O mês
de junho foi favorável, pois os olhos do mundo estavam voltados para a Copa das
Confederações. Passaram a olhar também para os protestos. Muitos desses protestos,
das passeatas, acabaram em cenas de vandalismo e depredação por parte de grupos
menores que adentraram nas grandes multidões de manifestantes, com perdas de
patrimônios.
Em
sua essência, foram protestos e manifestações de indignação diante das
condições sociais, econômicas e até políticas em que vivem muitas pessoas,
cujos direitos não são respeitados.
As
pessoas foram, continuam e, certamente, continuarão indo, por mais algum tempo,
às ruas. Alguns resultados: a pressão exercida pelas manifestações tem feito a
presidente, os governadores, prefeitos e parlamentares se reunirem com mais
frequência; tarifas e transportes, em muitos lugares do Brasil, têm caído; a
PEC 37, que tiraria do Ministério Público o poder de investigação, caiu, com
mais de quatrocentos votos contra, no Congresso Nacional; o governo federal
anunciou a proposta de 10 (dez) por cento do PIB para a Educação, além de
propor o investimento integral das royalties do petróleo para este setor; a
nível social, a indignação de muita gente, pessoas físicas e empresas, que
vivenciaram, infelizmente, perdas ocorridas com os vândalos, bandidos e
saqueadores que adentram nas manifestações, trazendo sofrimentos e até
fechamento de pequenas empresas, perdas difíceis de serem recuperadas;
pronunciamentos da Presidente Dilma e de políticos a respeito dos gastos com as
copas; a decretação, por parte do Ministério Público, da prisão de um deputado
federal corrupto e do irmão dele, com o direito garantido de recursos; entre
outros.
Um
aspecto interessante e fundamental dessas manifestações e passeatas é que a
maioria das pessoas que delas participaram o fizeram de forma pacífica, contando
com a presença enorme de jovens, aos quais se aliaram pais, mães, idosos,
crianças levadas pelos pais, gente comum, profissionais liberais, professores e
professoras, gente de credos diferentes, muita gente boa que deseja mudanças
positivas e melhorias nas condições de vida.
É a
própria existência pessoal e coletiva que se põe em jogo diante daqueles
problemas que precisam ser enfrentados, é a qualidade dessa existência
que se apresenta patente, clara, diante dos desafios a serem enfrentados. Ao
opor-se à passividade e aos riscos nesta contidos, prejudiciais a todos, as
pessoas lutaram e lutam por condições melhores de existência, de vida, não
aguentando ficar à espera da ação dos representantes políticos ou de órgãos governamentais.
Infelizmente,
também, a falta de confiança na ação dos políticos, representantes do povo,
quanto às mudanças nas leis é pouca, como mostrou um telejornal da TV
Bandeirantes no dia 25/06/13. Essa desconfiança é fruto da corrupção, com casos
frequentemente mostrados na TV e em outros meios de comunicação social, de
falsas promessas (promessas não cumpridas) de políticos, gastos excessivos em
áreas não diretamente relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida dos
cidadãos e das cidadãs, o mal funcionamento da máquina administrativa, a falta
de transparência, dentre outros males que acompanham a política brasileira. Os
prejuízos daí advindos são para todos, independentemente das classes sociais:
todo mundo paga imposto, direta ou indiretamente; pelas estradas esburacadas
passam pessoas de classes sociais diversas; todo mundo sofre as consequências
das ações políticas, boas ou más.
Isto
não quer dizer que as pessoas vejam a política como desnecessária. Não. O que
as multidões que saíram às ruas querem é transparência, são ações políticas,
econômicas e sociais efetiva e favoravelmente colocadas a serviço das pessoas,
com destaque para aquelas que mais precisam, aliás, para todas,
independentemente das classes sociais de que façam parte. Sem dúvida, com a
corrupção, a perda é maior para a população empobrecida, mas, pensando bem,
todo mundo perde, enquanto corruptos se enriquecem. Como foi dito antes, as
pessoas que foram para as ruas são de classes sociais diferentes, de diferentes
idades, com motivos semelhantes de luta, com muitas razões em comum, buscando
uma melhor qualidade de vida para si e para a população como um todo.
E
quando a juventude sai às ruas é porque está muito preocupada com o presente que
está vivendo e o futuro que está por vir. Tanto neste quanto naquele, os
jovens, além de todos os outros, adultos, idosos e crianças, sabem do bem
existencial, vital, que as mudanças positivas, favoráveis a todos, podem
trazer. Aquele pão a mais que pode ser comprado com a sobra de dinheiro que
seria gasto com passagens de coletivos é capaz de tirar a fome das pessoas que
precisam destes e daqueles, aquela roupa, aquele bem necessário à vida. Aquele
dinheiro que pode sobrar para a compra de um livro também!
No
campo do ensino-aprendizagem de Filosofia, além de outros conteúdos escolares,
no Ensino Médio, as manifestações e os protestos podem abrir discussões boas em
sala de aula sobre: ética, valores éticos, existência, história, lutas sociais
e suas motivações ético-políticas, corrupção, questões de gênero (homem,
mulher, relações interpessoais, heterossexualismo, homossexualismo, sexualidade
humana), direitos humanos, violência, política, cidadania, representatividade
político-social, dentre outros.
Professoras
e professores de Filosofia, aproveitem o calor dos acontecimentos e de seus resultados
para coloca-los e discuti-los em sala de aula. Revistas, jornais e outros meios
de comunicação social, além da internet, poderão enriquecer os estudos e as
discussões. Aproveitem ainda as opiniões e vivências de estudantes e colegas
que estiveram naquelas passeatas. Podem ser abertas discussões sobre questões
políticas, éticas, existenciais, além de outras, como foi logo acima exposto. Vale
lembrar que tais protestos foram e são verdadeiras manifestações das pessoas
comuns, bem como de alguns grupos organizados, como seres históricos que, diante dos desafios postos à sua existência, à
sua vida, resolveram agir.