De acordo com a visão predominante no mundo medieval, o universo (cosmos) seria geocêntrico, isto é, teria a Terra em seu centro. Os astros, inclusive o Sol e as estrelas, girariam ao redor da Terra em órbitas circulares. A sequência seria: Terra (no centro), Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e a esfera das estrelas fixas. Os planetas Urano e Netuno não eram ainda conhecidos.
O geocentrismo aparece, por exemplo, entre os pitagóricos (séc. VI a.C. em diante). Eudoxo de Cnido e Aristóteles de Estagira, ambos do século IV a.C. e discípulos de Platão, tinham também proposto o geocentrismo. No século II da era cristã tal sistema foi aperfeiçoado por Cláudio Ptolomeu, "astrônomo e geógrafo grego que trabalhou em Alexandria" (Enciclopédia Ilustrada Folha, vol. 2, p. 805), que acrescentou epiciclos (círculos menores dentro das órbitas).
Além desses pensadores, os medievais encontraram outra fundamentação para o geocentrismo na própria Bíblia Sagrada judaico-cristã. De fato, nos livros bíblicos de Josué (cap. 10) e de Isaías (cap. 38, versículos 7 e 8) fala-se do movimento de astros celestiais. No primeiro texto, o movimento do Sol e da Lua. No segundo, o do Sol.
No caso do livro de Josué, especificamente, a menção do movimento se dá no momento de uma batalha. O texto diz claramente: "Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os amorreus na mão dos filhos de Israel, e disse ao olhos dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. (...) O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro." (Josué, capítulo 10, versículos 12 e 13, tradução de João Ferreira de Almeida).
Ao assinalar a parada e, depois, a retomada da trajetória normal do sol e da lua, o texto bíblico deixa clara a existência de um movimento desses astros, possibilitando entrever que tal movimento ocorre em torno da Terra, que estaria parada no centro do universo, reforçando assim a teoria do geocentrismo medieval. Ora, a Bíblia, considerada Palavra de Deus, logo verdadeira, não poderia ser contestada. A Igreja, portanto, defendia rigorosamente o geocentrismo, afirmava-o e o ensinava.
O universo seria dividido em duas partes básicas: o mundo sublunar, que corresponderia à Terra, e o mundo supralunar, correspondente à lua e aos demais astros que giravam em torno da Terra circularmente.
O mundo sublunar, sujeito ao devir (vir-a-ser, transformação, movimento) constante, seria composto por quatro elementos: terra, água, ar e fogo, os quais se encontrariam num processo contínuo de agregação e desagreação, na formação e decomposição de corpos e seres. Na Terra habita o ser humano, figura máxima da Criação (veja-se o livro bíblico do Gênesis, capítulos 1 e 2). O mundo supralunar, não sujeito a transformações, seria composto pelo éter, um elemento cristalino, invisível e incorruptível. As estrelas estariam fixas em uma órbita final, como numa abóbada. Daí sua esfera ser chamada de "esfera das estrelas fixas".
Para além do universo, a habitação de Deus. Inexiste, nesse universo, o vácuo. O éter, inclusive, preencheria os espaços entre as órbitas ou esferas celestiais. Deus põe em movimento o universo, de fora para dentro, o qual iria reduzindo gradativamente, até chegar à Terra, parada no centro.
Eis o que diz a Encarta: "No século II d.C., Cláudio Ptolomeu propôs um modelo de universo com a Terra no centro. Cada corpo celeste girava em um pequeno círculo denominado epiciclo, centrado em um ponto que girava, por sua vez, ao redor da Terra em um grande círculo denominado deferente. O modelo representava os movimentos dos corpos celestes de forma bastante precisa, mas não oferecia uma explicação física deles. O modelo de Ptolomeu foi aceito durante mil anos." (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.)
Pode-se dizer, na verdade, que esse sistema foi aceito até o século XVI da era cristã, quando veio a ser proposto, por Copérnico, o sistema heliocêntrico. Portanto, mais de mil anos.
Curiosamente, a forma das órbitas é circular. Desde a antiguidade, o círculo era visto como uma figura geométrica perfeita, tendo seu início e fim em si mesmo. Outra curiosidade, o número 7 (sete), também considerado, desde a antiguidade, como símbolo da perfeição, fruto da soma de 3 (três) mais 4 (quatro). O número três indica uma união completa, perfeita. Três pessoas, dando-se as mãos, todas tocam as demais, por exemplo. O número quatro lembra os quatro pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste), dando sinal de uma completude espacial. O sistema ptolomaico é composto de sete esferas que giram em torno da Terra, em círculos!
Fontes:
Enciclopédia Microsoft Encarta.
Enciclopédia Ilustrada Folha.