terça-feira, 22 de novembro de 2011

A ESCOLA DE FRANKFURT (Professor José Antônio Brazão.)

Na primeira metade do século XX, um grupo de intelectuais (filósofos e pensadores de outras áreas) alemães resolveram formar um grupo de estudos e discussão de temas e ideias diversos. Era formado, em boa parte, por intelectuais de origem judaica. Dentre eles, destacaram-se Theodor Adorno (1903 – 1969), Max Horkheimer (1895 – 1973), Walter Benjamin (1892 – 1940), Herbert Marcuse (1898 – 1979), Jürgen Habermas (1929...) dentre outros. Estavam ligados ao Instituto de Pesquisas Sociais, da Universidade de Frankfurt.
Os membros vivenciaram na pele os problemas advindos da dominação nazista na Alemanha e em outras partes da Europa, bem como suas consequências, como a perseguição implacável contra os judeus, o extermínio de muitos destes e a II Guerra Mundial. Sendo judeus, boa parte deles conseguiu fugir para outros países, principalmente os Estados Unidos da América, vindo a tornar-se, neste último, professores em grandes universidades. Sem dúvida, os E.U.A. beneficiaram-se muitíssimo da fuga ou deportação de intelectuais judeus da Europa. Walter Benjamin, desesperado num momento de sua tentativa de fuga, acabou por cometer suicídio.
Esses intelectuais foram fortemente influenciados pelo pensamento marxista, pelos estudos de Freud e outros pensadores anteriores e de seu tempo, bem como pelos acontecimentos que vivenciaram ao longo das décadas. Dentre os temas estudados por eles encontram-se a indústria cultural, o nazismo, a música, capitalismo, socialismo, economia e outros temas sócio-históricos e filosóficos.
O trabalho teórico da Escola de Frankfurt tomou o nome de Teoria Crítica. James Bohman (In: http://plato.stanford.edu/entries/critical-theory/) assim define:
“Teoria Crítica” em sentido restrito designa várias gerações de filósofos e teóricos sociais, na tradição marxista europeia ocidental, conhecidos como Escola de Frankfurt. De acordo com esses teóricos, uma teoria ‘crítica’ pode ser distinguida de uma teoria ‘tradicional’ de acordo com um propósito prático: uma teoria é crítica pela extensão com que procura a emancipação humana, ‘liberar os seres humanos das circunstâncias que os escravizam’ (Horkheimer 1982, 244). Porque tais teorias objetivam explicar e transformar todas as circunstâncias que escravizam o os seres humanos, muitas ‘teorias críticas, em um sentido amplo, têm sido desenvolvidas. Elas têm emergido em conexão com muitos movimentos sociais que identificam variadas dimensões da dominação dos seres humanos nas modernas sociedades.” (In: http://plato.stanford.edu/entries/critical-theory/) (Tradução minha, um tanto grosseira e literal.)
Pode-se ver, no comentário feito por Bohman, o acento fortemente marxista da teoria crítica, da Escola de Frankfurt, ainda que não se ativesse exclusivamente ao marxismo. Vale lembrar que Marx e Engels, como outros seguidores de suas ideias o farão, de fato, propuseram a luta pela libertação, pela emancipação, da classe trabalhadora, opondo-se radicalmente à exploração capitalista. A Teoria Crítica, portanto, retoma a tradição marxista, fazendo uma análise crítica (problematizadora, questionadora, radical e minuciosa) dos fundamentos do capitalismo, tendo como ponto de partida, sem dúvida, as descobertas e as análises feitas por Marx e Engels, principalmente, e por outros teóricos da linha marxista. Eles também fizeram intensas e profundas análises do capitalismo, dispondo de bons conhecimentos da história do capitalismo e observando bem os acontecimentos de seu tempo, vários dos quais foram, de forma mais detida e minuciosa, investigados e tratados por eles em suas obras. Dois pequenos exemplos disto foram a indústria cultural e o nazi-fascismo.
No que diz respeito à indústria cultural, por exemplo, Adorno e Horkheimer falam de uma indústria elaborada, ao longo do tempo, pelo próprio sistema capitalista cuja finalidade é produzir e vender produtos culturais, como a música, o cinema, etc. Uma indústria com forte acento sobre o consumismo e cujos produtos têm pouca duração, porém constantemente renováveis, contribuindo para o aumento do capital dos grandes empresários e levando muitos à alienação e até à perda da própria identidade. No campo da música industrializada, Adorno percebeu o quanto ela é repetitiva, sem riqueza polifônica e feita para atrair multidões, ganhando sua adesão, como os demais produtos da indústria cultural.
Curiosamente, até hoje, em pleno século XXI, persiste firmemente essa indústria cultural, ainda mais aperfeiçoada e bem montada, vendendo produtos diversos, com destaque para as músicas e os filmes hollywoodianos, dentre outros, até mesmo livros, como os de auto-ajuda, de culinária, etc.! Juntamente com filmes e desenhos animados, outras indústrias se adaptam às ideias, mensagens e heróis que divulgam, aproveitando-se para também vender seus respectivos produtos: alimentos, brinquedos, roupas, etc. A indústria da moda é outro grande exemplo, sempre renovando o seu perfil e seus visuais, buscando atrair mais e mais consumidores. De fato, o consumismo é extremamente incentivado, principalmente com o auxílio dos meios de comunicação social (televisão, rádio, revistas, etc.), aumentando o capital e enriquecendo, cada vez mais, os capitalistas. A análise de Adorno e Horkheimer, como se vê, continua ainda muito atual ao adaptar-se aos tempos presentes.
O nazismo e o fascismo também foram muito estudados pelos membros da Escola de Frankfurt. Fascistas e nazistas conseguiram obter muitos membros e alcançar a aceitação de muitas pessoas, de grandes massas, em suas respectivas nações – Alemanha e Itália. Contudo, foram também cercados de horrores, como os da II Guerra Mundial e até mesmo anteriores a ela, como a Guerra Espanhola. As barbaridades e atrocidades cometidas pelos fasci-nazistas foram objeto de muitos debates entre os membros do Instituto de Pesquisas, que viam aí desfigurada a humanidade das pessoas.
O fascismo e o nazismo souberam articular propaganda intensa, conflitos sociais e outros. A ideologia do partido forte, capaz de dirigir a nação e resolver seus problemas, mexia na mente das pessoas, levando-as à aceitação, muitas vezes passiva, de valores e ideais determinados (como o ideal da raça pura, ariana), conforme os interesses dos grupos econômicos e políticos que se encontravam por trás dos bastidores do poder e que apoiavam os partidos fascista e nazista.
Ao longo dos anos que se seguiram ao final da II Guerra Mundial (1945), houve retorno de membros da Escola de Frankfurt, mas também houve os que preferiram ficar no exílio. Algumas décadas depois, com os falecimentos desses mesmos membros, a Escola acabou por fechar-se. No entanto, deixou sua marca e suas valiosíssimas e riquíssimas contribuições por meio dos estudos e das discussões que realizou.
Para aprender mais sobre a Escola de Frankfurt:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Frankfurt
http://educacao.uol.com.br/filosofia/escola-de-frankfurt.jhtm
http://pessoal.portoweb.com.br/jzago/frankfurt.htm
http://www.ccba.com.br/asp/cultura_texto.asp?idtexto=41
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2006/04/18/002.htm
http://plato.stanford.edu/entries/critical-theory/
http://plato.stanford.edu/entries/adorno/
http://plato.stanford.edu/entries/horkheimer/
http://plato.stanford.edu/entries/habermas/
http://plato.stanford.edu/entries/benjamin/