domingo, 5 de outubro de 2014

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (Prof. José Antônio Brazão.)


Inteligência é uma capacidade mental que o ser humano dispõe e que lhe permite entender, interligar ideias e informações, analisar, avaliar, calcular, interpretar o mundo que o rodeia, refletir sobre este e explica-lo, além de muitas outras, conforme cada aspecto que a psicologia, a filosofia e outras ciências tomem como próprio dela. Artificial é tudo o que é feito ou criado pelo ser humano. Inteligência artificial, portanto, é um tipo de inteligência criada pelos seres humanos, na forma de máquinas que realizam funções similares às da inteligência humana. Dentre essas máquinas destaca-se o computador.

Desde a mais remota antiguidade, os seres humanos vêm buscando formas de tornar sua vida mais fácil e de melhor enfrentar os desafios impostos pela natureza. Ao longo do tempo, aprenderam a criar ferramentas e instrumentos que ampliaram o poder de seus braços, de suas mãos, enfim, de seu corpo: pedras talhadas e pontiagudas, flechas, a agulha, a alavanca, a roda, o arado e tantos outros. Também em termos mentais, com a finalidade de ampliar sua memória, gravar informações da produção material, bem como facilitar seu entendimento do mundo e da vida material:  desenhos nas cavernas e rochas, pedrinhas (literalmente: cálculos) para contar e registrar a quantidade de animais, o ábaco, sistemas de medição com auxílio de réguas de madeira resistente, a escrita em suas diferentes formas (hieroglífica, cuneiforme, alfabética e outras). Armas permitiram aos seres humanos caçarem animais, se protegerem de forma mais eficiente, mas também atacarem e até mesmo escravizarem outros.

No mundo antigo, instrumentos de cálculo, como a régua, o compasso, o esquadro, etc., foram fundamentais no aperfeiçoamento e na aceleração do trabalho e da ciência antiga, permitindo que homens como Euclides e Arquimedes pudessem contribuir para o evoluir da matemática. Arquimedes, inclusive, inventou máquinas fantásticas e valiosas para seu tempo: o parafuso de Arquimedes, o uso da alavanca, instrumentos de guerra para proteger Siracusa e outros mais. Além destes dois, vale a pena citar o mecanismo de Anticítera, que, dispondo de peças e mecanismos engenhosamente elaborados e dispostos, permitia calcular e oferecer informações acerca do movimento dos astros em diferentes tempos da história passada, presente e até mesmo futura, um verdadeiro trunfo da capacidade dos antigos. Tal mecanismo era, dito de forma geral, como um computador!

À medida que a produção da vida material e novas necessidades foram surgindo, ferramentas novas foram sendo criadas, aparelhos, instrumentos e meios diversos de melhoria da capacidade corporal humana. Necessidades materiais novas, postas por cada modo de produzir ou até mesmo responsáveis por estes, juntamente com a capacidade humana de imaginar e de criar, puseram em ação, cada vez mais, novas forças e, com estas, mais novidades. Descobertas foram sendo feitas, desafiando antigas ideias e até mesmo o poder que sobre estas se sustentava: o telescópio de Galileu permitiu-lhe ver que a tradição científico-religiosa de seu tempo não conseguia mais explicar o mundo, o universo, como este devia ser, observações, estudos e cálculos matemáticos permitiram que Kepler e Newton dessem passos fundamentais adiante na compreensão do cosmos: órbitas elípticas e suas leis, no caso do primeiro; lei da gravidade, estudos sobre o movimento, estudos e descobertas sobre a luz, etc., do outro.

No campo dos cálculos, os filósofos e matemáticos Pascal e Leibniz desenvolveram máquinas de calcular cheias de mecanismos e pequenas peças que efetuavam cálculos rápidos e precisos, tornando-se, com o tempo e com aprimoramentos posteriores, instrumentos muito úteis no comércio e, inclusive, no dia a dia de muita gente. Elas demonstram o quanto a necessidade de ampliar o poder da mente foi se pondo como necessidade, até mesmo na ciência, tornando-o mais célere e exato.

Num momento avançado da Revolução Industrial europeia, que se deu entre os séculos XVIII e XIX, foram inventados cartões, com código binário (0 ou 1), que permitiam às máquinas de tecelagem tecerem padrões os mais diversos de tecidos. As descobertas e o uso mais e mais presente da energia elétrica permitiram, por seu turno, a criação de aparelhos, como o telégrafo a fio e sem fio, o telefone e muitos mais.

No século XX, as duas grandes guerras de sua primeira metade (1914 – 1918; 1939 – 1945) puseram em ação forças descomunais, com armas extremamente letais e com aparelhos e instrumentos que ampliavam, mais ainda, a capacidade humana de cálculo, envio e decifração de mensagens codificadas, como foi o caso da máquina alemã chamada Enigma, bem complexa em seus mecanismos. Tendo-a descoberto em um submarino alemão capturado, os aliados, através de seus cientistas, puseram-se a estuda-la e decifrá-la. Mais ainda, com o cientista inglês Turing e outros, inventaram um protótipo muito grande de computador, que funcionava a base de energia elétrica, com válvulas, tubos, mecanismos diversos, junto com cartões similares àqueles das máquinas de tecelagem. Com este, gradativa e mais rapidamente, foram conseguindo decifrar códigos dos diversos inimigos, agindo com mais presteza no ataque a eles e na própria defesa contra os ataques por eles desfechados. Ampliava-se, então, o desenvolvimento da hoje chamada inteligência artificial: a inteligência presente em máquinas, constituída por meio de mecanismos cada vez mais complexos e, progressivamente, menores.

Do computador a válvulas e mecanismos, gigante e melhorado no decurso das décadas que se seguiram, até os computadores pessoais, a passagem foi progressiva, dada, principalmente, nas décadas de 1970 e 1980, pelos trabalhos de Steve Jobs e Bill Gates, com suas respectivas equipes. Novos computadores, usando placas, microcircuitos e microprocessadores, foram sendo inventados e melhorados, ano após ano, até hoje! Estes, atualmente, encontram-se em casas, escolas, bancos, fábricas, centros de pesquisa científica e em muitos outros lugares, por todo o mundo. Eles, como outros mais antigos, são fruto do entendimento do funcionamento da mente humana (um neurônio liga-se a outros, formando teias de bilhões de células, que necessitam de alimento e energia), bem como de descobertas levadas adiante, anteriormente, nos campos da eletricidade, da química, da física, da eletrônica e outros.

Robôs foram criados e, atualmente, carregam dentro deles verdadeiros computadores que, programados, permitem que aqueles realizem tarefas diversas. Há robôs que já foram enviados até para o planeta Marte! Tais robôs são uma demonstração clara de até que ponto a inteligência artificial é capaz. Há ainda os supercomputadores, capazes de processar milhões de informações em poucos segundos.

A inteligência dos computadores e de outras máquinas que a eles se assimilam, como os celulares, os tablets e os ipads, tem como base o código binário. Cada um desses inventos é capaz de ler e decifrar sequências de 0 e\ou 1, aprimoradas por softwares (programas) cada vez mais perfeitos, permitindo a assimilação de várias descobertas humanas e uma única. Com efeito, cada computador tem softwares de textos, de internet, de vídeo e áudio, de imagens, de cálculos, de memória e uma grande gama de outros. Ampliou-se o poder da mente humana!

Mas um computador é capaz de substituir a mente humana? Em parte, sim, naquilo que a mente humana levaria muito tempo para efetuar, para calcular, realizar. Porém, em outra parte, não, pois a inteligência humana é inventiva, intuitiva, convive com sentimentos e valores, dos quais depende e os quais, por sua vez, com seu auxílio, podem ser entendidos e melhor expressos. Da inteligência humana depende a manutenção daquelas máquinas fantásticas!

Os computadores são capazes de resolver os problemas humanos? São capazes de ajudar na sua solução, porém, sozinhos, por mais capazes, poderosos, que sejam, não podem fazer nada: agir contra a fome, a miséria, contra catástrofes ambientais e outros problemas humanos e naturais, depende muito mais das ações políticas e dos interesses econômicos, sociais, políticos e mesmo militares de quem tem o poder político-econômico em suas mãos. Mas esse agir, de forma parecida, depende das ações de pessoas comuns: ações educadas e preocupadas com o meio ambiente e com os semelhantes, com a melhoria de sua realidade social, que se empenhem coletiva e pessoalmente por mudanças no mundo em que vivem.

Os computadores, com sua inteligência artificial primorosa, são neutros? Nenhuma invenção ou descoberta humana foi ou é neutra, em termos de poder, seja ele econômico, político, militar, religioso ou em qualquer outra forma. Hackers e crackers são capazes de entrar em computadores do sistema financeiro e de pessoas comuns, por meio de programas determinados (vírus). Há empresas de espionagem cibernética que trabalham para governos e empresas que as podem pagar e manter, chegando a ferir direitos internacionais e regras ético-políticas definidas pelas nações (pela ONU, p.ex.). O caso Snowden mostra bem isto. Existem armas tecnológicas que são programadas e capazes de tomar decisões com base nesses programas. Algumas são guiadas a longas distâncias sem, sequer, terem pilotos dentro delas, mas dispondo de circuitos e pequenos computadores dentro delas, servindo à vigilância e podendo carregar mísseis e armas, sendo, portanto, letais!

Satélites e telescópios espaciais são capazes de dar imagens nítidas do mundo, das condições do clima e uma infinidade de informações sobre a Terra e o universo. Porém, também possibilitam ver detalhes de terrenos, de nações e de grupos de pessoas consideradas potencial ou efetivamente perigosas à “ordem mundial”!

Sem dúvida, tanto a inteligência natural dos seres humanos como as diferentes formas de inteligência artificial que criaram, nas últimas décadas e, hoje, mais que nunca, proporcionam benefícios imensos à humanidade, contudo, igualmente, por conta de interesses diversos, põem desafios à ética e à vida político-social, tanto internacional  quanto pessoal. Isto não desmerece todo o trabalho histórico de milhares de pessoas que contribuíram para o desenvolvimento de máquinas inteligentes que pudessem ajudar os grupos humanos, mas, com certeza, lembra a necessidade de conhecimento da realidade e da falta de neutralidade no uso daqueles equipamentos.

No campo educacional, por um lado, sem dúvida, o uso das diferentes formas de expressão da inteligência artificial (equipamentos e computadores) traz consigo grandes benefícios, tornando possíveis aulas mais dinâmicas e um acesso a uma imensa bagagem de conhecimentos humanos. Por outro lado, ainda em termos educacionais, no Brasil e em outras partes do mundo, o ampliar do uso de equipamentos como celulares e programas extremamente atrativos da internet impõe desafios, como a redução do tempo de estudos em casa (tempo maior é dedicado ao uso quase vago da internet, em sites de relacionamentos entre pessoas, que à leitura e ao estudo, em muitos casos), o atrapalhar do andamento de aulas em diferentes conteúdos escolares, certa perda de momentos ricos de aprendizagem que poderiam ser melhor aproveitados. É claro, esta realidade impõe-se como um desafio às comunidades escolares. Sua solução é possível, todavia depende do empenho de todos.

O uso de sites e mensagens que contêm bullying é outro problema, nos campos da educação e do trabalho, prejudicando a muita gente. Diante disto, dessa quebra da ética, novamente, vale lembrar da necessidade de conhecimento tanto das tecnologias quanto das leis que protegem as pessoas, como a Lei Carolina Dieckmann, o Código de Direito Civil e outros, conforme cada lugar em que se esteja no mundo ou, especificamente, no Brasil.

O uso da inteligência artificial em múltiplas máquinas – desde um supercomputador até um telefone celular –, como se pôde ver, traz consigo usos maravilhosos, mas também levanta questões éticas e até políticas. Contudo, é inegável a capacidade humana, dentro de cada contexto histórico-econômico, de buscar construir ferramentas e máquinas que impulsionem o poder do corpo e da própria mente, ampliando suas capacidades e contribuindo para que novas descobertas surjam, para que que o próprio universo seja mais ampla e precisamente conhecido, para que o próprio clima e as intervenções humanas, positivas e\ou negativas, sejam compreendidas, moléculas e átomos sejam analisados em detalhes os mais mínimos possíveis, etc.

Quanto ao aspecto ético-político é preciso conhecimento e vigilância, em ações coletivas que mostrem os perigos do mal uso de máquinas que dispõem de inteligência artificial, sem radicalismos mas firmemente!


PARA SABER MAIS:




http://plato.stanford.edu/entries/logic-ai/   (Em inglês. Use tradutores online, dão uma ideia boa do conteúdo do texto. Ex.: Google Tradutor, além de outros.)


http://plato.stanford.edu/entries/turing/   (Também em inglês. Idem.)