE ELEIA:

https://www.youtube.com/shorts/HsC7aiTKdsA

CANAL CIENTIFICAR – O PARADOXO DA FLECHA, DE ZENÃO DE ELEIA:

https://www.youtube.com/shorts/0q5TdSIJAQ0

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA – ZENÃO DE ELEIA:

https://www.youtube.com/shorts/bT-djlXHVkw

COSMOS, DE CARL SAGAN, EPISÓDIO 7 – A COLUNA VERTEBRAL DA NOITE:

https://www.youtube.com/watch?v=YQl0IQ4A4Fs