COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
TERCEIRO BIMESTRE
AULA 29 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS
A CIDADE-ESTADO (PÓLIS) IDEAL DE PLATÃO E SUA INFLUÊNCIA EM PENSADORES POSTERIORES (Prof. José Antônio Brazão.)
OBS.: PROFESSOR: FAZER UM ESQUEMA-RESUMO NO
QUADRO.
O filósofo Platão
imaginou uma pólis (cidade-estado) ideal, justa, onde não haveria corrupção e
na qual cada um faria sua parte para o bem coletivo, o bem de toda a
cidade. A justiça, segundo Platão, está
justamente em que cada um(a) faça sua parte e a faça bem feito.
Eis o que diz Platão
sobre a justiça:
“Então amigo, continuei, pode muito bem dar-se que nisso,
precisamente, consiste a justiça: cuidar cada um do que lhe diz respeito. Sabes de onde tiro essa conclusão? A meu
parecer, lhe disse, a restante virtude da cidade por nós planejada, afora as
três mencionadas acima: temperança, coragem e sabedoria, 11 tem de ser a que
empresta força para que as outras surjam e, uma vez existentes, pelo simples
feito de sua presença, subsistam por quanto tempo ela dura”. (PLATÃO. A República.
9.ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1949, 433 a, p. 185.) (Grifos do Prof. José Antônio.)
Aos governantes da cidade
proposta (filósofos e filósofas), portanto, cabe governarem de forma correta e
sábia, sem qualquer interesse escuso (sujo, errado) nem corrupção. Aos
guerreiros (guardiões e guardiãs) cabe a proteção da cidade e de seus habitantes.
Aos produtores (comerciantes, artesãos e agricultores) cabe o cuidado de manter
a vida material da cidade, inclusive cuidando da manutenção de governantes e
guardiões(ãs). Cada qual com sua função.
Os governantes são
tirados dos melhores guardiões(ãs), que passam a receber um preparo intelectual
mais aprimorado, por vários anos. Então, o governante carrega consigo um
preparo militar e intelectual apurado! Uma aristocracia (governo dos melhores)
intelectual.
Mas por que a cidade
(pólis) seria governada por filósofos e filósofas? Aqui vale lembrar do mito da
caverna e da realidade à qual ele remete: o suprassensível, o mundo das Ideias
(formas perfeitas e plenas de tudo que existe, sendo imutáveis). Assim como o
prisioneiro liberto se dirigiu para fora e lá conseguiu ver toda a beleza
existente fora da caverna, as pessoas devem se elevar, pelo pensamento, pelos
estudos e pelo aprendizado, até o mundo das Ideias.
Aprender é, segundo
Platão, lembrar daquilo que a alma, outrora, contemplou no mundo das Ideias
(mundo Inteligível, isto é, mundo a que se alcança pelo pensamento – bastando
lembrar de Parmênides: “Pensar e ser são o mesmo”). Ora, as pessoas mais bem
preparadas e que conseguiram elevar-se, via contemplação e reminiscência
(lembrança, recordação) até o Inteligível (mundo das Ideias) são os filósofos e
as filósofas. Portanto, tendo contemplado o BEM (a Ideia ou Forma mais plena),
têm condições de melhor governar.
Os guardiões e as
guardiãs, por sua vez, têm uma preparação, por anos, tanto física, quanto
estratégica, quanto intelectual, unindo o conhecimento militar ao conhecimento
intelectual – posteriormente, aprimorado para quem se tornará governante.
Ao tratar do preparo
intelectual medieval, Gordon Leff apresenta suas raízes na antiguidade,
destacando PLATÃO, que aqui nos interessa, e Aristóteles, que será estudado no
tempo oportuno. Leff diz:
“As universidades medievais deram forma
institucional a uma noção hierárquica de conhecimento herdada da Antiguidade.
Tanto Platão ( República II, III, VII) quanto Aristóteles
( Política VII, VIII) descreveram uma educação básica que compreendia
uma base em gramática elementar, literatura, música e aritmética, e que
preparava o caminho para o estudo avançado da matemática e, finalmente, da
filosofia, cujo objeto era a sabedoria, o fim supremo do conhecimento. (...) As artes, portanto, distinguiam-se das
disciplinas superiores de várias maneiras importantes. Em primeiro lugar,
constituíam um agrupamento heterogêneo, sem qualquer unidade além de sua função
introdutória comum. Desde a antiguidade, dividiam-se entre as três disciplinas verbais:
gramática, retórica e lógica (o trivium ou tríplice caminho
para a sabedoria), e as quatro disciplinas matemáticas: aritmética, geometria,
astronomia e música (o quadrivium ou quádruplo caminho).” (LEFF, Gordon. O Trivium e as Três Filosofias. In: CAMBRIDGE
UNIVERSITY PRESS. Livros. Disponível em: < https://www.cambridge.org/core/books/abs/history-of-the-university-in-europe/trivium-and-the-three-philosophies/80BCDA76F32815379CB356DB45FC20E4 > Acesso em 12/09/2025.) (Grifo do Prof. José Antônio. Tradução feita
pelo Google.)
As sete disciplinas
aparecem claramente no LIVRO VII de A República, de Platão. Platão, inclusive,
enfatiza a DIALÉTICA, que pode contribuir ainda mais para a elevação da alma
até o Inteligível, às Formas (Ideias) perfeitas e eternas, ao BEM, a Ideia mais
elevada, comparada ao Sol do Mito da Caverna e indo muito além dele, sem dúvida.
O grupo dos produtores
(comerciantes, artesãos e agricultores) tem tudo de que precisa para poder
produzir bem, vender e cuidar da manutenção da cidade.
Platão, inclusive, diz
que em cada alma, de cada cidadão e cidadã, há um elemento que define seu lugar
na hierarquia e até sua possível elevação de uma classe para outra: OURO,
PRATA, BRONZE. Os filósofos e as filósofas têm na alma ouro. Os guardiões e as
guardiãs, prata. Os produtores, bronze.
Mas pode haver que haja o
filho ou a filha de um dos produtores que tenha ouro em sua alma, ou seja, uma
grande capacidade intelectual, uma grande facilidade para aprender e, portanto,
deve ser elevado(a) a uma posição maior. E dos guardiões, das guardiãs, para os
filósofos e as filósofas, os que tiverem ouro (capacidades intelectuais, além
de guerreiras, elevadas), passarão para o preparo seguinte para o governo. Caso
algum(a) filho(a), de classe elevada, tenha bronze em sua composição (menores
habilidades intelectuais e de preparo militar), deve ser rebaixado(a) para a
classe dos produtores.
Portanto, a passagem de
uma classe a outra ou o rebaixamento, ainda que haja rigor, é possível! Caberá
aos magistrados da cidade ficarem atentos para que realizem tal elevação ou tal
rebaixamento.
A cidade (pólis) é justa,
pois não haveria fome, miséria ou pobreza – uma cidade em que todos fazem sua
parte para o bem comum.
Essa SOCIEDADE IDEAL (a
pólis [cidade-estado] ideal) de Platão teve repercussões no pensamento
posterior, em pensadores como:
1)
Santo Agostinho, no seu livro A
Cidade de Deus.
2)
Tomaso Campanella, em seu A
Cidade do Sol.
3)
Thomas More, em seu livro Utopia.
4)
Até mesmo entre os ideais socialistas posteriores!
Cada
qual com seu ideal de Estado!
Como veremos em uma aula
posterior, Aristóteles criticará esse modelo ideal de cidade de Platão. No seu
devido tempo.
REFERÊNCIAS:
LEFF,
Gordon. O
Trivium e as Três Filosofias. In: CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS. Livros.
Disponível em: < https://www.cambridge.org/core/books/abs/history-of-the-university-in-europe/trivium-and-the-three-philosophies/80BCDA76F32815379CB356DB45FC20E4 > Acesso em 12/09/2025.
PLATÃO.
A
República. 9.ed. Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1949.
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